NASCIMENTO, Ana Claudia Silverio; LOVISOLO, Hugo Rodolfo.Produção científica dos doutores em educação física: análise do programa de pós-graduação da Universidade Gama Filho (1994-2000). In: II Congresso de Educação Física e Ciências do Esporte do Espírito Santo, 2004, Vitória. II Congresso de Educação Física e Ciências do Esporte do Espírito Santo. Vitória: Secretaria Estadual do Colégio Brasileiro de Ciência do Esporte, 2004
PRODUÇÃO CIENTÍFICA DOS DOUTORES EM EDUCAÇÃO FÍSICA: ANÁLISE DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DA
UNIVERSIDADE GAMA FILHO (1994-2000)
Ana Claudia Silverio Nascimento
Mestranda em Educação Física do Programa de Pós-Graduação da Universidade Gama Filho
Membro do Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física - PROTEORIA
Bolsista do CNPq
Hugo Rodolfo Lovisolo
PhD em Sociologia do Esporte Professor da Universidade Gama Filho
RESUMO
Apresenta uma descrição da produção dos doutores titulados pelo Programa de Pós- Graduação em Educação Física da Universidade Gama Filho, no período de 1994-2000, segundo os tipos de documentos produzidos, idiomas das publicações, distribuição temporal e tipo de autoria. Para isso, toma como base os currículos disponíveis na base de dados do CNPq: Currículo Lattes. Demonstra que foram produzidos 463 documentos, comunicados, em sua maioria, em anais de eventos, tendo como idioma principal o português. Evidencia que há um aumento da produção após a titulação e uma tendência de individualidade da produção. Palavras-chave: produção científica, pós-graduação, educação física.
INTRODUÇÃO
A pós-graduação stricto sensu vem sendo desenvolvida, no Brasil, há cerca de 40 anos. Sua implantação encontrou condições favoráveis nos anos 60 e 70, quando o regime militar, sob forte influência de teorias do desenvolvimento, como a do capital humano, elegeu, como uma das metas nacionais, a formação de recursos humanos qualificados. A formação de pesquisadores de alto nível, a capacitação avançada de profissionais e a preparação de docentes qualificados para todos os níveis de ensino foram os objetivos estabelecidos para o novo sistema que se implantava.
A reforma universitária de 1968 incorporou princípios que já vinham sendo adotados e consagrou o modelo norte-americano de pós-graduação como a principal referência para a estruturação da pós-graduação nacional.
Nesse contexto, na década de 1970, os cursos de pós-graduação foram institucionalizados com a Lei 5.540/68. Desde então, vários procedimentos vêm sendo adotados para acompanhar o desenvolvimento, avaliar os resultados e questionar diferentes aspectos da produção científica brasileira.
Población e Noronha (2001) destacam que, ao considerar os vários segmentos do sistema implantado, a reflexão sobre a validade e a importância dos critérios de avaliação realizada por pares ou consultores, adotando indicadores sócio-econômicos ou métodos quantitativos, tornou-se tarefa imprescindível.
No Brasil, esses critérios têm sido utilizados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES) no processo de avaliação e acompanhamento dos programas de pós-graduação de todas as áreas de conhecimento; pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para avaliação dos projetos de pesquisa propostos pelos investigadores das universidades e instituições de pesquisa para apoio financeiro e concessão de bolsas; e ainda pelas agências estaduais que também julgam as solicitações de auxílio aos pesquisadores para o desenvolvimento de projetos.
O apoio ou rejeição aos critérios adotados para atribuir conceitos às instituições ou conferir créditos e recompensas aos pesquisadores têm resultado em discussões acadêmicas e reivindicações de sociedades científicas (MENEGHINI apud POBLACIÓN; NORONHA, 2001). Entre os critérios utilizados, a produção científica destaca-se como um dos requisitos de maior relevância.
Dessa maneira, considerando o contexto que orienta a política em ciência e tecnologia no Brasil, entende-se como tarefa necessária investigar a produção científica dos doutores em Educação Física, buscando compreender como essa política repercute nas ações da comunidade científica da área.
Os estudos quantitativos da produção científica têm permitido entender melhor a amplitude e a natureza das atividades de pesquisa desenvolvidas nas diferentes áreas do conhecimento, de diversos países, instituições e pesquisadores. Por isso, pesquisadores de diferentes áreas estão se envolvendo em pesquisas cujos objetivos consistem na avaliação de aspectos da produção científica. O que resulta na publicação de inúmeros trabalhos a respeito.
