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Artigos > História da Educação, da Educação Física e do Esporte > História da Educação Física > SCHNEIDER, O.; TOLEDO, M. R. de A. A revista Educação Physica (1932-1945): fórmula editorial, prescrições educacionais, produtos e publicidade. Revista Brasileira de História da Educação, n. 20, p. 235-281, maio/ago. 2009.

SCHNEIDER, O.; TOLEDO, M. R. de A. A revista Educação Physica (1932-1945): fórmula editorial, prescrições educacionais, produtos e publicidade. Revista Brasileira de História da Educação, n. 20, p. 235-281, maio/ago. 2009.

 

A REVISTA EDUCAÇÃO PHYSICA (1932-1945): FÓRMULA EDITORIAL, PRESCRIÇÕES EDUCACIONAIS, PRODUTOS E PUBLICIDADE

 

Omar Schneider

Maria Rita de Almeida Toledo

 

Resumo: O estudo procura analisar a revista Educação Physica com base em sua fórmula editorial, produzindo uma arqueologia do impresso, ao tomar, como foco central da investigação, o seu aparelho crítico, os dispositivos editoriais empregados pelos editores para maior controle sobre os modos de manipulação e usos do periódico. Busca perceber o impresso como dispositivo de normatização de práticas, de intervenção e imposição de modelos pedagógicos para a nascente disciplina escolar Educação Física, na década de 1930. Desse modo, trabalha com a hipótese de que o estudo do aparelho crítico de um impresso é, como o próprio conteúdo veiculado, importante para a compreensão de um projeto editorial, as representações e os saberes que faz circular.

 

Palavras-chave: Revista Educação Physica. Materialidade. Estratégias editoriais. Enciclopédia. Saberes pedagógicos.

 

 

EDUCAÇÃO PHYSICA MAGAZINE (1932- 1945): EDITORIAL FORMULA, EDUCATIONAL PRESCRIPTIONS, PRODUCT AND PUBLICITY

 

Abstract: The study analyses the Educação Physica magazine based on its editorial formula creating an archeology of the circular, when the investigation is mainly focuses on the its critical instrument, editorial devices used by the editors for a greater control on the manipulation ways and periodical uses. It aims at seeing the circular as device of standardization of practice, intervention and the imposing of pedagogical models for the nascent school subject Physical Education, in the thirties. This way, the paper works with the hypothesis that the critical instrument study of a certain circular is, just like the associated content itself, important for the understanding of an editorial project, the representations and knowledge in circulation.

 

Keywords: Educação Physica magazine. Materiality. Editorial strategies. Encyclopedia. Pedagogical knowledge.

 

A Arqueologia dos impressos

 

Desdeo início dos anos de 1990, a historiografia da educação tem se debruçado sobre os impressos como objeto de estudo.[1] Os impressos são tomados como material que possibilita desvelar o campo educacional em diferentes dimensões: informa sobre os sistemas escolares e processos educativos; sobre os modos peculiares de articulação entre teoria e prática e, por conseguinte, sobre a formação do professorado em diferentes períodos; dá a ver as polêmicas, debates e discussões que compõem o processo de constituição do campo educacional. Assim, os impressos são entendidos como material privilegiado para a “[...] apreensão dos modos de funcionamento do campo educacional” (Catani; Bastos, 1997, p. 7).

            O movimento teórico e metodológico de tomar o impresso como objeto de estudos foi acompanhado, de um lado, por estudos de diferentes periódicos educacionais, em teses e dissertações de mestrado;[2] e, por outro, pelo esforço de alguns pesquisadores em estabelecer repertórios analíticos da impressa periódica educacional.[3] Esses primeiros trabalhos se preocuparam em estabelecer o “ciclo de vida dos periódicos” e, a partir daí, analisar problemas de pesquisa específicos, como o realizado por Catani (2003), que focaliza o ciclo de vida da Revistade Ensino para compreender a organização da Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo, entre 1902 e 1918.[4]

            O esforço de “estabelecer o ciclo de vida de um periódico” é caracterizado pelo levantamento da duração do impresso analisado; da sua periodicidade; dos agentes responsáveis pela sua produção; pelo levantamento dos colaboradores, recorrências e predominâncias temáticas; levantamento das seções e estrutura do impresso.[5] Além da descrição do impresso, procuram-se informações sobre ele em outros materiais que informem sobre sua existência, mudanças etc. Nessa perspectiva, Catani e Sousa (1999, p. 17-18) destacam que

 

[...] tem se buscado pelo exame dos periódicos favorecer, ao par do estabelecimento do ciclo de vida das revistas, análises temáticas que evidenciem raízes da construção dos argumentos do ponto de vista de sua articulação com as ciências humanas. As perspectivas da moralidade, da inteligência ou do uso social da educação que modelizam os discursos pedagógicos usualmente devedores da filosofia, da psicologia e que constituem eixos demarcadores de recortes disciplinares são examinados nas formas pelas quais circulam nas produções dos periódicos. Busca-se favorecer, assim, interpretaçõesque recuperem conexões ou modos de articulação entre as representações sociais e institucionais do trabalho docente e da formação e as propostas de investigação e intervenção.

 

Os trabalhos que se filiam a essa perspectiva[6] têm, portanto, buscado, a partir do estabelecimento do ciclode vida dos periódicos, tratar de temas específicos do campo educacional, como indicado por Catani e Sousa. Nessa perspectiva, o impresso funciona como meio para desvelar temáticas específicas e informar outros objetos que se coadunam à sua existência, ou serve como veículo de análise das idéias pedagógicas ou das prescrições nele contidas.

Há, porém, uma outra abordagem que vem elegendo os impressos como objeto de estudo, que se caracteriza pelo deslocamento do modo peculiar de interrogar esse objeto. Esse deslocamento se opera à medida que o impresso é perspectivado não só como veículo dos discursos pedagógicos, das prescrições inscritas nos saberes que, por meio dele, se põem em circulação, mas como produto das pedagogias, entendidas como sistema de regras que regulam os próprios processos de produção, difusão e apropriação desses saberes (Carvalho, 2001).

ParaCarvalho (2001), para se enveredar pelo campo da Históriacultural dos saberes Pedagógicos, objetivando reconstituir as normas que regem as estratégias de difusão, imposição e apropriação desses saberes, é necessário colocar em cena as pedagogias como sistemas de regras; “[...] regrasque constituem o campo, os objetos e os objetivos da intervenção escolar incidindo também sobre os processos de produção, difusão e apropriação da multiplicidade de impressos de destinação pedagógica” (Carvalho, 2001, p.138).

Essa perspectiva implica tratar o impresso como objeto cultural que, constitutivamente, guarda as marcas de sua produção e de seus usos, superando uma noção estreita de materialidade, que se preocupa em descrever o suporte do impresso, mas não o articula com as práticas de sua produção.[7] Desse modo, a metodologia amparada pela História Cultural apresenta-se como a possibilidade de “[...] uma arqueologia dos objetos [...], [procurando] apanhá-los na sua forma, sua freqüência, seu dispositivo [e] sua estrutura” (Nunes; Carvalho, 1993, p. 45). Projetar a investigação utilizando as técnicas da Arqueologia,[8]de acordo com Carvalho (1998, p. 4), “[...] implica tratar o impresso a ser analisado como objeto cultural que, constitutivamente, guarda as marcas de sua produção e de seus usos”.

Essa noção ampliada de materialidade implica tratar o impresso como produto de estratégias editoriais. O conceito de estratégia, perspectivado com base em Certeau, remete a práticas cujo exercício pressupõe um lugar de poder. Analisados como produtos de estratégias determinadas, os materiais impressos deixam ler as marcas de usos prescritos e de destinatários visados por seus produtores – autores e editores –,[9] mas têm esse seu valor indicial relativizado pelas estratégias de que são produtos (Carvalho, 2004).

