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Artigos > História da Educação, da Educação Física e do Esporte > História da Educação Física > SCHNEIDER, O. A constituição de teorias da educação física no Brasil: pedagogia e educação física em Manoel Bomfim. In: VII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, 7., 2000, Gramado. Anais... Gramado: UFRGS/ESE, 2000, p. 272-277.

SCHNEIDER, O. A constituição de teorias da educação física no Brasil: pedagogia e educação física em Manoel Bomfim. In: VII CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA, ESPORTE, LAZER E DANÇA, 7., 2000, Gramado. Anais... Gramado: UFRGS/ESE, 2000, p. 272-277.

 

A CONSTITUIÇÃO DE TEORIAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO FÍSICA EM MANOEL BOMFIM

 

Omar Schneider[1]

 

Resumo: este trabalho faz uma análise bibliográfica cujo objetivo é contribuir para entender como vem se desenvolvendo, no século XX, uma teoria para a Educação Física. O corte temporal para o estudo tem como base o pensamento de Manoel Bomfim, expresso na obra intitulada Lições de Pedagogia: theoria e pratica da educação, editada em 1926. A essa obra fizemos perguntas pontuais sobre: concepção de ciência, de Pedagogia, dimensão da realidade com a qual está preocupada, sentido da Educação Física na escola e método proposto. Resgatar o pensamento de Manoel Bomfim tem por objetivo entender como os intelectuais da Pedagogia buscaram sistematizar um saber que desse legitimidade à Educação Física, e com base em que conhecimentos esse saber foi organizado.

Palavras-chave: 1) Manoel Bomfim; 2) teorias da Educação Física; 3) pensamento pedagógico.

 

Abstract: that work makes a bibliographical analysis whose objective is to contribute to understand how it is developing in the century XX a theory for the physical education. The temporary cut for the study, takes as base Manoel Bomfim's thought, expressed in the work entitled Lessons of Pedagogy: theoria and practice of the education, edited in 1926. To this author we asked punctual questions on: conception of science, of pedagogy, dimension of the reality that is concerned, sense of the physical education in the school and proposed method. To rescue Manoel Bomfim's thought has for objective to understand as the intellectuals of the pedagogy looked for to systematize a knowledge that of that legitimacy the physical education, and with base in that knowledge that knowledge was organized.

Words - key:1) Manoel Bomfim; 2) theories of the physical education; 3) pedagogic thought.

 

Introdução

Médico e historiador Manoel Bomfim (1868-1932) tem no seu currículo uma série de obras que procuram avaliar a situação brasileira[2] e caracterizar o seu processo histórico.

Busca em suas obras fazer uma revisão crítica da historiografia brasileira, fazendo que esta não seja contada apenas na versão dos vencedores, assumindo, assim, uma perspectiva de recuperação da própria história.

Na busca de desmistificar a história, relata "que era necessário passar a limpo a historiografia brasileira [dedica-se desse modo] [...] a fazer uma ampla e impiedosa crítica das principais 'histórias do Brasil' da sua época" (Aguiar, 1996, p. 28-29).

Apesar desse aspecto da obra de Bomfim ser por demais atraente, procuramos neste estudo, concentrar-nos em outros pontos de seu pensamento, quais sejam, nos aspectos de sua produção que se relacionam com a formulação de uma proposta para a Educação Física

Este trabalho tem como base um estudo maior designado: Constituição de teorias Pedagógicas para a Educação Física: o debate em periódicos no século XX,que objetivacompreender como vem constituindo-se o debate de uma teoria da Educação Física no Brasil.

O estudo procura organizar discursivamente os passos dados em torno de um conhecimento que subsidie o agir pedagógico da Educação Física. Este estudo utiliza como referencial teórico, os avanços propiciados em primeiro plano pela área objeto, a Educação Física, e, em segundo plano, as contribuições da Pedagogia como teoria da educação.

