APRESENTAÇÃO

Até bem recentemente, era muito comum ouvirmos, ou lermos que, na história da criança e da infância no Brasil, geralmente produzida nos Departamentos de História, não existia escola ou educação, e que na História da Educação no Brasil, geralmente produzida nas Faculdades de Educação, não existia criança ou infância. Felizmente hoje os tempos são outros! Uma e outra história têm, cada vez mais, dialogado e, não raras vezes, os trabalhos produzidos reforçam a ideia de que, na verdade, se trata de uma única história vista de prismas e, às vezes, de perspectivas diferentes.

É nesse movimento que se colocam os textos ora reunidos neste livro publicado sob os auspícios da Sociedade Brasileira de História da Educação e da Editora da Universidade Federal do Espírito Santo. Neles, pesquisadores[as] de diferentes instituições do País tratam de temas relativos à História da Educação e assistência à infância no Brasil. A partir de múltiplos enfoques abordando temáticas diferenciadas, os textos colocam em cena representações e práticas sobre a infância brasileira.

Como os leitores poderão perceber ao lerem os textos, em todos e em cada um deles, vão desfilando diante de nossos olhos múltiplas formas de viver o tempo da infância, forma estas que, em alguns casos, quase negam às crianças a experiência da infância como tempo de preparação para a vida adulta, tal como preconizada pelas representações hegemônicas da infância na modernidade. Não se trata, obviamente, de resgatar essas infâncias perdidas ou de apenas denunciar, mesmo tardiamente, a exploração das crianças e as eventuais omissões daqueles que delas deveriam cuidar, mas de manter no horizonte de nossa ação política e intelectual a nossa responsabilidade com aqueles a quem, como adultos, temos a obrigação de acolher a cada dia, todos os dias. E, como educadores, historiadores[as] e cidadãos, essa responsabilidade se revela e se concretiza também no esforço de perguntar sobre o passado que autoriza este nosso presente e as formas pelas quais garantimos ou não o tempo da infância para nossas crianças.