A análise do material do impresso trata, também, de avaliá-lo como suporte material dos usos que dele são feitos, trazendo-se à cena o conceito de apropriação, a partir das reflexões de Michel de Certeau (1994), sobre os usos dos objetos culturais (Carvalho, 2004). O conceito de apropriação, como tática que subverte os dispositivos materiais – textuais e tipográficos – de modelização do destinatário, põe em cena esse hiato entre os usos e suas prescrições. Esse hiato evidencia a complexidade da relação entre objetos culturais e seus usos e está no cerne de uma história cultural do livro e da leitura (Carvalho, 2004).

É nesse território conceitual que se opera o deslocamento do tratamento do impresso, que passa a ser interrogado como “[...] produto de estratégias pedagógico-editoriais de difusão dos saberes pedagógicos e de normatização das práticas escolares” (Carvalho, 2001, p. 138). Nesse campo, o conceito de estratégia põe em cena a necessidade de se analisar os dispositivos de imposição de saberes e de normatização de práticas, referidos a lugares de poder determinados: uma casa de edição; um departamento governamental; uma instância eclesiástica; uma iniciativa de reforma educacional etc. (Carvalho; Toledo, 2004). Periódicos comerciais ou produzidos pelo Estado são objetos que devem ser decifrados como estratégias que esses lugares de poder mobilizam para impor representações sociais, prescrições e práticas culturais. Portanto descrever e analisar os dispositivos editoriais mobilizados na constituição dos impressos é fundamental para se compreender esses objetos culturais.

É sob essa perspectiva que este estudo toma como objeto de análise a revista EducaçãoPhysica, entendida como estratégia de intervenção e imposição de modelos pedagógicos para a nascente disciplina escolar Educação Física, na década de 1930, dando destaque para alguns dos dispositivos de leitura – chamados aqui de “aparelho crítico” – mobilizados no projeto editorial do impresso.

A revista EducaçãoPhysica é um empreendimento comercial de circulação mais ampla do que o campo educacional. Ela aqui é entendida como uma estratégia de intervenção de seus editores para impor determinadas práticas culturais relacionadas com o corpo na escola e no cotidiano, no momento em que essa disciplina é vista como uma das bases para a educação moral do cidadão brasileiro. Para tanto, mobiliza dispositivos editoriais fundamentais para impor ao leitor as representações sobre corpos saudáveis e úteis; sobre saúde e lazer; sobre o que deveria ser prática fundamental de formação corporal dos estudantes; e, sobretudo, impor um repertório de saberes sobre a disciplina. Esses dispositivos também revelam a representação do leitor projetada pelos editores do impresso. É na articulação das representações das práticas sociais que se quer impor com as representações do leitor previsto que determinados dispositivos editoriais são mobilizados para compor o impresso, para fazer circular os textos escolhidos nos suportes adequados.

Roger Chartier (2004, p. 275), ao discutir a fórmula editorial de um conjunto de livros produzidos na França, entre os séculos XVII e XVIII, denominados de livros de cordel, os quais compõem a Bibliothèque bleue, discorre que é “[...] a fórmula editorial que dá ao objecto formas próprias”.[10] Desse modo, estudar as operações e os modos de organizar o texto para produzir uma leitura adequada é fundamental para a compreensão de um projeto editorial (Toledo, 2001). Parte dessas operações em que os editores transformam textos em livros e revistas, mobilizando determinados dispositivos de leitura, segundo as representações do leitor visado, podem ser denominadas de aparelhocrítico.[11] O aparelho crítico tem como função ou a didatização da obra ou a sofisticação de sua apresentação, na qual está inserida uma proposta específica, que orienta o leitor para uma determinada forma de se apropriar do conteúdo do impresso ou do conjunto ao qual ele pertence (Toledo, 2001): notas de rodapé, subtítulos, prefácios, imagens, posfácios etc. são intervenções que constroem o leitor previsto pelos editores.

O objetivo deste artigo é analisar o aparelho crítico da revista EducaçãoPhysica, desenvolvendo a hipótese de que “[...] tais elementos são, como o próprio conteúdo [veiculado] fundamentais para a compreensão de um projeto editorial” (Toledo, 2001, p. 149). Desse modo, o estudo coloca-se como uma possibilidade à tendência de analisar o mundo dos impressos valorizando apenas o seu conteúdo, ou seja, uma leitura que se prende aos discursos veiculados, aos tipos de discursos e às relações entre eles.

 

Apresentaçãomaterial do impresso

 

A revista Educação Physica[12] foi produzida no Rio de Janeiro, por iniciativa de dois professores de Educação Física, Paulo Lotufo (editor no período de 1932 a 1945) e Oswaldo Murgel Rezende (editor no período de 1932 a 1944). Posteriormente a esses dois editores, somam-se mais dois, Roland de Souza (editor no período de 1936 a 1941) e Hollanda Loyola (editor no período de 1939 a 1944).

Nos treze anos em que o periódico[13] circulou, foram lançadas 88 revistas. Dessas, dois exemplares foram publicados em edições conjugadas em um mesmo volume, a de número 28/29 e a de número 79/80. No inventário que foi produzido do impresso, foi possível catalogar 3.768[14] matérias, sendo 1.566 assinadas por 805 autores diferentes. A Figura 1, a seguir, representa o ritmo de publicação do impresso e sua periodicidade.[15]

 

Figura 1 – Ritmo de produção da revista Educação Physica (1932-1945)

 

            Com base na análise do ritmo do impresso, foi possível constatar dois períodos subdivididos em duas fases cada um. O primeiro período (1932 a 1938), dividido entre 1932 e 1934,[16] como uma fase de nascimento em que o projeto da revista está sendo produzido, e de 1936 a 1938, fase caracterizada por uma curva ascendente. No segundo período (1938 a 1945), assim como no anterior, podem-se perceber duas fases, uma de 1938 a 1941, momento em que o impresso passa a lançar doze exemplares ao ano, caracterizando-se como um período de grande estabilidade do projeto editorial, e a outra de 1942 a 1945, em que o periódico diminui o ritmo de produção, que é demarcado por uma curva descendente, uma tentativa de reação e o fim da publicação.

 

As capas

 

.           Como o local em que o leitor tem o primeiro contato com o impresso, as capas são muito importantes na constituição de um padrão gráfico. Lugar de reconhecimento, as capas revelam ao leitor, antecipadamente, o que é a revista, sem que a tenha que folhear. Na produção da fórmula editorial do impresso, investimentos são feitos em relação à sua capa para que ela se torne mais atraente aos leitores.[17]

            De 1932 a 1937, a composição da capa da revista EducaçãoPhysica possui elementos que a diferenciam dos utilizados nos anos posteriores. Precisamente da revista número 1 até a revista número 14, o arranjo da capa possui um nível maior de elaboração. O primeiro fator a chamar a atenção diz respeito ao uso das cores. Nos primeiros cinco anos, o layout é produzido utilizando uma gama muito variada de tons, a feitura das capas, em sua maior parte, recebe um maior acabamento, o uso de gravuras é feito de forma mais intensa e o fundo das imagens é produzido em perspectiva.

O título da revista do número 1 ao 10 é impresso em tiposmanuscritos,[18] na parte superior da capa, o centro é dedicado à reprodução de uma gravura em que pessoas em grupo ou individualmente estão praticando algum esporte. Nas primeiras cinco revistas, a parte inferior da capa é utilizada para informar aos leitores quais são as leituras que serão veiculadas no periódico.[19]

Fatoque marca os primeiros cinco anos da revista é a dificuldade de se estabelecer um padrão. O layout, a cada número lançado, sofre algumas modificações, como a disposição dos elementos que o compõem (imagens, número do exemplar e ano de publicação) e os tipos utilizados para apresentar o conteúdo do impresso. Somente após o lançamento do décimo primeiro número, é que se começa a estabelecer um padrão mais constante. O modelo que se propõe para a capa do exemplar número 11, pelas várias facilidades de composição que oferece, será adotado e maior constância terá na veiculação do impresso.

