NASCIMENTO, Ana Claudia Silverio; Andreia GOMES, Anchieta de Oliveira. A comunicação científica na educação física: avaliação de periódicos brasileiros. In: CONGRESSO ESPÍRITO SANTENSE, 11., 2011, Vitória. Anais... Vitória: CEFD/UFES, 2011.
A COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA NA EDUCAÇÃO FÍSICA:
AVALIAÇÃO DE PERIÓDICOS BRASILEIROS
Andréia Anchieta de Oliveira Gomes[1]
Ana Claudia Silverio Nascimento[2]
PROTEORIA
RESUMO
Objetiva traçar um perfil de sete periódicos científicos da Educação Física a partir da avaliação dos seus aspectos formais. Utiliza instrumento de avaliação formulado para a área levantando elementos que subsidiem a discussão sobre a comunicação científica e uma política de editoração que vise à melhoria das publicações. Conclui que os periódicos analisados atendem alguns critérios de formalidade, mas ainda necessitam adequar-se a outros que podem contribuir para sua indexação nas bases de dados nacionais e internacionais.
Palavras-chave: Periódicos científicos. Avaliação. Educação Física.
INTRODUÇÃO
Ciente da impossibilidade de concepções universais, Ziman citado por Targino (2000), postula que o termo ciência gera dificuldades e polêmicas de tal forma que insistir em dar uma resposta à pergunta ‘Que é ciência’ demonstra quase tanta presunção quanto tentar definir o sentido da própria vida. Sem pretensões históricas, portanto, observamos que a ciência há séculos influencia a humanidade, criando e alterando convicções, modificando hábitos, gerando leis, ampliando de forma permanente as fronteiras do conhecimento.
Na visão de Meadows (1999), o interesse pela expansão do conhecimento ocorrido no século XVII auxilia a compreender melhor a comunicação das pesquisas, visto que a forma como se organiza, atualmente, a comunicação científica, em geral, reflete decisões tomadas no passado. Segundo o autor, disseminou-se a idéia de que o conhecimento era cumulativo, o que implicava em duas posições. Primeiro, que o processo de acumulação envolvia o fornecimento de informações sobre o próprio trabalho a outras pessoas e o recebimento de informações dessas pessoas. E, em segundo lugar, que as informações deveriam ser divulgadas numa forma durável e prontamente acessível.
A consolidação de uma estrutura de comunicação ao longo dos últimos quatro séculos foi acompanhada pela institucionalização da ciência e pela especialização dos saberes. Esse modelo alcançou seu apogeu no século XX, quando ocorreram grandes avanços da ciência e da tecnologia e um aumento do número de cientistas, desencadeando alta produção de publicações técnico-científicas. Nesse contexto, então, multiplicaram-se os canais de comunicação e informação em busca da eficiência necessária, sobretudo, quanto à sua velocidade e credibilidade.
Em função de seu papel na divulgação do conhecimento, esses canais têm se tornado foco de interesse de pesquisadores que desejam compreender o fluxo da comunicação científica nas diferentes áreas de conhecimento. Abordam-se, nesse contexto, questões relacionadas às características e representatividade dos diferentes canais/veículos (livros, anais, periódicos científicos, cartas, relatórios, etc.); produção e uso da literatura científica; impacto das novas tecnologias na comunicação da ciência, como por exemplo, a transição do meio impresso para o meio eletrônico; o estudo das comunidades científicas por meio do estudo de citações e da formação de redes colaborativas; etc.
Nesse sentido, o presente estudo objetiva traçar o perfil de sete periódicos científicos da Educação Física a partir da avaliação dos seus aspectos formais. Busca, portanto, destacar as especificidades dos periódicos da área, levantando elementos que subsidiem a discussão sobre a comunicação científica na área e sobre uma política de editoração que visa à melhoria das publicações.
METODOLOGIA
O estudo se caracteriza como uma pesquisa exploratória e descritiva. Propõe uma avaliação dos aspectos formais de sete periódicos da Educação Física brasileira: Movimento, Motriz, Revista da Educação Física/UEM (REF/UEM), Revista Brasileira de Ciência do Esporte (RBCE), Revista Brasileira de Educação Física e Esporte (RBEFE), Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde (RBAFS) e Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano (RBCDH).