Segundo informa Witter (1999), estima-se que entre 5 a 8% da produção científica de uma área seja constituída de trabalhos metacientíficos que avaliam a produção de suas subáreas, compare-as entre si e com outras áreas do conhecimento. Os resultados dessas pesquisas permitem aquilatar o nível do conhecimento disponível, delinear políticas de desenvolvimento e investimento, necessidades de pesquisadores, entre outros aspectos.
Levando em consideração essas possibilidades, o presente trabalho objetiva analisar a produção científica dos doutores em Educação Física titulados pelo programa de pós- graduação da Universidade Gama Filho, no período de 1994-2000, a fim de prover maior visualização das características da produção. Para isso, toma como base para a análise o banco de dados do CNPq, Currículo Lattes,tendo em vista que, dentre as várias maneiras de conhecer concretamente a produtividade de um pesquisador, está a análise do seu currículo.
Este estudo faz parte de dissertação que está sendo desenvolvida no mestrado em Educação Física e Cultura, da Universidade Gama Filho, que versa sobre a produção científica dos doutores em Educação Física titulados pelos programas de pós-graduação da área no período de 1990-2000, e tem como objetivo melhor compreender as características da produção, bem como entender como parte da comunidade científica da área tem se comportado perante a política científica adotada pelo governo.
OBJETO DE ESTUDO
Em termos conceituais, produção científica pode ser entendida, de acordo com Lourenço (apud BURITI; BURITI, 1999, p.171), “[...] como toda produção documental sobre um determinado assunto de interesse de uma comunidade científica específica, que contribua para o desenvolvimento da ciência e para a abertura de novos horizontes de pesquisa”.
Na visão de Menezes, citado por Buriti e Buriti (1999), a produção científica consiste em um conjunto de estudos realizados por pesquisadores de diversas áreas, que geram conhecimentos aceitos pela comunidade científica e que tem seus resultados divulgados em veículos de comunicação formal, informal e não convencional.
A análise da produção científica utilizando metodologia específica teve início na década de 1970 e vem evoluindo consideravelmente. Desde então, diversos estudos têm sido publicados com o intuito de melhor compreender a produção gerada pelas diferentes áreas do conhecimento. Entre as que se interessam por esta análise, destacam-se estudos brasileiros em Biblioteconomia e Ciência da Informação.
A literatura produzida por essas duas áreas demonstra que a análise da produção científica ocorre tendo como base os documentos produzidos e divulgados pela comunidade científica e parece estar se tornando uma atividade constante, tendo gerado vários ramos de investigação como a Ciência da Ciência, Sociologia da Ciência, Psicologia da Ciência e Cienciometria (WITTER, 1999).
Os estudos relativos à produção científica podem enfocar produtor, produto, consumidor ou a interação entre esses elementos (COELHO; MENEZES, apud BURITI; BURITI, 1999). O que se produz, a quem se comunica e quais os canais de comunicação utilizados, ou seja, os tipos de veículos usados pelos pesquisadores para divulgar os resultados de seu trabalho são aspectos essenciais para o conhecimento da produção científica.
De acordo com os argumentos de Noronha, Kiyotani, Juanes (2000, p.2) “[...] a produção científica é também conhecida como produção intelectual, produção acadêmica, produção do conhecimento, expressões que abarcam as produções bibliográficas, técnicas e artísticas realizadas por determinada comunidade”.
Tendo em vista essa afirmação, constata-se que, dentre as várias formas de conhecer a produtividade de um pesquisador está a análise de seu currículo, que consiste no documento que traduz de forma direta a produção de um cientista, possibilitando uma análise da vida do pesquisador, sua produtividade e sua atuação na área. Buriti e Buriti (1999) destacam ainda que o currículo é mais que uma descrição pormenorizada da vida do cidadão é, na verdade, uma fonte fundamental para a avaliação da produção científica e participação em outras atividades voltadas para sua área de atuação.
Assim, acredita-se que, por meio da análise do currículo dos doutores em Educação Física seja possível aumentar o conhecimento e compreensão do comportamento de parte da comunidade científica da área perante a política científica do governo, além de travar um diálogo com a pós-graduação, tendo em vista que a produção científica, como esclarece Witter (apud MALOZZE, 1999, p. 107), “[...] está relacionada com a atuação dos cursos de pós- graduação quer pelo seu fazer científico, quer pelo seu papel na formação de professores e pesquisadores que irão atuar em outras entidades, universitárias ou não”.