Em relação a uma teoria para a Educação Física, buscamos , por meio dos escritos de Bomfim, qual preocupação demonstrou ao organizar um corpo de conhecimento para essa área. Focalizamos neste trabalho como está organizada, nos escritos de Bomfim (1926), uma concepção de ciência, de Pedagogia. Procuramos também entender com qual dimensão da realidade Bomfim está preocupado. Com base nesses dados visualizarmos o sentido dado à Educação Física na escola e o método indicado para trabalhar essa disciplina.

Para tratarmos das proposições de Manoel Bomfim sobre a Educação Física, utilizamos o livro intitulado Lições de Pedagogia: theoria e pratica da educação, 3º edição, editado em 1926.

Originalmente editada em 1915, essa obra de Manoel Bomfim foi organizada com base nas experiências e lições que trabalhou no curso de Pedagogia da Escola Normal.

No livro Lições de Pedagogia: theoria e pratica da educação, concentramos-nos em analisar o capítulo IV, intitulado Cultura Physica e Habitos Hygienicos e o capítulo V que trata da Cultura Gyimnastica como conteúdo da Educação Física.

Optamos, ao longo do estudo e construção do texto, por ser fiel à grafia original das fontes, mantendo nas citações as formas e estilos utilizados pelos autores.

 

Principais idéias de Manoel Bomfim sobre Pedagogia e Educação Física

 

Bomfim, possui como característica pensar a educação para além do momento da prática pedagógica. Para ele, toda a estrutura da escola assim como sua localização devem obedecer a uma boa “disposição e distribuição interna das diversas salas e dos outros compartimentos [pois, é essa organização que vai influir sobre ] [...] as condições pedagógicas” (1926, p. 59).

Em relação a uma Pedagogia que objetive melhor organizar a assimilação do conhecimento, Bomfim argumenta que esta deve diferenciar-se do que vinha até então sendo trabalhado pelos programas de ensino e, assim, entende que a Pedagogia:

 

Não pode ser um simples repositorio de principios geraes, nem uma codificação acabada de preceitos praticos. Ella tem de ser uma systematisação em discussão continua; uma constante coordenação de methodos racionaes; uma incessante reforma adaptativa de processos logicos e malleaveis (1926, p. 11).

 

Bomfim argumenta que o pocesso educativo estava de certa forma estagnado, não havia uma preocupação em se discutir o que seria a educação.

Percebendo a existência de uma indefinição quanto aos objetivos da educação, o autor objetiva clarear esse conceito, trazendo para discussão aquele que entende como o mais apropriado, e assim o apresenta: “Geralmente [à educação] atribuímos a idéia de modificação ou correcção, e a de desenvolvimento. Effectivamente, na educação, ha sempre modificações, e todas ellas se fazem como ¾desenvolvimento; mas apreciada em syntese, a educação é a adaptação do individuo ás condições humanas” (BOMFIM, 1926, p. 12).

A educação, de acordo com esse autor, apresenta-se como a “adaptação ou preparo” (1926, p. 12), pois entende que, pela complexidade que é o ser humano, e pela distinção das outras formas de vida, seus processos adaptativos ocorrem de forma diversa, a qual ele chama de “adaptação consciente” (1926, p. 12). Bomfim tem esse entendimento por perceber o processo educativo em meio a um quadro complexo. Isso o leva a afirmar que a Pedagogia, como teoria que orienta a educação, deve “se inspirar em todas as sciencias ¾physicas, naturaes, historicas e sociaes” (BOMFIM, 1926, p. 14), Entre estas, destaca aquela que considera como a “que lhe dá os principais subsídios [...] [no caso] a psychologia” (BOMFIM, 1926, p. 14).

Ao tratar dos conhecimentos necessários à prática pedagógica, Bomfim (1926, p. 14) diz que é necessário distinguir “o fim da educação, que é a adaptação do educando; e os seus tres factores ¾natureza do educando, natureza do meio a que elle se destina, e a acção do educador”. Assim, o professor deve estar de posse do conhecimento formado por essa tríade, para realizar seu trabalho, que deverá tomar como parâmetro a natureza psíquicada criança.

