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Artigos > Comunicação e Produção Científica em Educação e em Educação Física > SANTOS, Wagner; FERREIRA NETO, Amarílio; SCHNEIDER, Omar; VENTORIM, Silvana. 15 anos de Motrivivência: o debate sobre a graduação. In: II seminário CEMEF-PROTEORIA, 2005, Anais... Belo Horizonte. Educação Física, Esporte, Lazer e Cultura Urbana: uma abordagem histórica. Belo Horizonte : CEMEF-PROTEORIA, 2005. 1 CD-ROM

SANTOS, Wagner; FERREIRA NETO, Amarílio; SCHNEIDER, Omar; VENTORIM, Silvana. 15 anos de Motrivivência: o debate sobre a graduação. In: II seminário CEMEF-PROTEORIA, 2005, Anais... Belo Horizonte. Educação Física, Esporte, Lazer e Cultura Urbana: uma abordagem histórica. Belo Horizonte : CEMEF-PROTEORIA, 2005. 1 CD-ROM

 

 

 

 

15 ANOS DE MOTRIVIVÊNCIA: O DEBATE SOBRE A GRADUAÇÃO[1]

 

Wagner dos Santos

Amarílio Ferreira Neto

Omar Schneider

Silvana Ventorim

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

Membros do PROTEORIA

 

RESUMO

Aborda a revista Motrivivência como fonte, focalizando o olhar no debate veiculado sobre graduação, identificando suas linhas de força em objetos e referenciais teóricos. Os objetos estão concentrados na Licenciatura, Currículo, Prática de Ensino e Estágio Supervisionado e Formação Profissional. Os achados indicam que, apesar da variabilidade de autores e fontes, as abordagens teóricas são marcadamente oriundas do campo das Ciências Sociais e Humanas, com ênfase para a orientação do Materialismo Histórico Dialético, da Teoria Crítica e da Teoria Crítica do Currículo.

Palavras-chave: Educação Física, Revista Motrivivência, Graduação.

O DEBATE SOBRE A GRADUAÇÃO NOS 15 ANOS DA REVISTA MOTRIVIVÊNCIA

O Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA), criado em 2001, com o objetivo de compreender o processo de constituição de teorias para a Educação Física no Brasil, com base na análise e discussão dos impressos específicos da área, vem buscando aplicar ao campo da Educação Física os debates desenvolvidos no Campo da Educação e da História. Priorizando de modo geral os periódicos produzidos no País, a partir da década de 1930, o PROTEORIA, com o intuito de sistematizar uma ferramenta que pudesse auxiliar os pesquisadores da área, lançou em 2002 o Catálogo de Periódicos de Educação Física e Esporte (1930­2000). Com base nesse catálogo, alguns estudos realizados no PROTEORIA têm buscado analisar e discutir a imprensa periódica da Educação Física, como objeto ou como fonte de pesquisa.[2] Fruto das análises que se têm operado, relacionadas com a imprensa periódica, são os trabalhos apresentados em congressos, publicados em periódicos da Educação e Educação Física e defendidos em programas de pós- graduação em formato de dissertações.[3]

Nesses termos, este trabalho, ao abordar a revista Motrivivência como fonte, visa focalizar o olhar no debate sobre graduação. Assim, com base no corpus documental geral de 350 artigos (assinados), distribuídos nas diferentes seções dos 19 números da Revista Motrivivência, realizamos um mapeamento dos estudos que focalizaram o tema graduação,de modo a situar a intensidade da publicação dessa temática na trajetória de vida desse periódico, bem como as questões tratadas, indicando possíveis eixos caracterizadores dessa produção acadêmica.

Dos 36 textos presentes nesse tema, 15 (41%) estão na seção Artigo, 10 (27%) na Experimentando, 4 (11%) no Grupo de Estudo, 3 (9%) na Cientifique-se, 3 (9%) na seção Porta Aberta e 1 (3%) na seção Ponto de Vista, o que nos indica que, quanto à sua localização na Revista, esse tema apresenta-se de maneira diversificada,[4] concentrando o número de trabalhos na seção Artigo.

Apesar da diversificação de assuntos presentes nesse tema, foi possível fazer um agrupamento em quatro subtemas, considerando-se as questões específicas abordadas pelos autores, assim denominadas: Licenciatura, com 9 trabalhos (25%); Currículo, com 11 estudos (31%); Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, com 10 (27%) e Formação Profissional, com 6 (17%).