A seleção dos títulos baseou-se em três critérios: pertencer aos estratos de melhor classificação dos periódicos da Educação Física brasileira na base Qualis[3] (B1 e B2); ser editado por instituição brasileira ligada à área e ter disponibilidade de versões online.
O instrumento utilizado para análise foi desenvolvido por Ferreira Neto e Nascimento (2002)[4] que propõem a avaliação de características do periódico no todo (legenda bibliográfica, ISSN, endereço, periodicidade, instrução aos autores, duração, indexação) e de características presentes em cada fascículo (sumário, referências, filiação dos autores, resumos, descritores, data de recebimento de artigos, autoria, quantidade de artigos originais, artigos de revisão, cartas, resenhas, estudos de caso).
Busca verificar se as informações estão visíveis ao leitor, tendo em vista que um periódico, além de disseminar a informação, deve apresentá-las sob um padrão estipulado. Para elaboração da metodologia, foram utilizadas como base as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para publicações científicas. A coleta de dados aconteceu entre os meses de janeiro e fevereiro de 2011.
RESULTADOS
A fim de organizar a apresentação dos dados, optamos por realizar a análise por revista.
- Movimento: foram analisados os fascículos de números 2, 3 e 4, do volume 16, referentes ao ano de 2010. Todos apresentam legenda bibliográfica, ISSN, endereço, informação sobre periodicidade e instruções aos autores, atendendo as normas estabelecidas pelo instrumento de avaliação. A revista utiliza o Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas[5] que permite a leitura do sumário em três idiomas (português, inglês e espanhol). Contudo, somente no n. 2 a tradução completa do sumário está disponível em espanhol e inglês. Nos demais, vários artigos apresentam título apenas em português. Já os itens referências, resumos, descritores e data de recebimento dos artigos atendem aos critérios estabelecidos.
Dos fascículos avaliados, o de n.3, apresenta quatro artigos com filiação incompleta, não atendendo a NBR 6022 (ABNT, 2003) que aponta a necessidade da apresentação de breve currículo do autor com informações sobre instituição, titulação, cidade e país. O n. 4 não atendeu ao percentual recomendado de artigos originais e o de n. 2 apresentou quantidade superior ao recomendado de artigos de revisão. Uma resenha foi publicada no n. 4 e estudos de casos foram publicados nos números 2 (um) e 4 (três). Em todos os fascículos, o periódico apresentou artigos com autoria de estrangeiros e/ou colaboração com autores nacionais. Arevista foi criada há 17 anos e está indexada nas basesScopus, Web of Science (ISI) Lilacs, Latindex, SportDiscus eRedayc.
- Motriz: foram analisados os fascículos de números 2, 3 e 4, do volume 16, referentes ao ano de 2010. Todos apresentam legenda bibliográfica, ISSN, endereço, informação sobre periodicidade e instruções aos autores, atendendo as normas estabelecidas pelo instrumento de avaliação. A revista também utiliza o SEER que permite a leitura do sumário em inglês e espanhol. Contudo, dos fascículos avaliados, o de n. 4 não apresenta a tradução em inglês do título de um artigo. A tradução dos títulos para o espanhol apresenta-se incompleta em todos os números analisados.
A filiação de autores encontra-se incompleta em todos os fascículos. Já os itens resumos, descritores, data de recebimento de artigos e referências atendem ao instrumento de avaliação.Nenhum fascículo apresenta o percentual mínimo de publicações originais (75%), além de uma grande quantidade de artigos de revisão ter sido publicada no n. 3. A revista publicou, em dois números avaliados, estudo de caso. Os n. 2 e n.3 registram a participação de autores estrangeiros e/ou colaboração na autoria dos artigos. Observamos, ainda, que a revista foi criada há 16 anos e está indexada nas bases:Web of Science/ISI, SciELO, Lilacs, Public Knowledge Project e Sibradid.