Desse modo, Bomfim (1926, p. 14) conclui que “é o conhecimento da natureza da criança e da natureza do meio, onde ella vae viver, que deve constituir a base no preparo do educador, a fim de que, pela sua acção, se assegure o êxito da obra educativa”. Com base nessa constatação, ele argumenta que é essa natureza “que se deve estudar de modo explicito” (1926, p. 14) para que se possa intervir, de modo a alcançar os objetivos esperados no processo adaptativo. Assim, para esse autor, “o estudo systematico da Pedagogia deve ser precedido do estudo também systematico e scientífico da vida pysichica ou das actividades conscientes”, ou seja, antes de se construir processos educativos, baseados em modelos pedagógicos, deve-se primeiro conhecer a natureza psíquica e o processo das atividades conscientes do educando, para que se possa ter parâmetros de quais modelos de intervenção são mais adequados ao desenvolvimento educacional da criança.

Mesmo que em seu pensamento esteja embutida a necessidade de a ciência orientar o processo educativo e a ação pedagógica, Bomfim (1926, p. 9) não caracteriza a Pedagogia como uma ciência. Em sua visão, esta “é, pois, a systematização dos princípios scientificos, na discussão dos methodos [e suas formas] de intervenção educativa”.

Buscando caracterizar a Pedagogia em suas lições, Bomfim argumenta que a “Pedagogia está ainda mal determinada [pois, ela] [...] não é uma simples formula [...] de dirigir ou conduzir a creança”. Considera também que a Pedagogia não é a Sciencia da Educação, apesar de entender que “Ha, ou deve  haver sciencia na Educação [...] mas não se deve considerar que esse conjunto de conhecimentos é uma Sciencia da Educação” (1926, p. 9).

Bomfim considera que “a Pedagogia é, de facto, uma systematisação [...] um corpo de doutrinas, em plena evolução, e não uma sciencia propriamente dita, pois que o seu acto é [...] [eminentemente]  pratico­ ¾a educação” (1926, p. 9).

Ainda no intuito de caracterizar um sentido para a Pedagogia em suas lições, o autor afirma que “a Pedagogia é a discussão ¾theorica, pelos principios em que se baseia, mas essencialmente pratica pelos fins a que se destina” (1926, p. 9), ou seja, apesar de reconhecer a Pedagogia como um discurso sobre o processo educativo, ainda assim entende que “quando se diz que a Pedagogia é a theoria da Educação, não se lhe tira o intuito caracterisadamente pratico” (BOMFIM, 1926, p. 10).

Essas práticas a que se refere o autor não se concretizam sem o apoio da ciência. A teoria/Pedagogia que subsidia a prática deve ter como base alguns princípios, mas não qualquer princípio. Estes devem justificar o porquê da sua intervenção, pois “a existencia da Pedagogia explica-se pelo desejo e o intuito de tornar a educação uma obra methodica e scientifica” (BOMFIM, 1926, p. 10). Assim, entende-se que “a Pedagogia não é uma simples condensação de principios scientificos, ou um formulario de preceitos práticos. É uma discussão interpretativa, uma doutrina de deduções racionaes, rigorosas, mas apparentemente variaveis” (Bomfim, 1926, p.10).

Bomfim busca desfazer o Entendimento de Pedagogia como sinônimo de ciência, por entender a Pedagogia como uma sistematização de preceitos científicos para a prática educativa e, apesar de considerar a ciência também como uma sistematização, vê nessa uma “systematisação que tem por objetivo, simplesmente a organisação do conhecimento e a acquisição da verdade; [que] é sempre teórica, [e] inteiramente indifferente á aplicações praticas” (1926, p. 9).

Ainda que considerando a Pedagogia como uma sistematização que tem como meta o conhecimento sobre os processos educativos e uma doutrina de deduções, assim como a necessidade de a educação estar calcada em princípios científicos, Bomfim (1926, p. 21) observa que pode haver variabilidade no trato com esses conceitos, pois “e evidente que não se pode caracterizar perfeitamente o facto educação, sem determinar as condições de existencia desse meio a que o individuo se tem de adaptar”.