No que se refere ao aspecto quantitativo, essa produção está distribuída entre os anos de 1988 e 2001, o que nos faz inferir que é uma temática presente e permanente, ou seja, esse periódico atribui uma considerável importância ao debate acadêmico sobre a graduação em Educação Física, tendo em vista as suas diferentes abordagens e interfaces teóricas. Isso sinaliza para a inserção da Revista e o seu papel de promovedora de reflexões sobre o ensino de graduação no Brasil.

No subtema Licenciatura, foram classificados os estudos que tomaram como objeto de análise questões referentes aos cursos de Licenciatura em Educação Física em diferentes períodos. O subtema é considerado como uma presença significativa e crescente no debate provocado pela Revista, atravessando toda a década de 1990 até o ano de 2002. Ainda, considerando esse período, observa-se que a temática prevalece na sua trajetória. Os temas sobre a licenciatura foram tratados de diferentes formas, e a maioria dos estudos aborda relatos de experiências teórico-metodológicas vivenciadas nas disciplinas ministradas nos cursos de graduação em Educação Física. A relação entre teoria e prática, a relação método de ensino e intervenção, as representações sociais sobre a homossexualidade de professores em formação, a importância da extensão universitária, as relações pedagógicas, a mídia esportiva foram outras temáticas problematizadas na relação com a licenciatura.

Ainda sinalizamos que, considerando o nascimento da Revista em 1988 e o primeiro artigo sobre o tema no ano de 1990, a destacada prevalência é datada historicamente como representativa de “operacionalização” de um processo de crítica e de transformação da educação mais fortemente visualizado a partir da década de 1980 no Brasil. Isso se mostra pelo fato de que as questões enfrentadas nos trabalhos desse subtema revelam o investimento de estudiosos em experimentar e avaliar as práticas de ensino de graduação e, sobremaneira, analisar questões variadas que constituem a pluralidade de temáticas dos processos educativos.

No que se refere especificamente ao suporte teórico utilizado nas pesquisas, os achados sistematizados até o momento indicam uma variabilidade grande de autores e obras combinada com a baixa freqüência de aparição nos diversos estudos presentes no subtema Licenciatura. Para isso, basta observar que o único autor e obra de referência que aparece em dois trabalhos diferentes é Adorno (1995) na obra “Educação e emancipação”. Os demais autores aparecem somente uma vez. Dentre eles, destacam-se: Adorno, Adorno e Horkheimer, Habermas, Lefebvre, Deleuze, Guatarri e Rolnick, Rolnick, e Foucault. No debate específico sobre a discussão das representações sociais sobre o homossexualismo presente nos trabalhos de Inácio (1994) e Rosa (2002), identificamos referência aos autores Louro, Funck, Goffman, Amparo Parra, Mead, Romero, Saraiva e Kunz, Scott.

É característica marcante também desse subtema o uso de referenciais teóricos advindos da grande área da educação, como Demo e Saviani. Além disso, encontramos, no que diz respeito aos estudos no campo da Educação Física, referência aos seguintes trabalhos: Hildebrandt e Laging e Kunz. Desses autores, os trabalhos de Kunz (1991, 1994), “Educação física: ensino e mudança” e “Transformação didático-pedagógica do esporte”, são os únicos que aparecem em dois estudos diferentes no subtema Licenciatura. Os demais autores são referenciados apenas uma vez.

No subtema Currículo, foram agrupados os estudos que discutiram a reestruturação dos currículos de graduação em Educação Física e os que refletiram sobre as teorias críticas do currículo. Dos onze trabalhos selecionados, o número expressivo de oito encontra-se na primeira publicação da Revista, datada de 1988. Temos evidências de que esse fato se deve, sobretudo, à demanda impulsionada pela Resolução n° 03, de 1987, do Conselho Federal de Educação, que procurou, dentre outros fatores, fixar o mínimo de conteúdo e duração a serem observados nos cursos de graduação em Educação Física na modalidade de Bacharelado e/ou Licenciatura Plena, constituindo-se assim em formação geral de caráter obrigatório e aprofundamento de conhecimento de caráter complementar.5 A Revista investe nesse tema inaugurando seu ciclo de vida e, apesar de não explicitar o núcleo temático de seu primeiro número, como pode ser observado na análise dos seus dispositivos editoriais, conseguimos, com bastante facilidade ao manusear esse impresso, identificá-lo como "O Currículo em Educação Física” - temática essa inteiramente imbricada com a discussão posta pela Resolução 03/87. Com isso, sinalizamos que, já em 1988, a Revista responde a uma demanda atual e apresenta-se como uma das primeiras, senão a única, a debater esse tema que se mostra como de relevância política e acadêmica para a vida dos cursos de Educação Física no Brasil. [5]

