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Artigos > Comunicação e Produção Científica em Educação e em Educação Física > VIEIRA, A. O. ; FEREIRA NETO, A. . ANÁLISE DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PESQUISA NARRATIVA DOCENTE EM EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO FÍSICA. In: Yoshie Ussami Ferrari Leite Alda Junqueira Marin Selma Garrido Pimenta Aline Maria de Medeiros Rodrigues Reali. (Org.). Política de formação inicial e continuada de professores. 1ed.araraquara: junqueira&marin editora, 2012, v. 1, p. 3701-3712 ( Capítulo de livro)

VIEIRA, A. O. ; FEREIRA NETO, A. . ANÁLISE DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PESQUISA NARRATIVA DOCENTE EM EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO FÍSICA. In: Yoshie Ussami Ferrari Leite Alda Junqueira Marin Selma Garrido Pimenta Aline Maria de Medeiros Rodrigues Reali. (Org.). Política de formação inicial e continuada de professores. 1ed.araraquara: junqueira&marin editora, 2012, v. 1, p. 3701-3712 ( Capítulo de livro)

ANÁLISE DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE PESQUISA NARRATIVA DOCENTE EM EDUCAÇÃO E EDUCAÇÃO FÍSICA

 

Aline Oliveira Vieira – SEDU/UFES

Wagner dos Santos – UFES

Amarílio Ferreira Neto – UFES

Membros do Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física – PROTEORIA

 

Apresenta um panorama do estado da arte sobre a formação docente e os usos de narrativas no âmbito da formação continuada no campo da educação e educação física. Para tanto usa como fonte e recorte temporal: os anais digitais da Associação Nacional de Pesquisa em Educação (2000 a 2010) em todos os grupos temáticos e os trabalhos encomendados nos Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino (2000- 2010) que se materializaram em livros e no campo da educação física os anais do Colégio Brasileiro de Ciência do Esporte e Revista Brasileira de Ciências do Esporte (2000 a 2009). Procuramos com o estado da arte das produções com narrativa e formação continuada na Educação e na Educação Física observar como os estudos científicos vêm se aproximando do cotidiano escolar; e como pesquisar e compreender os passos dados, os gestos praticados, as redes tecidas na ação de uma comunidade chamada escola, que faz a escrita de sua História, nas histórias dos seus praticantes, em especial, o ator chamado professor. Entendemos ser um fazer indispensável o diálogo com as práticas de pesquisa já produzidas, no intuito de identificar os avanços e possibilidades por elas sinalizadas. Foram identificados um total de 62 estudos na educação e 17 na educação física. As análises sinalizam um crescente aumento nos usos da pesquisa narrativa, no entanto, um movimento ainda tímido nos trabalhos da educação física. O ensino fundamental foi o lócus privilegiado dos estudos, tendo em contrapartida, a ausência de trabalhos, com essa perspectiva, no ensino médio. Evidenciou ainda a presença de diferentes diálogos teóricos nas pesquisas narrativas, indicando uma enriquecedora contribuição dos estudos na compreensão de processos formativos docentes.

 

Palavras-chave: Estado da arte. Formação docente. Narrativa. Cotidiano.

 

Introdução

Neste trabalho realizamos uma análise da produção do conhecimento sobre pesquisa narrativa e formação docente, na Educação e na Educação Física, para compreender o lugar que o tema vem ocupando no campo acadêmico, no diálogo com os seguintes questionamentos: de que maneira a produção sobre narrativas tem ganhado espaços de debate nas produções acadêmicas? Como se explicam os dados quantitativos dos estudos, por período de produção? Como a discussão sobre formação continuada se insere nesse contexto? Qual o entendimento das pesquisas sobre formação? Que limites e possibilidades os estudos com narrativas têm sinalizado às pesquisas sobre formação continuada?

Usamos como fonte e recorte temporal: os anais digitais da Associação Nacional de Pesquisa em Educação (2000 a 2010) em todos os Grupos Temáticos (GTs) e os trabalhos encomendados nos Encontros Nacionais de Didática e Prática de Ensino (2000 a 2010) que se materializaram em livros. No campo da educação física os anais do Colégio Brasileiro de Ciência do Esporte e a Revista Brasileira de Ciências do Esporte (2000 a 2009).