Tratando sobre a educação e sua finalidade última, o autor em tela trabalha com a argumentação de que “educação, ao mesmo tempo que modifica e corrige, estimula e desenvolve. Por isso, mais convem fundir as duas ideias, e considerar a educação como uma obra de apuro, que é ao mesmo tempo ¾correção e desenvolvimento, porque, de facto, o que se procura obter da obra educativa é o apuro do individuo” (BOMFIM, 1926, p. 21).

De acordo com Bomfim (1926, p. 54), por meio da “educação póde-se intervir na execução [...] [dos] actos ou movimentos conscientes, para corrigil-os e apural-os”. A exemplo da ação educativa sobre o organismo, ele cita a "dynamica respiratoria susceptível de educação imediata, assim como as funções geraes de nutrição” (1926, p. 54), pois “os actos meramente nutritivos, há uma boa porção sobre os quaes têm influencia direta os preceitos e os processos educativos” (1926, p. 54).

Segundo Bomfim (1926, p. 54), “são também do domínio da educação physica um grande número de habitos que se adquirem na infancia e na mocidade, habitos de caracter organico [que], têm  influencia decisiva sobre a constituição physiologica do individuo e sobre as suas condições de saude” (1926, p.54)..

No pensamento de Bomfim, em relação à Educação Física, esta é dividida em dois aspectos, uma designada de educação physica positiva e outra de educação physica negativa, mas, segundo ele, “esses termos têm apenas o valor de uma distinção” (1926, p. 55) e, apesar de utilizá-los para esclarecer as funções da Educação Física, isso é feito com uma crítica, pois, para ele, “os mesmos, são de certo modo infelizes porque ¾toda educação é (e não pode deixar de ser) positiva” (1926, p. 55).

Por perceber a inadequação desses termos para se referir à Educação Física, Bomfim (1926, p. 56) propõe que se passe a compreender essa disciplina não mais como educação physica positiva e educação physica negativa, pois, como afirma, esses termos são deveras inadequados para designar um processo que é sempre positivo. Assim diz ele: “logicamente, deveríamos distinguir a educação physica em ¾educação hygienica e educação motora” (1926, p. 56).

Buscando elucidar o porquê de utilizar esses termos para se referir à Educação Física, Bomfim (1926, p. 69) orienta sobre o que é específico de cada abordagem e a elas assim se refere: a “expressão ¾educação motora ¾tem a vantagem de indicar desde logo que os exercícios de Gymnastica educativa visam directamente, não somente os órgãos musculares, mas todo o conjuncto do apparelho motor da vida de relação”. O uso desse termo “pode corrigir-se assim a noção estreita e falha ¾de que a gymnastica tem por fim exercitar e educar os musculos somente” (BOMFIM,1926, p. 69).

Em relação  educação higiênica, Bomfim (1926, p. 56) esclarece que esta “compreeende a acquisição dos respectivos habitos e o conhecimento dos preceitos”. Essa compreensão e aquisição dos hábitos é um ponto-chave nas proposições de Bomfim para a educação e a Educação Física, pois o trato com esses saberes não diz respeito somente a uma disciplina, no caso a Educação Física. Em relação a esse ponto, assim se refere: “esse aspecto especial da Hygiene nas suas relações com a Pedagogia, recebe o nome de Hygiene Escolar, que vem a ser: o conjunto de regras e indicações que precidem a vida escolar, quanto á defesa da saúde” (BOMFIM, 1926, p.  58).

Essas regras são entendidas como os “preceitos que se particularisam nos seguintes objectos: condições e qualidades do local das classes, disposição, condições e organisação do material escolar; distribuição dos horarios” (BOMFIM, 1926, p. 58).

De acordo com Bomfim (1926, p. 58), “a Pedagogia inspira-se diretamente na higiene, não só para formular o Programma de Educação Physica, como para organizar as condições materiais da vida escolar, e instituir o regimen de trabalho para os alumnos”.

O tratamento dado à questão da higiene não se refere apenas ao sentido de limpeza, asseio. Para ele, a higiene estava também relacionada com o mobiliário, com os princípios ergométricos dos móveis utilizados.