- Revista da Educação Física/UEM: foram avaliados os fascículos do volume 21, números 2, 3 e 4, referentes ao ano de 2010. Todos atendem aos critérios definidos para apresentação de legenda bibliográfica, ISSN, endereço, informação sobre periodicidade, instruções aos autores, data de recebimento dos artigos e referências. A revista utiliza o SEER e informa a possibilidade de leitura do sumário em quatro idiomas (português, inglês, espanhol e francês). Todos os fascículos apresentam tradução dos títulos para o inglês, somente o n. 4 para o espanhol e a tradução para o francês não estava disponível.
O item filiação de autores não foi atendido de forma satisfatória nos números 3 (um artigo) e 2 (dois artigos). O percentual mínimo de artigos originais só foi atendido no n. 2. A revista também publicou artigos de revisão e artigos de opinião. Entretanto, no n. 4, a análise não pode ser feita por completo, já que só os resumos dos artigos estavam disponíveis na data de acesso à revista (21/02/2011). Isso pode ser um indicativo de atraso na publicação. Não foram publicados artigos de autores estrangeiros. O periódico está em circulação há 22 anos e indexado nas bases: SportDiscus, Lilacs, Directory of Open Journals (DOAJ), Sibradid, Geodados e Latindex.
- Revista Brasileira de Educação Física e Esporte: foram avaliados os números 2, 3 e 4, do volume 24, referentes ao ano de 2010. Todos os fascículos atendem aos critérios de legenda bibliográfica, ISSN, endereço, informação sobre a periodicidade, resumo, descritores e data de recebimento dos artigos. As instruções aos autores não apresentam exemplos de referências, fazendo somente a menção à norma que é utilizada. Em todos os números, a filiação de autores encontra-se incompleta. A revista apresenta em todos os fascículos o sumário em português e inglês. Nos três fascículos, só publicou artigos originais e, somente no n. 2, o percentual mínimo de participação de autores estrangeiros e/ou em colaboração não foi atingido. A revista foi criada há 25 anos e está indexada nas bases: Lilacs, SportDiscus, IASI(International Bullentin of Sports Information) e SciELO.
- Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde: foram analisados os números 2, 3 e 4, do volume 15, referentes ao ano de 2010. Todos apresentam legenda bibliográfica, instruções aos autores e data de recebimento dos artigos, conforme o que preconiza o instrumento de avaliação. As informações relativas ao ISSN, endereço e periodicidade só estão disponíveis na página principal da versão online da revista.
O sumário é apresentado somente em português. Um artigo publicado no n.3 não apresenta descritores e resumo, e o n.4, uma publicação especial, não apresenta os descritores. O item filiação de autores encontra-se incompleto em todos os números e as referências também estão incompletas. Apesar de a revista disponibilizar os modelos a serem seguidos nas instruções aos autores, não foi possível localizar informação sobre a norma adotada pela revista. O percentual mínimo de artigos originais só foi atendido no n.4 e nenhum artigo foi publicado com autoria de estrangeiros e/ou em colaboração. A revista foi criada há 15 anos e não é possível identificar as bases de dados em que está indexada, já que, na versão online, esta informação não está disponível para visualização.
- Revista Brasileira de Ciência do Esporte: foram analisados os números 2 e 3, do volume 31, e o número 1, do volume 32, referentes ao ano de 2010, que atendem ao instrumento de avaliação no que se refere aos itens: legenda bibliográfica, ISSN, endereço, informação sobre periodicidade, instruções aos autores, referências, resumos (em três idiomas), descritores e data de recebimento dos artigos.
Apenas um artigo do v.31 (n. 3) não apresenta a titulação do autor. Os demais apresentam filiação completa. A revista também utiliza o SEER que disponibiliza a leitura do sumário em inglês e espanhol. Entretanto, observou-se a indisponibilidade de tradução para esses idiomas em todos os artigos. Todos os fascículos atendem ao percentual de artigos originais considerado no instrumento, assim como o percentual mínimo de autoria de autores estrangeiros nos fascículos v. 31, n. 3 e v. 32, n.1. Os artigos de revisão só foram publicados no v. 31, n.3, dentro do percentual indicado pelo instrumento de avaliação. A revista foi criada há 32 anos e está indexada nas bases: Sibradid, SportSerach, SportDiscus, Ulrichs, International Periodicals, Catálogo Coletivo Nacional de Publicações Seriadas, Lantindex e Lilacs.
- Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano: foram analisados os números 5 e 6, do volume 12, e o número 1, do volume 13. Todos os fascículos apresentam legenda bibliográfica, ISSN, endereço, descritores, data de recebimento de artigos, referências e instruções aos autores, atendendo as normas estabelecidas pelo instrumento de avaliação. A filiação dos autores encontra-se incompleta em todos os fascículos.
Já no item periodicidade, foram encontradas informações divergentes. Na versão online da revista, no link “Apresentação”, consta que a periodicidade é semestral. Contudo, não é possível identificar quando esta informação passou a ser divulgada. Diferente disso, no link Normas/Instrução aos Autoresexiste a informação de que a periodicidade da revista é trimestral, portanto, deveria publicar quatro números por ano. Contudo, ao observar os arquivos da revista, constatamos que, de 1999 a 2002, a revista publicou um fascículo por ano (anual). De 2003 a 2005, foram disponibilizados dois números por ano (semestral) e de 2006 a 2009 a revista passou a ser trimestral. Já em 2010, passou a ser bimestral, com publicação de seis números.
A revista atende ao percentual de artigos originais e de revisão em todos os fascículos. A autoria de autores estrangeiros e/ou colaboração a autores nacionais se manteve dentro do desejável somente no v. 13, n. 1. A revista, criada em 1999, está indexada nas bases: Lilacs, Latindex, SportDiscus, Physical Education Index, Open Archive Harvestes e DOAJ.
DISCUSSÃO
Para a discussão, adotamos como parâmetro os critérios estabelecidos pelo Documento de Área[6] para inclusão dos periódicos nos estratos B1 e B2. No Estrato 5 (B1), são inseridos os periódicos da Área 21 com fator de impacto “j”≤ 1,34 ou índice “h” < 24[7] ou indexados nas bases MEDLINE[8] ou SciELO[9]; e os periódicos de outras áreas com fator de impacto “j” ≥ 1,00 e ≤ 1,84 ou índice “h”≥ 11 e ≤ 39.
No Estrato 4 (B2) são inseridosos periódicos da Área 21, indexados numa das bases Lilacs/Cinahl/Embase/ERIC e pontuação igual ou superior a 85% dos critérios usados na avaliação do padrão internacional (Critérios SciELO); e os periódicos de outras áreas que estão indexados nas bases MEDLINE ou SciELO (CAPES, 2009).
Dentre os critérios adotados para indexação nas bases indicadas nesses estratos destacam-se: qualidade científica, corpo editorial, conteúdo publicado, regularidade e frequência de publicação, normalização e idioma. Portanto, nota-se que os aspectos formais são indicativos de qualidade das revistas e, por isso, devem ser alvo de preocupação dos editores.
Dos periódicos classificados como B1 (Movimento e Motriz) a análise permite verificar que ainda apresentam aspectos a serem melhorados, como: indicação completa de filiação dos autores (essa informação nem sempre é bem elaborada, não tem uniformidade, prejudicando os interessados na localização institucional dos autores); garantia de acesso ao sumário traduzido (apesar da utilização do SEER, não é possível ter acesso aos sumários traduzidos em todos os fascículos); e, principalmente, a prioridade de publicação de artigos originais (alguns fascículos não atingiram o mínimo de 75% preconizado pelo instrumento).
Atrelados aos aspectos de normalização, encontramos outros que merecem ser destacados. Ao registrarem as datas de recebimento, aprovação e publicação dos artigos, as revistas permitem ler sobre a “eficácia” no fluxo de informação e sua relação com a comunidade científica - visto que a aprovação dos artigos depende da colaboração dos pareceristas – e, também, sobre sua “capacidade” de ser pontual, manter-se regular.
