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Artigos > História da Educação, da Educação Física e do Esporte > História da Educação Física > SCHNEIDER, O. Entre a correção e a eficiência: mutações no significado da Educação Física nas décadas de 1930 e 1940 - um estudo a partir da revista Educação Physica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte . Florianópolis - SC, v. 25, n. 2, p. 39 - 54, jan. 2004.

SCHNEIDER, O. Entre a correção e a eficiência: mutações no significado da Educação Física nas décadas de 1930 e 1940 - um estudo a partir da revista Educação Physica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte . Florianópolis - SC, v. 25, n. 2, p. 39 - 54, jan. 2004.

 

ENTRE A CORREÇÃO E A EFICIÊNCIA: MUTAÇÕES NO SIGNIFICADO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NAS DÉCADAS DE 1930 E 1940 – UM ESTUDO A PARTIR DA REVISTA EDUCAÇÃO PHYSICA[1]

 

Omar Schneider

 

Resumo: o estudo tem por objetivo discutir a Educação Física e o Esporte entre as décadas de 1930 e 1940, para tanto, utiliza como fonte a revista Educação Physica, impresso comercial especializado nas questões da Educação Física, do Esporte e da Saúde. O exame do periódicopropicia compreender como se processa, no âmbito do "impresso", a mutação de um discurso que possui como referência à ortopedia para outro em que a finalidade é a eficiência, e ao mesmo tempo, revela os novos padrões de racionalidade que são introduzidos no contexto educacional e prescritos aos professores como os melhores para transformarem o Brasil em um País moderno, livre de seus males de origem.

Palavras-chaves: 1) Educação Física, 2) Esporte, 3) Periódico especializado

 

Apresentação

No Brasil, o impresso, já há algum tempo, é percebido como uma alternativa viável para se compreender o campo pedagógico. Análises sobre a imprensa educacional desenvolvidas por Carvalho (1996, 1998 e 2000) vêm insistindo paulatinamente sobre a proficuidade desse objeto para se produzir uma História da Educação menos centrada na figura de grandes personalidades e dos atos oficiais.

Essa nova investida prioriza o exame dos objetos investigados, utilizando como referência a cultura, o que remete o pesquisador ao tratamento do objeto pela sua materialidade. O deslocamento que é produzido, ao se centrar nas discussões da materialidade dos objetos, faz com que se rompa a “[...] cristalização das matrizes interpretativas” (NUNES, 1992, p. 152). Para a autora, tal fato permite que se produzam novas abordagens de velhos objetos. Nunes & Carvalho (1993, p. 44), discutindo essa proposição, esclarecem que “[...] esses ‘velhos’ objetos tornam-se [...] ‘novos’, porque são apanhados numa perspectiva que realça sua materialidade de dispositivos, através dos quais bens culturais são produzidos, postos a circular e apropriados”.

Compreender a imprensa periódica desse modo, possibilita o alargamento do campo de investigação e permite projetar a revistaEducação Physica como uma fonte muito profícua para se compreender a História da Educação Física no Brasil, principalmente entre as décadas de 1930 e 1940, porquanto, como assinala Darnton (1997), a imprensa deve ser compreendida como força ativa na história, uma vez que, ela ajuda a dar forma aos eventos que registra, nesse sentido, ela atua como um dos principais ingredientes de construção de novas culturas.

A revista Educação Physica foi produzida no Rio de Janeiro pela Companhia Brasil Editora, entre 1932 e 1945, sendo dela veiculando 88 números. Ela não teve seus limites circunscritos apenas ao Brasil, o impresso possuía correspondentes e representantes em vários países da América Latina e da Europa. Foram seus editores durante os treze anos que circulou: Paulo Lotufo, Oswaldo Murgel Resende, Roland de Souza e Hollanda Loyola.

Conforme os editores, a necessidade de lançar um periódico direcionado para a Educação Física nesse período ocorria por perceberem que a verdadeira educação deveria levar em conta as três dimensões do processo educativo: a intelectual, a moral e a física. Segundo eles, “[...] os grandes educadores têm proclamado com eloqüência, com profunda verdade, a complexidade e o alcance da verdadeira e moderna educação” (EDUCAÇÃO PHYSICA, n. 4, p. 11, 1934).

Trabalhando com essas três dimensões, a educação moderna alcançaria o seu objetivo, que seria “[...] crear o homem integral, o homem forte physica, moral e intellectualmente”. (EDUCAÇÃO PHYSICA, n. 4, p. 11, 1934).

Compreendendo que essa necessidade se configurava em “[...] uma força de grande possibilidade creadora [...] [apontam os objetivos de fundo da publicação. Para eles, com a implementação da Revista, surgia uma] compreensão mais lata e mais nobre da educação physica, ou melhor, da educação” (EDUCAÇÃO PHYSICA, n. 4, p. 11, 1934).