As horas dedicadas aos estudos também é um ponto importante, assim como é importante a organização dos horários dos intervalos entre as lições, pois é necessário que o aluno tenha momentos de dedicação aos estudos e momentos de descanso, para que “assimile bem as lições, habitue-se ao trabalho methodico, e tenha, nos intervallos das classes, os necessarios repousos para refazer-se da fadiga produzida pelas lições” (BOMFIM, 1926, p. 64).

Ainda em relação à temática da higiene e ao regimen de formação dos bons hábitos, observamos que, apesar de Bomfim não entender essa questão como uma exclusividade da Educação Física, ele a vê como uma das disciplinas que melhor pode intervir no processo de desenvolvimento do ser humano e assim se refere a ela:

 

São também do dominio da educação physica um grande numero de habitos que se adquirem na infancia e na mocidade, habitos de caracter organico, e que têm influencia decisiva sobre a constituição physiologica do individuo e sobre as suas condições de saude, por todo o decurso da existencia. Esses habitos organicos, bons ou mãos, recommendaveis ou condemnaveis, interessam tanto mais o educador quanto é certo que elles só são realmente modificaveis no periodo da formação do individuo (BOMFIM, 1926, p. 54-55).

 

A Educação Física é entendida como uma disciplina que orientará o educando, por meio da intervenção sobre o corpo, fazendo que estes se livrem dos hábitos condenáveis e absorvam os considerados recomendáveis ainda na infância. Mas, caso a Educação Física não consiga seu intento, restam ainda os influxos educativos sobre a consciência, pois, segundo Bomfim (1926, p. 54), “é bem verdade [...] mesmo que  quando o organismo já se desenvolveu, é possível influir sobre elle pela consciência”.

Tratando da educação motora, Bomfim esclarece que essa têm por objetivo o apuro do organismo e “compreende os exercícios methodicos, necessarios e proprios para desenvolver e apurar as energias do organismo” (BOMFIM, 1926, p. 69).

Esses exercícios metódicos relatados por Bomfim, tem como objetivo o controle das energias corporais, sendo esse controle organizado para ocorrer em três momentos distintos. Esses momentos são chamados programa de gymnastica educativa, e deveriam ser pensados pelo professor para que pudesse:

 

A)organisar o trabalho muscular, ou coordenar as contrações, de tal forma que o individuo possa produzir o maximo  possivel, na capacidade das suas forças organicas; B) dar aos movimentos uma tal propriedade ou perfeição de forma que esse 'maximo de produção' seja ao mesmo tempo ¾optimo de qualidade; C) harmonisar ou equilibrar os differentes grupos de musculos, corrigindo pelos exercicios systemicos e especiaes as deficiencias e os desequilibrios, que os trabalhos communs da vida e os exercicios sportivos vão deixando no conjunto do systema muscular.

 

Esse conjunto de preceitos que comporia o programa de ginástica educativa, formaria, nas palavras de Bomfim (1926, p. 69), “o que se poderia chamar a boa escola dos movimentos e do trabalho muscular”, pois esta se dirigiria a todos os órgãos, o que acabaria por “corrigir [...] a noção estreita e falha de que a gymnastica tem por fim exercitar os musculos somente” (BOMFIM, 1926, p. 69).

Bomfim percebia que o trabalho em relação ao corpo era realizado tendo como meta apenas o aumento da massa muscular. Em seu ponto de vista, seria “muito mais vantajoso saber aproveitar os [...] musculos, do [que] [...] ter muito musculo” (Bomfim, 1926, p. 71). Organiza assim o programa de ginástica como um conjunto de atividades que objetivavam ser corretivas na aplicação.

Ao tratar do programa de ginástica educativa na escola, Bomfim (1926, p. 71) argumenta que essa não deve se constituir em “uma escola de athletismo, e sim ¾uma educação apurada do sistema motor”.

Bomfim coloca-se contra a prática do atletismo como conteúdo da Educação Física na escola, por entender que “o desenvolvimento que se busca em educação ¾  quer nas actividades physicas, quer nas funções psychicas ¾é um desenvolvimento harmônico e equilibrado do conjuncto” (1926, p. 70). Objetivo que não percebia no atletismo, pois, de certa forma, este visava mais ao aumento das forças corpóreas do que ao seu apuro.

