APRESENTAÇÃO

Cinco anos de intenso trabalho coletivo. É com grande alegria que estamos aqui de novo, consolidando e anunciando a chegada nesse espaço de novos problemas e recursos teóricos, debatidos por uma, também, nova intelectualidade da Educação Física brasileira. Exemplo dessa nova intelectualidade, mas não só ela, é o conjunto de mestres, doutorandos e doutores que temos tido a oportunidade de reunir para tornar cada vez mais vivo o interesse por pesquisar, escrever, ler, sobre história da Educação Física. Talvez, resultado desse esforço seja a participação de bolsistas do PIBIC/CNPq e PET —Educação Física da Universidade Federal do Espírito Santo neste volume 5 do Pesquisa Histórica na Educação Física.

As idéias debatidas nesse volume são resultados e desdobramentos dos estudos de doutoramento de Ricardo de Figueiredo Lucena, Victor Andrade de Melo, Antonio Jorge Soares, Tarcísio Mauro Vago, Carlos Fernando Ferreira da Cunha Junior, Silvava Vilodre Goellner e Amarílio Ferreira Neto.

Ricardo de Figueiredo Lucena em RIO DE JANEIRO: ESPORTE, CIDADE E A CONSTRUÇÃO DA CAPITAL DO BRASIL busca apontar elementos que nos deixem ver um Rio de Janeiro, da passagem do século XIX para o século XX, que cresce, se transforma e favorece o surgimento de configurações diferenciadas, de ações mais individualizadas e a adoção de novas práticas pelos seus habitantes. Práticas como a dos esportes que, ao nosso ver, permitem perceber o sentido de um gradiente de diferenciação nunca antes experimentado no contexto da sociedade brasileira e do Rio de Janeiro em particular. Nele destacamos as mudanças por que passam a cidade como um novo palco de ação de indivíduos cada vez mais acostumados a viver por si.

Victor Andrade de Meio em 0 ESPORTE E 0 PROJETO DE MODERNIZAÇÃO" DO RIO DE JANEIRO NA TRANSIÇÃO DOS SÉCULOS XIX — XX: AS RELAÇÕES COM AS AUTORIDADES GOVERNAMENTAIS, discute as mudanças de sentidos e significados do esporte no contexto cultural do Rio de Janeiro na transição dos séculos XIX — XX. 0 texto identifica como a prática esportiva esteve envolvida na construção de um novo imaginário para a cidade, articulado com uma série de intervenções relacionadas com o reordenamento econômico do fluxo de capital. Nesse contexto, o Rio de Janeiro se reorganiza no âmbito da disputa entre setores diferenciados das elites, que de alguma forma também trouxeram repercussões para o desenvolvimento esportivo, e assume definitivamente o papel de metrópole e grande difusora de modas do país. Por fim, é discutido de forma mais detida as relações dos clubes de remo com as autoridades governamentais, por explicitarem melhor os sentidos e significados do esporte no período estudado.

Antonio Jorge Soares em A TRADIÇÃO FREYREANA NA INTERPRETAÇÃO DO BRASIL E DE SEU FUTEBOL analisa os escritos de Gilberto Freyre sobre o futebol e como o seu estilo de pensar a identidade brasileira está presente, direta ou indiretamente, na historiografia e nas análises sociológicas do futebol brasileiro.

Tarcísio Mauro Vago em CULTURA ESCOLAR, CULTIVO DE CORPOS: EDUCAÇÃO PHYSICA E GYMNASTICA COMO PRÁTICAS CONSTITUTIVAS DOS CORPOS DE CRIANÇAS NO ENSINO PÚBLICO PRIMÁRIO DE BELO HORIZONTE (1906 – 1920), tendo em conta o movimento republicano mineiro em favor da afirmação de uma nova cultura escolar, tenta perceber os vestígios desse movimento de produção de uma nova cultura escolar em Minas Gerais, particularmente em Belo Horizonte, que leva à constituição da "gymnastica" como disciplina.

Carlos Fernando Ferreira da Cunha Junior em HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E MASCULINIDADE: UMA ANÁLISE DOS JOGOS GYMNASTICOS PRIVATIVOS DO SEXO MASCULINO problematiza os usos e aponta alguns dos desafios e potencialidades do gênero enquanto categoria de análise no âmbito da História da Educação Física no Brasil, chamando a atenção para a dimensão da construção da masculinidade. Assim sendo, analisa, sob a ótica do gênero, uma seção do manual de gymnastica publicado por Arthur Higgins em 1909 e 1934, a qual ele denominou Gymnastica Recreativa ou Jogos Gymnasticos, subdividindo-a em Jogos Gymnasticos Communs aos Dois Sexos e Jogos Gymnasticos Privativos do sexo Masculino.

Silvava Vilodre Goellner em BELA, MATERNAL E FEMININA: IMAGENS DA MULHER NA REVISTA EDUCAÇÃO PHYSICA, diz sobre três temas específicos: beleza, maternidade e feminilidade. Esse texto busca mostrar imagens da mulher presentes no primeiro periódico específico da Educação Física – a Revista Educação Física –publicada entre 1932 e 1945.

Amarílio Ferreira Neto com a colaboração de alunos de iniciação científica: Omar Schneider, Kalline Pereira Aroeira, Márcio Silva Santos e Elisa Barcellos da Cunha e Silva emBIBLIOGRAFIA SOBRE TEORIA DA EDUCAÇÃO FISICA EM PERIÓDICOS BRASILEIROS (1979 – 1999), apresentam uma idéia de pesquisa e um primeiro conjunto de referências bibliográficas sobre o assunto a partir da Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Revista Motrivivência, Revista Paulista de Educação Física, Revista de Educação Física da UEM, Revista Movimento e Revista Discorpo.

Ginástica, Educação Física, esporte, gênero e bibliografias em periódicos já foram objeto de discussão pelos mesmos ou por outros autores nos Pesquisas Históricas na Educação Física 1, 2, 3, 4 e agora no 5. Uma leitura de conjunto, certamente favorecerá ao nosso leitor encontrar os nexos, os limites, os avanços e nossas possibilidades em relação ao que foi e vem sendo construído por gerações sobre História da Educação Física no Brasil.

O século XXI está chegando... Esperamos dar continuidade a algumas das Histórias dos séculos anteriores e abrir novas frentes de conhecimento do presente. 0 projeto Pesquisa Histórica na Educação Física continuará sendo mais um espaço para expormos as novas interpretações históricas no novo milênio. Para tanto, contamos com você, pesquisador e leitor.

Vitória, 10 de maio de 2000.

Amarílio Ferreira Neto - Organizador