MACEDO,L.R.;MAXIMIANO,F.de L.; SANTOS,W. Avaliação na educação física escolar: uma análise da produção acadêmica.In:CONGRESSO ESPÍRITO-SANTENSE DE EDUCAÇÃO FÍSICA,11.,2011,Vitória.Anais...Vitória:CONESEF,2011.CD-ROOM.
Avaliação na Educação Física Escolar: uma análise da produção acadêmica
Lyvia Rostoldo Macedo[1]
Francine de Lima Maximiano[2]
Wagner dos Santos[3]
Resumo: Objetiva analisar as produções acadêmicas sobre avaliação publicadas em Congressos da área e em Revistas especializadas. Assumi como referencial teórico o estudo em periódicos e tem como recorte temporal o período de 2001 a 2010. De um universo de 2.713 artigos mapeados, sendo 1.980 publicados nas revistas e 733 nos congressos, encontramos apenas sete trabalhos sobre avaliação na Educação Física Escolar. Classificamos os artigos conforme o tipo de estudo, que se dividiam em três pesquisas de campo: um estudo etnográfico, um estudo de caso e uma pesquisa não especificada que faz a comparação de duas escolas, e em quatro produções bibliográficas. De modo geral, os autores identificam que a avaliação vem exercendo um papel de controle e se centraliza no comportamento e atitude dos alunos. Apenas o trabalho que faz a comparação das escolas vem com uma dimensão de avaliação diferenciada, queutilizam instrumentos avaliativos como: autoavaliação, desempenho dos alunos, além de aulas teóricas e avaliações escritas.Esses resultados sinalizam a necessidade de pesquisas com o cotidiano, a fim de expor novos caminhos, alternativas e perspectivas para a prática avaliativa.
Palavras-chave: Avaliação. Educação Física. Produção acadêmica.
Introdução
A avaliação educacional, sob diversos enfoques, tem sido objeto de intensos debates no Brasil desde a década de 1930. Nos últimos #OOPS#, a reflexão sobre essa temática intensificou-se assumindo concepções epistemológicas diversas bem como objetos de estudo.
No que tange especificamente à Educação Física, é possível afirmar que as pesquisas no campo da avaliação começam a expressar suas reflexões em meados da década de 1970, influenciadas pelos trabalhos de Bloom, Pophan, Scriven, Stake, Stufflebeam e Tyler.[4] Observamos também que a produção/sistematização dos estudos teóricos no campo da avaliação, nessa área, vem acompanhando, ao longo de sua história, o debate circunscrito na Educação (SANTOS,2005).
Foi tomado como fonte os periódicos da Educação Física no período de 1930 a 2000,[5] Santos (2002) evidenciou a existência de uma lacuna no conhecimento sobre o que está sendo praticado no interior da escola, haja visto que, de um corpus documental de 33 artigos distribuídos em 11 periódicos da Educação Física, cinco investigaram as práticas avaliativas realizadas no cotidiano escolar.
. É oportuno salientar que esse não é um problema específico dos estudos no campo da avaliação educacional, nem tampouco, um problema específico da Educação Física, para isso basta ver os trabalhos de Vasconcellos (1998) e Boas (2002) nos quais indicam a necessidade de pesquisas empíricas que vão além dos trabalhos de denúncia. Assim, os autores salientam a necessidade de ao pesquisar com o cotidiano enfatizar os aspectos positivos, pois os negativos não só são facilmente identificáveis nos estudos já realizados sobre escola, aqui e alhures, como não passam despercebidos a nenhum observador e a nenhuma observadora.
Assim, com o intuito de dar continuidade às análises da produção veiculada em periódicos da Educação Física iniciada por Santos (2002, 2005, 2009), objetivamos, neste trabalho, apresentar um mapeamento e análise dos estudos sobre avaliação do processo ensino-aprendizagem circulados nos impressos da área, Congresso Brasileiro de Ciência do Esporte e Periódicos Especializados, tendo como recorte temporal 2001 a 2010.
