NUNES, Kezia Rodrigues; AROEIRA, Kalline Pereira. Formação do professor de educação física para a educação infantil: uma análise do debate em periódicos (1973-1999). In: II SEPEF - Seminário de Estudos e Pesquisas em Formação Profissional no Campo da Educação Física, 2., 2004, Rio Claro, SP. Anais... Rio Claro, SP: SEPEF, 2004. v. 1. CD-ROM.
FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA ANÁLISE DO DEBATE EM PERIÓDICOS (1973 - 1999)
Kezia Rodrigues Nunes (UFES)
Kalline Pereira Aroeira (PROTEORIA)
Resumo: objetiva mapear, sistematizar e analisar a produção em periódicos de Educação Física sobre Educação Infantil, relacionada com a formação de professores. A pesquisa traça contribuições sociais e científicas ao apontar o que as produções da área, nos últimos anos, têm considerado e discutido sobre a questão, indicando uma reflexão teórica sobre o assunto. Utiliza a pesquisa documental, cujos instrumentos são a seleção e fichamentos de textos e, para a organização dos dados, ampara-se em Catani e Sousa (1999). Utiliza como fontes revistas catalogadas no Catálogo de Periódicos de Educação Física e Esporte (1930-2000) (FERREIRA NETO et al., 2002). Dos trinta e seis periódicos pesquisados, foram encontrados artigos referentes à temática em vinte e quatro deles, constituindo-se um corpus documental de 168 artigos que após sofrer delimitação, circunscreveu-se a dezesseis artigos localizados em cinco periódicos de Educação Física (Revista Paulista de Educação Física, Motrivivência, Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Revista Brasileira de Educação Física e Desportos, Esporte e Educação). A análise evidenciou um contexto recente em termos de pesquisa e a necessidade de que o trabalho com Educação Infantil contemple o educar-e-cuidar intrínsecos em sua proposta, numa organização coletiva e integrada, sem a fragmentação de funções, viabilizando a constante reflexão da docência.
A INFÂNCIA NO BRASIL
A Educação Infantil brasileira, assim como em outros países, passa por um período de expansão, tendo o debate maior intensidade após a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB n° 9394/96), que estabelece a Educação Infantil como direito da criança de 0 a 6 anos e dever do Estado. Desde então, muitas produções discutem a respeito das necessidades da criança de 0 a 6 anos e, diante disso, como o trabalho em instituições de Educação Infantil deve acontecer.
Esta investigação focaliza a análise acerca da formação de professores e o contexto da Educação Infantil, pesquisando o que as produções presentes em periódicos de Educação Física discutem sobre essa temática, com base na produção de referências de artigos apresentada no Catálogo de Periódicos de Educação Física e Esporte (1930-2000) (FERREIRA NETO, 2002). A pesquisa abrange o exame da bibliografia pertinente, inventário das fontes (identificação, localização, compilação e fichamento dos dados) e análise dos dados. O perfil teórico- metodológico da pesquisa incorpora contribuições da área da Educação, em especial da Educação Infantil e Formação de Professores e da Educação Física. O trabalho foi organizado em três momentos: o primeiro refere-se ao estudo da Infância no Brasil, focalizando a construção histórica da Educação Infantil, sua especificidade, currículo a ser trabalhado e a formação de professores; o segundo momento trata da apresentação dos artigos dos periódicos da Educação Física na Educação Infantil; o terceiro analisa a reflexão apontada pelo corpus documental.
CONSIDERANDO O HISTÓRICO E QUESTÕES CURRICULARES SOBRE A EDUCAÇÃO INFANTIL
A literatura pertinente aponta um contexto recente em termos de pesquisa na área da Educação Infantil, marcado por conflitos de todos os tipos: de identidade, currículo, fundamentação teórica, implementação, entre outros. A interpretação histórica sobre a origem das creches e pré-escolas revela diferenças quanto a concepção de educação e destinação no país, sendo a criação das instituições infantis influenciada principalmente por experiências européias, e sua destinação social passa por assistencialismo, guarda, compensação de carências culturais e afetivas, complemento para a escola primária, além de experiências que favorecessem o desenvolvimento natural das crianças, de acordo com vivências de outros países que, como afirma Rocha (1999, p. 46), "[...] evidencia uma preocupação com a criança e com uma delimitação etária que decorrerá no desenvolvimento de novos campos científicos tais como a Biologia e a Psicologia infantil, que vão ocupar-se basicamente de uma caracterização das etapas do desenvolvimento infantil".