Diferentedas anteriores, a capa da revista número 11 (1937) é produzida com um layout que agrega poucos elementos e se torna o modelo mais utilizado para compor a apresentação externa do impresso. É um modelo menos detalhado e sua composição traz poucas informações a respeito do que o leitor encontrará no interior do impresso. O uso de cores para produzir a capa também diminui – ela, no máximo, passa a ser produzida utilizando quatro cores: uma que serve de fundo e outras que irão compor a gravura, que tanto poderia ser imagens de deuses e deusas do panteon grego, como de atletas expoentes do desporto no Brasil. Nesse modelo de capa, o título da revista é impresso em tiposmaiúsculos romanos, o ano e o número do periódico ganham maior destaque e, pela primeira vez, informa-se aos leitores, abaixo do seu nome, que o impresso é uma revista técnica de esportes.[20]

O layout que é adotado na revista número 11 vai ser utilizado até o exemplar de número 27 (1939). As quatro revistas seguintes (28/29, 30, 31 e 32) são lançadas com outro modelo. Agora o nome do periódico é impresso com as iniciais em tiposromanos em maiúsculas e o restante em tipos grifados em minúsculas, identificando, logo abaixo do seu título, que ela é uma revista de esportes e saúde. A imagem que ornamenta a capa e o número da publicação passam a ser centralizados, assim como a indicação do ano, porém estes últimos em sua parte inferior.[21]

Apósa publicação da revista número 32, volta-se a adotar o modelo de composição que tinha vigorado até o exemplar número 27. Somente em 1943, outra tentativa de mudança do design da capa é realizada, mas, do mesmo modo que a tentativa feita entre os números 28/29 e 32, esta também dura pouco tempo, apenas nos exemplares de número 73, 74 e 75.

            O modelo adotado a partir do número 32 continua a apresentar o título em tiposromanos em maiúsculas, mas deixa-se de fazer referência na capa que ela é uma revista de esportes e saúde. Passa-se a imprimir o número e ano na parte superior e abaixo do nome do impresso, ao mesmo tempo em que se começa a fazer menção que a revista possui publicação mensal. Interessante é que, nesse ano, a revista perde sua periodicidade mensal e passa a ser publicada bimestralmente. Após a publicação do exemplar número 75, a capa da revista volta a apresentar o design anterior com algumas pequenas modificações, entre elas: a referência de que o periódico possui uma publicação mensal é deslocada para a lateral do layout. Logo abaixo, volta-se a mencionar que ela é uma revista de esportes e saúde. Pela primeira vez, aparece na capa o mês de publicação.[22]

            A última modificação que é introduzida em relação à composição da capa se verifica no formato dos tipos utilizados para imprimir o nome do periódico, mas é incluída apenas nos três exemplares finais do impresso (76, 77 e 78) em 1945. Nesses exemplares, o título é impresso em maiúsculas grifadas, em preto, com as iniciais de EDUCAÇÃOFÍSICA na cor branca.

            No processo de produção de um padrão gráfico para a capa da revista, o modelo mais utilizado foi o inaugurado com a publicação do exemplar de número 11 (1937). Nele estão registradas as modificações que por mais tempo são mantidas. O nome da revista ganhou mais destaque que as gravuras e as fotos veiculadas. O nome passou a ser impresso na cor branca, com uma sombra ao fundo, o que causa a ilusão de que o título está se projetando da superfície do papel. O subtítulo, quando aparece, é menor que o nome e em cor preta, fazendo com que o título se torne mais destacado, configurando-se como a grande identificação do impresso.

            O uso de cores só foi empregado de forma mais intensa na composição das capas nos seus primeiros cinco anos de existência. No interior da revista, o uso de cores foi muito moderado. Quando utilizado, era feito com a aplicação de apenas um clichê vermelho ou azul.

            A partir de 1938 (revista número 15), o modelo adotado permite a produção da cobertura externa do impresso de forma mais rápida. Trocando apenas a cor de fundo e a gravura ou a imagem que vai compor o layout, tem-se uma nova capa. Essa facilidade de composição faz com que esse modelo seja o mais utilizado pelos editores.

            As imagens que são veiculadas nas capas da revista eram mais um atrativo para sua aquisição. Elas representam um desencadear de sentidos que permite aos editores, a partir da elaboração do padrão gráfico das capas, dizer aos leitores sobre o que trata o impresso. Os editores buscam persuadir os leitores a adquirir o impresso pela exposição de corpos em movimento, homens e mulheres felizes e engajados na busca de desenvolver um corpo belo, perfeito e de linhas bem definidas.[23]

            De modo geral, a produção das capas, a partir do lançamento da revista número 14 (1938), passou a visar mais à criação de um padrão de identificação para o impresso do que a criação de um novo layout para cada novo exemplar publicado, além de, com a criação de uma uniformidade em relação ao design da apresentação exterior do impresso, haver tanto a diminuição dos custos para a sua produção, como a possibilidade de criar o sentido de uma coleção.

            A padronização do processo de composição dos elementos que formam a capa do impresso produz a sua identidade visual, criando, desse modo, a idéia de uma coleção estável. Nesse processo, tem-se a possibilidade de economizar em tempo de fabricação e investimentos de recursos financeiros, mas também de homogeneizar a produção do impresso. Com a adição ou supressão de poucos elementos (como imagens ou a cor de fundo), tem-se uma nova capa.

 

As matérias dadas a ler

 

A revista Educação Physica, ao longo do período em que foi produzida, apresenta um modo de organizar as matérias que não é peculiar somente a ela, faz parte da estratégia da indústria dos impressos para tentar didatizar e/ou sofisticar a apresentação do material que é colocado em circulação por meio de dispositivos editoriais.

Emseu primeiro exemplar, informa-se na capa que esse número é dedicado ao ensino da Technica do Basket Ball. Nas próximas revistas, não mais se trabalhará com uma temática central, mas o periódico passará a tratar da vulgarização de vários esportes e seu ensino técnico, assim como dos conhecimentos considerados necessários para a formação/boa atuação do professor de Educação Física.

No Índice do primeiro número publicado, não há indicação da localização das matérias que são veiculadas. Das trinta matérias veiculadas nesse número, apenas quinze são apresentadas no Índice. Mesmo algumas das matérias que foram publicadas indicando a autoria não estão lá relacionadas. O Índice do primeiro número possui mais a função de apresentar a temática do periódico do que indicar ao leitor o lugar em que as matérias seriam veiculadas no interior do impresso.

Na publicação dos números 2 (1932) e 3 (1933), a revista é lançada sem a preocupação de dividir as matérias em grupos ou temas. O Índice desses dois exemplares é produzido de acordo com a ordem em que as matérias são distribuídas dentro do impresso. À frente do título da matéria e do nome do seu autor, imprime-se a página em que o leitor poderia localizar o assunto dentro do periódico.

A partir do lançamento do quarto número (1934), modifica-se o modo de apresentar as matérias no Índice. Elas passam a ser organizadas com base em elementos que as aproximam. As matérias são agrupadas sob um título que passa a indicar a qual grupo de discussão elas pertencem, assim o Índice perde a ordem de numeração crescente que apresenta até a terceira revista e começa a ser apresentado em blocos, segundo uma tipologia desenvolvida pelos editores.[24] Desse modo, matérias que são impressas nas páginas finais ou iniciais podem ser organizadas e dadas a ler como pertencentes a um mesmo conjunto de textos.

Paraclassificar as matérias e dá-las a ler como pertencentes a um mesmo conjunto temático, os editores produzem alguns títulos a partir dos quais buscam chamar a atenção dos leitores para determinados assuntos. O resultado de organizar o Índice da revista desse modo é a produção de 63 títulos diferentes, alguns com vida efêmera, outros se constituindo como verdadeiros eixos condutores do impresso. A ação de agrupar textos sob um mesmo título é estratégia utilizada largamente pelos editores, pois, com tal decisão de agrupar as matérias no Índice, movimenta-se a própria forma da revista, regrando seus modos de manipulação, ou seja, a maneira como o impresso deveria ser consultado/lido.