Metodologia
Entre os vários tipos de publicações, o periódico impresso é um dos canais mais usados pela comunidade científica, pois, por meio dele, o pesquisador expõe idéias, garante a propriedade científica e se submete à avaliação dos pares. Essa atividade de disseminação produz um fluxo informacional que propicia a transformação da informação em conhecimento, contribuindo para o avanço da Ciência.
O impresso tem sido percebido como uma fonte profícua para se compreender o campo educacional, mas esse interesse não é novo, como lembra Catani (1994), de acordo com a autora, a compreensão sobre a necessidade de se sistematizarem os conhecimentos distribuídos por meio da imprensa periódica tem mobilizado pesquisadores de vários países, pois se tem atentado que a imprensa periódica constitui-se como “[...] um testemunho vivo dos métodos e concepções de uma época e da ideologia moral, política e social de um grupo profissional” (CATANI, 1994, p. 5).
A revista especializa, podem nos oferecer pistas sobre as práticas avaliativas de professores de Educação Física na medida em que apresenta como possibilidade estudos que se dedicam a pesquisar o cotidiano escolar. É com base nas perspectivas teórico/metodológico que alicerçamos os interesses da pesquisa, uma vez que compreender a produção acadêmica é um meio também de se indicar as ações que precisam ser pontencializadas na Educação Física. Para tanto, usamos como fonte os artigos publicados em periódicos – Revista Movimento, Revista de Educação Física/UEM – e Congressos – CONBRACE dos #OOPS# 2001, 2003, 2005 e 2007.[6]
Para analisarmos os textos, construímos um roteiro de leitura com base nas seguintes questões orientadoras: 1) objetivo do trabalho; 2) Metodologia e instrumentos adotados; 3) Contexto pesquisado; 4) Concepção de Avaliação? Autor/autores usados como fundamentação teórica; 5) O que se deve ser avaliado nas aulas de EF das séries iniciais?; 6) Como, quando, Quem e Onde se avalia nas aulas de Educação Física?; ) Para que se avalia nas aulas de Educação Física ministradas nas séries iniciais do ensino fundamental? Diante dessas questões orientadoras fizemos a leitura das fontes mediante a análise de conteúdo.
Análise da produção científica: um debate sobre avaliação
De um universo de 2.713 artigos mapeados, sendo 1.980 publicados nas revistas e 733 nos congressos, encontramos apenas sete trabalhos sobre avaliação na Educação Física Escolar. Três desses trabalhos buscam analisar, pesquisar e refletir os processos avaliativos realizados no cotidiano escolar. Essas pesquisas procurando também diferenciar, a partir dos discursos dos professores e alunos, as práticas avaliativas em escolas com perspectivas formativas divergentes. Apesar de terem características diferentes os quatro trabalhos restantes se caracterizam como produção bibliográfica, sendo que dois deles se dedicam a fazer uma revisão de literatura sobre avaliação na Educação Física Escolar, e os outros dois se constituem como ensaios.
Ao realizar um estudo etnográfico em um curso de formação inicial em Educação Física e estabelecimentos de ensino fundamental e médio do município de Marechal Cândido Rondon, Paraná, Mendes, Nascimento e Mendes (2007) buscaram analisar os processos avaliativos vivenciados por alunos de formação inicial e professores de Educação Física.
Os autores chamam-nos a atenção para a necessidade dos cursos de formação inicial produzirem experiências no campo da avaliação do processo ensino-aprendizagem e discussões sobre o tema que ajudem os futuros professores, aluno do curso de Educação Física, no momento em que estiverem no exercício da docência. Esse discurso fica evidenciado no dizer de Mendes, Nascimento e Mendes (2007, p. 8) ao salientarem que:
As práticas avaliativas constituem-se parte integrante do processo de ensino que será desenvolvido cotidianamente pelo futuro professor de Educação Física, o desenvolvimento do conteúdo deve ser preocupação de todo o corpo docente, nas mais diversas disciplinas do curso de formação inicial em Educação Física, já que cada disciplina pode contribuir com um enfoque ou ponto de vista diferente nas discussões pedagógicas. Ao contrário, a partir do momento em que o curso ignora a necessidade destas discussões, os futuros professores podem apresentar imensas dificuldades na implementação do processo avaliativo ao ingressar no mercado de trabalho.
