REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E DESPORTOS: Impresso pedagógico e prescrições esportivas para a educação física (1968-1984)

Marcelo Laquini Eller[1]

Omar Schneider[2]

Wagner dos Santos[3]

PALAVRAS-CHAVE: Jogos escolares; Impresso pedagógico; Educação Física; Esportes.

INTRODUÇãO

O estudo analisa a Revista Brasileira de Educação Física e Desportos, uma publicação da Divisão de Educação Física do MEC, que circulou entre as décadas de 1960 e 1980. No período em que foi publicada, teve como editores o Cel. Arthur da Costa Ferreira, o Cel. Eric Tinoco Marques, o Cel. Osny Vasconcelos e o Cel. Péricles Souza Cavalcanti. A revista é considerada uma estratégia governamental, que publicou, ao longo de 16 anos, 53 edições, sendo gratuita a partir do volume 47. Inicialmente, sua tiragem era de 2.000 exemplares, chegando ao final com 100.000. O impresso, como um dispositivo que faz circular modelos, permite-nos perceber a abrangência do fenômeno esportivo perspectivado como práticas desportivas no Brasil, naquele período da ditadura militar, as quais eram compreendidas como referência para a Educação Física. A revista passa a circular no ano de 1968 e finda no ano de 1984. Desse modo, seu ciclo de vida é concomitante ao início e término do regime militar no Brasil.

Para compreender o desenvolvimento da Educação Física nos últimos 40 anos, é preciso voltar o olhar para as décadas de 1960 a 1980, momento em que os militares assumem o poder e passam a ditar as regras sobre diversos âmbitos da cultura brasileira, entre elas, o campo educacional e esportivo (BETTI, 1991). Assim, o estudo busca analisar as práticas de representação sobre os esportes circularam na Revista Brasileira de Educação Física e Desportos para compreender a proposta militar para a Educação Física escolar no período da ditadura.

Na investigação, utilizamos como base teórica o conceito de lutas de representação desenvolvido por Roger Chartier. Para o autor,

As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (socias, escolares, políticas) que tendem impor uma autoridade a custa de outros por elas menosprezados, a legitimar um projeto reformador ou justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas (CHARTIER, 1991, p. 17).

OBJETIVO

Compreender as práticas de representação sobre o esporte na Revista Brasileira de Educação Física e Desportos. Durante o ciclo de vida do impresso, analisamos os seus artigos como proposições oficiais para a Educação Física, no período de 1968 a 1984.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa histórica que utiliza como fonte a Revista Brasileira de Educação Física e Desportos.  Tem como fundamentação teórica as proposições da nova história cultural, modalidade historiográfica que se preocupa com as práticas de representação, com as prescrições e com os usos dos bens culturais postos em circulação por meio de dispositivos que indiciam estratégias e táticas. Analisamos a série da revista no período de sua circulação, tendo como referência o conteúdo discutido nos artigos.

ANÁLISE E DISCUSSÃO

Na análise do corpus documental, procuramos textos que abordassem a temática  jogos escolares e prescrições de práticas esportivas para a Educação Física. No processo de revisão, foi encontrada, no editorial do exemplar 27, somente uma menção direta sobre a essa prática, em que Vasconcellos (1975, p. 4) comenta sobre a importância dos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs) como “[...] embrião das competições de alto nível desempenhando um papel preponderante no quadro do desenvolvimento sócio - desportivo brasileiro”.

Ao analisar a revista, percebemos a predominância de alguns esportes sobre outros, como o caso da natação, com 13 publicações, nos exemplares 1, 7 (7 trabalhos), 8, 12, 21, 28 e 44, tendo, inclusive, uma edição inteira em sua homenagem (v. 7); em seguida o voleibol ,com nove publicações, nos exemplares 2 (2 trabalhos), 11, 13, 14, 17, 20, 22 e 27; o handebol, com oito publicações, nos exemplares 4, 5, 7, 13, 19, 28, 30 e 31, e o remo, com quatro publicações,  nos exemplares 5, 12, 37 e 39. Houve predominância de alguns autores nas edições da revista como o Gen. Jayr Jordão Ramos, responsável por nove publicações; Manoel Gomes Tubino, ex-oficial da Marinha, com sete publicações e Lamartine Pereira DaCosta, professor incorporado ao MEC, com seis artigos.

CONCLUSÕES

Betti (1991, p. 25) afirma que “Os vários governos que encarnaram o Estado brasileiro a partir de 1930 trataram de implantar como parte do Projeto Nacional os seus modelos de homem e de sociedade por diversos meios, sendo um deles, a escola”.

Como forma de impor sua autoridade, a partir de estratégias criadas, os militares instituíram os jogos escolares; seguiram a tendência mundial da Educação Física voltada para o alto rendimento, que utilizava o esporte como campo de batalha simbólico, derrocando os ideais olímpicos e, assim, criaram um poderoso veículo de informação. Ao selecionar e publicar os conteúdos, de acordo com os interesses dos seus editores, reservaram uma fonte que nos permite compreender o ideário para a Educação Física brasileira das décadas de 1960 e 1980. Ideário esse que possivelmente ainda faz parte das representações sociais sobre o papel do esporte na escola, apesar de possivelmente não ter sido materializado em práticas escolares (OLIVEIRA, 2003) por falta de profissionais capacitados tecnicamente, espaços adequados para o ensino e políticas públicas para o desenvolvimento do esporte escolar.

Referências

BETTI, M. Educação Física e Sociedade.São Paulo: Editora Movimento, 1991.

CHARTIER, R. A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1991.

OLIVEIRA, M. A. T. de. Educação física escolar e ditadura militar no Brasil (1968-1964). Bragança Paulista:  Edusf,2003

VASCONCELLOS, Editorial. O. Revista Brasileira de Educação Física e Desportos, Brasília:  DEF-MEC, 1975.

Fonte de financiamento

Estudo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Edital CNPq/Fapes n 02/2011, Programa Primeiros Projetos, Processo nº 53.661.524; Edital Apoio a Projetos de Pesquisa CNPq/Capes 07/2011, Processo nº 401.329/2011-9.