VENTORIM, Silvana; BOLZAN, Erica; POLEZE, Grasiela Martins Lopes. Práticas Colaborativas entre formação inicial e continuada de professores no Estágio Supervisionado em educação física. In: X Congresso Espírito-Santense de educação física, 2010, Vitória. Anais...Vitória: CONESEF, 2010. CD-ROOM.
PRÁTICAS COLABORATIVAS ENTRE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM EDUCAÇÃO FÍSICA
Silvana Ventorim
Érica Bolzan
Grasiela Martins Lopes Poleze
RESUMO
Objetiva analisar a compreensão dos professores de Educação Física da Rede Municipal de Ensino de Vitória acerca da relação entre universidade e escola pelo desenvolvimento do Estágio Supervisionado (ES) de Educação Física da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), tendo em vista as implicações para a formação inicial e continuada de professores. A abordagem metodológica se caracteriza como qualitativa e descritiva, com aplicação de entrevista semi-estruturada aos professores que têm participado dos ES nos últimos cinco anos. Pela vivência da docência no ES se expressa o processo de construção de saberes docentes na mediação entre a formação inicial e continuada com aproximações à perspectiva colaborativa de formação de professores.
Palavras-chave: Práticas Colaborativas. Estágio Supervisionado. Formação de Professores. Educação Física.
JUSITIFICATIVA
A construção de relações de colaboração e de parceria entre universidade e escola, para a qualificação dos processos de formação de professores e das práticas pedagógicas por eles desenvolvidas, parece-nos consensual no debate sobre a institucionalização de uma política de formação de professores em âmbito nacional. O reconhecimento de que a universidade deve se inserir em uma perspectiva de formação continuada no exercício profissional e de que a escola tem participação fundamental na formação inicial de professores, tem exigido que essas instituições analisem seus papéis em busca da qualidade social da educação brasileira.
A articulação entre formação inicial e continuada de professores pode efetivar-se pela concretização dos ES a partir de uma perspectiva colaborativa entre instituições, práticas e sujeitos. Com isso, algumas questões mobilizam o debate sobre a temática e revelam os desafios da construção de uma abordagem que articula formação inicial e continuada. 2
OBJETIVOS
Analisar a compreensão dos professores de Educação Física da Rede Municipal de Ensino de Vitória acerca da relação entre universidade e escola e práticas colaborativas mediada pelo desenvolvimento do ES da UFES, compreendendo as suas implicações no desenvolvimento da formação inicial e continuada de professores.
PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS
Considerando a relação do objeto deste estudo com a pesquisa desenvolvida por Ventorim (2008) em que se investigou a temática relação universidade e escola mediada pelo ES com vistas à articulação ente formação inicial e continuada a partir dos professores desta disciplina no Centro de Educação da UFES, de licenciandos de Educação Física e de professores de Educação Física da Rede Municipal de Ensino de Vitória, optamos por ampliar a compreensão do assunto considerando a escuta dos professores de Educação Física.
A abordagem metodológica desse estudo se caracteriza como qualitativa e descritiva, considerando a aplicação de uma entrevista semi-estruturada a seis professores de Educação Física da Rede Municipal de Ensino de Vitória que têm participado dos ES desta área nos últimos cinco anos (SZYMANSKI, 2004).
ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO CONTEXTO DE PRODUÇÃO DA DOCÊNCIA
Pimenta e Lima (2004) colocam o ES como campo de conhecimento, eixo curricular central e possibilitador do desenvolvimento de aspectos indispensáveis à construção da identidade, dos saberes e das posturas necessárias ao exercício da docência. Pretende-se assim formar um professor que domina seus aportes para compreender o mundo e nele intervir por meio de sua atividade profissional, produzindo conhecimentos.
Ao proporcionar o exercício da prática pedagógica nas redes de ensino por meio da mediação entre o conhecimento produzido na universidade e o conhecimento produzido na escola, os ES se caracterizam pela vivência da docência nos diferentes tempos e espaços escolares expressando o complexo processo de mobilização e de produção de saberes.
Pimenta e Anastasiou (2002) ressaltam a construção da identidade do professor como um processo contínuo que antecede a formação inicial. No entanto, a profissionalização do professor é "preparada" e "iniciada" neste momento da formação, onde o ES tem papel fundamental. 3
PRÁTICAS COLABORATIVAS ENTRE UNIVERSIDADE E ESCOLA, ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A perspectiva da ação colaborativa marca uma tendência nos estudos sobre a formação do professor, destacando como fundamental o resgate da profissionalidade do professor e a legitimação do seu conhecimento prático por meio de relações de colaboração e co-responsabilidade entre instituições formadoras, sendo mobilizadora dos eixos articuladores: pesquisa, formação do professor e prática pedagógica, a crítica ao ensino tradicional, à separação entre pesquisa e docência, aos programas de formação em serviço desintegrados da realidade e da participação do professor (VENTORIM, 2008).
Estudos como de Giovanni (1996) e Passos (2008) nos indicam pressupostos para compreender a relação expressa pelos professores, estagiários e alunos da escola, sendo meios que levam à compreensão da relação colaborativa.
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO DE EDUCAÇÃO FÍSICA: DAS RELAÇÕES E DOS SABERES DA DOCÊNCIA
Os professores fazem considerações positivas sobre suas experiências com o ES, pois o reconhecem como o exercício da prática pedagógica, mediado pelas relações de troca entre o conhecimento produzido na universidade e o conhecimento produzido na escola.
Identificamos na fala dos professores considerações quanto à importância do ES no curso de formação e na sua relação direta com o campo, sendo o momento de articulação entre teoria e prática e conhecimento da realidade escolar, com a perspectiva de mostrar possibilidades de intervenção pedagógica. As expressões de dois professores caracterizam este momento com uma construção da identidade profissional, indicando a possibilidade de escolha profissional.