Assim, não se pode ignorar, conforme declara o autor Debortoli et al. (2001-2002), que, do casamento entre Pedagogia e Psicologia herda-se a mania de selecionar, classificar e hierarquizar o desenvolvimento das crianças, sempre operando com estágios, fases ou etapas construídas abstratamente, tendo-se a presunção do controle e da previsibilidade.
Além disso, percebe-se que o diferencial na criação das instituições infantis, em seu contexto histórico foi a sua destinação social, sendo que a creche objetivava o atendimento exclusivo de crianças pobres - com caráter assistencialista e sem propósitos educativos, e o jardim de infância era destinado para todas as crianças - com caráter educativo, práticas que evidenciam a própria origem de sua Pedagogia alicerçada num pacto do controle social.
Pode-se observar que as recentes produções da Educação Infantil (ROCHA, 1999; KRAMER, 1998; KUHLMANN JÚNIOR, 2000, 2003; DEBORTOLI et al. 2001-2002; LANTER- LOBO, 2003; NASCIMENTO, 2003) têm enfatizado a necessidade de contemplar o educar-e- cuidar intrínsecos, interligados, para que não haja fragmentação ou exclusão de uma dessas dimensões no trato com as crianças menores de seis anos.
Apontam o entrecruzamento de diferentes áreas — Educação, Psicologia, Antropologia, Sociologia, História, Saúde, Serviço Social, Educação Física, Lingüística, Arquitetura, Artes, Letras — pressupondo um trabalho de organização coletiva e integrada, no qual a criança é vista como um todo, em que a brincadeira, as interações e as diferentes linguagens são o eixo do trabalho pedagógico da Educação Infantil, ou seja, o entrecruzamento de diferentes áreas, projetando uma forma de trabalhar, longe do modelo escolarizado, fragmentado em funções e áreas de conhecimento, de caráter sistematizado e científico, como a dos adultos. Não seria excluir os especialistas a fim de evitar possíveis fragmentações ou hierarquizações e sim considerar a rica possibilidade para o desenvolvimento de trabalhos em parcerias entre profissionais e crianças.
Os profissionais envolvidos devem tomar a criança como ponto de partida para a formulação das propostas pedagógicas à partir das necessidades dos pequenos em seus diferentes momentos, ou seja, pensar na parceria junto às crianças considerando e valorizando suas experiências e interesses. Além disso, deve-se respeitar a maturação e as divergências desde os recém nascidos até os que se preparam para a 1° série. Não significa estabelecer uma distinção específica por idade e nem subordiná-la ao ensino fundamental, trata-se de considerar essa articulação, sempre tomando a criança como prioridade e não o ensino fundamental pré- existente.
Kuhlmann Júnior (2003) afirma que não é a criança que precisa dominar conteúdos disciplinares, mas as pessoas que a educam, partindo da especificidade do ser criança nas suas diversas formas de manifestação, viabilizando a constante reflexão da docência, sendo que para garantir a sintonia entre os diversos profissionais da Educação Infantil, fa-se necessária a construção de uma linguagem comum, um currículo - de acordo com Kramer (1998), ou uma Pedagogia da Infância - na visão de Rocha (1999), que garanta a formação da criança para a vida, à partir dos pressupostos em debate. Contudo, considerando a diversidade que existe nas concepções de infância, currículo, atendimento, nas práticas pedagógicas, construir um projeto que atenda as diferenças não é tarefa fácil.
Outro ponto em debate, conforme esclarece Nascimento (2003), é que a nova LDB n° 9.394/96, que determina a Constituição de 1988, estabelece que a Educação Infantil é um direito da criança de zero a seis anos e um dever do Estado, mas não é obrigatória, sendo prioridade legal e institucional o ensino fundamental. Agora as crianças pequenas são contempladas como cidadãs de direitos na Constituição, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), na LDB, no Plano Nacional de Educação e ainda nos polêmicos Referenciais Curriculares Nacionais de Educação Infantil (RCNEI). Entretanto, em nenhum dos referidos documentos, a questão da formação do profissional para o trabalho com a Educação Infantil é destacada, assim como as condições e formas de implementação para efetivá-la.
Nascimento (2003) expõe que como integrante da educação básica, a Educação Infantil é considerada por lei como um nível de ensino. Dessa forma o profissional deve atender ao perfil escolar, ou seja, ser professor, ficando à margem os monitores, os crecheiros, as pajens e demais profissionais. A instituição corre o risco de ater-se apenas ao carácter educativo, preparando para o futuro ensino fundamental e perdendo o caráter multifacetado que pressuporia a integração de ações de saúde, educação, assistência social e cultura, por não considerar o binômio educar e cuidar.