Segundo os editores a pela veiculação do periódico, pelo incentivo e pela prescrição de novas práticas na sociedade, “[...] homens novos, homens mais fortes, homens melhores vão surgir” (EDUCAÇÃO PHYSICA, n. 4, p. 11, 1934).

Para os editores a hora que estavam vivendo era incerta. Percebem que o País estava passando por um momento de tormentória transição, mas que, ao mesmo tempo, era um período que possuía grande possibilidade criadora, o que faz que também percebam que aquele era um momento de investimentos, os quais se consubstanciam na possibilidade de educar não só os leitores do impresso, mas também o Estado para que fosse possível produzir homens novos, mais fortes e melhores. Nesse sentido, afirmam: “‘Educação Physica’ não visava apenas suggerir, propagar, fazer compreender. ‘Educação Physica’ desejava persuadir, estimular, levar a realizar” (EDUCAÇÃO PHYSICA, n. 4, p. 11, 1934).

Ao trabalhar com o impresso, percebe-se no discurso[2] dos editores, a perspectiva de se investir na produção cultural, mas objetivando finalidades políticas. É sobre parte do projeto cultural que é veiculado no periódico que trato no texto a seguir, discutindo especificamente a relação Educação Física e esporte e a mutação que se pode perceber no significado e nas prescrições sobre a melhor forma de o professor tratar os saberes que deveria ser mobilizado na atuação docente.

 

Entre a Ginástica e o Esporte: tensões e resistências à esportivização da Educação Física

Para dar conta de responder sobre o deslocamento de sentidos, utilizo um estudo desenvolvido por Carvalho (1997) que instiga muitas reflexões a respeito da História da Educação e também da Educação Física. Tal estudo tem como título: Quando a história da educação é a história da disciplina e da higienização das pessoas. A autora, nessa investigação, busca compreender os discursos educacionais que, nas quatro primeiras décadas do século XX, procuraram no Brasil “[...] legitimar-se enquanto saber pedagógico de tipo novo, moderno, experimental e científico [grifos da autora]” (CARVALHO,1997, p.269). Para tanto, “[...] trabalha com duas metáforas da disciplina – disciplina como ortopedia e disciplina como eficiência” (CARVALHO,1997, p.269).

Conforme Carvalho (1997), a partir da década de 1920, é possível se perceber uma sutil mutação no discurso pedagógico no Brasil. O discurso educacional, que vinha se auto-afirmando desde o final do século XIX como moderno, experimental e científico, que voltava suas preocupações para a ortopedia como arte da correção da deformação, toma um novo caminho e as figuras

 

[...] da deformação, que assombravam a produção discursiva anterior e que traziam a detecção e o controle da anormalidade para o âmago da pedagogia, são como que gradativamente expelidas do campo pedagógico e produzidas como tema e objeto da intervenção de outros saberes e poderes (CARVALHO,1997, p.280).

 

As novas práticas visualidades pela pedagogia da escola nova, para Carvalho (1997), entram em cena redefinindo princípios, objetivos e livrando-se dos limites postos pelo cientificismo e apresentando-se otimistas em relação ao poder da educação. De acordo com a autora, tratava-se

 

[...] [de] apostar no poder disciplinador do processo que essa ‘nova compreensão’ entrevia embutido no processo de racionalização das relações sociais sob o modelo da fábrica. A regra que organizava as novas práticas pedagógicas não deriva mais, senão mediatizadamente, da ciência. Ele é metáfora dos ritmos impostos aos corpos e às mentes pela Vida moderna, império da indústria e da técnica (CARVALHO,1997, p.280).

 

Assim, as inovações que a nova pedagogia coloca em cena, conforme Carvalho (1997, p. 285), passam a produzir novas sensibilidades e novos ritmos na sociedade, os quais

 

[...] faziam entrever modalidades inéditas de intervenção disciplinar. Assim, por exemplo, caberia ao professor ‘guiar’ a ‘liberdade’ do aluno de modo a garantir que o ‘máximo de frutos’ fosse ‘obtido com um mínimo de tempo e esforço perdido.

 

O que resulta que eficiência passa a ser o objetivo da disciplina, desse modo, “[...] disciplinar não é mais prevenir ou corrigir. É moldar” (CARVALHO,1997, p.286).

Ao analisar o periódico, é possível perceber que o deslocamento ocorrido na redefinição dos objetivos do campo educacional, que passa de uma concepção ortopédica, para uma concepção que se projeta em termos de eficiência, possui pontos de contato com o movimento que busca redefinir os discursos da Educação Física que se materializa como disciplina escolar, entre as décadas de 1930 e 1940.[3]

            Na empreitada de definir um novo modelo para a Educação Física, os editores do impresso traduzem para a Revista uma matéria publicada originalmente em uma revista norte-americana dedicada aos esportes, assinada pelo Dr. Irving Fisher. A matéria traz o seguinte título: A nova Educação Physica.[4]De acordo com o autor,

 