Os estudos avaliativos da produção científica, ainda segundo Noronha, Kiyotani e Juanes (2000), têm também permitido delinear campos ou áreas específicas do conhecimento, identificando tendências temáticas, metodológicas e mesmo a evolução do conhecimento em frações temporais e espaciais.
Assim, ao levar em consideração o objetivo proposto neste estudo, pretende-se traçar um perfil que visualize as características e preferências da produção gerada pelos doutores titulados pelo programa de pós-graduação da Universidade Gama Filho, no período de 19942000, buscando destacar: quantos documentos foram produzidos pelos doutores no período enfocado; quais os tipos de documentos utilizados na divulgação da produção da comunidade estudada; o idioma das publicações produzidas; os tipos de autoria adotada e a temporalidade da produção.
RELEVÂNCIA DO ESTUDO
O interesse por estudar esse tema parte da observação de que a avaliação e análise da produção científica permitem identificar o desenvolvimento e produção de qualquer área, bem como seu impacto sobre a comunidade científica e sociedade em geral.
Dessa maneira, a relevância do estudo se evidencia na medida em que a análise da produção científica permite que o leitor de ciência, o professor, o próprio pesquisador e as agências de apoio possam ter uma atitude crítica em relação ao que se produz e reconhecer as razões do desenvolvimento diferenciado das várias áreas da ciência, construindo, dessa forma, não só a história da ciência, mas permitindo que se atue na busca do equilíbrio (BUFREM apud OLIVEIRA, 1999).
Esse tipo de estudo permite também dimensionar a extensão do conhecimento em uma determinada área do saber humano, qualificando-o e caracterizando o avanço científico atingido, evidenciando as lacunas existentes. Permite, ainda, um dimensionamento científico comparativo entre as diferentes áreas da ciência, configurando assim, o estágio do desenvolvimento científico de uma nação, de uma instituição, de um departamento e até mesmo de um pesquisador.
Assim, deve-se ressaltar que os estudos sobre produção científica são relevantes porque fornecem um mapeamento das contribuições, necessidades e déficits nas diversas áreas do conhecimento, como também, possibilitam redefinir políticas de pós-graduação. Com base nos dados fornecidos pelas avaliações, a política de apoio à pesquisa e aos pesquisadores pode ser mais bem equacionada, já que as agências de apoio à formação e aprimoramento do pesquisador poderão direcionar melhor as verbas.
Compartilhando dessa opinião, Kroeff (2000, p. 23) assinala que:
Estudos que envolvem a produtividade científica servem de base para a criação de parâmetros de avaliação de qualidade dos cursos de pós-graduação [...], bem como para subsidiar a tomada de decisão na distribuição de recursos humanos e materiais para os projetos de pesquisa da área ou até mesmo para subsidiar tarefas de planejamento de Estado.
Nesse mesmo sentido, destaca-se que a avaliação do conhecimento produzido ganha importância na medida em que pode ser utilizada como instrumento para hierarquizar prioridades em relação a recursos destinados a grupos de pesquisas, além de possibilitar o diagnóstico da potencialidade de grupos e instituições envolvidos no processo produtivo (OLIVEIRA; DOREA; DOMINI, apud KROEFF, 2000).
Esse fato reforça a importância de se conhecer a produção das diversas áreas e dos pesquisadores de forma que os dados coletados possam servir de apoio na tomada de decisões. Portanto, também por essa via, o estudo poderá permitir o diálogo com o sistema de pós-graduação do País que tem se caracterizado como instância de desenvolvimento da produção científica.
Considerando o exposto, acredita-se que o estudo poderá contribuir para melhor visualização da produção científica da Educação Física, fornecendo subsídios para melhor compreender a comunidade científica e o processo de produção científica como um todo. Mais do que o conhecimento de pontos isolados poderá contribuir para melhor se conhecer quais os elementos que influenciam o processo de produção, bem como as suas formas de comunicação e sua recepção na comunidade.
MÉTODO
O estudo proposto visa a analisar as características da produção científica gerada pelos doutores titulados pelo programa de pós-graduação da Universidade Gama Filho no período de 1994- 2000, visto que essa produção reflete a forma de fazer ciência da comunidade estudada e serve de embasamento para a compreensão do processo de construção do conhecimento na área.