Cerisara (2003) discute a identidade que devem assumir os profissionais tomando como eixo condutor a noção de infância em sua heterogeneidade, de famílias heterogêneas e em instituições de Educação Infantil também plurais, heterogêneas, e a definição da qualificação que as profissionais que irão atuar nestas instituições devem ter, considerando inclusive as heterogeneidades e pluralidades que constituem estas profissionais e lança alguns questionamentos:
Quem deve exercer esta profissão? Qual deve ser esta profissão? Quais as competências que esta profissional deve ter? Quais os fundamentos desta atividade profissional? Será educadora, professora, auxiliar de sala, auxiliar do desenvolvimento infantil, pajem, crecheira? (CERISARA, p.3).
Pode perceber-se que nenhum desses profissionais possuem formação consistente para o trabalho com essa faixa etária: nem professores generalistas, crecheiros e não seria diferente com os especialistas, inclusive os professores de Educação Física.
Lanter-Lobo (2003) afirma que entender a Educação Infantil do ponto de vista das políticas públicas significa compreender a política de formação do profissional como um conjunto de diretrizes metas e procedimentos, formas de articulação permanente do Estado com os diferentes atores não governamentais tanto quanto à sua formulação como execução das ações,que se assegure condições de trabalho, plano de carreira e salário digno pois até então, não houve nenhuma ação programática ou estratégicas do MEC ou Secretaria de Educação afim de diminuir as dissiparidades no interior do quadro docente do país.
Diante disso, um desafio para este novo milênio é: lutar pela obrigatoriedade da matrícula da criança de zero a seis anos, garantir o papel do professor pela profissionalização e valorização nas instituições de Ensino Infantil, que exigem a função de cuidar e educar, mesmo sabendo que os mecanismos atuais de formação, especialização e atualização não contemplam esse duplo trabalho (LANTER-LOBGO, 2003).
O DEBATE EM PERIÓDICOS SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL
Ao pesquisar essa temática no corpus de análise deste estudo, averigua-se que, dos trinta e seis periódicos pesquisados, foram encontrados vinte quatro artigos referentes a esse tema, constituindo-se um corpus documental de 168 artigos que, após sofrer delimitação, circunscreveu- se a dezesseis artigos localizados em cinco periódicos de Educação Física (Revista Paulista de Educação Física, Motrivivência, Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Revista Brasileira de Educação Física e Desportos, Esporte e Educação).
Conforme recomendam Catani e Souza (2001) ao sistematizarem a produção do conhecimento sobre a Imprensa Periódica Educacional Paulista (1890 - 1996), pode-se sublinhar a possibilidade de se desenvolver o trabalho com e a partir da imprensa periódica, indicando duas diretrizes: uma delas é o estudo interno do próprio periódico, denominado de estudos dos periódicos como objeto; a outra é o estudo do periódico como núcleos informativos ou como fonte. Neste trabalho, será utilizada como eixo central, a segundo diretriz norteada por Catani e Souza (1999), já que, de modo geral, os periódicos serão usados como fonte de estudo.
Com base na análise do debate presente nesses artigos, apreende-se uma discussão ainda incipiente, mas verifica-se que é crescente a preocupação com a pesquisa na área, sendo dois artigos produzidos na década de 1970, três artigos produzidos na década de 1980 e oito artigos produzidos na década de 1990, além dos artigos já publicados à partir de 2000. Além disso, é possível detectar que a autora Deborah Sayão é a que mais contribui com essa temática em sete artigos sob diversos enfoques, podendo ser considerada uma referência nacional no que diz respeito às pesquisas sobre Educação Física na Educação Infantil e sobre a formação de professores nesse contexto.
O aumento na produção presente nos periódicos de Educação Física tem traduzido uma situação geral, presente em outros veículos de informação: a também crescente preocupação de seus professores em analisar sua atuação no âmbito da Educação Infantil, e a busca de uma formação inicial e continuada eficiente.