Ainda argumentando sobre o desenvolvimento muscular, Bomfim reforça que esse ponto não deve ser uma preocupação do trabalho realizado na escola, pois “para obter esse gráo de desenvolvimento muscular, bastam os jogos communs na infância, alguns sports, e os movimentos ordinarios que o normal da vida exige de todo individuo” (1926, p. 70). Assim, o autor examina que, por conseguinte, “como regra geral, a gymnastica educativa, systemica, não tem que intervir para provocar o desenvolvimento dos musculos e o respectivos aumento das forças musculares” (BOMFIM, 1926, p. 70), pois, segundo ele, “de todas as formas puras de energia que o homem póde produzir, é essa a menos importante” (Bomfim, 1926, p. 70) e “mesmo quando o individuo tem de viver do trabalho muscular, o importante, como educação physica, é a boa utilização da força muscular” (BOMFIM, 1926, p. 71).

Reforçando mais uma vez os objetivos da educação motora na escola, Bomfim (1926, p. 70), afirma que “o objeto immediato da gymnastica educativa [é a] coordenação dos movimentos; [a] dosagem do estimulo nervoso, equilibrio do sistema muscular, resistencia á fadiga pela poupança de forças [e a] representação premonitoria dos movimentos” (BOMFIM, 1926, p. 70).

Para que esse objeto tenha um tratamento pedagógico e atinja seus objetivos, é necessário que o educador sistematize seu trabalho em exercícios metódicos, os quais devem caminhar dentro de três momentos do programa de ginástica educativa. Assim,

 

[...] a primeira parte desse programma tem uma dupla importância: augmenta consideravelmente a capacidade de produção e a correlativa resistência á fadiga, e concorre, desde logo, para melhorar a qualidade dos movimentos e do trabalho em geral. É por isso que do começo, dissemos: não há vantagem práticas no desenvolvimento exagerado da força muscular. A quantidade de produção, ou a capacdade de trabalhar, depende principalmente dos bom aproveitamento. [E] as condições physiologicas do movimentos voluntários explicam perfeitamente essa conclusão a que chega a Pedagogia (1926, p. 71-72).

 

Em suas lições, Bomfim (1926, p. 78) argumenta que, “...nas primeiras idades, trata-se principalmente de desenvolver o systema muscular, e para isto são preferiveis os jogos e os exercicios livres devem predominar os jogos e os sports; a gymnastica propriamente dita só deve intervir quando já ha desequilíbrios accusados, que devam ser corrigidos”.

 

Considerações finais

 

Esses são os objetivos traçados para a Educação Física, representados pelos ensinamentos sobre as normas de higiene, do cuidado da educação corporal, do apuro das energias e do cultivo das forças.

Em relação ao método indicado, Bomfim (1926) refere-se aos procedimentos fundamentados nos exercícios da ginástica sueca.

Na organização do conhecimento que daria fundamentação à Educação Física, Bomfim (1926) não faz distinção entre uma Educação Física direcionada para os meninos e uma para as meninas. Os exercícios até deveriam ser os mesmos, mas poderiam variar em relação à intensidade.

Esses procedimentos indicados por Bomfim (1926) foram criados por Per Henrick Ling na Suécia, o qual formulou seus princípios tendo em vista um viés “pedagógico, militar, médico e estético” ( Marinho, 1958, p. 239).

A ênfase colocada sobre esses aspectos de uma Pedagogia leva-nos a associar o discurso/proposta de Bomfim (1926) com outro, que possui uma forte penetração na Educação Física, o qual foi construído desde as primeiras incursões dessa disciplina na escola como componente curricular ¾o higienismo.

A presença das questões envolvidas com a higiene aparece como um eixo no pensamento de Bomfim, em relação a Educação e Educação Física. Esse viés pedagógico para a Educação Física tinha como orientação as ciências naturais, mais especificamente o discurso médico, e suas indicações diziam respeito aos modos de aquisição e manutenção da saúde.

Deixando um pouco de lado o caráter ideológico dessa proposição, essa sistematização foi uma das principais contribuições para uma teoria que desse consistência, legitimidade a essa disciplina no sistema educacional.