Dispositivode regramento da leitura, o modelo de Índice que é produzido, ao se agrupar as matérias sob um determinado título, homogeneíza o modo como a revista deveria ser manipulada, o que facilita ao leitor a sua utilização, pois agrupar temas comuns sob um mesmo título constitui-se como estratégia de controle, tanto da leitura como da ordem em que as matérias deveriam ser lidas.[25]

Reunir em blocos os temas que tratam do mesmo assunto, ou assuntos próximos, pelo menos no Índice, tem como objetivo produzir certa coerência ao que é publicado e ordenar de forma didática a leitura das matérias. Organizar a leitura da revista a partir do seu Índice tem dupla função: uma é indicar ao leitor o que ele encontrará no interior do impresso; a outra é fornecer um roteiro no qual possa localizar os temas de seu interesse. A organização feita por assuntos permite aos editores produzir um Índice que funciona como um roteiro de leitura, lugar em que os leitores são antecipadamente informados do modo como o impresso deve ser lido/manuseado.

No impresso, as matérias não estão agrupadas em blocos de assuntos; elas estão distribuídas por entre suas páginas, não apresentando conexão aparente, a não ser a que é proposta pelos editores por meio do Índice, por isso tal dispositivo materializa o roteiro de localização e leitura do que é veiculado.

O ordenamento que é dado às matérias, no interior da revista, segue a prática editorial de otimizar ao máximo o espaço disponível do material impresso. Nesse sentido, a ocupação das páginas é feita entre a publicação de matérias relacionadas com a Educação Física e esportes, a venda de espaço publicitário e a utilização de recursos gráficos, como as imagens enviadas pelos leitores de alguma atividade esportiva que tenha ocorrido em sua escola ou clube, fotos de eventos esportivos acontecidos no Brasil e em outros países e gravuras/charges sobre a vida esportiva na cidade.

O problema da ocupação do espaço no interior do impresso é em parte solucionado com a adoção do recurso de continuar uma matéria em outra parte da revista. Por exemplo, a publicação de um texto de Rui Barbosa, no exemplar de número 44 (1940), intitulado: Conceitoe importância da educação física. Essa matéria se inicia nas páginas 10-12, tem continuidade na página 66 e só termina de ser veiculada nas páginas 72-73 do mesmo número. Outro exemplo é o texto escrito pelo Dr. Hélio Vecchio Maurício, com o título: A Educação Física e suas vantagens, publicado no exemplar número 48 (1940), iniciado na página 31, é interrompido na página 32, para ser retomado somente na página 64 da mesma revista.

A operação editorial empregada para a composição do periódico pode ser resultante de um imperativo básico para a sobrevivência de um projeto editorial, a necessidade de não deixar nenhum espaço em branco dentro de um impresso. De acordo com Andrade (1978),o papel é um item importante na apreciação do custo de produção de um material impresso. Conforme o autor (1978, p. 31), “[...] o papel para o livro representa quase uma quarta parte do seu custo final”.[26] Desse modo, na busca de preencher os espaços em branco que pudessem surgir no momento de compor o periódico, os editores produzem uma outra maneira para o seu manuseio. A leitura de parte da matéria publicada em um lugar tem a indicação de continua, conduzindo a leitura a outras páginas.

 

O Índice das matérias publicadas

 

            Ao estudar os dispositivos editoriais da revista, focando a atenção no modo como os editores trabalhavam o aparelho crítico do impresso, é possível compreender a forma de manipulação que, paulatinamente, os editores vão lhe imprimindo. Na tentativa de obter maior controle sobre os usos que dele serão feitos, um outro recurso entra em cena. A partir do ano de 1938, passa-se a publicar anualmente uma lista que inclui todas as matérias veiculadas durante o ano. Denominado pelos editores como Índicegeral das matérias publicadas,[27] esse recurso é impresso nas últimas páginas da última revista produzida durante o ano.

            As listas das matérias eram compostas da seguinte forma: sob um título (que poderia ser o nome de um esporte) uma tripla coluna trazia o nome da matéria à esquerda; a seguir, o número da revista; e, à direita, o número da página em que o assunto havia sido tratado.[28]

            A tipologia que os editores escolhem para apresentar o Índice geraldas matérias publicadas é a mesma utilizada para se produzir o Índicedas matérias (sumário) da revista. Desse modo, pode-se considerar que, na produção de sua fórmula editorial, os editores desenvolvem pelo menos três formas de organizar a leitura/utilização do impresso: uma é o Índicedas matérias;outra é o Índice geraldas matérias publicadas;[29]e aúltimaé o artifício dos Índicesdos annuncios, o qual será discutido mais à frente, isso sem contar com as referências que são feitas nas capas sobre o conteúdo das revistas, até a publicação do exemplar número 6 (1936).

A partir do número 19 (1938), passa-se a proporcionar o volume encadernado da revista Educação Physica para possíveis colecionadores e a oferecer o serviço de encadernação das coleções particulares. Desse momento em diante, o impresso passa a ser identificado como uma enciclopédia.

 

A revista como enciclopédia

 

De modo progressivo, a revista vai se identificando como uma coleção. Passa a prescrever aos leitores a necessidade de se organizar os números publicados em volumes para que fosse garantida a sua preservação. Ao cabo de cada semestre, a revista era organizada em um volume, de modo que pudesse ser acondicionada em uma estante ao lado de outras obras. Conforme os editores, com a encadernação do impresso, poder-se-ia ter a

 

[...] mais bela e mais completa coletânea de artigos técnicos, doutrinários, científicos [...], única no gênero no Brasil. É uma rica enciclopédia ilustrada indispensável ao manuseio de todos os que se dedicam aos esportes, à educação física e aos problemas da saúde (Educação Física, 1940, n. 38, p. 76).

 

A estratégia editorial que passa a nortear a organização das revistas publicadas faz com que elas sejam percebidas como uma enciclopédia em que os títulos atribuídos aos grupos de matérias funcionam como verbetes. Aliado a esse tipo de dispositivo, o aconselhamento de encadernar o periódico realmente faz com que a revista materialize a idéia de uma enciclopédia, uma obra que reúne os conhecimentos produzidos sobre um domínio do saber, seguindo umcritério de apresentação alfabético ou temático, fugindo, desse modo, da classificação aplicada aos impressos periódicos, pois a nova apresentação da revista passa a ser feita em forma de tomos, o que permite que ela adquira um novo status.[30]

À medida que assume mais uma nova forma de manipulação, o impresso também apresenta um novo tipo de circulação. Agora ela não é apenas a revista que pode ser levada para os passeios e locais públicos. O periódico é produzido como um objeto que vai compor uma biblioteca e por isso requer novo meio de manipulação, pois passa a ser restrita a ambientes privados e públicos que requerem certas condições de consulta. Essa situação faz com que perca a condição de impresso efêmero, que apresenta ciclo de vida curto, para dilatar no tempo suas possibilidades de uso, uma vez que, ao ser encadernado, torna-se mais resistente à manipulação.

Nas visitas aos acervos que possuem exemplares da revista Educação Physica, foi constatado que muitas coleções estão encadernadas em forma de volumes, sendo, desse modo, designadas nas etiquetas de identificação. Ao que parece, encadernar as revistas tornou-se prática normal, pois muitos acervos das bibliotecas são provenientes de doações de colecionadores particulares.