Também no ano de 1988, dois trabalhos assumem a reflexão sobre a relação entre currículo, ideologia, poder e política. Eles apontam o acompanhamento de um debate bastante profícuo no campo da sociologia da educação, já iniciado no Brasil nas décadas de 1970 e 1980.

Nessa direção de análise, particularmente, destacamos o texto de David et al. (1999), que registra a resposta "rápida” da Revista em oferecer contribuições para as reflexões sobre a construção das novas diretrizes gerais para formação dos cursos em Educação Física e Esportes, o que reafirma a inserção desse periódico no movimento nacional que mobilizou diferentes instituições políticas e acadêmicas para a discussão desse tema.

Somam-se a essa perspectiva de discutir a “reestruturação curricular” dois trabalhos publicados em 1995 e 1998, que problematizam a avaliação do currículo de curso de formação de professores de Educação Física, um deles considerando a avaliação discente.

Tendo em vista uma possível caracterização da intensidade da publicação desse subtema, evidencia-se a perspectiva de prevalência da temática em um momento específico, inclusive em um único número, com convergências de idéias e de questões tratadas - Resolução 03/87, publicação da Revista no ano de 1988. O caso do texto sobre as diretrizes curriculares em 1999 não nos permite essa análise, haja vista a inexpressiva quantidade de estudos sobre esse assunto. Por essa situação em particular e pela “pulverização” na distribuição dos artigos (oito em 1988, um em 1995, um em 1998 e um em 1999), não percebemos o currículo como uma temática-eixo que se constituiria pela sua presença ao longo dos anos na Revista, mesmo que ela tenha o número de onze trabalhos.

Inferimos, com isso, que a Revista debate densamente a reestruturação curricular do final dos anos de 1980, trazendo a discussão sobre as teorias críticas do currículo, e timidamente debate as diretrizes curriculares para a formação dos professores no final dos anos de 1990. Ela também publica trabalhos sobre avaliação de currículos de formação de professores. Mesmo assim, consideramos que esse tema não acompanhou a evolução da Revista que se mostra como periódico que procura promover o debate sobre questões fundamentais, tanto para a qualificação da produção do conhecimento no campo da Educação e da Educação Física como para o processo de intervenção educativa.

É importante destacar a dificuldade encontrada em identificar os referenciais teóricos utilizados nos estudos presentes nesse subtema, haja vista que apenas um deles indica, ao final do trabalho, as referências utilizadas. Porém, na busca incessante dos vestígios deixados por esses autores, conforme nos ensina Ginzburg (1989), conseguimos identificar no corpus do texto, de forma explícita ou implícita, duas linhas teóricas. A primeira delas está presente em duas obras e toma como marco teórico-conceitual os estudos de Manuel Sérgio sobre a Ciência da Motricidade Humana. Esse autor, inclusive, escreve um artigo no primeiro número da Revista, cujo tema é “O Currículo em Educação Física”. Nunca é demais lembrar as representações presentes na capa desse primeiro número, no qual, ressaltam como nova proposta de objeto de estudo para a Educação Física a Ciência da Motricidade Humana (FERREIRA NETO et al.).

A segunda linha teórica encontrada pauta-se no Materialismo Histórico Dialético, fundamentalmente na obra de Marx (1985), “Trabalho assalariado e capital”, presente em dois estudos desse subtema. Outro autor presente nessa perspectiva, porém referenciado em apenas um desses trabalhos, é Leontiev.

No que tange especificamente aos estudos no campo do currículo, encontramos referência aos trabalhos de Aplle e Domingues, ambos apontados como autores importantes para o desenvolvimento da Teoria Crítica de Currículo. Encontramos, ainda nesse trabalho, referências aos seguintes estudos no campo da Educação Física: Castellani Filho, Costa e Ghiraldelli Júnior.

