NASCIMENTO, Ana Claudia Silvério. Editoração de periódicos científicos no campo da educação física. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 13., 2003, Caxambu-MG. Anais... Caxambu-MG: CBCE/Autores Associados, 2003. 1 CD-ROM.
NASCIM
EDITORAÇÃO DE PERIÓDICOS CIENTÍFICOS NO CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Ana Claudia Silverio Nascimento Membro do Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física - PROTEORIA Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação Física da Universidade Gama Filho
Bolsita - CNPq
Resumo
A proposta deste trabalho é levantar questões que discutam os principais problemas enfrentados na editoração de periódicos científicos no campo da Educação Física, buscando gerar subsídios para desencadear um debate na área. Para isso, baseia-se em estudo monográfico intitulado "Análise das características formais dos periódicos científicos da Educação Física brasileira: o caso da Revista Brasileira de Ciências do Esporte” e no estudo "Avaliação dos periódicos científicos da Educação Física” que permitiram traçar um quadro geral das revistas da área no que diz respeito aos problemas enfrentados.
Introdução
A avaliação da produção científica das diversas áreas possibilita identificar seu estágio de desenvolvimento, produção e impacto sobre a comunidade científica. Por isso, tem se constituído em um dos aspectos mais importantes no processo de avaliação dos programas de pós-graduação no país, tendo em vista que existe uma relação entre pós- graduação e produção científica, quer pelo seu fazer científico, quer pelo papel na formação de professores e pesquisadores.
Esse tipo de avaliação tem se tornado preocupação constante dos pesquisadores e vários indicadores podem ser utilizados para este fim. Entre esses, os artigos publicados em periódicos científicos constituem um dos itens de maior peso.
Esse fato faz com que a editoração de revistas científicas[1] se torne assunto recorrente em encontros e debates que reúnem profissionais ligados ao ensino superior, gerando expectativas diversas. No início do processo, desencadeado pela CAPES, parte desses profissionais mostrou-se otimista quanto à avaliação das revistas, por acreditar que ela poderia assegurar maior qualidade às publicações. Outra parte mostrou-se receosa por não conhecer os critérios a que seriam submetidas as revistas e, principalmente, por temerem por seus destinos.
Em meio a esse cenário, algumas áreas, como Psicologia e Educação, organizaram comissões com o objetivo de avaliar as revistas publicadas.[2] O trabalho dessas comissões tem fomentado a discussão acerca dessas publicações e contribuído para melhoria daquelas que são avaliadas.
Na Educação Física, a inexistência de uma comissão envolvida com a avaliação das revistas atrasou o debate na área, que tem ocorrido por iniciativa dos profissionais responsáveis pela editoração dos periódicos, de forma não organizada. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo levantar questões que discutam os principais problemas enfrentados para a editoração das revistas científicas no campo da Educação Física, buscando desencadear um debate que envolva os profissionais ligados a essa função. Para isso, apoia-se em estudo monográfico desenvolvido no curso de Educação Física no qual apresentamos um instrumento para avaliação formal das revistas da área e o testamos na Revista Brasileira de Ciências do Esporte[3] e também em avaliação realizada com outros onze periódicos da área[4] que nos permitiu traçar um quadro geral da situação das revistas no que diz respeito à sua adequação aos critérios formais estabelecidos nacional e internacionalmente, e levantar questões relacionadas à sua editoração.
Dessa forma, o presente trabalho aborda, inicialmente, o papel dos periódicos científicos no contexto da Ciência para, posteriormente, enfocar os principais problemas enfrentados para editoração dessas publicações e a análise das principais barreiras encontradas pelas revistas científicas na Educação Física.
Papel dos periódicos no contexto da Ciência
O crescimento da Ciência influencia diretamente a comunicação científica, de forma que se pode pensar a circulação dos conhecimentos gerados pela Ciência como atividade inerente à sua própria concepção. É tão relevante a publicação da pesquisa que, para autores como Meadows (1999) só cabe à pesquisa reivindicar este nome quando houver sido analisada e aceita pelos pares.