[...] a edade nova requer homens de iniciativa, vivos, criteriosos. Será necessario, portanto, empregar typos de actividade que desenvolvam essas qualidades. Estas caracteisticas desenvolvem-se geralmente nos jogos. O jogo é creador e poetico. Tem grande valor como estimulante da imaginação. [...] a nova educação physica deve ser antes objetiva que subjetiva. A gymmastica do passado era subjetiva. Os esportes actuaes são objetivos. Naquella, a grande preocupação estava na forma e na maneira de executar um determinado exercicio. Neste, o que importa são os resultados, como, por exemplo, fazer a bola passar uma determinada linha para marcar um goal. Antigamente, dava-se valor ao equipamento e aos materiaes a empregar. Agora, aos indivíduos que com elles serão beneficiados. A edade moderna precisa de homens efficintes e optmistas. A nova educação physica dará, por isso, grande importancia á hygiene. Ensinará o homem a viver da melhor maneira possível. Fará com que cada um dos seus habitos physicos contribua para o aumento da sua efficacia e não para a sua diminuição. [...] antes os jogos athleticos tinham valor como espetáculo. Agora a participação nelles é que vale (FISHER, 1934, p. 13).

 

O que propõe o Dr. Fisher é uma redefinição dos objetivos da Educação Física. Se antes a preocupação era com a forma e a maneira de executar os movimentos, na idade nova, como propõe o doutor, o que mais importa são os resultados. E para isso nada melhor que a objetividade dos esportes.

Fruto direto da modernidade,[5] o fenômeno esportivo, pela sua peculiaridade de atividade física, regrado por regulamentos, assume características que o distingue das outras formas de exercitação corporal, como: especialização dos papéis, competição, cientifização, rendimento, quantificação, recorde e racionalização do treinamento. São essas condições objetivas que podem ser medidas, quantificadas e comparadas que, na visão do Dr. Fisher, fazem com que o esporte seja o melhor meio de preparar o novo homem. Nota-se que a nova Educação Física toma como referência o modelo da fábrica e o que passa a importar são os resultados. Para o Dr. Fisher, a nova Educação Física, entenda-se esporte, deve contribuir para que os hábitos físicos desenvolvidos durante as aulas sejam mais eficientes/especializados, o que significa maior rendimento, com o mínimo de tempo e de esforço.

Em matéria escrita com muitos elogios, os editores revelam uma nova configuração para a Educação Física no cenário educacional. Descrevendo As actividades sportivas do Instituto, “O Granbery” de Minas Gerais, relatam que tal instituição tem oferecido aos alunos ótima educação moral, intelectual e física. O resultado é que muitos dos ex-alunos podem ser vistos nas mais altas posições sociais da cidade de Juiz de Fora. De acordo com eles, o segredo está no tipo de Educação Física oferecida no Instituto.

 

[...] o segredo da Educação Physica fornecida por ‘O granbery’, está na disciplina moral que permeia todas as actividades physicas. E isso acontece porque, procurando proporcionar uma educação integral, o Collegio exerce cuidadosa vigilancia sobre o modo pelo qual os jovens se entregam aos exercicios corporaes. O esportista e o athleta granberiense são, antes de tudo, cavalheiros leaes e correctos. Essa verdade e confirmada pela attitude tomada por elles durante as competições inter-collegiaes, que freqüentemente, são realizadas.

Além da gymnastica regulamentar, na qual é adotado o método francez, os granberienses dedicam-se a quatro esportes principaes – foot-ball, basket-ball, volley-bal e tennis – e diversas provas athleticas – corridas, saltos e lançamentos (EDUCAÇÃO PHYSICA, n. 4, p. 97, 1936).

 

Para provar que uma cultura esportiva na escola era efetivamente uma realidade, os editores relacionam os espaços dedicados ao ensino e treino das modalidades oferecidas no Instituto.

 

[...] Para a execução dessas actividades, o Collegio possue uma bem cuidada praça de esportes, que é constituída por quatro campos de foot-basl (maiores, medios, menores e mínimos). Seis de basket-ball, cinco de volley-ball, quatro de tennis, pista de corridas, com quatro raias, caixa de saltos, etc. (EDUCAÇÃO PHYSICA, n. 4, p. 98, 1936).

 

Como se percebe no relato dos editores, o Instituto “O Granbery” realmente estava investindo no esporte. A Educação Física realizada nessa instituição configurava-se quase exclusivamente como o ensino e treino das modalidades esportivas. A ginástica é mencionada, mas na sistematização que o método francês[6] a ela conferiu.

As prescrições veiculadas são importantes para se compreender como o discurso da ginástica, como elemento principal de um programa de exercitação física, foi progressivamente sendo substituído por um outro discurso sobre a exercitação corporal[7] e como a Revista registra e toma parte desse deslocamento de sentidos. Mas esse deslocamento que redefine o que deveria ser entendido por Educação Física não ocorre sem tensões e resistências.