O estudo configura-se como descritivo — uma vez que busca conhecer uma situação determinada — do tipo exploratório, pois consiste na coleta de informações com o propósito de compreender a produção gerada pela comunidade estudada.
O ponto de partida para a análise compreende o conjunto de 12 doutores titulados pelo programa estudado no período compreendido entre 1994 e 2000. Para identificar e quantificar a produção científica dos doutores utilizou-se a base de dados Currículo Lattesmantida pelo CNPq.
Para a análise foram consideradas as seguintes variáveis:
Tipos de documentos: os documentos foram categorizados nos seguintes tipos: artigos completos publicados em periódicos (AC), artigos resumidos publicados em periódicos (AR), livros (LP), capítulos de livros (CP), trabalhos completos publicados em anais de eventos (TC), trabalhos resumidos publicados em anais de eventos (TR), orientação de tese (OT) e orientação de dissertação (OD).
Idioma de publicação: os documentos foram agrupados, segundo o idioma de publicação em: português, inglês, espanhol, francês e “outros”.
Ano de publicação: a temporalidade dos documentos foi medida agrupando-os por ano.
Tipo de autoria: os documentos selecionados foram classificados segundo o tipo de autoria em: autoria única e autoria múltipla (dois autores, três autores e mais de três autores).
RESULTADOS
O programa de pós-graduação em Educação Física da Universidade Gama Filho foi criado em 1994 e teve sua primeira dissertação defendida em 1998. Até o ano 2000, 12 doutores foram titulados. No entanto, para a análise proposta neste trabalho, consideramos um total de dez doutores, tendo em vista que dois doutores, após sua titulação, passaram a atuar profissionalmente em outros países, não estando, portanto, cadastrados na base de dados Currículo Lattesque está sendo utilizada como fonte para o estudo.
Dos dez doutores considerados na amostra, dois ainda possuem currículo referente ao período de mestrado, o que fez com que a produção dos outros oito fosse considerada como produção total do programa. Para o trabalho, consideramos a produção dos doutores a partir do ano de ingresso no programa até aquela relativa a sua última atualização.
Dessa forma, durante o período analisado, foram produzidos pelos doutores 463 documentos, entre artigos completos e resumidos publicados em periódicos, livros, capítulos de livros, trabalhos completos e resumidos publicados em anais de eventos e orientações de teses e dissertações. Assim, a análise realizada, levando em consideração as variáveis levantadas, mostrou os seguintes resultados:
Média de produção por doutor
TABELA 1 MÉDIA DE DOCUMENTOS PRODUZIDOS POR DOUTOR
|
A tabela 1 demonstra que a média de produção documentos/doutor é de 46,3. Ao considerarmos o período analisado (1994-2000), a produção média de cada doutor passa a ser de 7,71 documentos/ano.
Considerando-se somente a produção de artigos, livros e capítulos de livros (193 documentos), a média de publicação passa a ser de 3,21 documentos/ano, estando acima dos critérios de conceituação adotados pela CAPES aplicados à avaliação de programas de pós- graduação que considera como “indício de excelência” o número de dois títulos em artigos e/ou capítulos de livros ou livros publicados por ano por professor e que pode ser tomada como parâmetro para uma análise de produção.
Se considerarmos somente a produção de artigos, livros e capítulos de livros produzidos pelos doutores após a titulação, a produção pode ser visualizada da seguinte forma:
TABELA 2 MÉDIA DE PRODUÇÀO DOUTOR/ANO APÓS A TITULAÇÃO (ARTIGOS, LIVROS E CAPÍTULOS DE LIVROS)
|
Segundo os dados apresentados na tabela 2, apenas três doutores egressos do programa da UGF mantêm uma produção de artigos, capítulos de livros e/ou livros acima da média de dois documentos por ano, considerada como indício de excelência pela CAPES, após a titulação.