Assim, pensar a relevância da Ciência demanda, necessariamente, reconhecer a importância do conhecimento, da informação científica e, por conseguinte, da comunicação científica (TARGINO, 2000).
Ainda sobre a estreita relação entre Ciência e comunicação, Frick, citado por Pfeifer (1999), esclarece que a produção e a disseminação dos resultados da pesquisa estão situadas dentro de uma mesma estrutura. Para ele, o avanço da Ciência vincula-se diretamente com o fluxo de informação circulante nas áreas que a configuram. Também Ziman, citado por Mueller (2000), registra que, sem sua literatura, uma área científica não poderá existir, pois sem o aval dos pares, o conhecimento resultante da pesquisa não será validado e não será considerado científico.
Por ser tradicionalmente reconhecida como forma concreta de provar a participação efetiva do cientista em atividade científica, a publicação dos resultados tornou-se preocupação central dos pesquisadores.
Entre os diversos canais usados para comunicar a Ciência, as publicações constituem importantes pólos de divulgação, principalmente por sua propriedade de permanência dos registros e seu alcance geográfico. Na atualidade, entre os vários tipos de publicações, o periódico impresso é um dos canais mais usados pela comunidade científica, constituindo fórum privilegiado para anunciar resultados, submeter a produção a julgamento e receber contribuições. Ou seja, eles possibilitam a continuidade do processo evolutivo do conhecimento.
Como veículo de comunicação do conhecimento, o periódico cumpre diversas funções. Entre elas, podemos citar: registro público do conhecimento, estabelecimento da "Ciência certificada”, isto é, do conhecimento que recebeu aval da comunidade científica, registro da autoria da descoberta científica, indicador de performance acadêmica do pesquisador, arquivo ou memória científica e canal de disseminação da informação por meio dos serviços de index e bibliotecas (OHIRA et al., 2000).
Para funcionar de forma eficiente na transmissão de conhecimento, as revistas precisam adequar-se e preservar os padrões da Ciência. Desse fato decorre a valorização de revistas científicas que autenticam os critérios de permanência contra o efêmero, de periodicidade contra o ocasional, de indexação contra a invisibilidade, da abrangência nacional (ou internacional) contra a local, da exogenia contra a endogenia (PINO, 2002).
Para isso, é necessário a presença de uma comunidade científica engajada na atividade de pesquisa, da afluência de artigos para publicação, da existência de grupos que desempenhem funções de edição, avaliação, publicação, disseminação e recuperação, da existência de mercado representado por uma com unidade de usuários que o legitime, de infra-estrutura para distribuição, recuperação e acesso às informações (MIRANDA, 1996).
Esses, no entanto, correspondem aos principais obstáculos enfrentados no processo de editoração de revistas em nosso país. Dessa maneira, por constituir o aspecto dinâmico da produção científica, o estudo do sistema de construção de revistas fornece dados sobre as barreiras existentes e que comprometem a transferência do conhecimento.
Assim, sem pretender esgotar a discussão dessas questões, abordaremos a seguir os principais problemas editoriais encontrados para a produção de revistas científicas e, posteriormente, a análise da situação das revistas da Educação Física nesse contexto.
Principais problemas na editoração de periódicos científicos
Embora antigos[5] e universalmente aceitos, muitos problemas afetam a publicação de periódicos científicos, principalmente aqueles de países que não estão na fronteira do desenvolvimento, como é o caso do Brasil. Como, muitas vezes, não conseguem manter a estrutura necessária, não conseguem entrar no círculo dos mais prestigiados, acarretando, como conseqüência, a pouca visibilidade no meio nacional e internacional.