Fernando de Azevedo, em matéria escrita em 1938 para a revista Educação Physica, tratando sobre as tendências da Educação Física na Escola Anglo-Americana, tece severas críticas à predominância que o esporte havia obtido na Inglaterra e nos Estados Unidos e à propensão que estava observando nas escolas brasileiras em adotar o mesmo modelo. Para ele, isso acontecia por haver uma “[...] má comprehensão do papel que cabe aos esportes aos quais se pretende erroneamente reduzir toda a educação physica” (AZEVEDO, n. 4, p. 9, 1938), e também pelo fato de as instituições/professores não perceberem que “[...] os esportes são, apenas um meio e não um fim [grifos do autor]” (AZEVEDO, n. 4, p. 10, 1938).

Para Fernando de Azevedo (1938), os esportes concretamente tinham o seu lugar em um programa de Educação Física escolar, desde que não se abdicasse da preparação que somente a aplicação dos métodos ginásticos poderia oferecer, como ganho de força, capacidade respiratória e flexibilidade. Por esse motivo, “[...] a educação physica pelos esportes, não [...] [poderia] substituir a gymnastica scientificamenete administrada” (AZEVEDO, n. 4, p. 10, 1938).

Para Fernando de Azevedo (1938), o esporte deveria ser preferencialmente recreativo e deveria ser realizado somente depois da seção de ginástica, a qual prepararia o organismo para o esforço que os esportes exigiriam dos alunos. Assim conclui o autor: “[...] se condemnamos, em summa, os esportes como methodo exclusivo de educação physica escolar, não lhes podemos negar sua grande utilidade” (AZEVEDO, n. 4, p. 12, 1938), na distração necessária entre as horas de aula, respondendo, desse modo, às inquietudes físicas dos alunos.

Como se pode perceber, mesmo que houvesse a negação do esporte como o conteúdo principal a ser ensinado pela Educação Física, ele já era uma realidade no âmbito educacional. Desse modo, não poderia ser negado com o saber a ser utilizado na docência. Mas, para ser utilizado, era necessário que lhe diminuísse o caráter utilitário e subordiná-lo ao ritmo da ginástica, o que faria com que perdesse algumas de suas marcas de produção/origem, como: competição, especialização e quantificação dos resultados. Essa proposta é bem diferente da veiculada na matéria escrita pelo Dr. Fisher, para o qual o resultado era a medida da eficiência/especialização adquirida.

Com esses dois saberes concorrendo à supremacia sobre a Educação Física, buscando determinar, por exemplo, quais os conhecimentos válidos a serem ensinados pelos professores, uma matéria chama a atenção na Revista. Em 1938, Américo R. Netto[8] publica uma matéria com o seguinte título: Gymnastica ou esporte: alguns critérios para differencial-os. Ao que parece, não havia uma demarcação muito clara pelos professores sobre as peculiaridades de cada uma dessas modalidades de exercitação corporal. Assim descreve o autor:

 

[...] um dos mais freqüentes enganos de quem se interessa pela educação physica está em identifical-a, em tudo e por tudo, com a gymnastica ou com o esporte. Muitas vezes com uma e com o outro, ao mesmo tempo [...] confunde-se, assim, o todo com uma ou ambas as partes que o compõem. De facto, porém, Educação Physica constitúe a somma da qual a gymnastica e o esporte são as parcellas, mas comquanto muito de commum entre eles exista, por serem partes de um só e mesmo conjuncto, nem por isto deixam de se differenciar bastante entre si. (R. NETTO, n. 14, p. 14, 1938).

 

Para o autor, um dos diferenciadores que poderiam ser destacados e que com certeza colocava as duas atividades em pólos diferentes era o espírito de competição, que assim poderia ser descrito:

 

[...] este espírito [de competição], que é o propósito de fazer mais ou melhor, em confronto com outro não existe – ou pelo menos, ‘não deve’ existir – na gymnastica, cujos effeitos educativos seria por ela perturbados, possivelmente anulados. No esporte, entretanto, a luta contra qualquer antagonista, seja pessôa, seja coisa, constitúe innegavelmente sua propria razão de ser, dando exemplo e estimulo tanto a quem o assiste. [...] a gymnastica [...] busca o homem normal, médio [...] o esporte, entretanto, procura sempre as excepções, quer de pessôas, quer de resultados, levando a criatura humana a forçosamente se destacar do seu grupo, pelas affirmações isoladas da sua efficiencia individual. Para elle a generalidade praticamente não tem valor. [...] elle sempre está differenciando e especialisando, num propósito de accentuada seleção, que leva o homem a competir não só com outros homens vivos, mas também com outros que já morreram, quando não com elle próprio. [...] Lutar, competir, exceder-se taes são as palavras de ordem da vida esportiva, quando a da gymnastica é o nivelamento do grupo, no qual o homem desdenha o esforço de fazer mais e melhor, apenas para fazer igual (R. NETTO, n. 14, p. 15, 1938).