Os trabalhos que discutem questões das teorias críticas do currículo partem de uma mesma matriz teórica, qual seja, a Sociologia e Teoria Crítica de Currículo, fundamentada principalmente na obra de Aplle intitulada “Ideologia e currículo”, e na obra de Domingues nomeada “Interesses humanos e paradigmas curriculares”, presentes em três trabalhos. Já os estudos de Giroux, “Teoria crítica e resistência em educação”; de Moreira, “Currículos e programas no Brasil; e de Silva, “A construção do currículo na sala de aula”, aparecem em dois dos quatro trabalhos desse subtema. Nessa perspectiva teórica, identificamos ainda a referência ao trabalho de Burnham e aos trabalhos de Goodson, ambos em estudos diversos.

Além do uso desses autores, identificamos, de forma aleatória, ou seja, em diferentes estudos dentro do subtema, referências aos autores oriundos das Ciências Sociais, como Faundez, Lowy, Gramsci, Marx e Engels. Os estudos presentes nesta sub-temática evidenciam ainda um estreito diálogo com alguns autores da área da educação, porém com uma variabilidade de autores e obras. Dentre eles, destacam- se Cury, Demo, Paulo Freire, Freitag, Gadotti, Gutiérrez, Marques, Mizukami, Sobrino e Veiga. Desses autores, os únicos recorrentes em dois estudos são: Freire, com a obra “Pedagogia da autonomia”, e Marques, com a obra “Formação do profissional da educação”.

 

No debate ainda sobre currículo e ideologia, deparamos-nos com alguns estudos realizados no campo da Educação Física referentes a essa temática, dentre os quais podemos ressaltar a presença da dissertação de Mocker, “O curso de licenciatura em educação física da UFSC: suas concepções de ensino e de educação física”, utilizado em dois trabalhos desse subtema, e as reflexões de David e Rocha.

No subtema Formação Profissional, procuramos reunir os estudos que discutiram a formação de professores no curso de graduação em Educação Física. De um universo de cinco textos, três procuraram refletir sobre a relação teoria e prática no ensino e suas implicações para a Educação Física escolar. É importante ressaltar que esses três trabalhos estão presentes no n. 8 da Revista, publicado em 1995, que teve como temática “Educação Física: teoria e prática”. Dos dois estudos restantes publicados em 1996 e 1998, destacamos que um procura pesquisar as condições de trabalho, atuação e atualização profissional e o outro, as políticas educacionais no campo da formação profissional.

Esse desenho dos trabalhos sobre formação profissional revela também o desempenho dessa temática na vida desse periódico. Podemos dizer que, mesmo com esse número de trabalhos, essa temática tem uma presença frágil, em face da representatividade que a década de 1990 e os anos iniciais de 2000 têm para o debate sobre o tema.[6] A existência de condições históricas, a crescente reflexão no campo da educação a partir de diferentes interfaces teóricas, a qualidade nos estudos na própria produção acadêmica da Educação Física e o estágio positivo de amadurecimento desse periódico demonstram que a necessidade da discussão no interior da Revista deve ser revigorada.

Assim como no subtema Licenciatura, encontramos alta variabilidade de autor e obra, na qual nenhum deles aparece em mais de um trabalho. Entre os autores de referência citados nesses trabalhos, destacam-se Foucault, Heller, Larrosa, Lefebvre e Vazquez. É relevante salientar o diálogo existente com as produções teóricas no campo educacional, dentre os quais se destacam os seguintes autores: Arroyo, Candau, Luiz Carlos de Freitas, Gadotti e Saviani. No campo da Educação Física, aparecem com relevância os estudos de Marques e Taffarel, presentes em um único trabalho dentro desse subtema.

O subtema Prática de Ensino e Estágio Supervisionado[7] foi por nós apresentado enquanto tal em função de uma atenção expressiva a essas disciplinas/componentes curriculares no âmbito da Revista. Foram selecionados dez trabalhos que tomaram como objeto de estudo a teorização e as vivências relativas à Prática de Ensino e ao Estágio Supervisionado realizados nos cursos de graduação em Educação Física. Nesse debate, surge mais uma vez com destaque a discussão epistemológica entre teoria e prática na pesquisa e no ensino.

Essa produção se fez presente entre os anos de 1994 e 1999, período considerado curto para a relativa quantidade de textos sobre o tema. Uma característica relevante dessa produção é a que a maioria se apresenta como do tipo relato de experiência, indicando a valorização da possibilidade de socializar práticas de ensino, objeto central dessas áreas que se situam como importantes eixos articuladores da formação de professores. Desse modo, os autores desses estudos procuraram, em sua grande maioria, descrever/problematizar/avaliar as experiências realizadas na Prática de Ensino e no Estágio Supervisionado.