Para ser considerado de boa qualidade, um periódico precisa publicar bons atigos, manter sua periodicidade e ser facilmente encontrado. Essas características são dependentes umas das outras, formando um círculo vicioso difícil de romper:
[...] a afluência de bons artigos, isto é, as razões que motivam autores mais conceituados a escolherem um determinado periódico para mandar seu manuscrito, é conseqüência da regularidade da publicação e facilidade de acesso por leitores interessados. Qualidade de artigos, regularidade na publicação e facilidade de acesso permitem ao periódico ser incluído em bases de dados internacionais e aumentar a sua visibilidade. A visibilidade aumenta as chances de citação. O financiamento é mais acessível aos periódicos que publicam bons artigos, indexados e citados, ou seja, que têm boa reputação. A boa reputação se mantém com o rigor da seleção dos artigos. O rigor da seleção só pode ser aplicado onde há boa afluência de artigos. Mas a boa afluência de artigos depende de todo o resto...(MUELLER, 1999).
Como agravante dessa situação, temos uma inegável proliferação das revistas, sobretudo em função do "publique ou pereça" que se tornou uma máxima no cenário acadêmico, e que traz, subjacente, vários problemas. Entre os principais, Mueller (1999), Stumpf (2000) e Ohira et al. (2000), que têm se dedicado ao estudo de periódicos, destacam: a dispersão de artigos, o alto custo, a falta de infra-estrutura para captação de artigos originais, a formação deficiente do corpo editorial e distribuição deficiente.
Além desses entraves, ao analisarmos o cenário brasileiro de publicação, percebemos que a produção nacional, de modo geral, é afetada por problemas de normalização, falta de apoio institucional e de recursos financeiros, descontinuidade de suas edições e ausência de recursos humanos capacitados na área, com o conseqüente amadorismo presente em sua editoração.
Diante desse quadro, os autores, acompanhando uma tendência mundial, dão prioridade aos periódicos de maior prestígio para a publicação de seus trabalhos, já que, para eles, a importância das revistas também pode ser analisada pela sua qualidade, conferida pela credibilidade que lhe é outorgada pelo campo científico no qual se insere, e pela abrangência dos seus canais de difusão (PINO, 2002).
Com base nesse fato, percebemos que a importância das revistas varia. Aquelas que não dão prestígio, reconhecimento, não tem visibilidade ou impacto, não conseguem manter um espaço para o debate na comunidade científica e não se firmam como canais de comunicação da Ciência. Fato que novamente explicita o círculo vicioso que prende as revistas nacionais.
Isso ocorre, pois não há, no cenário brasileiro de publicações, uma imagem homogênea. A grande maioria dos títulos apresenta-se de forma irregular, alterando suas edições com períodos longos de ausência. Contudo, encontramos periódicos nos dois extremos: aqueles que se mantêm regularmente há décadas e aqueles que sofreram a síndrome dos três fascículos: o primeiro é publicado com euforia, o segundo com atraso e o terceiro e último, anos depois (STUMPF, 2000).
Em face dessas dimensões referentes ao papel das revistas na construção da Ciência, surgem questões relativas aos problemas encontrados para sua produção editorial. Portanto, algumas delas se tornaram objeto de estudo deste trabalho no que diz respeito às revistas da Educação Física.
Problemas editoriais das revistas da Educação Física
Como estão inseridas no contexto das publicações nacionais, as revistas da Educação Física também apresentam os problemas enfrentados pela maioria dos periódicos. A avaliação das doze revistas possibilitou traçar um quadro geral das publicações, já que entendemos que o universo avaliado reflete as características das demais.
O estudo realizado permite afirmar que essas publicações padecem de profissionalismo, desde a produção dos artigos até a distribuição, passando pela editoração.
Apesar de parecer pessimista, a afirmação reflete a realidade das revistas da área, visto que, das doze publicações avaliadas, duas foram classificadas como de nível B, três de nível C, quatro de nível D e duas de nível E.[6]
Entre os principais problemas se destacam: falta de normalização dos artigos e das revistas como um todo, descumprimento da periodicidade, distribuição deficiente, abrangência local ou regional, baixo índice de artigos originais e falta de uma política editorial.