 

Américo R. Netto ainda destaca outra particularidade em que se poderiam basear os leitores/professores para diferenciar a ginástica do esporte. Essa distinção se caracterizava pelo modo de avaliar os resultados oferecidos por uma e outra forma de exercitação. Assim descreve,

 

[...] no esporte a possibilidade [...] de medir numericamente o resultado do exercicio está sempre presente, seja feita de modo directo e absoluto, seja indirecta e relativamente, em comparação com outro resultado. Taes medidas são apreciadas em tempo, espaço e peso e por outros critérios menos freqüentes, mas sempre apreciados. O feito de um corredor de 200 metros pode ser definido – comprhendido – em segundos e frações de segundo, como o lanço de um arremessador pode ser fixado em metros e centímetros. [...] Como porém, avaliar o resultado obtido por um gymnasta, ao fim de certo tempo de determinado exercícios? [...] não se pode pensar em oppôr o resultado em questão ao de outro gymnasta e com elle comparal-o, tirando deste confronto qualquer conclusão interessante ou util [...] só com elle proprio pode ser comparado, para se poder affirmar si progrediu, estacionou ou regrediu. [...] somente confrontado suas medidas anthropo-biologicas e contrastando suas capacidades funcionais é que se pode chegar a uma conclusão de real significação pratica (R. NETTO, n. 14, p. 16, 1938).

 

A racionalidade e os “novos códigos” que o esporte desperta para a “Educação Física”, os saberes que apresenta como científicos, a nova capacidade disciplinadora que oferece, em que a eficiência pode ser medida em décimos de segundo, comparada e generalizada, trazem para o âmbito da Educação Física, formas inéditas de intervenção disciplinar. O professor, de posse desses saberes, poderia ter um ferramental que possibilitaria descobrir e conduzir as potencialidades do educando de maneira a alcançar o máximo de produção, em termos de velocidade, força e resistência nos esportes, com o mínimo de tempo e de energias gastas.

Para Carvalho (1997, p. 281), o processo de corrosão gradativa que se abateu sobre o modelo educacional em que disciplinar configurava-se como práticas de prevenção e correção

 

[...] não derivou apenas [...] de mutações nos paradigmas científicos. No Brasil, ele foi decisivamente marcado pelas motivações políticas, sociais e econômicas que confluíram no chamado ‘entusiasmo pela educação’, movimento que reuniu intelectuais de diferentes categorias profissionais – principalmente professores, médicos e engenheiros – na propaganda da ‘causa educacional’

 

A intensificação do capitalismo industrial no Brasil, que a “Revolução de 1930” proporcionou, determinou na mesma ordem o desaparecimento e o aparecimento de novas exigências educacionais. As exigências da sociedade industrial impunham modificações profundas na forma e no modo de se encarar a educação, pois novas relações de produção colocavam-se na ordem do dia. E em relação à Educação Física o que acontece? Quais os deslocamentos de sentido que se podem perceber?

Nas duas primeiras décadas do século XX, é possível perceber, conforme Vago (1999), a mutação na denominação do que se entedia por “gymnastica” no interior da escola, para algo que se definia como a disciplina “Educação Physica”, que, trabalhando com os princípios da ginástica sueca, tinha como objetivo corrigir e endireitar os corpos das crianças, o que, segundo Vago (1999), compatibilizava perfeitamente com os princípios da Pedagogia alicerçada na metáfora da ortopedia. Vejamos o que propunha o Método Sueco[9] de exercitação criado por Pehr Henrik Ling entre 1804 e 1830.

 

CONCEPÇÃO E BASES[10]

[...] o individuo, seja pela influencia das taras ancestrais, seja pelo meio de vida, raramente possue a perfeição corporea e a saude que deviam ser inerentes. Dentre as principais anomalias apresentadas nós encontramos a curvatura dorsal exagerada, o peito reintrante, a má elasticidade toracica, a inflexibilidade, a insuficiencia muscular, etc., traduzida pela tuberculose, reumatismos, molestias cardíacas, abdominais, etc. Qual o meio de corrigir este estado de cousas? Somente o trabalho físico, cuidadosamente executado, é capaz de evitar e sanar estes defeitos corporeos. [...] Um metodo, porém, deve ter uma parte especialmente medica, em que se estudem exercicios com esses carater, tendo em vista a cura de certos defeitos ou moléstias (BONORINO et al, 1931, p. 110-111).

 

Curar os defeitos, as moléstias e anormalidades punham-se como objetivo para a disciplina “Educação Física”, sejam estas conseqüentes das taras dos ancestrais, sejam aquelas adquiridas pelo meio. Regeneração e purificação da raça eram os discursos comuns entre os intelectuais no Brasil, desde fins do século XIX, mesmo que, segundo Bizzo (1995, p. 45), não houvesse uma “raça brasileira” a preservar ou purificar, merecendo o Brasil o epíteto de “cadinho racial”.

