MAXIMIANO,Francine de Lima; MACEDO, Lyvia Rostoldo; SANTOS, Wagner dos. Avaliação na Educação Física escolar: um diálogo com professores e alunos das séries finais do ensino fundamental. In: CONGRESSO ESPÍRITO-SANTENSE DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 11, 2011, Vitória. Anais... Vitória: CONESEF, 2011. CD-ROOM.
Avaliação na Educação Física escolar: um diálogo com professores e alunos das séries finais do ensino fundamental
Francine de Lima Maximiano
Lyvia Rostoldo Macedo
Wagner dos Santos
Resumo: Objetiva analisar as ações avaliativas realizadas nas aulas de Educação Física nas séries finais do ensino fundamental. Define como sujeitos professores de Educação Física e alunos pertencentes à rede municipal de Vitória-ES e Vila Velha e tem como instrumento de coleta de dados entrevista semi-estruturada e análise documental. A análise dos dados indica uma avaliação centralizada no processo de aprendizagem do aluno. Quanto à importância de avaliar, os professores têm opiniões distintas: medir, contemplar interesses, apontar problemas, avaliar o conteúdo e diagnosticar. A avaliação é feita de formas distintas, com instrumentos variados. Os alunos não participam da construção da avaliação.
Palavras-chave: Avaliação. Educação Física. Ensino-aprendizagem.
Introdução
Ao tomar o processo de aprendizagem/desenvolvimento de forma prospectiva enfatizando a natureza coletiva, compartilhada, do processo de tessitura de conhecimentos, Esteban (1998) fortalece a necessidade de indagar a relação saber/não-saber estabelecida nas práticas escolares, possibilitando novos olhares para a dinâmica pedagógica da avaliação. O desafio está em romper as dicotomias erro/acerto, saber/não-saber, imprimindo uma outra grafia no processo de tessitura de conhecimento vislumbrando essas dicotomias como complementares, complexas e híbridas (HOFFMANN, 1999).
Articulando a idéia do saber como elemento constitutivo do processo de desenvolvimento materializado na heterogeneidade de cada sujeito, pretendemos, nesta pesquisa, promover uma leitura das/nas práticas avaliativas. Estamos chamando atenção para a necessidade de pontuarmos a singularidade do componente curricular Educação Física no cotidiano da escola, que, se mostra diferente de outros componentes curriculares, sobretudo quando tratamos da avaliação.
Metodologia
Toma como referencial metodológica a pesquisa exploratória. Quanto aos instrumentos de pesquisas utilizamos entrevista semi-estruturada do tipo reflexiva (Szymanski et al., 2002), ambas com quatro professores de Educação Física e oito alunos, de quatro escolas, duas da Rede Municipal de Vitória e duas da Rede Municipal de Vila Velha. A fim de manter o sigilo do nome e o princípio ético da pesquisa denominados os professores de P1, P2, P3 e P4, e os alunos de A1, A2, A3, A4, A5, A6, A7, A8. A análise foi elaborada por meio do cruzamento das fontes (SARMENTO, 2003).
Resultados e Discussões
A partir das entrevistas semi-estruturadas analisamos individualmente as narrativas dos professores e alunos. Observamos nas narrativas de dois professores, uma centralização do discurso sobre a avaliação do processo de aprendizagem do aluno, ou seja, muito embora mencionam a questão do ensino os argumentos ficam centralizados na aprendizagem. Outro professor destaca a necessidade da avaliação oferecer elementos para se pensar a prática de ensino.
Os professores têm opiniões distintas quanto ao objetivo da avaliação: medir, contemplar interesses, apontar problemas, avaliar o conteúdo e diagnosticar. De acordo com Vianna (2000), prevalece ainda hoje a confusão entre mensuração e avaliação, no qual, medir a quantificação de algo significa avaliar. A idéia de avaliar não é só de medir mudanças comportamentais, mas também o aprendizagem, ou melhor, sua função principal é projetar juízo de valor e tomada de decisão (SANTOS, 2005). Nesse caso, avaliação não pode ser confundida com nota, e muito menos permitir que se continue usando o termo nota como sinônimo de avaliação (RABELO, 1998).
Sobre a avaliação do tipo diagnóstica é preciso ressaltar que ela é realizada no início do processo e serve para apontar problemas, indicar ações a serem efetuadas durante um percurso. É um momento de situar aptidões, individuais e coletivas, interesses dos alunos, ou seja, efetuar um pré-requisito. Momento de detectar alguma dificuldade dos alunos para que o professor possa ajudar e melhor conceber as estratégias de ação para solucionar.