 

Os trabalhos nas reuniões anuais da ANPED e nos ENDIPEs: o movimento das pesquisas e seus lugares de atuação

Para selecionar os trabalhos utilizamos os seguintes procedimentos: a) busca pelos títulos dos trabalhos que trouxessem indícios do estudo com narrativa. Nesse momento, foram identificados por algumas palavras-chave, como: narrativas, formação, percursos, memórias, travessias, identidade, história oral, experiência, biografia, (auto)biografia, escritas de si, ciclos e processos de formação; b) leitura dos resumos, nos trabalhos da Anped, das pesquisas com proximidade à temática, narrativas e formação de professores; c) leitura completa dos textos selecionados posteriormente à execução dos itens anteriores. Mapeamos um total de 62 trabalhos, 38 nos GTs da Anped e 24 nos Endipes, conforme Gráfico 1.

Nos grupos temáticos pesquisados, anualmente, há, em média, doze trabalhos apresentados por GT, totalizando aproximadamente 240 estudos. Esses dados demonstram que as pesquisas com narrativas docentes na Anped, correspondem a aproximadamente a 16% do total apresentado. Nos Endipes os textos encomendados, a cada encontro, representam uma média de 219 trabalhos apresentados. No período mapeado, aqueles que discutiam narrativas e formação docente corresponderam aproximadamente a 11% do total.

O Gráfico 2 demonstra o fluxo descontínuo de estudos com narrativas no período pesquisado, tanto na Anped quanto nos Endipes, tendo uma maior presença nos anos mais recentes, 2008 e 2010. No ano de 2002, houve ausência de trabalhos na temática, nos dois encontros. Na Anped, a temática “Educação: lutas, avanços e utopias, fez emergir um maior número de discussões e, consequentemente, de trabalhos sobre políticas públicas educacionais. O ano de 2008 apresentou um número significativo de trabalhos com narrativas docentes no Endipe. Uma das possíveis causas é a temática central discutida “Trajetórias e processos de ensinar e aprender: lugares, memórias e culturas”.

No geral, a Anped concentra o maior número de trabalhos com narrativas docentes do que os Endipes.  O motivo pode ser justificado pelo fato de, além dos encontros da primeira acontecer anualmente, tendo com isso um maior número acumulado de estudos, as pesquisas apresentadas, nos grupos temáticos, parecem procurar um movimento de debate com seus estudos, na maioria, ainda em andamento e/ou recentemente concluídos de pós-graduação. Nota-se mais nestes, textualmente, a visualização do diálogo com as narrativas docentes, ao contrário dos trabalhos pesquisados nos Endipes, que se propuseram a discutir, em sua maioria, o debate teórico-epistemológico das possibilidades e limites do se pesquisar com narrativas no campo educacional. Além disso, nesses eventos, em termos quantitativos de apresentação de trabalhos, uma das causas a ser considerada, se deve ao local — região do Brasil — em que foi realizado. Assim, grupos de pesquisa que estão na proximidade, parecem ter tido uma maior presença.

Com relação à distribuição desses trabalhos nas seções da Anped e do Endipe, em sua maioria, localizaram-se nos locais de discussão sobre a temática formação de professores. O grupo temático Formação da Anped agrupou um total de 22 trabalhos com narrativas, o que correspondeu a 58% do total, trazendo principalmente as discussões de histórias de vida e percursos/trajetórias de formação docente, sendo foco investigativo privilegiado nos Endipes.

No entanto, os trabalhos com narrativas não se limitaram a grupos temáticos e seminários de formação de professores, podendo ser visualizados, nos GT Currículo com cinco estudos, e nos GTs Educação de Jovens e Adultos; Movimentos Sociais e; História da Educação (um trabalho em cada). Os grupos de Educação Matemática e Ensino Fundamental com dois trabalhos em cada. Com um trabalho em cada, outros grupos também vislumbraram pesquisas narrativas, sendo eles: Didática; Alfabetização e Letramento; Gênero e Sexualidade e; Educação e Comunicação.