Nas décadas em que a Revista circula, pode-se perceber no âmbito do impresso, autores com mais freqüência utilizando o termo Educação Física para se referir ao esporte, sendo esse cada vez mais compreendido como o meio em que as práticas corporais deveriam ser colocadas em ação no interior da instituição educacional. Fernando de Azevedo (1938), intelectual engajado nas causas educacionais, não concordava que se reduzisse a Educação Física ao sentido de ensino/prática dos esportes. Para ele, tal disciplina deveria ser um meio e não um fim, ela não deveria ser apenas instrumental, mas recreativa, respondendo às ansiedades físicas dos alunos. Os comentários de Fernando de Azevedo (1938) sobre o predomínio do esporte, como principal conteúdo a ser ensinado nas aulas de Educação Física escolar, revelam que mesmo que houvesse um sistema de exercitação oficial no Brasil, tornado obrigatório a partir de 1931[11] aos estabelecimentos de ensino secundário, normal e superior, ele não estava sendo observado de forma rigorosa e a parte destinada à ginástica, estava sendo relegada a segundo plano.

O sistema de exercitação corporal oficial no Brasil, a partir de 1931, era o Método Francês,[12] também conhecido como Regulamento nº 7. Sistema ginástico desenvolvido em França na escola de Joinville-le-Pont, que, em sua versão final (1919-1922), deram o nome de Régulament Géneral D’Education Physique, Méthode Française.[13] O sistema de exercitação deveria seguir três orientações:

 

PRIMEIRO – O metodo visa o desenvolvimento físico por meio de flexionamentos e de exercícios educativos, não usuais, analiticos, os primeiros de grande amplitude e de grande rendimento e ainda por meio de jogos bem conhecidos; SEGUNDO – é claramente utilitario, pela prática de exercícios ou “aplicações” sinteticas, regidas pelo principio da economia de forças [...] e TERCEIRO – é claramente esportivo quer dizer que visa o aperfeiçoamento superior dos exercicios; prescreve a pratica de todos os esportes na pura forma esportiva de competição, regulariza o seu uso e prepara, metodicamente, por meio de educativos especiais, exatamente aqueles que considera aptos a se beneficiarem pelos esportes em geral (BONORINO et al, 1931, p. 213).

 

Percebe-se que o objetivo principal não é mais curar os defeitos ou moléstias, eliminar as taras, frutos dos males de origem. Agora as aulas são projetadas para serem realizadas em função da economia das forças, não mais eliminar os traços de um povo degenerado, mas desenvolver/descobrir as potencialidades/capacidades físicas dos alunos. Conforme o Dr. Fisher, uma nova Educação Física, portadora de “novos códigos,”[14] para uma idade moderna em que há necessidade de homens mais eficientes e otimistas.

Como se vê, de modo diferente e por meio de um outro conjunto de intervenções, a adoção do Método Francês vem responder a outras necessidades que o método anterior não consegue atender, uma vez, que em uma sociedade cada vez mais industrializada e competitiva, a exigência sobre a Educação Física, incluída no sistema educacional, não é mais objetivada como prevenção e correção das deformações físicas, mas como especialização e rendimento, ou seja, ensinar como produzir com maior velocidade, em um menor tempo, com gasto mínimo de energias. Novas sensibilidades que, se não são manifestas corporalmente por meio de um significativo aumento da eficiência, pelos menos são projetadas para serem gravadas nas consciências de quem passa pelo processo, “garantido” que, mesmo que não se torne um ideal materializado nas ações do dia-a-dia, pelo menos seja um parâmetro da nova racionalidade que se projeta para a sociedade e um objetivo a ser perseguido.

Em uma sociedade que se projeta para ser competitiva, em que o paradigma educacional orienta-se segundo o molde da fábrica, em que o ritmo da cidade insiste que o homem seja cada vez mais competitivo e especializado, faz crer que o esporte passou a ser conteúdo privilegiado do método oficial, tornando-se o principal elemento constituidor do repertório de saberes a serem ensinados no ambiente escolar pela Educação Física, que tanto pode ter se dado por pressões dentro da instituição educacional, em função da alta identificação que a parte ginástica do método possuía com a instituição militar, como pelo baixo entusiasmo dos alunos em realizar as atividades típicas que o método propunha.

Inezil Penna Marinho, em 1939, ao aplicar um questionário aos alunos de uma escola em que lecionava Educação Física, perguntou do que eles gostavam mais: das lições de Educação Física ou dos grandes jogos. O resultado foi que 92,85% preferiam os grandes jogos. A outra questão foi: qual a parte da lição de Educação Física de que mais gostavam? Verificou-se que 53,57% preferiam os pequenos jogos; 28,57% as aplicações; 10,72% as evoluções e apenas 7,14% os flexionamentos (CANTARINO FILHO, 1982, p. 135).