Mendes, Nascimento e Mendes (2007) observaram que os professores egressos, ao avaliarem os alunos priorizavam a utilização da observação do comportamento e dos trabalhos escritos. Diante desse cenário, destacam a importância das diferentes disciplinas que constituem o currículo da formação inicial se dedicaram a discutir as implicações da avaliação na prática pedagógica do professor de educação física. Ao responder quando e onde se avalia os autores utilizam Nelson Piletti para enfatizar que o processo avaliativo deve começar desde o primeiro dia de aula para adquirir informações valiosas ao planejamento de aula, contemplando os três tipos de modalidades avaliativas, qual seja, a diagnóstica, a formativa e a somativa.[7]
Por meio das opiniões dos professores egressos entrevistados pela pesquisa os autores salientam que a avaliação deve ser feita para estimular os alunos a participarem das aulas, pois, na visão deles, “[...] é difícil conseguir avaliar na área da educação física, mais ainda quando não se tem a participação dos alunos” (2007, p. 9).
O segundo artigo que também se configura como um estudo etnográfico foi o de Pedroza e Rodrigues (2007). Definem como objetivo verificar como os alunos, pais, professores, coordenador pedagógico e diretor de uma escola Municipal de Ensino Fundamental, localizada em Goiânia/GO.
Pedroza e Rodrigues (2007) ao usarem como base referencial o estudo de Luiz Carlos Freitas, salientam que existem dois tipos de avaliação na escola: a formal, que se caracterizar por práticas com instrumentos explícitos de avaliação, em que os resultados podem ser examinados pelos alunos também de maneira explícita; e a avaliação informal, que se centraliza no professor, e tem como objetivo gera juízos gerais de valor sobre seus alunos de maneira assistemática. Para os autores (2007, p. 3).
Estes dois aspectos são determinantes em qualquer processo de avaliação escolar, que estaremos discutindo durante o processo de confecção desta pesquisa. A avaliação será analisada em função dos objetivos como categorias determinantes da prática pedagógica. Os objetivos devem ser analisados em dois níveis, sendo eles: seus efeitos no interior da sala de aula, como avaliação/objetivos do ensino, e no nível da escola como um todo, como avaliação/objetivos da escola, expressos na forma de um projeto político-pedagógico. Estes dois níveis interagem constantemente.
Os resultados obtidos no trabalho de campo, por meio da entrevista com as professoras de Educação Física, indicam que a avaliação é feita por meio da observação dos comportamentos e atitudes apresentados pelos alunos nas aulas e registradas em fichas de que servem de base para gera juízo de valor representadas em notas. Para a maioria das professoras entrevistadas a avaliação na Educação Física serve apenas para determinar uma nota, que está pautada nos comportamentos e na disciplina dos alunos em aula. De acordo com Pedroza e Rodrigues (2007, p. 4)
Sem a possibilidade de classificar os alunos através de notas, como elemento central de registro do desempenho dos alunos, as professoras, que por alguns #OOPS# ficaram sem um instrumento punitivo eficaz para a condução das aulas, deveriam repensar seu planejamento e sua prática pedagógica, a fim de motivar os alunos para o estudo e exigir a disciplina em aula. Assim, a tendência seria das professoras voltarem responsabilizar, exclusivamente, o aluno pelo sucesso de sua aprendizagem. Tanto professor (a) como o aluno possui centralidade na efetivação do processo de ensino-aprendizagem, sendo o/a professor (a) responsável pela direção desse processo.