Nos fascículos avaliados, a revista Movimento apresenta, em média, um intervalo de seis meses entre a submissão e aprovação dos artigos, tendo sido localizado um artigo aprovado em 25 dias e outro em um ano. Apesar da grande discussão sobre o tempo adequado para aprovação dos artigos, é consenso que, quanto maior o tempo gasto para avaliação, menor a probabilidade de o editor atingir/cumprir seus prazos. Assim, condição essencial para manutenção de um fluxo e para a pontualidade da revista é contar com corpo de pareceristas ágil, qualificado e em grande número.
Sem dúvida, a qualidade do corpo editorial é medida indireta da qualidade da revista, visto que os níveis de exigência aumentam, colaborando para o reconhecimento do que é publicado. De fato, os critérios de seleção e os ”filtros” utilizados no processo de avaliação permitem que uma revista seja reconhecida como indicadora de qualidade na área.
Importante destacar, que a classificação das revistas Movimento e Motriz como B1 pode ter resultado em maior demanda de artigos para avaliação, em função de os pesquisadores desejarem publicar nas revistas mais bem “rankiadas” para pontuarem mais, gerando desafios para os editores, como: selecionar os artigos que tenham relação com o perfil da revista; ter um número de colaboradores suficiente e ágil; garantir agilidade na publicação a fim de evitar que, em função de demora, parte do conteúdo tratado nos artigos se torne obsoleta.
Na verdade, esse problema é típico de áreas em que há um número pequeno de revistas bem classificadas, determinando uma concorrência entre os pesquisadores e a demora para a publicação de sua produção. Isso pode ocorrer, pois a importância das revistas científicas para os autores é analisada pela sua qualidade, conferida pela credibilidade que lhe é outorgada pelo campo científico em que se insere. Assim, a importância consiste, privilegiadamente, em dar visibilidade ao trabalho. Revistas que não dão prestígio, reconhecimento ou crédito aos autores e ao conhecimento que veiculam, não têm visibilidade social ou impacto, não se afirmam como canais por excelência de comunicação da ciência (PINO, 2002, p. 39).
Na revista Motriz, chama a atenção o prazo entre a aprovação dos artigos (feita, em média, com cinco meses) e a sua publicação que, para alguns, foi de 25 meses. Esse intervalo pode evidenciar que a revista ainda sofre com um “amadorismo” (NASCIMENTO, 2003) em seu processo de editoração, dependendo, em grande medida, do esforço e dedicação dos editores. De fato, a falta de uma estrutura que garanta o funcionamento da revista, compromete o coração do processo de editoração: a arbitragem e influencia, diretamente, na sua possibilidade de se tornar visível, visto que o cumprimento da periodicidade é fator fundamental para a inserção das publicações em grandes bases indexadoras. Contudo, é preciso considerar, também, que a demora pode ser resultado da grande demanda gerada pela classificação da revista, como registrado anteriormente.
Chama a atenção na classificação das duas revistas o fato de que elas não atendiam, no momento em que foram classificadas como B1, aos critérios estabelecidos para inserção nesse estrato[10]. Contudo, Stigger et al (2010) ajudam a compreender a questão ao informarem que a inserção das revistas nesse estrato ocorreu quando, em 2009, o Fórum de Coordenadores de Pós-Graduação e Editores de Revistas decidiu incluir revistas consideradas representativas da melhor produção da área como tentativa de alavancar as publicações e a área. Assim, esclarecem que
Nesse esforço de “valorizar” periódicos para impulsionar o “desenvolvimento” da área, a revista Movimento (UFRGS) e a revista Motriz (UNESP), ainda que não tivessem seus “fatores de impacto” divulgados – recentemente tinham sido indexadas no ISI Web of Knowledge – passaram para a classificação B1, juntamente com a Revista Brasileira de Medicina do Esporte (STIGGER et al, 2010, p. 24).