Emnota designada: Paraser um bom professor de Educação Física, os editores informam que o educador que quisesse ser considerado um bom professor, deveria “[...] estar sempre em dia com os múltiplos aspectos do seu magistério [...] e para isso [...] [seria] necessário comprar todos os livros que forem publicados nos mais variados idiomas [...], [e fazer] assinatura de revistas” (Educação Física, 1943, n. 72, p. 6). Mas, como nem todos os professores tinham essas condições, propõe-se que todos passem a assinar a revista EducaçãoPhysica, pois essa se apresentava como uma “[...] síntese e uma seleção de tudo que [...] [havia] de mais moderno sobre educação física e desportos no Brasil e no mundo. É, pois, um dever de cultura e de honestidade profissional para o professor de educação física assinar e ler ‘Educação Física’ – por excelência a sua revista” (Educação Física, 1943, n. 72, p. 6).

O professor de Educação Física era um dos destinatários previstos para a revista, gênero de leitura pelo qual ele poderia estar a par do que de mais moderno estava sendo produzido e utilizado no Brasil e no mundo, lugar em que poderia ter contato com saberes pedagógicos, conhecer práticas pedagógicas experimentadas em outros locais do País e do exterior.

As prescrições sobre o uso da revista, aliadas ao dispositivo editorial do Índicegeral das matérias publicadas, constituem parte da fórmula editorial desenvolvida para o periódico, revelando a inventividade e inovação com que foi sendo produzido o impresso, metamorfoseando-se em diferentes formas para atrair e constituir um público leitor capaz de tornar-se potencialmente fiel à revistapor meio do hábito de colecionar, encadernar e dispor o material em uma biblioteca.

Biccas (2001, p. 109), escrevendo sobre a Revista de Ensino e seus modos de manipulação, discute que “[...] a recomendação de encadernar os exemplares pressupõe também uma forma posterior de colecionar, conservar e dispor o material, bem como lhe atribuir um caráter similar ao livro e facilitar a consulta e busca de informações [...]”, o que, segundo a autora (2001), possibilita ao leitor formar uma idéia mais ampla da proposta editorial do impresso.

 

 O temário da revista de Educação Physica

 

Durante o período em que a revista é veiculada, é possível perceber que ela trabalha fundamentalmente com nove eixos na construção do seu temário. São eles Esportes com 31,8%, Fundamentos pedagógicos com 28,4%,Saúde com 11,4%, Alimentação com 6,8%, Filosofia com 3,8%, Fisiologia e treinamento com 1,1%, Acampamento e turismo com 1%, Bibliografia e turismo com 0,7% e Outros com 15%.[31]

Para se chegar a esse número, foi necessário produzir o temário sobre o que foi veiculado na revista do número 65 (1942) ao número 88 (1945), já que, do primeiro número lançado (1932) até o número 64 (1942), esse trabalho foi realizado pelos editores do impresso, conforme se apresenta no Quadro 1 a seguir.

 

Quadro1 – Temário da revista publicado entre 1932 e 1942[32]

 

O PRIMEIRO DECÊNIO DE “EDUCAÇÃO FÍSICA

Para que nossos leitores tenham uma idéia do que foi o trabalho produzido pela revista “Educação Física” nesses dez anos de atividade que se comemora com esse número, damos abaixo um resumo numérico das publicações feitas sobre assuntos do seu programa, isto é, educação integral tendo como base a educação física; esses trabalhos se referem aos 64 números até agora publicados:

 

 

 

 

 

Alimentação ....................

Atletismo ........................

Automobilismo ...............

Basquetebol ....................

Biografias .......................

Box .................................

Ciclismo .........................

Consultas .......................

Curiosidades ..................

Dansas ...........................

Diversos ........................

Doutrina ........................

Educação Física .............

Educação moral .............

Educação intelectual .....

Excursionismo ..............

Esgrima .........................

Filosofia ........................

Futebol ..........................

192

220

12

192

22

34

32

240

42

24

320

72

256

49

20

26

10

64

138

 

Golf ..............................

Hand-ball ......................

Higiene .........................

História ........................

Humorismo esportivo ..

Instruções várias ..........

Jogos esportivos ..........

Lições de ginástica .......

Literatura .....................

Lutas ............................

Medicina esportiva ......

Natação ........................

Olimpismo ...................

Pólo aquático ...............

Rúgbi ...........................

Saude ...........................

Tenis ...........................

Volei-bol .....................

Yachting .......................

10

10

96

30

68

120

68

78

26

36

30

89

36

18

10

192

68

39

10

 

 

 

 

 

Como vemos é um total de 3.099 trabalhos sobre educação física, moral e intelectual e assuntos correlatos, a mais completa enciclopédia especializada em idioma brasileiro, reunindo o que de mais moderno sobre o assunto foi publicado no mundo inteiro nesses últimos tempos. E, fazendo um pouco de estatística, bem do gosto norteamericano, esses 3.099 trabalhos representam 10 grossos volumes, num total de 5.336 páginas com cerca de 2.560 palavras as quais o leitor que dedicasse 6 horas por dia à sua leitura, levaria um mês para lê-la sem folgar aos domingos...

 

 

O modelo de enciclopédia que o impresso assume, para os editores, facilitaria o manuseio da revista pelo usuário. A mesma regra foi utilizada anteriormente para produzir o Índice geraldas matérias publicadas,o que tornaria mais fácil para o leitor, depois de encadernar, recuperar as informações por meio de verbetes, categoria que os títulos passam a assumir ao agrupar as matérias que se relacionavam com o mesmo assunto.

Paraa produção do temário do número 65 (1942) ao número 88 (1945), conforme o Quadro 2, buscou-se seguir a mesma lógica que os editores utilizaram para organizar a revista, ou seja, a utilização dos títulos em que eram distribuídas as matérias no Índice do periódico.

 

Quadro2 - Temário da revista Educação Physica publicado entre 1942 e 1945

Alimentação ......................

26

 

Fisiologia .......................

2

Atletismo ..........................

38

 

Fisiologia aplicada .........

2

Basquetebol ......................

11

 

Fisioterapia ....................

2

Bibliografia .......................

2

 

Futebol ...........................

5

Biografia ...........................

1

 

História ..........................

9

Biologia aplicada ..............

3

 

Hist. da Ed. Física ..........

4

Biometria ..........................

2

 

Hist. de nossos clubes

2

Bolsas escolares ...............

2

 

Instalações desportivas ..

1

Campismo ........................

3

 

Intoxicação .....................

1

Ciclismo ...........................

1

 

Legislação ......................

5

Clubes ..............................

2

 

Lutadores .......................

1

Colônias de férias ............

1

 

Massagem ......................

1

Consultas .........................

169

 

Medicina esportiva .......

1

Corredores .......................

1

 

Natação .........................

7

Danças .............................

2

 

Olimpismo ....................

1

Desportos ........................

7

 

Peteca ...........................

1

Diversos ..........................

127

 

Piscinas .........................

1

Doutrina ..........................

48

 

Puericultura ..................

4

Educação .........................

4

 

Pugilismo ......................

4

Educação Física ...............

49

 

Recreação .....................

1

Educação moral ...............

27

 

Higiene .........................

1

Escotismo ........................

1

 

Rugby ..........................

2

Esgrima ............................

3

 

Saúde ...........................

58

Estádios ...........................

1

 

Tênis ............................

1

Excursionismo .................

7

 

Turismo .......................

1

Filosofia ...........................

8

 

Vitaminas ....................

1

Filosofia da Ed. Física .....

1

 

Literatura .....................

2

 

 

            Dos eixos que compõem a fórmula editorial da revistae fazem com que ela seja projetada como enciclopédia, as prescrições sobre os esportes, sobre os fundamentos pedagógicos da Educação Física e sobre as questões relacionadas com os aconselhamentos sobre saúde são as que mais permitem que ela chame a atenção dos leitores e dos investidores que passam a veicular seus produtos e serviços em suas páginas. Como um periódico que tenta ser projetado para não ser efêmero, que se lê e descarta, os editores buscam produzir uma outra relação do público com a Revista. Ela é material para se lida, encadernada e guardada, sendo essa uma das principais estratégias colocadas em circulação pelos editores. Uma vez que assume um outro suporte, o impresso adquire outras características e passa a manter uma outra relação com os leitores.