Diante das observações apresentadas, observamos que a avaliação é feita sem registro de controle, com o objetivo de cumprir normas impostas por leis, ocorrendo sem planejamento e sem objetivos educacionais pré-definidos.
O último artigo que também se configura como um estudo de campo é o de Lieixá, Torralba, Abrahão (2010). Os autores realizam uma pesquisa com um grupo de professores da Universidade e de quatro escolas de Ensino Primário que ficam na Hospitaletde Llobregat (Barcelona) sobrea avaliação na Educação Física. Salientam que a avaliação deve ocorrer pelo professor e pelo aluno, levando em conta as experiências nas aulas; a interação proativa e positiva do aluno nas atividades físicas, a expressão e comunicação por meio do corpo e do movimento onde deve por em prática hábitos de uma atividade física saudável e gerenciamento do próprio corpo e dos movimentos corporais. Defendem que a avaliação deve ocorrer ao final de todas as aulas de Educação Física, no próprio espaço que os alunos estão localizados, fundamentada na ideia das competências.
Estabelecem, assim, como princípio metodológico a definição de situações problemas, integração e transferência de aprendizagem e aplicações das respostas em contextos diversos. A relação dessa sistematização com a perspectiva da competência é sistematizada da seguinte maneira:
Lieixá, Torralba, Abrahão (2010) salientam que a partir da definição de competências que estão correlacionadas com as situações de ensino. Nesse caso, a avaliação deve orientar as ações dos professores no intuito de oportunizar a interação proativa e positiva do aluno nas atividades físicas e a comunicação através do corpo e do movimento. Será a partir desses preceitos que o aluno irá adquirir um hábito de vida saudável.
No campo dos estudos bibliográfico, Bratifische (2003) busca uma maior compreensão dos fatores que influenciam o processo avaliativo escolar. Para a autora, apesar de a avaliação ter o papel de detectar possíveis falhas no processo ensino-aprendizagem, ainda persiste, na prática pedagógica do professor de Educação Física, os testes de aptidão física, e o rótulo de corpos como aptos ou não, característicos da perspectiva militarista. Nessa leitura a avaliação na Educação Física toma como ponto de partida a prática do aluno nas aulas, sendo a aptidão física em qualquer momento priorizada por meio do domínio psicomotor da criança.
Bratifische (2003) salienta, assim como Mendes, Nascimento e Mendes (2007), a importância da formação inicial na (re)produção das práticas avaliação dos professores. Para a autora, as avaliações do processo ensino-aprendizagem pautadas na aptidão física vivenciadas nas disciplinas práticas do curso de graduação do futuro professor tem marcado e orientado o modo de avaliar quando se encontram na condição da docência.
Defende uma avaliação que visualiza o aluno nos aspectos cognitivos, afetivos e psicomotores.
Percebemos que a grande maioria dos autores não enfatiza a importância da avaliação como um ato definitivo e seletivo do professor, mas que ela se destina a incluir o aluno na sociedade, e não a excluí-lo. Como um ato amoroso, deve ser bem pensada e planejada para que desperte o interesse pelo saber por si só, pelo seu real sentido (Bratifische, 2003, p. 4)..
Propõe que os alunos sejam avaliados pelos professores por meio de fichas, filmagens, fotos de eventos, relatos escritos e verbais, entre outros. Bratifische (2003) tematiza que a avaliação de forma participativa, envolvendo professor, alunos, equipe de apoio técnico-pedagógico, propicia um diagnóstico contínuo e real.
Diniz e Amaral (2009), também se dedicam, apesar de fazerem um estudo bibliográfico, a discutir sobre a prática avaliativa do processo ensino-aprendizagem de professores de Educação Física. Estabelecendo a mesma lógica argumentativa apresentada por Bratifische (2003), os autores enfatizam como seria a avaliação em uma escola tradicional e em uma escola ciclada.