No entanto, como deixam explícito, “[...] Isto não ocorreu sem refletir disputas e estratégias de convencimento [...](STIGGER et al, 2010, p. 24). Esclarecem ainda que, para além dos critérios estabelecidos para cada estrato, há um peso político na decisão da distribuição das revistas, sobretudo, se considerarmos que há um documento da Capes que determina a quantidade de revistas que deve constar em cada estrato.[11]
Portanto, é possível observar que pesou, no processo de classificação da revista, a força dos seus editores e o movimento político realizado junto à Área 21 no sentido de valorizar os periódicos considerados representativos como uma maneira de impulsionar o desenvolvimento da área, evidenciando que “[...] o capital simbólico (reconhecimento) de um periódico também depende consideravelmente da extensão da rede relativamente durável de relações externas que consegue mobilizar e do capital acadêmico vinculado a esta rede” (STIGGER et al, 2010, p. 21).
Dos periódicos analisados pertencentes ao estrato B2, observamos que a maioria cumpre os critérios, já que estão indexados na base Lilacs, com exceção da RBAFS, que não disponibiliza informação sobre indexação em sua página. Além disso, é necessário destacar que a RBEFE, apesar de ter sido admitida na SciELO, em março de 2011, ainda está classificada como B2.
Esses periódicos também apresentam aspectos formais a serem corrigidos, como a filiação dos autores que aparece incompleta em dois fascículos da REF/UEM e em todos analisados da RBEFE, da RBAFS e da RBCDH. Recomenda-se, ainda, que a RBEFE inclua, nas instruções aos autores, exemplos de referência e não apenas faça menção à norma adotada. Ao contrário da RBAFS que necessita informar a norma adotada. Essas informações são importantes, pois funcionam como guia para que os autores padronizem as informações, demonstrando preocupação com o rigor da apresentação das mesmas, agregando valor ao conteúdo informacional.
Outro ponto diz respeito ao percentual de artigos originais publicados pelas revistas que precisa ser melhorado na REF/UEM e na RBAFS. Já a RBEFE e a RBCDH publicam percentual superior ao recomendado, dando preferência para esse tipo de publicação. Destaca-se, ainda, a indisponibilidade de acesso ao n.4, do v. 21 da REF/UEM, no dia da consulta, evidenciando o atraso da revista.
A RBCE, dentre as que integram o estrato B2, é a que mais se destaca no cumprimento das normas, dando preferência a artigos originais e disponibilizando percentual mais elevado que o preconizado pelo instrumento utilizado. Informação registrada na página da revista de que a submissão de artigos de revisão está suspensa (desde setembro de 2010) evidencia a preocupação com este item, podendo ser indicativa de que o periódico precisa aprimorar os critérios relativos aos fatores intrínsecos para ser inserida nas bases exigidas para o estrato B1.
De maneira geral, é possível notar que os problemas abordados requerem diferentes medidas, tanto por parte dos autores quanto dos editores. Os autores devem evitar incorrer em qualquer um dos problemas relatados e ter garantida a qualidade de seu manuscrito. Os editores devem atentar para garantir a qualidade das publicações veiculadas como possibilidade de assegurar credibilidade à revista. Se, por um lado, alguns problemas podem ser resolvidos com “instruções aos autores” mais claras e incisivas, por outro, os dilemas de editoração se resolvem com a garantia de uma infraestrutura para realização do trabalho.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao propor uma análise dos aspectos formais de periódicos da Educação Física brasileira, reconhecemos a importância desses veículos na divulgação do conhecimento produzido e da temática para a área, que busca legitimar suas revistas. Contudo, como destacamos, para que se efetive a função de disseminação do conhecimento é necessário que as revistas atendam aos critérios mínimos que garantam sua visibilidade.
Tal condição, na visão de Packer e Meneghini (2006), apóia-se em duas dimensões principais: construir uma reputação de qualidade e credibilidade em uma área de conhecimento e ser indexado em índices de prestígio nacional e internacional. Para eles, um fator alimenta o outro e vice-versa, pressionando o periódico, ao longo de sua evolução, a alcançar e manter a condição de veículo preferencial e confiável para publicação, leitura e citação sistemática de resultados originais de pesquisa.