Atualmente, para serem incluídos em grandes bases de dados os periódicos necessitam ser normalizados de acordo com os padrões adotados nacional e internacionalmente. Acredita-se até, que em um futuro próximo, a normalização seja um pré-requisito para que eles se submetam à avaliação. Entretanto, as revistas da Educação Física ainda apresentam-se pouco adequadas ao padrão de normalização.
O movimento no sentido de promover a normalização, segundo Meadows (1999), reflete as pressões crescentes exercidas sobre a comunicação científica, mais especificamente como resultado de sua rápida expansão, que dificultou ainda mais para os leitores a localização das informações relevantes.
A normalização contribui justamente nesse sentido. A apresentação de resumos (na língua original e tradução), palavras-chave, referências, filiação e endereço dos autores, no caso dos artigos, e legenda bibliográfica completa, sumário (na língua original e tradução) endereço da instituição publicadora, no caso das revistas, são informações essenciais e que podem contribuir para maior visibilidade da produção, na medida em que facilitam a localização das revistas e identificação dos temas abordados. Mais do que mero "formalismo", trata-se de dotar a produção da área do rigor científico necessário para sua maior visibilidade.
Mesmo sendo uma das características fundamentais dos periódicos, a periodicidade constitui outro entrave para as revistas da Educação Física. Ela corresponde a um dos critérios mais elementares no processo de avaliação e é de importância fundamental, pois indica o fluxo da produção científica do periódico.
Contudo, todas as revistas avaliadas apresentaram dificuldades em cumprir a periodicidade informada. Este atraso pode ser indicativo de vários fatores, entre eles: falta de recursos financeiros, movimento editorial insuficiente, atraso na emissão de pareceres, falta de recursos humanos para a editoração da revista. Mais uma vez, os editores devem estar atentos, pois a falta de periodicidade reforça a permanência das revistas no círculo vicioso que tem como conseqüência a pouca visibilidade da produção veiculada.
Aliados à periodicidade, dois outros fatores constituem entraves na editoração das revistas: distribuição deficiente e abrangência local.
A questão do acesso, isto é, da distribuição consiste em um ponto em que os periódicos da Educação Física são bastante deficientes. "De nada adianta a edição de fascículos primorosos se estes não chegam a ser lidos, se a comunidade científica não toma conhecimento de sua existência ou não consegue ter acesso aos seus conteúdos" (MUELLER, 1999, p. 4). Como a maioria dos periódicos é publicada por universidades ou instituições que não almejam o lucro e sim o prestígio, passam por problemas financeiros que afetam a sua distribuição.
Assim, o problema deve ser enfrentado buscando-se estimular o sistema de assinaturas e vendas e, principalmente, o estabelecimento de um sistema de permutas com bibliotecas e universidades que tenham capacidade de divulgar a produção, "já que sem disseminação não há a retroalimentação necessária ao crescimento. E sem leitura, o periódico morre, a pesquisa não repercute, o autor não se desenvolve" (MUELLER, 1999, p. 4).
A abrangência restrita também está diretamente ligada ao problema da distribuição e é agravada pela falta de incentivo à participação de autores de outras instituições e associações, que não a responsável pela publicação. No caso da Educação Física, observamos um alto índice de endogenia, o que acaba também por restringir a circulação, na medida em que as revistas são usadas para escoar a produção caseira e não atraem profissionais de outras instituições.
Apesar de numerosos, os problemas referentes aos critérios formais, juntamente com periodicidade e difusão são os mais fáceis de serem resolvidos. Esses fatores merecem atenção, tendo em vista que a divulgação da produção científica pressupõe a adoção de padrões editoriais consistentes e a manutenção de uma periodicidade pontual e previsível.
O problema mais difícil de ser resolvido é fazer avançar o atual estágio das publicações no que se refere ao seu envolvimento com a comunidade científica por meio de uma melhor relação entre editores, conselho editorial e autores.
Assim, consideramos pertinente que as revistas estabeleçam uma política editorial, com orientação clara de conteúdos, temas e linhas de pesquisa abordadas, já que, no meio científico, essa definição funciona como um filtro de qualidade no processo de seleção dos artigos e informa o tipo de pesquisa que é aceita para publicação. Ou seja, ela reflete a identidade da revista.