Sendo assim, enfatizam que a avaliação surge das necessidades instituídas pela escola tradicional em medir, mensurar e quantificar a assimilação dos conteúdos e o aprendizado do aluno. A grande ênfase dada à avaliação na escola tradicional, como a elaboração de testes/provas, exercícios orais e escritos, seminários, deve-se à necessidade de medir o desempenho do aluno, certificando-o. Para Diniz e Amaral (2009, p. 4) um outro motivo extremamente relevante para o tema:
[...] ocorreu devido à separação/distanciamento da vida escolar da prática e vida social do aluno, que não reconhecendo os conteúdos como informações relevantes para sua realidade acabou perdendo os motivadores internos e necessitando de motivadores externos (artificiais) para a assimilação dos mesmos.
Na escola tradicional onde apenas os professores detêm o poder de avaliar os alunos. Para Freitas (apud DINIZ, AMARAL, 2009, p. 6), os alunos são avaliados na escola tradicional sob três aspectos centrais:
O primeiro deles é o aspecto ‘instrucional’ – o lado mais conhecido da avaliação –, pelo qual se avalia o domínio de habilidades e conteúdos em provas, chamadas, trabalhos e etc. [...] O segundo componente, constituído pela avaliação do ‘comportamento’ dom aluno em sala, é um poderoso instrumento de controle em ambiente escolar, já que permite ao professor exigir do aluno obediência às regras. O poder dessa exigência está ligado, ao fato de o professor ter a possibilidade de aprovar ou reprovar a partir do elemento anterior, ou seja, a partir da avaliação da instrução. [...] Finalmente, existe o terceiro aspecto: a avaliação de ‘valores e atitudes’, que ocorre cotidianamente em sala de aula e que consiste em dispor o aluno a reprimendas verbais e físicas, comentários críticos e até humilhação perante a classe, criticando seus valores e suas atitudes.
Estabelecendo um paralelo com a educação tradicional os autores destacam que na escola ciclada a avaliação tem como finalidade diagnosticar o aprendizado dos alunos e, por meio das análises dos erros/acertos, dimensionar a profundidade do conhecimento apresentado pelo discente, para assim conduzir a novos caminhos para aprendizagem dos conteúdos.
Nesse sentido, os resultados das avaliações (que se constituem a própria avaliação na escola tradicional) são partes do processo de construção do saber e oportunidade de verificação e reflexão da prática escolar e das demais práticas do discente (DINIZ, AMARAL, 2009, p.9).
Na escola ciclada, a avaliação deve ser feita em conjunto na própria aula, por professores e alunos, proporcionando um relacionamento natural entre ambos de troca de informações, contribuindo assim para o ensino-aprendizagem.
Após essa diferenciação, os autores discutem que apesar de as escolas terem concepções diferentes de avaliação elas ainda utilizam determinados tipos de instrumentos, por exemplo: a presença em aula, a auto-avaliação e o desempenho dos alunos, além de aulas teóricas e testes escritos. Diante desse contexto, Diniz e Amaral (2009) afirmam que nas práticas avaliativas das escolas ciclada ainda estão presentes diferentes elementos da escola tradicional.
O artigo, de Santos, Neto e Locatelli (2003) apresentam uma estrutura diferenciada dos analisados anteriormente, já que os autores, ao usarem como fonte os textos sobre avaliação publicados em periódicos científico do séc. XX realizam uma leitura do estado da arte sobre o tema na área da Educação Física.
Os autores indicam que a avaliação na Educação Física escolar vem ganhando atenção da comunidade acadêmica em meados da década de 1970, e assumi diferentes perspectiva de acordo com o contexto histórico em que os trabalhos são produzidos. Ao destacarem o número de periódicos analisados, 36, e o recorte temporal da pesquisa 1930 a 2000, Santos, Ferreira Neto e Locatelli (2003) evidenciam a necessidade da área de Educação Física destinar maior atenção às pesquisas sobre a avaliação do processo ensino-aprendizagem, pois foram encontrados apenas 33 artigos, distribuídos em 11 revistas científicas.