 

Produtos e publicidade: forma e sentido em movimento

 

            Por ser um impresso editado por uma editora comercial, a revista EducaçãoPhysica, no período em que circula, assume várias funções. Ao mesmo tempo em que se apresenta como uma leitura informativa e recreativa para seus compradores, ela faz veicular matérias sobre os conhecimentos necessários aos professores de Educação Física. Outra função atribuída à revista é a de ser um estande, local em que se expõem variados produtos e serviços ao público leitor. A revista já nasce com essas características, mas, durante os anos, ela vai sendo paulatinamente sofisticada.

            Os produtos e serviços oferecidos por meio do impresso abrangem uma gama muito grande de materiais, alguns com ligação direta com a proposta da revista, mas outros em que não se percebe relação imediata, a não ser a que é construída pelos editores ao vincular determinado produto e serviço à melhoria da saúde, ao desenvolvimento da beleza física, ao ganho de força e ao melhoramento das características raciais.

            A fórmula editorial empregada pela revista permite anunciar a venda e a locação de imóveis, lojas de compra e aluguel de roupas, chapéus, calçados, eletrodomésticos, remédios contra várias infecções, aulas de canto e preparação profissional, assim como publicar anúncios profissionais de diversas áreas, como de professores particulares e médicos. Também empresas seguradoras, de transporte, de lavanderia, de remédios, de móveis, de câmbio, de alimentação, de tipografia, livrarias e instituições de ensino anunciam no impresso. Além desses produtos e serviços, a revista oferece para seus leitores muitas outras mercadorias: são tônicos para aumentar a força e a disposição, materiais esportivos, como roupas e calçados para a prática de ginástica e esportes, alimentos para desportistas, leituras sobre a Educação Física, esportes e saúde e escolas particulares.

            Com o objetivo de auxiliar os leitores a consultarem o periódico, a partir da publicação do segundo número, começa-se a publicar um dispositivo editorial chamado: Índicedos Annuncios. É um segundo sumário da revista. Nele estão dispostos, em ordem alfabética, o local em que o leitor encontrará determinado produto no interior da revista. Do mesmo modo que o Índicedas matérias, esse dispositivo nasce com a finalidade de didatizar a revista, fazer com que o leitor realize o menor esforço possível para compreender a lógica do impresso e, mesmo assim, dele pudesse tirar o maior proveito possível.

            Para os anunciantes, o recurso do Índice dos Annuncios é muito conveniente, pois faz com que seus produtos ganhem maior visibilidade, porquanto são apresentados aos leitores de duas maneiras, uma ao folhear aleatório das páginas do impresso e o encontro casual com o material que é oferecido e outra por meio de um índice alfabético das mercadorias que são oferecidas no interior do periódico.

            Perceber a revista nessas condições faz com que se compreenda que ela exerce dois papéis: um é o de oferecer aos leitores informações sobre as atividades esportivas no Brasil e no mundo, discussões sobre saúde e prescrições sobre a atuação do professor dentro e fora da escola; o outro papel desempenhado pelo impresso relaciona-se com sua semelhança com um catálogo de vendas de produtos, tanto referentes à Educação Física e esportes, quanto a produtos que com essas atividades não mantêm relação aparente. A fórmula que empregam sustenta essa dupla relação com os leitores. Informar e vender torna-se o pilar que mantém a revista circulando.

            Em algumas revistas, não foi impresso o Índice, mas isso não quer dizer que não houve publicação de propagandas; houve sim a sua diminuição, como no ano de 1933 e nos anos finais de sua circulação.

Conformeos editores da revista EducaçãoPhysica, o impresso é direcionado a um público específico. Em primeiro lugar, projeta-se como principal consumidor os professores e técnicos de Educação Física, diretores de colégios, médicos, alunos de cursos de Educação Física e pais de família, mas, pelo tipo de temática que aborda, a revista tem potencial para chamar a atenção de um público muito maior de leitores. Assim, nas palavras dos editores, ela tem como meta atingir “[...] a todos  enfim, que se interessam pela sua própria saúde, pela conservação de suas qualidades física [sic] desenvolvidas pelo aperfeiçoamento de suas qualidades morais” (Educação Physica, 1940, n. 38, p. 80, grifo do autor).

Ao ter como pano de fundo a veiculação de questões ligadas ao tema saúde, desenvolvimento físico e aperfeiçoamento moral, o impresso torna-se apropriado para o oferecimento de produtos que estejam relacionados com o cultivo do corpo. Mesmo produtos que não estejam diretamente ligados a essas atividades são atraídos para o impresso, pois, de maneira geral, os produtos são associados à imagem que a revista quer produzir. Desse modo, as mercadorias veiculadas passam a ser integradas ao contexto do periódico e a compartilhar das representações que ela produz. Em função desse tipo de associação que poderia ser feita, quando o projeto completa doze anos de existência, os editores fazem a seguinte observação:

 

[...] doze anos de esforços, de lutas contínuas, de verdadeiros sacrifícios para realizar o programa a que se havia proposto. Sem qualquer apôio oficial, mantendo-se à custa própria, cobrindo as suas despesas com o produto da publicidade selecionada que exigia – regeitando [sic] sempre anúncios de emprêsas que atentavam contra a economia popular ou que encobriam fins pouco patrióticos – com as assinaturas e venda avulsa que os milhares de leitores sempre lhe asseguraram [...] (Educação Física, 1944, n. 79-80, p. 5).

 

            O artifício de associar produtos não necessariamente aplicáveis, ou fáceis de se contextualizar, ao mundo da Educação Física, esportes e saúde pode ser exemplificado pela série de matérias patrocinadas pela companhia de lâminas de barbear Gillette.

Nas matérias patrocinadas pela Gillette, são apresentadas aos leitores gravuras de homens e mulheres praticando esportes, em grupo ou individualmente, um roteiro de exercícios, segundo a atividade que se apresenta, uma explicação sobre o sentido ou história do esporte ou ginástica e um texto em que se associa o produto à Educação Física/atividade esportiva.

Em uma propaganda realizada pela empresa de lâminas de barbear Gillette, após apresentar a gravura de um praticante de medicinebol e as informações de como tal atividade deveria ser realizada, os editores completam a prescrição, associando a seguinte mensagem à imagem.

 

Conforme indica o seu nome, este moderno sport utiliza a bola como exercício para a conquista da saúde e vigôr. Experiência recentes revelaram-se o ‘medicine ball’ um excellente meio de curar varias enfermidades do apparelho digestivo e do systema nervoso. É um exercicio util, recreativo e hygienico, sem a monotonia da gymnastica commum. Além disso, é eminentemente social, pois constitue um optimo motivo para reunir amigos. A mesma finalidade de saúde e hygiene tem o methodo Gillette de barbear em casa, sem a monotonia dos velhos systemas e tambem com um fim social, que é o de proporcionar aos homens uma apparencia que a todos agrada. Passe a fazer sua barba diariamente, em casa. Adquira um apparelho Gillette e use-o sempre com laminas Gillette Azul, as únicas rigorosamente asepticas. Terá dado um grande passo para a defesa de seu rosto contra perigosas infecções (Educação Física, 1940, n. 46, p. 50).

 

            A fórmula editorial da revista EducaçãoPhysica permite esse tipo de associação, pois os três eixos nos quais ela se fundamenta, Educação Física, esporte e saúde, têm como ponto de apoio as discussões relacionadas com a higiene, a moral e a beleza. Desse modo, quando se anuncia algum produto ou serviço na revista, esses são associados aos ideais que o impresso faz circular.