Vemos também, nas proposições de Bomfim (1926) a influência de um discurso muito forte na sociedade do final do século XIX. Um discurso que se preocupa com os espaços sociais, com a moralização dos hábitos, com a formação de indivíduos fortes e sadios, num esforço constante para o aperfeiçoamento da espécie humana. Designado Puericultura, que consistia em um conjunto de meios para assegurar o nascimento e o desenvolvimento de crianças sadias, mas não só isso, esse discurso teve como um de seus objetivos normatizar as condutas de homens e mulheres como tentativa de melhorar as condições raciais das futuras gerações.[3]

No caso do livro Lições de Pedagogia, Bomfim, apesar de fazer críticas concretas ao modelo educacional, não chega a montar relações entre o micro do sistema educacional, com o macro do sistema político-econômico. No caso do outro livro de sua autoria, O Brasil nação, o autor já não tem uma visão tão idealizada sobre a educação. Ele avança em relação a esse aspecto, chegando a apontar o caráter político da educação.

A utilização por esse autor do referencial da fisiologia, anatomia e discurso médico para organizar um corpo de conhecimento para a Educação Física, acreditamos que ocorreu por ser esse o conhecimento disponível naquele momento histórico, pois, em outros aspectos, seu pensamento estava bem adiantado em relação a intelectuais da sua época.[4]

Com referência às repercussões que possam ter ocorrido na formação do pensamento pedagógico brasileiro a partir das teorizações de Bomfim, é necessário que haja maior aprofundamento, pois, apesar de esse autor ter uma grande produção, teve menos destaque que outros autores do seu tempo.

 

Referências

AGUIAR, Ronaldo Conde. Um admirável livro. In: BOMFIM, Manoel. O Brasil nação: realidade da soberania brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996. p. 22-34. 630 p.

 

BOMFIM, Manoel. Lições de pedagogia:theoria e prática da educação, 3. ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves,1926. 440 p.

 

COSTA, Jurandir Freire. Ordem médica e norma familiar. 2. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1983. 282 p.

 

GRUNENNVALVADT, José Tarcísio. Manoel Bomfim, a Pedagogia e a cultura física. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE HISTÓRIA DO ESPORTE LAZER E EDUCAÇÃO FÍSICA. 6., 1998, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Editoria Central da Universidade Gama Filho, 1998. p. 534-540.

 

MARINHO, Inezil Penna. Sistemas e métodos de educação física. São Paulo: Mercúrio, 1958. 556 p.

 

 

 



[1]Acadêmico do Curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFES, e Bolsista de Iniciação Científica. Orientador prof. Dr. Amarílio Ferreira Neto – Dept. de Desportos. Apoio financeiro, CNPq.

[2]Para mais detalhes, consultar Ronaldo Conde Aguiar na apresentação da 2ª edição do livro O Brasil Nação: realidade da soberania brasileira, editado em 1996.

[3]A esse respeito consultar o livro Ordem médica e norma familiar de Jurandir Freire Costa.

[4]De acordo com Grunennvalvadt (1998), alguns colocam Bomfim como um intelectual que fora fadado ao esquecimento, por ter lançado mão de ferramentas conceituais bastante adiantados em relação a outros intelectuais de seu tempo.

 

 

 

Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA), http://www.proteoria.org
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SCHNEIDER, Omar; Bruschi, Marcela. A Revista de Educação e a escolarização da educação física no Espírito Santo: autores, atores e editores (1934-1937) In: VII Congresso Brasileiro de História da Educação, 2013, Cuiabá. Circuitos e fronteiras da história da educação no Brasil. 2013. 1 CD-ROM ISSN:2236-1855
Marcela Bruschi
SCHNEIDER, Omar; BRUSCHI, Marcela; SANTOS, Wagner dos; FERREIRA NETO, Amarílio. A Revista de Educação no governo João Punaro Bley e a escolarização da Educação Física no Espírito Santo (1934-1937). Revista brasileira de história da educação, Campinas, v. 13, n. 1 (31), p. 43-68, jan/abr 2013
Marcela Bruschi