Quanto às teorias que oferecem suporte a esses estudos, identificamos, assim como nos subtemas Licenciatura e Formação Profissional, um contingente enorme de autores e obras, tanto no campo da educação como no da Educação Física. No campo da educação, destacam-se os estudos de José Luiz Domingues, Fazenda, Libâneo, Edna Castro de Oliveira, Paulo Freire, Piconez. A obra de Paulo Freire, “Pedagogia do oprimido”, e a de Fazenda, “O papel do estágio nos cursos de formação de professores”, foram as mais referenciadas, presentes em três trabalhos deste subtema. Os demais autores aparecem somente uma vez. Já no campo da Educação Física, encontramos duas linhas teóricas, uma que estamos denominando aqui de teórico-metodológica e outra específica sobre a discussão da prática de ensino e estágio supervisionado. Na primeira, encontramos referência aos trabalhos de Hildebrandt e Langing, João Batista Freire e Coletivo de Autores. Desses autores, os únicos que são referenciados em três trabalhos são Hildebrandt e Langing. Na segunda linha teórica, encontramos referência aos estudos de Mocker, Ventorim, Wiggers. Identificamos também os autores que se apóiam nos estudos de Adorno, Adorno e Horkheimer, Habermas, Benjamin. Contudo, reconhecemos que é preciso analisar com maiores detalhes os diferentes usos e apropriações (CERTEAU, 1994) feitos desses autores, o que não será possível neste momento.[8] Além desses autores, encontramos ainda, em um dos trabalhos analisados, uma indicação, em nota de rodapé, aos estudos de Elias e Dunning sobre o nascimento e o desenvolvimento do esporte na Europa, principalmente na Inglaterra.

Esses trabalhos, assim como a maioria dos estudos destacados nos subtemas analisadas, buscam como aporte referencial dialogar com alguns estudos realizados no campo da educação, sobretudo aqueles que procuram discutir sobre a formação profissional e Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, dentre os quais encontramos Demo, Boufleuber; Fazenda, Piconez e Marques. Quanto ao uso dos referenciais oriundos do campo da Educação Física, identificamos a presença dos estudos de Bracht e Lovisolo em apenas um dos trabalhos.

Assim como em Ventorim e Ferreira Neto (2003), ao analisarmos conjuntamente os subtemas Formação Profissional e Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, percebemos, de modo parcial, que os autores presentes nesses subtemas partem da análise das problemáticas dos currículos de formação de Educação Física, como a dissociação entre teoria e prática, ensino e pesquisa, pesquisa e extensão; a perspectiva de ensino tradicional; e o desequilíbrio entre o compromisso político-pedagógico e a competência técnica; e o processo de busca de legitimidade pedagógica da disciplina Educação Física.

Finalmente, a partir do mapeamento dos estudos sobre a temática Graduação, presentes na revista Motrivivência, constatamos a sua constituição por trabalhos relativos aos subtemas Licenciatura, Currículo, Formação Profissional e Prática de Ensino e Estágio Supervisionado. Grosso modo, tanto pela intensidade da publicação quanto pelas questões abordadas e pela identificação do suporte teórico dos trabalhos, podemos apontar a diversidade como característica marcante. A análise específica das sub-temáticas mostrou diferenças no significado do desempenho da presença dos trabalhos ao longo da trajetória da Revista, como no caso do subtema Currículo.

As questões problematizadas pelos estudos podem, de maneira geral, apontar um comprometimento desse periódico em promover o debate acadêmico, divulgar o conhecimento produzido na área e, sobremaneira, provocar a necessidade de uma intervenção educacional mais qualificada. Considerando as especificidades dos estudos, percebemos que a atualidade de temas e a densidade com que foram tratados indicam a importância do acervo bibliográfico produzido pela revista Motrivivência ao longo dos quinze anos.