Desde que o Método Francês foi proposto, ele passou a sofrer resistências. A Associação Brasileira de Educação (ABE) manifestou-se contra sua adoção, ao apreciar o anteprojeto originário do Ministério da Guerra em 1929. As principais críticas da ABE eram que o método fora criado para ser aplicado na caserna. Assim, não fazia sentido que fosse utilizado na educação das crianças. Muitos foram os que o criticaram. Alguns queriam a sua adaptação às condições do Brasil, outros que se criasse um método nacional. Cantarino Filho (1982) relata que o diretor do Departamento de Educação Física do Estado do Rio Grande do Sul fez uma apreciação em tom crítico ao Método Francês, alegando que, mesmo na França, o sistema estava recebendo críticas, assim não deveria ser adotado na Escola Nacional de Educação Física e Desportos (1939). O resultado foi que o diretor do departamento foi demitido do cargo que ocupava.

Como se pode perceber, a Revista toma parte do processo de reorientação, quer vulgarizando os esportes como meio de exercitação mais racional, dentro de padrões considerados de maior controle, quer difundido o discurso do aperfeiçoamento da raça por meio das atividades esportivas e da possibilidade de produção de um novo homem, preparado para uma nova sociedade mais moderna e industrializada. Assim ela se configura como estratégia de modificações dos costumes, mas também flagra a mutação que se opera no modo de se compreender o significado da Educação Física.

Tratar a Revista como estratégia de conformação de práticas e dispositivo de produção de sentidos permite que se retirem algumas conclusões. Uma delas diz respeito à tendência de creditar ao Estado o posto de grande agente das modificações que se processaram a respeito da educação e da Educação Física no Brasil. Os intelectuais que editaram o periódico tomaram para si a tarefa de remodelar o imaginário da população e dos homens do poder em relação à Educação Física e às práticas pedagógicas que lhe davam sustentação.

Visualizar as leituras de destinação pedagógica como estratégia permite observá-las como dispositivos doutrinários, de produção e conformação do campo pedagógico e também visualizar a mobilização, organização do professorado em torno de objetivos comuns.

 

BETWEEN THE CORRECTION AND THE EFFICIENCY: MUTATIONS IN THE MEANING OF THE PHYSICAL EDUCATION IN THE DECADES OF 1930 AND 1940 – A STUDY FROM THE MAGAZINE EDUCAÇÃO PHYSICA

 

ABSTRACT: The study has for objective to argue the Physical Education and the Sport enters the decades of 1930 and 1940, for in such a way, use as source the magazine Educação Physica, specialized commercial printed matter in the questions of the Physical Education, of the Sport and of the Health. The examination of the periodic propitiates to understand as happen, in the scope of the "printed matter", the mutation of a speech that it possesss as reference the ortopedia for other at that the purpose is the efficiency, and at the same time, it discloses the new standards of rationality that are introduced in the educational context and prescribed the professors as the best for to transform Brazil into a modern Country, exempts of its males of origin.

Word-keys: 1) Physical Education, 2) Sport, 3) Periodic specialized

 

ENTRE LA CORRECCIÓN Y LA EFICACIA: MUTACIONES EN EL SIGNIFICADO DE LA EDUCACIÓN FÍSICA EN LAS DÉCADAS DE 1930 Y 1940 – UN ESTUDIO DEL PERIÓDICO EDUCAÇÃO PHYSICA

 

RESUMEN: El estudio tiene por objetivo discutir la Educación Física y el deporte entre las décadas de 1930 y 1940, para tanto, usa como fuente el periódico Educação Physica, periódico comercial especializado en las cuestiones de la Educación Física, del Deporte y de la Salud. La examinación del periódicos propitiates entender como si procesa, en el alcance del "impreso", la mutación de un discurso que posses como referencia la ortopedia para otro en que el propósito es la eficacia, y en el mismo tiempo, revela los nuevos estándares de la racionalidad que se introducen en el contexto educativo y prescribieron a profesores como los mejores para transformar el Brasil en un país moderno, libre de sus varones del origen.

Palabra-llaves: 1) Educación Física, 2) Deporte, 3) Periódico especializado

 

Referências

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Recebido: 31 mar. 2003

Aprovado: 30 abr. 2003

 



[1] Para desenvolver o tema desse estudo, utilizo parte das discussões encaminhadas no trato com a revista Educação Physica para a produção da dissertação de mestrado denominada de A revista Educação Physica (1930-1940): estratégias editoriais e prescrições educacionais, defendida no primeiro semestre de 2003, no Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

[2] A investigação aqui desenvolvida, de acordo com a metodologia adotada, trabalha contra uma perspectiva de análise dos discursos e das práticas como algo desencarnado de suas condições de produção e de circulação. Assim, discursos, aqui compreendidos, são “[...] matrizes de práticas construtoras do próprio mundo social” (Chartier, 1991, p. 183).