A definição de uma política editorial envolve diretamente a criação de um conselho editorial e a determinação de um quadro de referees, bem como a definição de critérios claros de seleção de trabalhos.
Apesar dessas colocações, grande parte das revistas avaliadas não apresenta política editorial clara, nem conselho editorial, além de não esclarecer sobre os critérios de seleção adotados. Aspectos esses que necessitam ser observados, tendo em vista que constituem elementos fundamentais do prestígio e da reputação de uma revista.
A propósito da composição do conselho editorial, vale a pena destacar que os seus membros precisam ter participação ativa nos rumos da publicação, de forma que, além de contribuírem para a definição da linha editorial, atuem na discussão de pauta das edições.
Entretanto, em virtude da necessidade de formar um conselho com membros reconhecidos pela comunidade e de outras instituições, Barreto (2002) destaca que muitas revistas acabam por inflacionar suas comissões com pessoas "notáveis" e pouco participativas. Nesse caso, deve-se pensar na escolha dos participantes tendo como objetivo a sua contribuição efetiva nas decisões da revista.
No que tange à avaliação dos artigos, Faria Filho (2002) afirma que a arbitragem pelos pares se constitui no coração da editoração. E para que ela funcione bem, as revistas devem buscar pareceristas com formação pertinente ao conteúdo temático da revista e que sejam reconhecidos pela comunidade científica. De forma análoga, Velho, citada por Pfeifer (1999), enfatiza que a revisão por pares não é apenas uma rotina do sistema social da Ciência, é também símbolo e garantia de sua autonomia.
Outro problema que pode ser observado nos periódicos está diretamente relacionado com a produção da área. Condição essencial para editoração é poder contar com um movimento editorial significativo e de qualidade.
Com o estudo, observamos que há uma carência de contribuições originais e de qualidade na área, visto que apenas quatro revistas[7] apresentaram pelos menos 50% de artigos originais, do total de artigos publicados. Este fato obriga os editores, muitas vezes, a publicarem resumos de dissertações e teses e outras informações que não agregam qualidade à publicação.
Tomando como premissa a afirmação de Faria Filho (2002, p.32) de que "[...] nossos periódicos não apenas refletem nossa área: eles a constituem”, ao se referir à área da Educação, notamos que se torna necessário estimular a contribuição dos pesquisadores a fim de melhorar a qualidade dos artigos publicados.
Todos os fatores apontados até agora dizem respeito ao âmbito interno da editoração. No plano externo, ainda devemos destacar que a língua é um aspecto que afeta a difusão das revistas.
Em época de comunicação globalizada, a publicação de artigos em inglês pode oferecer às revistas maiores possibilidades de difusão e, consequentemente, visibilidade, principalmente se levarmos em consideração que essa é a língua científica atual.
O primeiro passo para publicação de artigos em outra língua já foi dado com a aceitação de artigos em espanhol por algumas revistas. Resta agora, incentivar a
publicação em inglês para que as revistas possam ser incluídas nas grandes bases de dados.
Considerações finais
As produções no campo da editoração nos mostram que “[...] se a criação de uma revista de cunho científico é um empreendimento difícil, garantir sua sobrevivência é pouco menos que uma missão impossível, tamanhas são as dificuldades [...] que a editoração dessas revistas enfrenta em nosso meio” (PINO, 2002, p.43).
Portanto, torna-se imprescindível para a sobrevivência das revistas o cuidado com a qualidade da produção, que é o que confere autoridade científica ao periódico.
A análise realizada evidenciou a necessidade do caráter permanente e contínuo da avaliação, demonstrando a necessidade de se estabelecer uma política de avaliação na área que estimule a melhoria das revistas, no que diz respeito aos aspectos formais e a qualidade acadêmica. Exigências relativas a políticas editoriais e ao estabelecimento de procedimentos de arbitragem são condições sine qua non para as revistas atingirem patamares de qualidade e de visibilidade.