Em busca de uma melhor visualização a respeito das considerações apontadas a respeito dos enfoques obtidos pelo estudo da produção presente nos periódicos, segue um quadro que sintetiza questões comuns levantadas entre os artigos, fazendo-se necessária a organização em categorias para apresentação da análise do material, de acordo com os consensos e diferenças nas diversas posições apresentadas pelos autores, seguida por uma breve contextualização a respeito de cada categoria, à partir do confronto com as produções da literatura.
|
Categorias |
Autores |
Ano |
Periódico |
01 |
O Processo de simbolização do corpo no |
MUCHELLI |
1973 |
REE |
desenvolvimento da criança |
DIAS |
1996 |
RPE |
|
02 |
As influências teóricas presentes na Educação Física para o trabalho com a Educação Infantil |
SAYÃO |
19997 |
ANAIS CBCE |
03 |
As visões fragmentárias e dicotomizadas presentes na atuação dos profissionais envolvidos |
NEGRINE SAYÃO |
979 999 |
RBEFD ANAIS CBCE RBCE |
04 |
A importância da articulação dos campos de conhecimento científico na Educação Infantil visando a totalidade da formação da criança |
SAYÃO TANI |
1997 1999 2002 2001 |
ANAIS CBCE RBCE ANAIS CBCE ANAIS CBCE |
05 |
Conhecimento a respeito das necessidades da criança pequena e da especificidade da Educação Infantil |
DANTAS TANI |
1983 2001 |
RBEFD ANAIS CBCE |
06 |
Conhecimento a respeito da cultura infantil |
KRUG SAYÃO |
1999 2002 |
RBCE ANAIS CBCE |
07 |
A importância da Educação Física enquanto disciplina curricular na Educação Infantil e seu objeto de ensino |
NEGRINE DANTAS DUTRA CAVALCANTI FERRAZ SAYÃO |
1979 1983 1982 1981 1996 1999 |
RBEFD RBEFD RBEFD RBEFD RPE RBCE |
08 |
A especificidade da Educação Física no trabalho com a Educação Infantil |
FERRAZ SAYÃO TANI |
1996 1999 2001 |
RPE RM ANAIS CBCE |
09 |
O jogo como conteúdo da Educação Física na Educação Infantil |
MUCHELLI FERRAZ KRUG SAYÃO |
1973 1996 1999 2002 |
REE RPE RBCE ANAIS CBCE |
10 |
Formação e currículo do profissional de Educação Física para o trabalho com a Educação Infantil |
DANTAS SAYÃO KRUG DUCKUR TANI |
1983 1997 1999 2002 1999 1999 2001 |
RBEFD ANAIS CBCE RM ANAIS CBCE RBCE RBCE ANAIS CBCE |
CATEGORIAS DE ANÁLISE O PROCESSO DE SIMBOLIZAÇÃO DO CORPO NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
Discuti- se que a consciência do corpo é resultado de atividades corporais da infância. As atividades motoras e sensoriais combinadas formam a consciência do nosso corpo e organizam a unidade intencional da ação, ou seja, nossos atos e atitudes. O ato mental se desenvolve a partir do ato motor, agindo como mecanismo de ação e expressão da criança. No decorrer do desenvolvimento o ato motor vai cedendo lugar ao movimento tônico, e pensa-se com o corpo em sentido duplo - com os músculos e cérebro, sendo portanto, que qualquer escolarização é educação do corpo, e esta educação tem início nos primeiros anos de vida.
AS INFLUÊNCIAS TEÓRICAS PRESENTES NA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O TRABALHO COM A EDUCAÇÃO INFANTIL
Os artigos apontam que nas décadas de 70 e 80 os profissionais de Educação Física influenciados por modismos sofridos pelo magistério iniciaram sua atuação em outros campos de trabalho mesmo sem formação adequada, como a Pré-escola, onde seus profissionais precisaram construir um referencial que desse conta de suas novas práticas, influenciados por informações vindas principalmente dos EUA e França e criações e recriações de criatividade dos profissionais da área. Analisando essas produções, detecta-se três influências teórico-metodológicas: Recreação, Psicomotricidade e Desenvolvimento Motor.
AS VISÕES FRAGMENTÁRIAS E DICOTOMIZADAS PRESENTES NA ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS
Os autores nos periódicos afirmam que na escola está presente uma visão fragmentária de educação, ao conceber o currículo em disciplinas por convenção, criando fronteiras sem saber se essa compartimentação em forma de disciplinas está atrelada à necessidades epistemológicas ou didáticas, ou é resultante de pressões sociais. Esta concepção está presente no Ensino Fundamental e Médio e tende a se estender da mesma forma na Educação Infantil, perdendo a visão de totalidade do indivíduo e enfatizando diferentes formas de referenciar as ações docentes da Educação Física na Educação Infantil, como dicotomia corpo/mente, sala/pátio, intelectual/física e teoria/prática.