Quanto à análise da produção teórica, Santos, Ferreira Neto e Locatelli (2003) salientam que os estudos da avaliação na Educação Física acompanharam, ao longo de sua história, o que havia de mais recente no campo da Educação.
A pesquisa salienta que a produção acadêmica da década de 1970 se caracteriza pelo diálogo com autores da educação como Popham e Tyler, e pela perspectiva da “avaliação por objetivos”. Com base na contribuição da Psicologia Educativa Cognitiva de orientação condutivista, os estudos da década de 1970 postulam a necessidade de dispor de planos de seqüência de instrução muito estruturados que explicitassem a concatenação dos passos de aprendizagem seguidos para o domínio de uma determinada unidade de conteúdo, no caso da educação física comportamentos observáveis e passíveis de serem mensurados, de modo a comprovar os progressos e as falhas concretas do ensino.
Os autores percebem uma mudança de referencial na base das discussões referentes ao estudo da avaliação em Educação Física, influenciada pelos estudos de Stufflebeam (1976), cujo modelo é a avaliação como tomada de decisão. Nesse sentido, a avaliação é o processo de delinear, obter e prover informações úteis para julgar as decisões alternativas, no qual os avaliadores buscam coletar e apresentar informações com o objetivo de auxiliar a tomada de decisão, que será feita por uma outra pessoa à qual caberá a determinação do mérito das informações coletadas. Muito embora, os autores salientem os avanços apresentados por essa perspectiva avaliativa, destacam também que, nesse período, continua predominando a tradição de uma narrativa e ou prática do uso de aplicação de testes e mensurações segundo o paradigma biologicista/esportivista.
Por fim, Santos, Ferreira Neto e Locatelli (2003) destacam que com o aumento da produção nacional no campo da educação sobre avaliação na década de 1990, sobretudo, a partir da perspectiva crítica, os estudos na educação física começaram a defender uma avaliação formativa, contínua e diagnóstica, com base no reconhecimento de que os testes padronizados de rendimento, característicos da década de 1970 e 1980, não ofereciam as informações necessárias para compreender o que os professores ensinavam e o que os alunos aprendiam.
Nesse momento, avaliação do processo de ensino -aprendizagem na Educação Física deve considerar a observação, análise e conceituação de elementos que compõem a totalidade da conduta humana, ou seja, deve estar voltada para a aquisição de conhecimentos, habilidades e atitude dos alunos. Essa prática resultará num constante processo de ação/reflexão/ação do contexto estudado.
Santos, Neto e Locatelli (2003, p. 7) não expressam suas opiniões sobre como os alunos devem ser avaliados, porém utilizam os argumentos de apresentados nos textos analisados pelo trabalho e nos estudos de Perrenoud, salienta:
[...] que a avaliação possa auxiliar o aluno a aprender não é uma idéia nova. Desde que a escola existe, pedagogos se revoltam contra as notas e querem colocar a avaliação mais a serviço do aluno do que do sistema. Essas evidências são incessantemente redescobertas, e cada geração crê que ‘nada mais será como antes’. O que não impede a seguinte de seguir o mesmo caminho e de sofrer as mesmas desilusões.
Os autores salientam que na década de 1990 a participação do aluno como sujeito ativo, num contexto que o professor seja o mediador do processo, provocando desafios, ações, reflexões e dinamismo, fazendo com que os alunos formule e reformule suas idéias, reflita sobre o mundo e a construção de seus conhecimentos, ganha destaque.
O panorama apresentado por Santos, Ferreira Neto e Locatelli (2003), apresentam uma lacuna no conhecimento sobre o que está sendo feito na cotidiana das aulas de Educação Física, já que de um universo de 33 trabalhos apenas cinco se dedicam a realizar pesquisa de campo no cotidiano escolar.