A avaliação dos professores P2, P3 e P4 é feita a partir dos valores atitudinais (DARIDO, 2005), já que procura centralizar sua ação no interesse, motivação, respeito, postura, dedicação, e participação dos alunos.A avaliação na dimensão conceitual está presente na fala do professor P2, realizado por meio de trabalho teórico. Para Darido (2005), uma prática avaliativa adequada para a Educação Física é aquela que aborda as dimensões atitudinais, procedimentais e conceituais. Em sua visão, só assim que a avaliação contemplaria a formação integral do sujeito.
Os instrumentos apontados pelos professores P3 e P4 são variados: história em quadrinhos (P3), pesquisa e debate (P3), auto-avaliação (P3), prova (P3) e observação (P4). Para Santos (2005), o uso de diferentes instrumentos avaliativos devem ser usados com o intuito de fornecer registros variados para se pensar a prática pedagógico do professor. Desse modo, o papel da avaliação é
[...] fornecer indícios para a leitura das redes complexas das práticas pedagógicas [...]. A avaliação, possibilita,por meio das pistas e indícios produzidas pelos praticantes, evidenciar os processos emergentes, em construção, que podem anunciar novas possibilidades de aprendizagem e de desenvolvimento, assinalando trilhas não percebidas, que devem ser consideradas e exploradas dentro das singularidades plurais e dos processos complexos das práticas pedagógicas (SANTOS, 2008, p. 101).
Em, termos de instrumentos, os autores salientam que podem ser utilizados fichários cumulativos, auto-avaliação (DARIDO, 2005), elaboração de diários ou de registros anedóticos, listas de auto-checagem tanto dos alunos quanto os professores (SILVA, 2005), fichas, escalas de avaliação, gráfico de participação, prova escrita, desenho e questionários (SANTOS 2005). Todos esses instrumentos são utilizados para contemplar os conteúdos das aulas de Educação Física, auxiliando no processo de avaliação.
“Quando avaliar” é entendido na fala dos professores P2 e P4 como contínuo, feita ao longo das aulas e diariamente. A avaliação, no sentido contínuo, é visto como ponto de partida e não como o fim. Deixando de ter caráter classificatório para ter um caráter diagnóstico, por meio do qual o professor irá desempenhar o papel de acompanhar e compreender os avanços e dificuldades dos alunos (COMIS, 2007). Essa perspectiva avaliativa tem sua origem no Brasil a partir dos estudos de Luckesi (1992). Muito embora P1 e P2 não tenham respondido essa questão quando analisamos as narrativas, em todas as perguntas observamos que eles têm o entendimento de que a avaliação deve acontecer de forma contínua, para que possa acompanhar os avanços e dificuldades dos alunos.
Nas narrativas dos professores os alunos não estão presentes, ao contrário do que dizem os alunos. A participação dos alunos no processo de definição dos critérios de avaliação é importante no ponto de vista de Darido (2005), contribuindo para decisões conjuntas, cada qual assumindo sua responsabilidade no processo de ensino aprendizagem. Os professores têm o papel fundamental, que nesse caso seria de informar a cada aluno o nível de aprendizagem, as necessidades, as mudanças e os resultados que foram alcançadas, e os alunos, se constituírem como sujeitos efetivos desse processo. Santos (2008, p. 102) a partir da ideia da avaliação indiciária destaca que
[...] a avaliação precisa se constituir como processo de investigação do contexto cotidiano, já que circunscreve, na prática pedagógica, uma ação concreta que fomenta a ação individual e coletiva e faz do sujeito escolar um pesquisador de seu contexto, do processo de ensino/aprendizagem, de sua atuação profissional e de seu próprio processo de tessitura de conhecimento.
A exclusão dos alunos do processo avaliativo, como aponta o professor P2, está contribuindo para uma prática unilateral, cujo foco está no educador. A própria centralidade das falas dos diferentes professores participantes da pesquisa nos processos de aprendizagem em detrimento do ensino demonstram essa visão.
Por fim, os esforços coletivos desenvolvidos com o cotidiano escolar têm revelado a necessidade de realizarmos pesquisas na Educação Física que analisem as práticas avaliativas a partir do seu lugar de produção, compreendendo os sujeitos como atores e autores de suas ações, ou como define Certeau (1996) praticantes. Com base nesse contexto, salientamos a necessidade de novas pesquisas com o intuito de sinalizar possibilidades concretas para se pensar a Educação Física no contexto escolar, bem como suas práticas avaliativas.
Referências
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