Os achados sistematizados até o momento indicam, de maneira geral, que a situação dos trabalhos encontrados na revista Motrivivência[9] evidencia as seguintes configurações: 1) os que não indicam suporte teórico; 2) os que indicam as abordagens teóricas a partir dos autores de referência na teoria, sobretudo os estudos no campo das Ciências Sociais e Humanas; 3) os que indicam o suporte teórico a partir de bibliografia secundária. Outra característica marcante nesses estudos é a busca pelo diálogo com os trabalhos oriundos da Educação, sobretudo nos autores Demo, Marques e Saviani. Apesar da variabilidade de autores e obras, ficou evidenciado, mesmo de forma incipiente, a presença com maior ênfase de pelo menos três orientações teóricas norteadoras, o Materialismo Histórico Dialético, a Teoria Crítica e a Teoria Crítica do Currículo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revista Motrivivência, analisada sob múltiplos enfoques e a partir de critérios diversos, constitui uma instância privilegiada para se estudar o debate no campo da Educação Física, pois faz circular uma diversidade de autores e estudos e uma variabilidade de linhas teóricas fundamentadas, sobretudo, nas Ciências Humanas e Sociais, especialmente sobre a graduação. Esse tema, por sua vez, se fez permanente na trajetória dos quinze anos da revista Motrivivência. Basta observar a distribuição quantitativa dessa produção presente em onze números dos dezenove publicados nesse periódico.

Considerando a produção veiculada sobre graduação, identificamos a recorrência de artigos voltados para a discussão sobre a Licenciatura, Currículo, Prática de Ensino e Estágio Supervisionado e Formação Profissional. No que se refere especificamente aos suportes teóricos, os achados indicam que, apesar da variabilidade de autores e fontes, as abordagens teóricas são marcadamente oriundas do campo das Ciências Sociais e Humanas, com ênfase para a orientação do Materialismo Histórico Dialético, da Teoria Crítica e da Teoria Crítica do Currículo.

Em face das discussões colocadas em voga pela aprovação das novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a área e da implantação/implementação em 2004 do processo de Avaliação Curricular dos Cursos de Educação Física, sob orientação do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), consideramos pertinente que Motrivivência, mantendo coerência com o seu projeto editorial, fomente mais uma vez e revigore o debate sobre a Licenciatura e a Graduação na Educação Física brasileira.

REFERÊNCIAS

ANDRADE FILHO, Nelson Figueiredo de. Formação profissional em educação física brasileira: uma súmula da discussão dos anos de 1996 a 2000. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 22, n. 3, p. 23-38, maio 2001.

ANDRADE FILHO, Nelson Figueiredo de; FIGUEIREDO, Zenólia Christina Campos. Formação profissional em educação física brasileira: súmula da discussão dos anos 2001 a 2004. In: CAPARRÓZ, Francisco Eduardo; ANDRADE FILHO, Nelson Figueiredo de (Org.). Educação física escolar: políticas, investigação e intervenção. Vitória: Ufes, Lesef: Uberlândia: UFU, NEPECC, 2004. p. 129-154. 2 v.

AROEIRA, Kalline Pereira. Currículo e formação docente em periódico de educação física: trilhando algumas questões da identidade do professor. 2004. 366 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.

______ . A constituição curricular no ensino fundamental, médio e superior no

Brasil: o debate na Revista Brasileira de Ciências do Esporte nas décadas de 1980 e 1990. 2000. 129 f. Monografia (Licenciatura Plena em Educação Física) - Centro de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2000.

 

AROEIRA, Kalline Pereira; FERREIRA NETO, Amarílio. Currículo e educação física na Revista Brasileira de Ciências do Esporte (1980-2000). In: FERREIRA NETO, Amarílio (Org.). Pesquisa histórica na educação física. Vitória: PROTEORIA, 2001. v. 6, p. 85-110.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. 8 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.

FERREIRA NETO, Amarílio. Atualidade da pesquisa histórica na educação física: congressos e campo científico. In: FERREIRA NETO, Amarílio (Org.). Leituras da natureza científica do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Vitória: PROTEORIA, 2004. p. 91-111. (Prelo).

FERREIRA NETO, Amarílio et al. Bibliografia sobre teoria da educação física em

periódicos brasileiros (1979 - 1999). In: __________ . (Org.). Pesquisa histórica na

educação física. Aracruz: Facha, 2000. v. 5, p. 151-192.

FERREIRA NETO, Amarílio et al. Catálogo de periódicos de educação física e esporte (1930-2000). Vitória: PROTEORIA, 2002.

FERREIRA NETO, Amarílio et al. Fórmula editorial e graduação: 15 anos de Motrivivência. Motrivivência, Florianópolis, ano XV, n. 20-21, p. 57-90, mar./dez. 2003.

GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

NASCIMENTO, Ana Claudia Silverio. Análise das características formais dos periódicos científicos da educação física brasileira: o caso da Revista Brasileira de Ciências do Esporte. 2002. 101 f. Monografia (Licenciatura Plena em Educação Física) - Centro de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2000.

SANTOS, Wagner dos. Avaliação na educação física escolar: análise de periódicos do século XX. 2002. 138 f. Monografia (Licenciatura em Educação Física) - Centro de Educação Física e Desportos, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2002.

SANTOS, Wagner dos; FERREIRA NETO, Amarílio; LOCATELLI, Andréa Brandão. O debate em periódicos sobre avaliação na educação física escolar: percurso e perspectiva. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DO ESPORTE, 13., 2003, Caxambu-MG. Anais... Caxambu-MG: CBCE/Autores Associados, 2003. 1 CD-ROM.

 

SCHNEIDER, Omar. A revista Educação Physica (1930-1940): estratégias editoriais e prescrições educacionais. 2003. 342 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação: História, Política, Sociedade, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003.

______ . Entre a correção e a eficiência: mutações no significado da Educação Física

nas décadas de 1930 e 1940 - um estudo a partir da revista Educação Physica. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Florianópolis, v. 25, n. 2, p. 39 - 54, jan. 2004

VENTORIM, Silvana; FERREIRA NETO, Amarílio. A revista Motrivivência e a produção do conhecimento sobre prática de ensino e estágio supervisionado em educação física. Revista do Mestrado em Educação, Sergipe, v. 6, p. 51-72, fev./jun. 2003.

Endereço para correspondência

Wagner dos Santos

Rua: Manoel de Barros, n. 22

Bairros: Triângulo João Neiva - ES CEP: 29680-000

E-mail: wagner@proteoria.org

Uma retomada da discussão tem ocorrido devido às novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a área da Educação Física. Para uma visão de síntese sobre o debate, consultar: Andrade Filho (2001); Andrade Filho e Figueiredo (2004).

 


[1]  Uma versão ampliada desse trabalho, Formula editorial e graduação: 15 anos de motrivivência, foi publicada no número comemorativo dos 15 anos da revista Motrivivência (ano 15, n. 20-21, mar./dez. 2003). Para maiores detalhes ver Ferreira Neto et al. (2003).

[2] Ver <www.proteoria.org> site em que estão armazenados os trabalhos já publicados pelo grupo.

[3]Entre os trabalhos publicados, destacam-se os seguintes estudos: currículo em periódicos (AROEIRA, 2000, 2004; AROEIRA; FERREIRA NETO, 2001); avaliação educacional em periódicos (SAnToS, 2002, 2003); avaliação de periódicos científicos (NASCIMENTO, 2002); ciclo de vida da Revista de Educação Física no período de 1932 a 2002 (FERREIRA NETO et al., 2003); Revista Motrivivência e a produção do conhecimento sobre prática de ensino e estágio supervisionado em educação física (VENTORIM; FERREIRA NETO, 2003); e estratégias editoriais e proposições educacionais na revista Educação Physica (SCHNEIDER, 2003, 2004).

[4] As denominações categoria, tema, e temática para os fins deste artigo, não receberam diferenciação conceitual.

 

[5]  Essa pulverização de artigos ocorreu também na Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE). Todavia, existiu uma concentração de dezessete artigos em 1999, provavelmente por conta da realização do XI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte que teve seus anais veiculados na RBCE. Ver mais em Aroeira (2004).

[6] Essa questão também foi apontada em Ventorim e Ferreira Neto (2003).

[7]  Para um debate mais aprofundado sobre esse subtema presente na revista Motrivivência, indicamos o trabalho de Ventorim e Ferreira Neto (2003), no qual buscam analisar a trajetória e o perfil desse periódico e o conteúdo expresso na produção do conhecimento sobre Prática de Ensino e Estágio Supervisionado em Educação Física. È importante ressaltar que os achados sistematizados nessa subcategoria se aproximam dos já apresentados por esses autores.

 

[8] Sobre esse assunto, indicamos mais uma vez o artigo de Ventorim e Ferreira Neto (2003).

 

[9]   Os dados evidenciados aqui se aproximam consideravelmente dos achados feitos por Ferreira Neto (2004), ao analisar o Grupo de Trabalho Temático: memória, cultura e corpo do Colégio Brasileiro de Ciência do Esporte.