[3] A revista Educação Physica, durante todo o período em que circula, tem como uma de suas características conservar a designação de periódico, preocupada com a difusão de uma cultura esportiva entre os brasileiros. Do primeiro ao último número, ela mantém a sua característica de impresso voltado para a Educação Física, os esportes e a saúde. Mas o esporte, como a grande referência do impresso, não impede que também veicule matérias sobre os métodos ginásticos, não obstante a discussão algumas vezes seja para dizer que esses não dão mais conta de atender às necessidades de um País que se prepara para a modernidade.

[4] Durante o período em que a Revista circula, essa mesma matéria é veiculada seis vezes. Ela é a única que por tantas vezes é reeditada, demonstrando que os editores, de certa forma, concordavam com as idéias que por ela eram explicitadas. A matéria que conclama os professores para assumirem uma nova Educação Física foi veiculada nos seguintes números: 4 (1934); 9 (1937); 13 (1937); 25 (1938); 32 (1939) e 73 (1943).

[5] Um estudo sobre a gênese do esporte como produto da modernidade e depositária de seus códigos pode ser encontrado no livro de Norbert Elias (1992) A busca da excitação.

[6] Sobre a presença do Método Francês na Educação Física brasileira, discutirei mais à frente.

[7]Ainda que na Revista sepossam flagrar discursos sendo pronunciados em favor do esporte como veículo principal dos ensinamentos que se esperam transmitir pela Educação Física, ela, ao mesmo tempo, não deixa de difundir matérias exaltando os valores da ginástica como elemento formador da juventude, tanto em relação à recuperação/regeneração e produção de um indivíduo saudável e de constituição física bem feita, como exaltando ser imprescindível no desenvolvimento/modificação de suas qualidades morais.

[8] Professor da Escola Superior de Educação Physica do Estado de São Paulo.

[9]O Método Sueco era divido em quatro partes: 1) ginástica pedagógica ou educativa – evitar as moléstias, assegurar a saúde, evitar os vícios e defeitos posturais; 2) ginástica militar – exercícios guerreiros (tiro, esgrima, etc.); 3) ginástica médica e ortopédica – fazer desaparecer certas deformidades ou curar certas moléstias; e 4) ginástica estética – desenvolver harmoniosamente o organismo (Bonorino et al., 1931).

[10] Essa citação foi transcrita do livro escrito sobre o Historico da Educação Física (1931) pelos primeiros tenentes do Exército, Laurentino Lopes Bonorino (Dir. técnico do Centro Militar de Educação Física; Antonio de Mendonça Molina (Dir. do Centro Militar de Educação) e Carlos M. de Medeiros (Dir. do Dept. de Educação Física do Estado do Espírito Santo.

[11] Decreto n. 49.890, artigo 9º, de 18 de abril de 1931, que dispõe sobre o Ensino Secundário.

[12] O plano de Educação Física com base no Método Francês era divido em seis ciclos: 1) Educação Física elementar (pré-pubertária) de 4 a 13 anos; 2) Educação Física secundária(pubertária e pós-pubertária) de 13 a 18 anos; 3) Educação Física superior(desportiva e atlética); 4) Educação Física feminina; 5) Adaptações profissionais; e 6) Ginástica de conservação (após 35 anos). As lições aplicadas se constituíam em sete formas de trabalho, as quais eram consideradas as suas são grandes famílias 1) marchar; 2) trepar –escaladas e equlíbrios; 3) saltar; 4) levantar – transportar; 5) correr; 6) lançar; e 7) atacar e se defender. (Estado maior do Exército, 1934).

[13] A chegada do Método Francês no Brasil data do início do século XX (1907), quando o Governo contratou uma missão militar francesa para ministrar instrução militar à Força Pública do Estado de São Paulo. Em 1921, passou a constituir o método oficial de todas as armas, conforme o Decreto nº 14.784 do Ministério da Guerra, para, em 1929 deixar de restringir-se somente às Forças Armadas e passar a ser introduzido nas instituições de ensino civis (Goellner, 1992).

[14] Racionalização, especialização, rendimentos, competição, quantificação, etc. Códigos que se aproximam do mundo do trabalho industrializado e outros que se aproximam do mundo da educação, como: socialização, moralização dos hábitos e formação do caráter.

 

 

Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA), http://www.proteoria.org
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Prévia do artigo SCHNEIDER, Omar. A revista Educação Physica (1932-1945): circulação de saberes pedagógicos e a formação do professor de educaçãop física. In: I CONGRESSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA E CIÊNCIAS DO ESPORTE DO ESPÍRITO SANTO, 2002, Santa Teresa. Identidade acadêmica e profissional da educação física brasileira. Anais...Santa Teresa : ESESFA, 2002. CORTE, Rachel Borges ; FERREIRA NETO, Amarílio. A Biologia e a Pedagogia na Revista Brasileira de Ciências do Esporte (1979-1987). IN: VIII ENFEFE - Encontro Fluminense de Educação Física Escolar, 8., 2004, Niterói, RJ. Anais... Niterói, RJ: Gráfica Universitária, 2004. V. 1. p. 01-03. Próximo artigo
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