O mapeamento identificou em linhas gerais, três tendências de investigação com narrativas docentes: as pesquisas sobre processos de formação contínua do professor que já atua no cotidiano escolar; trajetória dos futuros docentes em formação inicial e; a narrativa de currículos vividos/praticados na ação docente. Os trabalhos com narrativas de formação continuada foram, com os que focalizaram os currículos praticados, o maior número de pesquisas encontradas.  Os estudos com narrativas da prática docente e currículo totalizaram 42% dos trabalhos apresentados. A formação inicial de professores correspondeu a 16% das pesquisas com narrativas, sendo seis trabalhos apresentados nos ENDIPEs e quatro na ANPED. Vale ressaltar que quatro deles foram de Souza (2004; 2006; 2008; 2010).  

No gráfico 3, visualizamos  20 (32%) estudos que se deteve ao objeto formação continuada. O entendimento de formação foi delineado no diálogo com histórias de vida e experiências do magistério que vão desde antes da escolha pela carreira até sua aposentadoria. Destes, 13 foram encontrados na ANPED e 7 nos ENDIPEs.

Foram categorizados cinco trabalhos como outros, sendo aqueles que sinalizavam uma discussão mais ampla sobre o tema formação docente e pesquisa narrativa.

O ensino fundamental reuniu o maior número de estudos com narrativas de formação continuada docente, representando 50% do total de trabalhos apresentados, conforme gráfico 4. O ensino superior aparece com quatro trabalhos, que mostram de maneira geral, a preocupação em compreender como professores, principalmente de cursos de licenciaturas, aprenderam e aprendem a ensinar em seus ciclos de desenvolvimento profissional (ISAIA, BOLZAN, GIARDINI, 2007; ISAIA, MACIEL, BOLZAN, 2010; FERENC, 2007). Agrupamos a esses o estudo de Abraão (2008) apresentado no Endipe que investigava as “histórias de si”, a partir de memoriais de professores ao ingressarem nos cursos de mestrados e doutorados.

Os três estudos de narrativas docentes na formação continuada da Educação de Jovens e Adultos (PEREZ, 2001; VIEIRA, 2007; DIAS, 2008) procuraram discutir a formação no resgate das histórias de vida e práticas educativas docentes. Na categoria outro, com três trabalhos (FISCHER, 2008; ALVES, 2010; VIDAL; 2010), agrupamos as pesquisas que discutiram a formação continuada e a relevância do trabalho com narrativas docentes não as focalizando em um específico nível de ensino.

No que concerne às apropriações teórico-metodológico, se notou uma diversidade de usos epistemológicos. Souza et al. (2008) sinalizam que todo esse movimento de pesquisa-narrativa não pode ser julgado como um fator de disparidades e não convergências no contexto da educação. Em mapeamento dos trabalhos nos Congressos Internacionais sobre (auto)biografia (CIPA), os autores entendem que a variedade de práticas de pesquisa nos diálogos com docentes em sua “invenção de si” é positiva, na medida em que

[...] a aparente dispersão dos temas e trabalhos de nuances metodológicas adotadas é apenas uma decorrência dos modos de apropriação que partem motivações distintas e contam com alicerces também diversos, buscando responder de formas múltiplas as necessidades do campo educacional do país (SOUZA et al., 2008, p. 33).

 

A partir do diálogo teórico-metodológicos foi possível criar os seguintes agrupamentos: (1) Narrativa-história de vida na perspectiva biográfica e (auto)biográfica experencial, com 18 trabalhos; (2) Pesquisa por investigação narrativa, com 10; (3) Estudos no/do/com os cotidianos e narrativas por redes de conversação, imagética e (auto)biográfica, com 17 pesquisas; (4) Pesquisa-narrativa com História oral, com 8 trabalhos;  (5) Pesquisa-narrativa e linguagem, com 5; (6) outros, com 4 estudos.

As Pesquisas com histórias de vida na perspectiva biográfica/(auto)biográfica de abordagem experencial estabelecem diálogo teórico com Marie Christine Josso na proposta experencial de pesquisa, além dos estudos que se aproximam, como os de Antônio Nóvoa, Ivor Goodson, Delory-Momberguer, Gaston Pineu, Pierre Dominice e, no Brasil, Denice Catani, Belmira Bueno, Cynhia Pereira Souza e Elizeu Clementino Souza. O entendimento de narrativa traz diálogos com Walter Benjamin e Clonnelly e Clandinin. Nas duas perspectivas, a ideia é compreender a narração no ato da experiência contada como história no presente, no processo de rememoração do passado, e possibilidades de futuro. A narrativa é compreendida como ação investigativa e fenomenológica, e esta última é dialogada com Paul Ricouer. Os trabalhos se propuseram a discutir práticas de formação docente nas aproximações com as memórias de trajetórias do professor, nos momentos antes, durante e até posterior (no caso de professores aposentados) à docência. A maioria dessas produções defende uma perspectiva de pesquisa em um movimento chamado investigação/formação.