No que se refere às dificuldades e limites do ES todos os professores apontam questões relativas à organização, à experiência e ao compromisso dos estagiários com o processo. Um dos entrevistados indica a necessidade de todos os alunos tomarem à frente da aula, o que muitas vezes não acontece em função das intervenções serem feitas em grupo. Diante disso sugerem diminuir a quantidade de alunos por grupo, no intuito de uma vivência ampliada e "individualizada" da docência e inserido num projeto pedagógico coletivo.
O distanciamento entre teoria e prática também foi apontado como um elemento que dificulta o desenvolvimento do ES. Esse aspecto tem sido um problema recorrente, para os cursos de formação de professores, pelo qual funciona a lógica "da teoria antes da prática e o Estágio no final do curso" como aplicação da teoria (FERNANDES, 2008). 4
Uma outra demanda apresentada pelos entrevistados é a necessidade da aprendizagem de novos conhecimentos no sentido de ampliar e aprofundar o processo de ensino-aprendizagem.
Os professores da escola reconhecem o ES como um momento de confrontamento com a realidade nos diferentes espaços educativos ou níveis de ensino. Assim o tornar-se professor assume a centralidade do processo, já que as identidades docentes se constituem e se ressignificam na confluência de diferentes saberes e trajetórias pelo diálogo e pela troca de experiências que se tornam fundamentais na relação entre o professor de Educação Física da escola e os estagiários. Esses dados mostram a perspectiva da ação colaborativa como uma tendência nos estudos sobre a formação do professor, podendo ser experienciada na prática dos ES caracterizada pela confiança nos estagiários e a abertura para as aprendizagens conjuntas.
Diante da idéia do tornar-se professor, o que predomina nos relatos é a da falta domínio sobre os alunos e de preparo teórico dos estagiários.
Os professores reconhecem a importância desse vínculo entre as instituições para proporcionar ações de formação em conjunto. Entendemos que há pouco ou nenhum vínculo entre universidade e escola, por isso, segundo os professores o ES é o único elo entre essas instituições, já que o sistema municipal de ensino de Vitória deveria promover uma articulação mais formalizada a fim de preparar essas escolas.
Buscamos a leitura dos professores sobre os impactos e as implicações para as escolas que recebem o ES. Dois professores percebem que com a chegada dos estagiários proporciona mais ânimo no dia-a-dia dos professores e alunos. Outros dois expressam a modificação na questão espacial, uma vez que os estagiários vão a campo em grupos, tem-se um grande movimento de pessoas dentro da escola. Essas considerações nos fazem refletir sobre o lugar do ES na escola e as imprecisões em relação à sua incorporação como atividade também de responsabilidade da escola. É possível que manifestações de estranhamento nas relações entre os sujeitos resultem em dificuldades, como também em aspectos positivos vivenciados durante o ES.
Com relação às políticas para desenvolvimento dos ES por parte da UFES e sistema municipal de ensino de Vitória, professores sinalizaram que a UFES deveria planejar a entrada desses estagiários na escola por meio de um programa e um calendário para melhor organizar os dias de intervenção em consonância com o calendário da escola, para se evitar conflitos de datas. Dois professores concordam com a idéia de se estabelecer uma relação prévia com a escola e o professor de Educação Física, para saber também qual a disponibilidade da escola para receber os estagiários. 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das respostas dos sujeitos em relação com os pressupostos teóricos desse estudo, trouxemos as seguintes questões: a) a concepção de ES dos professores é composta por princípios que sustentam articulação entre teoria e prática, conhecimento da realidade escolar e possibilidades de intervenção pedagógica; b) reconhecimento do ES como via de mão dupla para a formação inicial dos estagiários e para os professores em processo de formação continuada; c) compreensão de que o ES sugere o envolvimento de instituições, colaboração e parcerias; d) consideração do cotidiano escolar como ambiente privilegiado para formação inicial dos estagiários, por meio das situações que se desdobram nos processos de ensino-aprendizagem; e) a implementação de ações e estratégias indispensáveis para desenvolvimento dos ES deve considerar todos os envolvidos.
Destacamos a importância de ouvir os professores das escolas, pois são sujeitos que vivem a experiência com o ES em Educação Física da UFES e expressam suas inquietações e sugestões para possíveis estratégias e ações políticas de organização colaborativa entre as instituições.
REFERÊNCIAS
FERNANDES, C. M. B. O espaço-tempo do Estágio nos movimentos do curso: interrogantes, desafios e construção de teritorialidades. In: TRAVERSINI, C.; EGGERT, E; PERES, E.; BONIN, I (Org.). Trajetórias e processos de ensinar e aprender: didática e formação de professores. Livro 2, XIV ENDIPE, Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008.
GIOVANNI, L. M. Do professor informante ao professor parceiro: reflexões sobre o papel da universidade para o desenvolvimento profissional de professores e as mudanças na escola. In: Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino. Anais... 8., 1996, disquete, p. 1-8.
PIMENTA, S. G.; ANASTASIOU, L. G. C. Docência no ensino superior. São Paulo: Cortez, 2002.
PIMENTA, S. G.; LIMA M. S. L. Estágio e docência. São Paulo: Cortez 2004.
SZYMANSKI, H. (org.). A entrevista na pesquisa em educação: a prática reflexiva. Líber Livro: Brasília, 2004.
VENTORIM, S. A relação universidade e escola como estratégia potencial para a formação inicial e continuada de professores do sistema municipal de ensino de Vitória. Relatório de Pesquisa, Fundo de Apoio à Ciência e Tecnologia do Município de Vitória/FACITEC, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2008.