Alves e Soares Junior (2007) também efetuam uma análise sobre a produção bibliográfica que trata da temática avaliação, contudo, diferente de Santos, Ferreira Neto e Locatelli (2003), definem como fonte os artigos apresentados no CONBRACE (GTT – escola) de 1997 a 2005. Ao analisar as fontes os autores buscam demonstrar que a Educação Física tem avançado em relação a um paradigma tradicional de avaliação, mas ainda não parece perceber outras dimensões das práticas avaliativas que não aquelas ligadas ao acompanhamento do ensino-prendizagem.
Defendem, com base nos estudos de Freitas e Vilas-Boa, a necessidade da escola, em especial do professor de Educação Física, não realiza a avaliação apenas no processo de ensino-aprendizagem, mas que assuma como referência o trabalho pedagógico. Dessa maneira, a avaliação estaria atrelada ao contexto social mais amplo, cumprindo finalidades para além da aprendizagem de conteúdos formais de ensino. Segundo Alves e Soares Junior (2007, p. 2):
Pensar a avaliação na educação escolar em uma perspectiva mais ampla permite não somente discutir a prática pedagógica do professor, os aspectos metodológicos nela envolvidos, os dispositivos que se utiliza para avaliar e seus efeitos sobre os alunos, mas permite também formular questões fundamentais: Quais fins sociais perpassam e orientam as instituições? Quais são os objetivos de uma determinada disciplina e da instituição escolar para a formação humana? Os objetivos institucio nais da escola estão conectados a prática avaliativa e para falar desta ultima é necessário remeter a primeira.
A análise do número total de trabalhos sobre avaliação publicados nos CONBRACEs de 1997 a 2005 evidenciou uma presença tímida de pesquisa na área, já que de um universo de 237 estudos apenas sete tratam da temática avaliação.
Ao analisar as pesquisas que compuseram o corpus documental do estudo Alves e Soares Junior (2007, p. 7) apresentam o seguinte cenário:
O estudo de Santos et al (2003) apresenta uma síntese da produção na área da Educação Física acerca do tema da avaliação e, entre alguns de seus achados, está que a Educação Física ao longo do período analisado acompanhou, em certa medida, as discussões presentes no campo da educação.O estudo desenvolvido por Santana (2005) enfoca a categoria da avaliação no contexto da implantação de uma proposta de reorganização escolar organizada por uma rede municipal de ensino. Desse modo, seu trabalho parece ter certas nuanças, aproximando-se de uma pesquisa ligada à política educacional. O que torna este trabalho singular. Os trabalhos de Fensterseifer (1997), Etchepare & Zinn (2001), Oliveira, Wittizorecki & Bossle (2005), e Lacerda & Moreira (2005) aproximam-se ao perceberem os malefícios de uma avaliação punitiva e ao advogar o processo avaliativo como um permanente acompanhamento do aluno para fins de possibilitar uma melhor aprendizagem. Os trabalhos desses autores também se aproximam a partir de outro aspecto, a saber: discutem a avaliação sempre nos termos de ensino-aprendizagem. [...] No entanto, o primeiro dos trabalhos apresentados (COSTA et al 1997) parece indicar uma perspectiva diferenciada. Para Costa et al (1997), a relação entre as práticas avaliativas escolares não está circunscrita ao ensino em si mesmo, mas em conexão com processos mais amplos de determinação social.
Diante do contexto encontrado nas pesquisas que tratam da avaliação, Alves e Soares Junior (2007) enfatizam a necessidade, assim como Santos, Ferreira Neto e Locatelli (2003), de estudos de campo na área da Educação Física Escolar. Salientam ainda a necessidade de investir além dos horizontes do processo de ensino-aprendizagem, dedicando-se, desse modo, a outras dimensõese finalidades da avaliação na instituição escolar, como a relação com o projeto político-pedagógico e as implicações para a transformação social.