Na Pesquisa-narrativa e linguagem observamos umdiálogo maior com Jerome Bruner, que entende a narrativa como uma predisposição a gerar partilhas de experiência e, com isso, processos de aprendizagem. Nesse sentido, a narrativa forma conceitos e significados, que se diferem quando interpretados por uma investigação linguística. Nessa direção de análise os trabalhos trouxeram, além do diálogo com Bruner, aproximações com Mikhail Bakthin e Lev Vygotsky. Os estudos objetivaram investigar as narrativas de prática curricular docente.

Na Pesquisa por investigação narrativa, os trabalhos, em sua maioria, aliaram o diálogo com Clonnelly e Clandinin e, em menor quantidade, com Jovchelovitch e Bauer. A investigação narrativa perpassa, principalmente, a pesquisa com os ciclos de desenvolvimento profissional, no diálogo com Michel Huberman. São estudos que procuraram se utilizar da narrativa como método de pesquisa, possibilitando ao pesquisador “capturar” experiências docentes nas histórias narradas, no sentido de descrever o ponto de vista do narrado sobre determinados fatos e acontecimentos.

O Estudos no/do/com os cotidianos e narrativas por redes de conversação, imagética e (auto)biográficaque tiveram diálogo com Walter Benjamin no debate sobre narrativa/experiência e rememoração. Das apropriações de Michel Certeau, os pesquisadores trazem o entendimento de História e cotidiano praticado, estabelecendo intenso debate com as produções do campo do currículo, como Nilda Alves e Carmem Perez. A ação política do fazer docente dialogam com a sociologia das ausências e emergências de Boaventura Souza Santos, além das ideias de Paulo Freire no intuito de compreender que a prática docente, enquanto processo autoformativo. Foram também agrupados a essa categoria os estudos que procuraram compreender os movimentos do currículo vivido por cartografias. Traz a filosofia de Roland Barthes que compreende como narrativa, os acontecimentos em todos os lugares, imagem fixa ou móvel, presente na fotografia, na pintura, no cinema, nos vitrais de janela em conversações, enfim, na própria vida. O diálogo é ampliado com a filosofia de Gilles Deleuze sobre a noção de cartografias, acontecimentos e rizomas. São pesquisas que procuraram compreender a formação docente nas ações com os cotidianos escolares.

As Pesquisa-narrativa com história oraltrouxeram diálogos com estudos da Escola de Chicago, em especial, com Verena Albert e, no Brasil, contam com as contribuições de Ecléa Bosi e Maria Teresa Cunha. Os objetivos desses trabalhos foram compreender a narrativa como fonte para estudos de um determinado contexto/época da história da educação. A narrativa é investigada pela da história oral narrada, além de fontes escritas (auto)biográficas, como cartas e diários pessoais.

Em Outrosagrupamos os trabalhos que estabeleceram diálogo com diferentes autores tanto com uma das categorias acima, como com outros de pouca incidência, que não convinha agrupar nos demais.  Aqui estão estudos que compreenderam narrativas no diálogo com Jorge Larrosa, Michel Foucault e Antônio Bolívar. Os estudos discutiam mais a formação docente nas experiências do “conhecimento de si” e no diálogo com o outro.

Entendemos que as categorias expostas não foram divergentes com relação à perspectiva de um fazer ciência, no entendimento de colocar o docente no centro das pesquisas. No entanto, os movimentos teórico-metodológicos se diferem e parecem evidenciar os lugares próprios que os estudos optam em suas artes de fazer e em seu contexto de circularidade acadêmica (CERTEAU, 1994, 2006).