Produção por tipo de documentos
TABELA 3
TIPOS DE DOCUMENTOS PRODUZIDOS PELOS DOUTORES (1994-2000)
|
AC |
AR |
LP |
CL |
TC |
TR |
OT |
OD |
TOTAL |
D1 |
12 |
00 |
03 |
08 |
08 |
07 |
00 |
11 |
49 |
D2 |
09 |
07 |
05 |
01 |
03 |
55 |
00 |
00 |
80 |
D3 |
02 |
01 |
00 |
09 |
10 |
15 |
00 |
03 |
40 |
D4 |
03 |
00 |
02 |
01 |
02 |
00 |
00 |
00 |
08 |
D5 |
29 |
19 |
01 |
15 |
07 |
56 |
00 |
13 |
140 |
D6 |
37 |
02 |
08 |
14 |
44 |
27 |
00 |
00 |
132 |
D7 |
00 |
00 |
00 |
00 |
00 |
03 |
00 |
00 |
03 |
D8 |
03 |
00 |
00 |
02 |
03 |
03 |
00 |
00 |
11 |
TOTAL |
95 |
29 |
19 |
50 |
77 |
166 |
00 |
27 |
|
DOUTORE S |
|
Os dados relativos aos tipos de documentos produzidos pelos doutores podem ser observados na tabela 3. A categoria de maior ocorrência corresponde aos trabalhos resumidos publicados em anais de eventos que somam 166 documentos (35,85% da produção).
A segunda categoria em ocorrência foi a de artigos completos publicados em periódicos com um total de 95 documentos (20,51%). Em seguida, com um total de 77 documentos, aparecem os trabalhos completos publicados em anais (16,63%).
Os capítulos de livros aparecem em quarto lugar na produção dos doutores com 50 registros (10,79%). Logo após, aparecem os artigos resumidos publicados em periódicos com 29 documentos que correspondem a 6,26% do total produzido pelos doutores.
As orientações de dissertações aparecem em sétimo lugar em ocorrência com um total de 27 registros e não aparecem registros de orientações de teses.
Com base nos dados apresentados na tabela 3, pode-se constatar que a maior produção dos doutores refere-se a trabalhos publicados em anais de eventos, tendo em vista que a soma dos trabalhos resumidos com os trabalhos completos equivale a mais da metade da produção total dos doutores (52,48%). Entre os 243 trabalhos publicados pelos doutores em anais de eventos, 38 foram apresentados em eventos regionais, 78 em eventos nacionais e 127 em eventos internacionais.
Em seguida, nota-se uma preferência pelos artigos publicados em periódicos que correspondem a 26,77% dos registros. Esse fato demonstra que as revistas científicas vêm se consolidando como veículo de disseminação do conhecimento nas diversas áreas da ciência e ainda que a publicação por meio dos periódicos oferece visibilidade aos conhecimentos produzidos, além de prestígio.
Em terceiro lugar pode-se detectar a produção de capítulos de livros e livros que, juntos, correspondem a 14,89% da produção total.
Com um percentual de 5,83% da produção aparece a orientação de dissertações que, juntamente com a orientação de teses, retratam o engajamento dos doutores em programas de pós-graduação. Vale destacar que os três doutores que registraram orientações de dissertação estão inseridos no próprio programa da UGF como docentes.
Idioma da publicação
TABELA 4
IDIOMA DOS DOCUMENTOS PRODUZIDOS PELOS DOUTORES (1994-2000)
IDIOMA |
DOCUMENTOS |
||||||
|
AC |
AR |
LP |
CL |
TC |
TR |
% |
PORTUGUÊS |
90 |
19 |
19 |
49 |
77 |
154 |
88,12% |
INGLÊS |
03 |
07 |
00 |
01 |
01 |
06 |
3,88% |
ESPANHOL |
02 |
02 |
00 |
00 |
00 |
04 |
1,72% |
FRANCÊS |
00 |
01 |
00 |
00 |
00 |
02 |
0,64% |
OUTROS |
00 |
00 |
00 |
00 |
00 |
00 |
0% |
* Um mesmo trabalho foi publicado em português e inglês. |
Segundo demonstra a tabela 4, a maior parte da produção dos doutores foi elaborada em português. Como idioma estrangeiro, o inglês ficou em segundo lugar, representando 3,8% da produção total. O espanhol ficou em terceiro lugar, representando 0,8%, seguido pelo francês que representa 0,4% do total.
Não foram produzidos documentos em outras línguas, além das citadas.