Algumas considerações finais
Muito embora tenha sido mapeado e analisado textos com tipologias diferentes, observamos algumas aproximações. A primeira delas refere-se a perspectiva avaliativa assumida pelos autores. Nesse caso, ganha destaque, a partir de diferentes perspectivas teóricas, o entendimento da avaliação como prática fundamental do processo pedagógica, focalizada no professor/aluno/escola. A avaliação pode oferece elementos para os sujeitos escolares envolvidos no ensino reconhecer/diagnosticar o que se aprende/ensina, qual formação se oferece, dentre outras questões.
Quanto aos critérios avaliativos observamos, ainda observamos a predominância dos aspectos comportamentais, tais como participação e assiduidade, e como instrumento a observação assistemática.
Apesar de se constituir como ensaio o estudo de Diniz e Amaral (2009) apresentam algumas possibilidades diferenciadas para a de Educação Física tais como,: auto-avaliação, avaliação teóricas e escritas. Assim, como as reflexões produzidas por Lleixá, Torralba, Abrahão (2011).
Observamos também, nos estudos que realizam um estado da arte, a lacuna na produção de conhecimento sobre o que está sendo praticado no interior da escola. Esse universo fica ainda mais crítico quando tratamos de pesquisa de intervenção que visam a sinalizar diferentes possibilidades de atuação pedagógica para o profissional de Educação Física.
Sobre o contexto da pesquisa, Bratifische (2003), Mendes, Nascimento e Mendes (2007) destacam a necessidade de tomar como objeto a formação inicial, já que as mudanças nas práticas avaliativas dos professores devem começar no próprio processo de formação inicial desses professores.
Por fim, corroboramos com Alves e Soares Junior (2007) e Santos, Ferreira Neto e Locatelli (2003), quando enfatizam a necessidade de novas investidas sobre as práticas avaliativas de professores no processo ensino-aprendizagem. Sendo assim, acreditamos que é preciso ampliar as pesquisas no campo da avaliação, pois, elas podem projetar a contribuição da Educação Física no contexto escolar, o lugar por ela ocupado na educação escolarizada, o que se ensina e se aprende, bem como, os objetivos que constituem as práticas pedagógicas dos professores e as apropriações realizadas pelos alunos na relação com o saber.
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[1] Acadêmica do curso de Educação Física Licenciatura, da Universidade Federal do Espírito Santo. Membro da PROTEORIA e bolsista PIBIC/UFES.
[2] Acadêmica do curso de Educação Física Licenciatura, da Universidade Federal do Espírito Santo. Membro da PROTEORIA e bolsista FAPES.
[3] Professor do Centro de Educação Física e Desporto da Universidade Federal do Espírito Santo. Doutorado em Educação pelo PPGE/UFES. Pesquisador do Proteoria.
[4] Em pesquisa anterior, procuramos demonstrar a influência desses autores na produção teórica da Educação Física brasileira. Para saber sobre o assunto, ver trabalho de Santos (2002), disponível no site: www.proteoria.org.
[5] A fonte utilizada para o levantamento de dados foi o “Catálogo de periódicos de educação física e esporte: 1930-2000” (FERREIRA NETO et al., 2002).
[6] Foram utilizadas para a pesquisa, além das fontes apresentadas, a Revista de Educação Física, Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Revista Motrivivência, Revista Pensar a Prática,Revista Paulista de Educação Física e o Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação-Anped. Em nenhuma dessas fontes foram encontrados trabalhos sobre o assunto.
[7]De acordo com Rabelo (2000) na avaliação diagnóstica busca-se identificar um perfil do sujeito antes de começar qualquer trabalho de ensino. Na avaliação formativa, procura-se informações sobre estratégias de solução dos problemas e das dificuldades surgidas durante o processo. Na avaliação somativa, objetiva-se determina os conhecimentos adquiridos e se possível, dá um certificado, normalmente acontece ao final de um processo.