            Conforme Barzotto (1998, p. 45), a forma define os espaços de leitura e os próprios leitores, “[...] ou seja, a revista instruirá os leitores a manuseá-la e a lê-la, visando integrá-los no grupo de leitores pertinentes para o momento”. Além das assertivas do autor, pode-se dizer que a fórmula que o impresso assume faz com que o leitor seja conduzido a perceber os produtos e serviços oferecidos de acordo com a concepção em que o projeto se movimenta.

Na produção da fórmula editorial, os editores colocam em ação um conjunto de dispositivos com a intenção de instruir os leitores a um bom uso do periódico. Alguns dos recursos de composição utilizados já eram empregados no mundo dos impressos, mas, nesse processo, também conseguiram inovar, como no caso dos Índicesdos Annuncios. Funcionando como um mapa de manuseio da revista, tal dispositivo integra o seu aparelho crítico e, assim como os outros dispositivos, capa, índice das matériaseíndice geral das matérias publicadas,faz parte da estratégia editorial do impresso.

 

Considerações finais

 

Os dispositivos que são empregados na composição da fórmula editorial da revista EducaçãoPhysica possuem como objetivo facilitar não só o manuseio e uso do impresso, mas também fazer com que o leitor passe a compreender o periódico realmente como um repertório, no qual se poderia ter acesso, de forma ordenada, aos conhecimentos necessários à docência ou às atividades esportivas.

O modo de manipulação proposto para a revista era que essa efetivamente fosse utilizada como uma enciclopédia, uma ferramenta para ser usada no cotidiano, lugar em que o professor ou o interessado nas questões relacionadas com a Educação Física, os esportes ou a saúde teriam acesso rápido a conhecimentos sistematizados de forma metódica.

O impresso mantém-se na conjunção de duas propostas, uma de destinação pedagógica e outra comercial. Trabalhando nessa conjunção, ele abriu condições para atender a dois tipos de público, um composto por professores que buscavam se atualizar com leituras sobre a atividade docente e outro formado por entusiastas do esporte, ávidos por notícias sobre a vida esportiva no Brasil e no mundo, utilizando o periódico mais como leitura informativa e de passatempo. Não obstante buscarem arregimentar um público específico, que são os professores e técnicos de Educação Física, os diretores dos colégios, os médicos e os alunos dos cursos de formação de professores, os editores do impresso deixam claro que o periódico era para todos que “[...] se interessam pela sua própria saúde, pela conservação de suas qualidades física [sic] desenvolvidas pelo aperfeiçoamento de suas qualidades morais” (Revista Educação Physica, 1940, n. 38, p. 80).

O sentido produzido para a coleção das revistas, quando encadernadas e postas lado a lado, era materializar a idéia de uma enciclopédia. Mesmo a possibilidade de os impressos permitirem o armazenamento na posição vertical e não na posição horizontal, como costumeiramente se guarda a publicação periódica produzida no formato brochura, indicia os modos de manipulação propostos para a revista. O periódico passou a se constituir em uma enciclopédia, deixando de ser percebido como uma leitura apenas de passatempo e sendo visto como um objeto que poderia ser lido, encadernado e posto em uma estante, transformando-se, assim, em referência para consulta, tira-dúvidas, receituário e para pesquisas que se relacionassem com os esportes, os fundamentos pedagógicos da Educação Física e as prescrições sobre a obtenção e manutenção da saúde, sendo esses os três principais eixos que os editores desenvolvem para chamar a atenção dos leitores para a aquisição e assinatura do impresso.

Ao observar os Quadro 1 e 2, pode-se verificar que, no rol de atividades que os editores apresentam aos leitores, muitas não são comuns ao que entendemos hoje como conteúdos a serem tratados pela Educação Física. O temário com o qual lidavam os professores de Educação Física era bem mais amplo. Suas leituras envolviam temas como: yachting, automobilismo, golf, rúgbi, tênis, esgrima, excursionismo, box, pólo aquático etc.

A revista apresenta-se como um bom panorama esportivo das décadas de 1930 e 1940, no Brasil, e dos temas que animavam as discussões sobre os conteúdos a serem tratados pela Educação Física e o lugar dessa disciplina no cenário educacional, o que deixa ver que, no processo de institucionalização da Educação Física como disciplina escolar, muitos saberes foram adicionados ao rol de conhecimentos tidos como necessários à atuação docente, assim como outros foram interditados e progressivamente deslegitimados como temas a serem apreendidos/ensinados pelo professor. Exemplo desse fato é o processo de esportivização da Educação Física, no qual a ginástica é deixada em segundo plano, em favor de uma maior racionalização e controle do movimento humano.[33] Processo esse que se pode flagrar com base na leitura do discurso veiculado pela revista EducaçãoPhysica, mas que também pode ser percebido de forma quantitativa, quando se observam os eixos temáticos mais privilegiados pelos editores na composição da estratégia editorial do impresso.

ParaChartier (1994, p. 16), não se deve “[...] ignorar os processos através dos quais um texto faz sentido para aqueles que o lêem”. Justamente as operações pelas quais os editores organizam e dão a ler o impresso apresentam-se como parte de sua arquitetura, ou seja, as opções são feitas pelos editores para tornar o impresso legível e coerente, de acordo com o ponto de vista que desejam imprimir ao impresso.

Existe a necessidade de se compreender a palavra impressa não apenas como registro do que aconteceu, mas como parte constituinte do acontecimento, como uma força ativa na história que registra ao mesmo tempo em que produz novas culturas, local em que se pode perceber a disputa entre o velho e o novo, em que bens culturais são produzidos, feitos veicular e apropriados.

 

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[1] Sobre as mudanças ocorridas no campo da História da Educação, consultar Nunes e Carvalho (1993) e Warde e Carvalho (2000).

[2] Alguns trabalhos dos anos 1990 estão registrados no livro organizado por Catani e Bastos (1997), intitulado Educação em revista: a imprensa periódica e a história da educação.

[3] Sobre o projeto e os resultados desse esforço, ver o catálogo organizado por Catani e Sousa (1999): imprensa periódica educacional paulista (1890-1996).

[4] A tese de Denice Bárbara Catani, Educadoresà meia-luz: um estudo sobre a revista de ensino da Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo (1902-18), defendida em 1989, é reconhecidamente um dos primeiros estudos sobre a imprensa periódica educacional realizado no Brasil.

[5] Ver Catani e Sousa (1999).

[6] Ver Ana Clara Bortoleto Nery (1999), na tese A Sociedade de Educação de São Paulo: embates no campo educacional (1922-1931).

[7] Ainda conforme Chartier (1994, p. 17), “[...] contra a representação [...] segundo a qual o texto existe em si mesmo, isolado de toda a materialidade – deve se lembrar que não há texto fora do suporte que o dá a ler (ouvir), e sublinhar o fato de que não existe a compreensão de um texto, qualquer que seja, que não dependa das formas através das quais ele atinge o seu leitor”.

[8] Para Veyne (1998, p. 280), “Toda história é arqueológica por natureza e não por escolha: explicar a história e explicitar a história consiste, primeiramente, em vê-la em seu conjunto, em correlacionar os pretensos objetos naturais às práticas datadas e raras que os objetivizam, e em explicar essas práticas não a partir de uma causa única, mas a partir de todas as práticas vizinhas nas quais se ancoram”. Tratando sobre o uso da Arqueologia e seu instrumental teórico no campo da História, Schnapp (1988, p. 4) discute que “[...] a forma indica a destinação, [e] o modo de fabricação indica uma certa organização [...]”, assim, os testemunhos residuais de uma cultura correspondem à materialidade e à formalidade das práticas produzidas pela sociedade da qual é originária.

[9] Para um estudo que analisa o papel dos editores na constituição do campo da Educação Física, ver Schneider, Ferreira Neto e Santos (2005), em Autores, atores e editores: os periódicos como dispositivos de conformação do campo científico/pedagógico da educação física.