 

 

 

Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA), http://www.proteoria.org
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Prévia do artigo FERREIRA NETO, Amarílio. Publicações periódicas de ensino, técnicas e magazine em educação física e esporte, 2004. LAUFF, Rafaelle Flaiman; FERREIRA NETO, Amarílio. A pedagogia e a educação física capixaba na Revista de Educação do Espírito Santo (1934-1937). In: II Seminário do CEMEF-UFMG, 2005, Anais... Belo Horizonte. Educação Física, Esporte, Lazer e Cultura urbana: uma abordagem histórica. Belo Horizonte : CEMEF-PROTEORIA, 2005. CD-ROM Próximo artigo
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WILL, Thiago ferraz; SCHNEIDER, Omar; ASSUNÇÃO, Wallace Rocha. Arquivos da Escola de Educação Física do Espírito Santo: o Ensino da História da Educação Física entre as Décadas de 1930 e 1960 In: Anais do X Congresso Luso Brasileiro de História da Educação, Curitiba, 2014
Thiago Ferraz Will
BRUSCHI, Marcela; SCHNEIDER, Omar; ASSUNÇÃO, Wallace Rocha. Professoras e autoras: circulação, apropriação e produção de saberes sobre a educação física no Espírito Santo (1931-1936) In: Anais do X Congresso Luso Brasileiro de História da Educação, Curitiba, 2014
Marcela Bruschi
WILL, Thiago Ferraz; SCHNEIDER, Omar; ASSUNÇÃO, Wallace Rocha; RIBEIRO, Denise Maria da Silva; LUCIO, Mariana Rocha; POLEZE, Grasiela Martins Lopes. o ensino da história da educação física: uma análise dos anais dos congressos de educação física, esporte e lazer. In: XVIII Congresso Brasileiro de Ciência do Esporte e V Congresso Internacional de Ciências do Esporte, 2013, Brasília.
Thiago Ferraz Will
ELLER, Marcelo Laquini; SCHNEIDER, Omar; SANTOS, Wagner dos. Revista Brasileira de Educação Física e Desportos: Impresso pedagógico e prescrições esportivas para a educação física (1968-1984). In: XVIII Congresso Brasileiro de Ciência do Esporte e V Congresso Internacional de Ciências do Esporte, 2013, Brasília.
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RIBEIRO, Denise Maria da Silva; LUCIO, Mariana Rocha; SCHNEIDER, Omar; ASSUNÇÃO, Wallace Rocha; POLEZE, Grasiela Martins Lopes; WILL, Thiago Ferraz. Colégio Estadual do Espírito Santo: relatos da educação física e do esporte em seu arquivo institucional (1943-1957)In: XVIII Congresso Brasileiro de Ciência do Esporte e V Congresso Internacional de Ciências do Esporte, 2013, Brasília.
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RIBEIRO, Denise Maria da Silva; LUCIO, Mariana Rocha; SCHNEIDER, Omar; ASSUNÇÃO, Wallace Rocha. Colégio Estadual do Espírito Santo: práticas de ensino de educação física e do esporte em seu arquivo institucional (1943-1957) In: XVIII Congresso Brasileiro de Ciência do Esporte e V Congresso Internacional de Ciências do Esporte, 2013, Brasília.
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BRUSCHI, Marcela ; SCHNEIDER, Omar ; SANTOS, Wagner dos; ASSUNÇÃO, Wallace Rocha. Presença feminina na escolarização da educação física no Espírito Santo (1931-1937). In: XVIII Congresso Brasileiro de Ciência do Esporte e V Congresso Internacional de Ciências do Esporte, 2013, Brasília.
Marcela Bruschi
SCHNEIDER, Omar; Bruschi, Marcela. A Revista de Educação e a escolarização da educação física no Espírito Santo: autores, atores e editores (1934-1937) In: VII Congresso Brasileiro de História da Educação, 2013, Cuiabá. Circuitos e fronteiras da história da educação no Brasil. 2013. 1 CD-ROM ISSN:2236-1855
Marcela Bruschi
SCHNEIDER, Omar; BRUSCHI, Marcela; SANTOS, Wagner dos; FERREIRA NETO, Amarílio. A Revista de Educação no governo João Punaro Bley e a escolarização da Educação Física no Espírito Santo (1934-1937). Revista brasileira de história da educação, Campinas, v. 13, n. 1 (31), p. 43-68, jan/abr 2013
Marcela Bruschi