A IMPORTÂNCIA DA ARTICULAÇÃO DOS CAMPOS DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL VISANDO A TOTALIDADE DA FORMAÇÃO DA CRIANÇA
Os periódicos evidenciam a necessidade de o trabalho na Educação Infantil buscar a totalidade da criança durante sua formação, pela articulação/integração do conhecimento dos diferentes profissionais envolvidos nesse processo e visando um trabalho coletivo específico para esse público, priorizando a criança e distanciando-se do modelo escolar, fragmentado em disciplinas curriculares.
CONHECIMENTO A RESPEITO DAS NECESSIDADES DA CRIANÇA PEQUENA E DA ESPECIFICIDADE DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Esse tópico é apontado nos artigos de Educação Física como pré-requisito na construção de diretrizes, conteúdo programático e sistematização no trabalho dessa área de conhecimento com a Educação Infantil, e os autores contribuem com abordagens diferentes sobre esse tema.
CONHECIMENTO A RESPEITO DA CULTURA INFANTIL
Os autores apontam que a criança possui uma cultura própria, onde nem todos os elementos são retirados dos adultos, na medida que ela é um ser detentor e produtor de cultura, que possui capacidade e inteligência para criar e recriar.
O JOGO COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A produção em periódicos de Educação Física aponta o jogo como conteúdo por ele se tratar de um componente da cultura infantil que denota motivação nas crianças, por ser um elo de construção de conhecimento em relação à cultura e por proporcionar à criança a otimização de suas possibilidades e potencialidades de movimento, contribuindo para o seu desenvolvimento. As crianças brincam para satisfazer a vontade de viver a brincadeira que para os professores precisa ter uma função pedagógica que contribua para melhoria de aprendizagem. Dessa forma, coloca-se em evidência o conhecimento, como se ambos não fossem faces de uma mesma moeda.
FORMAÇÃO E CURRÍCULO DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA O TRABALHO COM A EDUCAÇÃO INFANTIL
Nota-se que a formação em Educação Física não contempla a intervenção na Educação Infantil, não havendo preparo para o trato com crianças em idade pré-escolar, que está acontecendo sem fundamentação teórica sem a compreensão das necessidades da criança em seu processo de desenvolvimento. É necessário um currículo que incentive o trabalho reflexivo, a articulação entre teoria e prática e a interação entre professores e alunos, favorecendo a capacidade intelectual do corpo discente de forma a serem futuros profissionais críticos, criativos e inovadores. Esses devem compreender a cultura infantil para, na atuação, viver experiências junto com a criança e não apenas propor e observar as atividades.
A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ENQUANTO DISCIPLINA CURRICULAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL E SEU OBJETO DE ENSINO
O debate em periódicos aponta as tendências que justificam a Educação Física na Educação Infantil, de acordo com seu contexto histórico: A Educação Psicomotora, sob a perspectiva de saúde e aptidão física, apresentada como justificativa até a década de 1980; o Desenvolvimento Motor, sob a perspectiva da cultura dos esportes, e a Cultura de Movimento, apontada na década de 1990, visando disseminar o conhecimento da motricidade humana.
A ESPECIFICIDADE DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO TRABALHO COM A EDUCAÇÃO INFANTIL
A discussão presente nos periódicos aponta que ao longo dos anos em resultado aos estudos reflexivos da área várias abordagens surgiram na Educação Física escolar (humanista, psicomotricista, desenvolvimentista, construtivista, histórico-crítica e antropológica), entretanto não atingiram a prática profissional. Com isso, a Educação Física continua carente de bases teóricas consistentes, traduzindo-se numa prática sem especificidade. Para que contribua no trabalho com a Educação Infantil, deve identificar uma concepção de educação e de Educação Infantil consistentes e coerentes, e à partir desse conhecimento, vislumbrar o objetivo e significado da Educação Física nesse contexto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela análise dos artigos em periódicos de Educação Física e da produção da literatura em Educação Infantil percebe-se que os profissionais envolvidos encontram-se desorientados mediante o contexto em questão, entretanto o discurso dos diferentes profissionais tem se aproximado, vislumbrando-se a necessidade de estudos na área de Educação Física que auxiliem a construção de uma concepção de Educação Infantil, que valorize e sistematize o seu movimento corporal no processo de apropriação da cultura e na construção do pensamento da criança.
Finalmente, é válido corroborar que é imprescindível ampliar com outras análises o mapeamento desta discussão, bem como em outras fontes, além de ainda se focalizar a discussão acerca dessa temática no/com o cotidiano escolar, avaliando a construção de saberes produzidos por professores e alunos nesse contexto.
REFERÊNCIAS
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