[10] Ao aplicar ao estudo do periódico a perspectiva desenvolvida por Chartier, tem-se que fazer alguns esclarecimentos. Entre eles, o de que tal enfoque é destinado pelo autor à análise de projetos editoriais veiculados na forma de livros. A mesma advertência realiza Barzotto (1998, p. 46), ao enfocar a questão em sua tese de doutoramento sobre a revista Realidade. De acordo com o autor, utilizar as proposições de Chartier para o estudo das revistas periódicas exige uma certa cautela, pois “[...] Chartier descreve [...] procedimentos tendo em vista a impressão de livros [...] [porquanto] num primeiro momento, é necessário supor que os limites da ação dos trabalhadores da imprensa no processo de produção de revistas periódicas podem ser diferentes daqueles que se estabelecem para o caso da impressão de livros”.

[11] Assim como as proposições de Chartier (1990 e 1994) em relação à História do Livro são utilizadas com algumas ressalvas no estudo da imprensa periódica especializada, o mesmo procedimento deve ser feito em relação às proposições de Toledo (2001), pois o objeto ao qual a autora direciona seu olhar é outro, a história das coleções, possuindo, desse modo, outras características e outra lógica de composição.

[12] Na publicação do seu primeiro número, a revista foi intitulada como EducaçãoPhysica: Revista Téchnica de Esportes e Athletismo (1932). A partir do lançamento do décimo terceiro número (dezembro de 1937), passa a se chamarEducação Physica: Revista Technica de Esportes e Saúde. No número seguinte (janeiro de 1938), o termo técnica é suprimido, passando o periódico a ser impresso como EducaçãoPhysica: Revista de Esportes e Saúde. Em 1939, no número 28/29, seguindo as orientações da reforma ortográfica de 1937, passa a ser grafada como EducaçãoFísica: Revista de Esportes e Saúde,assim apresentadaaté a publicação de seu último número, no ano de 1945.

[13] “Periódicos são publicações editadas em fascículos, com encadeamento numérico e cronológico, aparecendo a intervalos regulares ou irregulares, por um tempo indeterminado, trazendo a colaboração de vários autores, sob a direção de uma ou mais pessoas, mas geralmente de uma entidade responsável, tratando de assunto diversos, porém, dentro dos limites de um esquema mais ou menos definido” (Souza, 1992, p. 19).

[14] Nesse total, está incluído tudo que foi publicado durante o período em que a revista circulou.

[15] O emprego do termo periodicidade no estudo, referindo-se ao campo editorial, deve ser entendido como o período previsto entre edições sucessivas de um mesmo tipo de publicação, ou como a regularidade do ritmo de produção de uma série e as causas suscetíveis de explicá-la no campo da História.

[16] Em 1935, a revista sofre uma paralisação, para voltar a circular somente em 1936.

[17] No período em que a revista Educação Physica esteve em circulação, ela não modificou suas dimensões. Durante os treze anos em que foi impressa, foi produzida medindo 27,5cm de altura por 20cm de largura.

[18] Os termos técnicos utilizados para descrever a composição da revista Educação Physica foram empregados segundo as orientações do Manual do Tipógrafo (1948), de autoria de Ralph W. Polk, para a organização dos elementos necessários para uma boa disposição das informações que são fixadas no material impresso. Para maior detalhamento, ver o capítulo XXII sobre a Classificação dos tipos.

[19] Parte do que é tratado na revista é antecipadamente explicitado ao leitor, sem que tenha que recorrer ao seu Índice (Sumário).

[20] Antes do lançamento do número 11 (1937), essas informações eram veiculadas somente na parte superior da página em que o Índice das matérias era impresso.

[21] Com a mudança do modelo de composição da capa, muda-se também o modo de se grafar a revista, que passa a ser impressa como Educação Física, e não mais como Educação Physica.

[22] A referência de que o impresso é uma publicação mensal é veiculada na capa até o último número produzido.

[23] As imagens veiculadas nas capas, tanto as que são gravuras de pessoas praticando esportes, quanto fotografias dos deuses e deusas do panteon grego e esportistas em ação, são reproduzidas como o exemplo do cultivo do corpo e adestramento/aperfeiçoamento das energias corpóreas.

[24] A ordenação dos títulos dos blocos de temas no Índice das matérias é feita em ordem alfabética durante todo o período em que esse dispositivo editorial é utilizado.

[25] O dispositivo editorial designado como Índice só não é utilizado nos primeiros dois anos de circulação da revista, momento em que se está traçando seu projeto editorial, na edição de número 14, nos números 74, 75, 76 e 83, assim como nas revistas números 81 e 82, quando o impresso é publicado sem o Índice das matérias.

[26] Andrade (1978), ao realizar tal afirmação, está discutindo a produção de livros na década de 1970, no Brasil, período em que essa indústria já se encontra bem estruturada. No início da década de 1930 e meados da década de 1940, os custos relativos ao papel para a produção dos impressos eram bem maiores. Em primeiro lugar, em decorrência da crise econômica mundial vivida em fins da década de 1920 e primeiros anos da década de 1930; depois, em função das dificuldades de importação de papel por causa da II Guerra Mundial (Hallewell, 1985). Sobre as dificuldades por que passou o setor editorial no Brasil, nas décadas de 1930 e 1940, os editores do periódico assim relatam: “[...] quase todos os periódicos – jornais e revistas – estão enfrentando dificuldades para se manterem circulando” (Educação Física, 1944, n. 79/80, p. 5).

[27] Os índices eram divulgados no mês de dezembro, porquanto somente na última revista impressa se poderia redigir a lista. A veiculação da lista só não ocorreu no ano de 1944. A relação (Índice) de matérias que deveria ser impressa em 1944 foi veiculada tão-somente na revista correspondente ao mês de janeiro/fevereiro de 1945.

[28] O Índice geraldas matérias publicadas, como o nome diz, era composto por todas as matérias veiculadas durante o ano. Era dividido por temas segundo uma tipologia desenvolvida pelos editores. Desse modo, as matérias eram organizadas levando em conta o assunto sobre o qual tratava.

[29]A veiculação do Índice geraldas matérias publicadas passa a ser feita no momento em que os editores começam a produzir um novo sentido para a revista.

[30]Conforme Barzotto (1998), ao encadernar uma revista, ela adquire novas características, as quais torna o periódico algo bem próximo ao livro. Para o autor (1998, p. 60), “[...] à revista interessa esse caráter de livro, desde que o veículo não se descaracterize enquanto revista. Que o leitor [...] considere [a revista] como livro é uma vantagem para a editora, uma vez que isso atesta o seu grau de importância [...], [que ultrapassa] o tempo vivido pelo leitor”.

[31] As 3.768 matérias que são veiculadas durante os treze anos em que o impresso é publicado puderam ser classificadas a partir dos títulos em que são agrupadas no Índice do impresso.

[32] O Quadro 7 foi veiculado na revista número 64 (1942, p. 48).

[33] Sobre o tema da esportivização da Educação Física, ver o texto publicado por Schneider (2004), na Revista Brasileira de Ciências do Esporte, v. 25, n. 2, com o título Entrea correção e a eficiência: mutações no significado da Educação Física nas décadas de 1930 e 1940: um estudo a partir da revista Educação Physica.

Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA), http://www.proteoria.org
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Prévia do artigo SCHNEIDER, O.; FERREIRA NETO, A.; NASCIMENTO, A. C. S.; SANTOS, W. dos. Arqueologia das Práticas Editoriais: 15 anos de um Impresso em movimento. Movimento, Porto Alegre, v. 15, n. 3, p. 57-85, jul./set. 2009. FREITAS, L. L. L. de; SCHNEIDER, O.; FERREIRA NETO, A. Hollanda Loyola, produção e circulação de saberes escolares: infância e Educação Física (1938-1944). In: VIII Congresso Luso Brasileiro de História da Educação, 2010, São Luiz, MA. Infância, juventude e relações de gênero na História da Educação. São Luiz, MA: UFMA, 2010. v. 1. p. 1-19. Próximo artigo
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