Se qualidade e credibilidade são características intrínsecas a uma publicação de referência, sua visibilidade depende também da capacidade de ser acessada em bases de dados e índices. Assim, notamos que, atualmente, a legitimidade das revistas não está apenas atrelada ao seu reconhecimento como canal de disseminação de um conhecimento com qualidade, mas está pautada na sua inserção em grandes bases indexadoras.
Considerando os resultados da avaliação, concordamos com Faria Filho (2002) ao afirmar que os periódicos não apenas refletem a área, mas a constituem, no que há de bom e de ruim. Portanto, é necessário que a comunidade científica da Educação Física se movimente no sentido de construir a qualificação de seus veículos de comunicação, garantindo movimento editorial significativo, produção científica abundante e de qualidade, a fim de tornar visível o conhecimento.
O movimento no sentido de promover a normalização, segundo Meadows (1999), reflete as pressões crescentes exercidas sobre a comunicação científica, mais especificamente como resultado de sua rápida expansão, que dificultou ainda mais para os leitores a localização das informações relevantes. O cumprimento desses aspectos é essencial e pode contribuir para maior visibilidade da produção, na medida em que facilitam a localização das revistas e identificação dos temas abordados. Mais do que mero "formalismo", trata-se de dotar a produção da área do rigor científico necessário para sua maior visibilidade (NASCIMENTO. 2003).
Contudo, para que extrapolem os aspectos formais, as revistas devem dedicar maior atenção à qualidade dos artigos publicados que propiciam não só sua visibilidade, mas também sua consolidação no campo como fonte referencial de conhecimento. Assim, consideramos pertinente que as revistas estabeleçam uma política editorial, com orientação clara de conteúdos, temas e linhas de pesquisa abordadas, já que essa definição funciona como um filtro de qualidade no processo de seleção dos artigos. Ou seja, reflete a identidade da revista.
Esperamos, com o estudo, contribuir para o debate em torno das principais dificuldades que afetam a editoração de nossas revistas no sentido de buscar a criação de uma política que vise à melhoria das publicações, evitando que estas estejam fadadas ao desaparecimento.
REFERÊNCIAS
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[1] Aluna do curso de Graduação em Educação Física da UFES.
[2] Professora do Departamento de Ginástica do Centro de Educação Física e Desportos/UFES.
[3]A base QUALIS é composta por títulos dos periódicos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação de sua produção. A classificação de periódicos é realizada pelas áreas de avaliação e passa por processo anual de atualização. Esses veículos são enquadrados em estratos indicativos da qualidade – A1, o mais elevado; A2; B1; B2; B3; B4; B5; C – com peso zero.
[4] O instrumento desenvolvido pelos autores se baseia em modelo proposto por Krzyzanowski e Ferreira (1998), com algumas modificações para área.
[5]A revista usa o Open Journal Systems, sistema de código livre, gratuito, para a administração e a publicação de revistas, desenvolvido e distribuído pelo Public Knowledge Project sob a licença General Public License.
[6] Documento da Área de Educação Física (Área 21) referente ao triênio 2007-2009 que abrange a Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional.
[7]O fator de impacto é publicado no Journal Citation Reports (JCR) e mede o número médio de citações de artigos de uma determinada revista. O Índice h é um parâmetro para indicar a produtividade dos pesquisadores e consiste no número de artigos publicados por um pesquisador que obtenha um total de citações igual ou superior a h.
[8] É uma base de dados da literatura internacional da área médica e biomédica, produzida pela National Library of Medicine que contém referências bibliográficas e resumos de revistas publicadas nos Estados Unidos e em outros 70 países. (BVS, 2011)
[9] Biblioteca eletrônica resultado de projeto de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (BIREME).
[10] A Motriz passou a ser indexada na base SciELO em maio de 2010, data posterior à sua classificação como B1.
[11] Por determinação do Ofício Circular 049/2009/PR/CAPES, “a somatória dos periódicos em estratos A1 e A2 não deve ultrapassar 26% do total de periódicos estratificados, e a somatória dos periódicos em estratos A1, A2 e B1 não deve ultrapassar 50% do total de periódicos estratificados” (CAPES, 2010a, p. 3).