Certamente, a maioria dos problemas citados não é novidade entre os editores. Dessa maneira, as respostas às problemáticas das revistas relativas à garantia da qualidade, da sua visibilidade, bem como ao estabelecimento das políticas editoriais, condicionarão, em grande parte, a potencialidade da revista como um meio de comunicação por excelência (PINO, 2002).
Assim, acreditamos que muitos desafios colocam-se às revistas da área: manter sua periodicidade, regularidade, qualidade de conteúdo e distribuição eficiente, enfrentar as dificuldades financeiras que afetam sua produção, estabelecer uma identidade no campo, garantir a visibilidade da produção e, principalmente, sobreviver em meio ao grande número de publicações na área.
Esperamos, com este estudo, desencadear entre os pesquisadores um debate em torno das principais dificuldades que afetam a editoração de nossas revistas no sentido de buscar a criação de uma comissão que trabalhe na melhoria das publicações, evitando que estas estejam fadadas ao desaparecimento.
REFERÊNCIAS
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Segundo Stumpf (2000), o uso dos termos "periódicos científicos" e "revistas científicas" é diferenciado pelo tipo de profissionais que os utilizam. Bibliotecários preferem a denominação periódicos científicos, já pesquisadores preferem revistas. Contudo, a mesma autora declara que na literatura brasileira, os dois termos se apresentam tanto como sinônimos, como gênero e espécie. Neste estudo, os termos serão 2omados como sinônimos.
Sobre a avaliação realizada, ver relatórios da Psicologia e Educação, respectivamente em: www.anpepp.org.br e www.anped.org.b .
NASCIMENTO (2002). Com o estudo, buscamos na literatura especializada um instrumento para avaliação formal das revistas da Educação Física. A sua aplicação na RBCE possibilitou realizar alterações com o objetivo de melhor adequá -lo para avaliação das revistas da área. O instrumento modificado foi apresentado em artigo na Revista Movimento, v. 8, n. 2, p. 35-49, maio/ago. 2002.
[4] As revistas avaliadas são: Revista Paulista de Educação Física, Movimento, Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Motriz, Motus Corporis, Licere, Pensar a Prática, Revista Mineira de Educação Física, Motrivivência, Revista de Educação Física da UEM, Corporis. Os relatórios de avaliação encontram-se disponíveis na página do PROTEORIA www.proteoria.ne). Os resultados da análise foram apresentados no I Congresso de Educação Física e Ciências do Esporte do Espírito Santo, 2002.
[5] Os dois primeiros periódicos científicos de que se tem registro surgiram em 1665, respectivamente na França e na Inglaterra, com dois meses de diferença entre eles. Journal des Sçavans e Philosophical Transactions serviram de modelo para outros periódicos publicados por sociedades e academias européias.
[6] O instrumento utilizado para a avaliação das revistas permite a classificação quanto ao desempenho em cinco conjunto de variáveis: normalização (25%), distribuição (5%), periodicidade (12%), indexação (15%), difusão (3%) e colaboração de autores e divisão de conteúdos (40%). As revistas classificadas como de nível A obtiveram desempenho igual ou superior a 91%, as de nível B entre 71% e 90%, as de nível C entre 51% e 70%, as de nível D entre 31% a 50% e as de nível E desempenho igual ou inferior a 30%.
[7] São elas: Revista de Educação Física da UEM, Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Revista Brasileira de Ciências do Esporte e Revista Paulista de Educação Física.
ENTO, Ana Claudia Silvério. Editoração de periódicos científicos no campo da educação física. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 13., 2003, Caxambu-MG. Anais... Caxambu-MG: CBCE/Autores Associados, 2003. 1 CD-ROM.NASCIMENTO, Ana Claudia Silvério. Editoração de periódicos científicos no campo da educação física. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 13., 2003, Caxambu-MG. Anais... Caxambu-MG: CBCE/Autores Associados, 2003. 1 CD-ROM.