Temporalidade da produção
TABELA 5
DISTRIBUIÇÃO TEMPORAL DOS DOCUMENTOS PRODUZIDOS PELOS DOUTORES
(1994-2000)
PERÍODO |
D1 |
D2 |
D3 |
D4 |
D5 |
D6 |
D7 |
D8 |
1994-1995 |
09 |
02 |
01 |
01 |
06* |
- |
- |
- |
1996-1997 |
13 |
03 |
03 |
00 |
28 |
41 |
03 |
00 |
1998-1999 |
10 |
06 |
14 |
03 |
21 |
47 |
07 |
00 |
2000-2003 |
17 |
69 |
22 |
04 |
83 |
54 |
01 |
03 |
* A produção é referente ao ano de 1995, em que ingressou no doutorado. |
Para a análise da distribuição temporal dos documentos foi considerado como ano inicial de produção aquele correspondente ao ingresso do doutor no programa. Dessa forma, segundo demonstra a tabela 5, três doutores (D6, D7 e D8), por terem ingressado em 1996, não apresentam produção referente aos anos de 1994 e 1995, e um doutor (D5) apresenta produção referente somente ao ano de 1995, correspondente ao seu ingresso.
A distribuição temporal da produção permite analisar o impacto da inserção dos doutores nos programas de pós-graduação, bem como de sua titulação, em sua produção individual. Assim, verifica-se que a média de produção de sete doutores apresentou-se ascendente durante o doutoramento e também após a conclusão do doutorado.
Esses dados, ao serem cruzados com os da tabela 2, que demonstra que a produção dos doutores de artigos, capítulos de livros e/ou livros após a titulação está abaixo de dois documentos/ano, pode confirmar a preferência da comunidade estudada pela publicação das pesquisas em anais de eventos e um aumento na orientação de dissertações.
Apenas o doutor D7, que ingressou em 1996 e concluiu em 2000, apresentou uma queda em sua produção, o que pode ser resultado de sua inserção em outra atividade, senão acadêmica.
Verifica-se ainda que a maior produção de documentos concentra-se no período de 2000 a 2003. Esse fato pode estar relacionado a um real aumento de produção dos doutores nesse período - tendo em vista a política científica adotada pelo governo que pode ser resumida pela máxima “publique ou pereça”, ou ainda que os doutores podem estar atualizando seus currículos seguindo uma ordem da produção mais recente para mais antiga.
Tipo de autoria
TABELA 6
TIPO DE AUTORIA DOS DOCUMENTOS PRODUZIDOS PELOS DOUTORES (1994 - 2000)
DOCUMENTOS
|
A maior concentração da produção recaiu sobre a autoria única que deteve 39,8% da produção total de documentos, evidenciando uma tendência da individualidade da produção da área. Entre a autoria coletiva, a produção realizada por dois autores representa 20,7% da total. Isso pode retratar uma tendência de publicação dos doutores com seus orientadores durante o período de doutorado e com seus orientandos após sua titulação.
A produção realizada por mais de três autores aparece em terceiro lugar com 5,8% dos documentos e aquelas com mais de três autores representam 3,0%.
Apesar de não constar na análise, foi possível observar que a maioria dos trabalhos que apresentam mais de três autores foi produzida pelos doutores que se inseriram em grupos de pesquisa, confirmando a tendência apontada anteriormente de incentivo, pelas agências financiadoras, da criação de grupos de pesquisas e a conseqüente autoria coletiva.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados alcançados no presente trabalho, embora restritos a um segmento da produção científica de uma comunidade acadêmica, torna possível delinear alguns aspectos concernentes às pesquisas desenvolvidas na área de Educação Física. Os dados quantitativos apresentados, por si só não bastam para o real perfil da produção acadêmica estudada associada à questão da qualidade. Mas podem servir como referencial para análises complementares e comparativas que embasarão um traçado de como se comporta a produção em termos qualitativos.
É necessário destacar que a análise realizada considerou os dados registrados pelos doutores em seus currículos até o mês de fevereiro de 2004. Sabe-se que nem todos esses currículos encontram-se atualizados, o que pode acarretar alguma alteração no resultado, mas não tira a validade do uso deste banco de dados para a análise da produção científica e ainda ressalta a importância dos pesquisadores manterem atualizados seus dados.
Assim, merecem destaque alguns pontos tratados: ao considerar a produção de artigos, capítulos de livros e livros - que correspondem aos itens observados pela CAPES para avaliar os programas de pós-graduação, os doutores titulados pela UGF apresentam uma média de produção superior à recomendada durante o período analisado; se considerarmos essas variáveis após a titulação, apenas três doutores mantêm a média superior àquela considerada ideal.
A divulgação dos trabalhos produzidos pelos doutores titulados pelo programa da UGF tem sido realizada em maior escala por meio da participação em congressos e sua conseqüente publicação nos anais. Sobre a tendência dos pesquisadores em participar de eventos e publicar suas pesquisas nos anais, Meadows (1999) relata que os congressos “são o protótipo da interação informal” (p. 139) e proporcionam aos pesquisadores o encontro com seus pares de lugares geograficamente distantes. O autor afirma ainda que, normalmente, o conteúdo das apresentações é atual, sendo baseado em pesquisas concluídas há pouco tempo. Contudo, destaca que a qualidade dos anais depende da qualidade da avaliação realizada e enfatiza que “congressos de cunho genérico, cujos trabalhos são avaliados superficialmente, podem oferecer material de qualidade mais variável” (p.141).
É possível detectar ainda que a maior parte da produção é publicada em português. Este é um resultado esperado e pode refletir que a produção da Educação Física está mais voltada para a comunidade científica nacional, satisfazendo-se com as condições de publicação oferecidas pela área ou pode significar uma provável falta de adequação da produção aos padrões internacionais adotados para publicação.
Ficou evidenciada ainda a individualidade dos autores na produção de seus trabalhos, destoando da tendência atual de publicação em parceria, tanto em virtude do incentivo das agências financiadoras para a formação de grupos de pesquisas, quanto pela tendência atual de socialização do conhecimento.
De maneira geral, verifica-se que a produção dos doutores aumenta com a sua titulação, o que demonstra o impacto do programa na produção dos egressos. Isso pode ser representativo da política científica adotada pelo governo com relação aos programas de pós- graduação que exigem uma produção mínima, fazendo com que esses estabeleçam exigências para os alunos ou ainda que os doutores, após a conclusão do doutoramento, estão inseridos em programas de pós-graduação ou grupos de pesquisas.
A produtividade, não apenas dos docentes, mas também dos alunos, representa um dos quesitos mais marcantes na qualificação dos programas de pós-graduação. Portanto, trabalhos dessa natureza podem servir como alerta aos programas para identificar pontos frágeis da sua produção que merecem ser trabalhados para melhoria de sua qualidade.
O processo de avaliação de uma produção científica pode e deve ir além da simples quantificação dos dados, como o estudo das temáticas abordadas detectando sua tendência e amadurecimento, o impacto que essa literatura produzida está causando nas pesquisas que vêm sendo realizadas, a procedência dos doutores que publicam juntamente com aqueles dos programas estudados, como forma de avaliar o impacto do programa na comunidade científica, entre outras possibilidades.
Esses são aspectos passíveis de estudos complementares que contribuirão para a criação de estabelecimento de padrões que melhor definam o espaço ocupado pela Educação Física no âmbito da comunidade nacional e internacional. Assim, apesar das limitações dos dados apresentados, espera-se que este trabalho contribua para o estado da arte da pesquisa na área.
REFERÊNCIAS:
BURITI, M. do S. L.; BURITI, M. de A. (1999). Análise da produção científica via currículo de uma docente-pesquisadora. Em WITTER, G. P. Produção Científica em Psicologia e Educação. (p. 171-182). Campinas, SP: Editora Alínea.
KROEFF, M. S. (2000). Pós-graduação em Educação Física no Brasil: estudo das características e tendências da produção científica dos professores doutores.Tese de Doutorado, Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo.
MALOZZE, G. L. M. (1999). Produção científica: periódicos. Em WITTER, G. P. Produção Científica em Psicologia e Educação.(p.103-122). Campinas, SP: Editora Alínea.
MEADOWS, A. J. A comunicação científica. Tradução de Antonio Agenor Briquet de Lemos. Brasília, DF: Briquet de Lemos/Livros,1999.
NORONHA, D.P; KIYOTANI, N.M.; JUANES, I.A.S. (2000J. Produção científica de docentes da área de comunicação.
OLIVEIRA, M. H. M. A. (1999). Avaliação da produção científica. Em WITTER, G. P. Produção Científica em Psicologia e Educação.(p.9-22). Campinas, SP: Editora Alínea.
POBLACIÓN, D.; NORONHA, D. Relatório Científico: março de 1999/fevereiro 2001- CNPq - WITTER, G. P. (1999). Produção científica em Psicologia e Educação.Campinas, SP: Editora Alínea.
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