Pesquisa narrativa e a educação física: o debate no Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte e a Revista Brasileira de Ciência do Esporte

Embora seja constatado o aumento de produção do conhecimento na formação profissional de Educação Física, a aproximação do cotidiano escolar parece de maneira ainda tímida (MOLINA NETO; MOLINA, 2002; GUNTHER ET AL, 2003; COSTA ET AL, 2005). Compreender a escola como um lugarespaço autônomo, produtor de dinâmicas próprias, construídas nas artes de fazer e dizer de seus praticantes – a comunidade escolar, não tem sido a opção de grande parte da produção acadêmica. Molina Neto e Molina (2002) advertem que os estudos científicos da Educação Física na educação básica ignoram a capacidade de escuta a ação pedagógica na escola.

Nesse sentido, os autores sinalizam a necessidade de se traduzir a capacidade de escuta em procedimentos metodológicos centrados na história de vida dos professores e seus cotidianos escolares. Assim, nos lançamos ao mapeamento da produção de pesquisa narrativa no Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, em seus anais de congresso (CONBRACES) e revistas (RBCE) no período de 2000 a 2010.

Em relação às pesquisas com narrativa docente no campo da educação física, identificamos dezessete estudos, sendo doze nos anais dos congressos e cinco na RBCE, conforme gráfico 5. Nos grupos temáticos dos CONBRACEs vêm se mantendo uma média de trezentos trabalhos aprovados, nos últimos cinco encontros, sendo que os GTT Formação Profissional e Escola, juntos sinalizam 33,3 % do total de estudos.  Esses dados demonstram que as pesquisas com narrativas e Educação Física no cotidiano escolar corresponderam a um valor aproximado de 5% do total apresentado nesses dois grupos que discutem diretamente a temática.

A RBCE, desde 2001 vem publicando números quadrimestrais, sendo que cada uma traz em média dezesseis artigos, em um total de 328 trabalhos nos últimos dez anos. No período mapeado, aqueles que discutiam narrativas e Educação Física escolar corresponderam aproximadamente a pouco mais de 1% do total, cinco artigos. Também identificamos o fluxo descontínuo de estudos com narrativas e Educação Física no período pesquisado, tendo uma maior presença no ano de 2009, principalmente nos trabalhos apresentados no CONBRACE.

O mapeamento mostrou um movimento de pesquisa-narrativa delineada não somente no campo da formação, porém em uma presença reduzida nas discussões do currículo e da história da Educação Física e o cotidiano escolar. O identificado demonstra oito estudos sobre formação continuada, seis sobre práticas docentes e três sobre formação inicial.

Independente do campo investigado, os trabalhos sinalizam uma polifonia dos usos da narrativa nas suas artes de fazer e produzir pesquisa. Diante dessa diversidade de diálogo teórico-metodológico, agrupamos os trabalhos em: (1) Investigação-narrativa por entrevista nos estudos sobre ciclo de desenvolvimento profissional, identidade e práticas curriculares docentes, com 8 estudos; (2) A narrativa de história de vida no contexto da triangulação de fontes dos estudos etnográficos/caso de formação e currículo em Educação Física Escolar, com 3 trabalhos; (3) Pesquisas com Histórias de vida na perspectiva biográfica/(auto)biográfica de abordagem experencial, com 2; (4) A narrativa de imagem como fonte produzida por pesquisa-ação, com 2; (5) outros, com 2 produções.

As Pesquisas investigação-narrativa por entrevista nos estudos do ciclo de desenvolvimento profissional e identidade docente, constituíram uma maioria de 50% do total mapeado. Os estudos procuraram visibilizar os processos de formação ao longo da trajetória profissional docente analisando a transformação das identidades dos professores do ponto de vista pessoal-profissional desde a escolha da carreira a aposentadoria, trazendo a maioria diálogo teórico-metodológico com Michel Huberman, Ivor Goodson e Antônio Nóvoa.

Na Narrativa de história de vida no contexto da triangulação de fontes dos estudos etnográficos/caso de formação e currículo em Educação Física Escola, foram agrupados os estudos na perspectiva etnográfica e de caso que objetivaram compreender a prática pedagógica e de formação docente em seu fazer cotidiano no universo das escolas. No entanto, a narrativa de história de vida é tomada como um dos instrumentos de investigação no procedimento de triangulação de fontes, além de observação participante, registros em diário de campo e análises de documentos.

Nas Pesquisas com histórias de vida na perspectiva biográfica/(auto)biográfica de abordagem experencial, agrupamos osestudos que se propuseram a discutir práticas de formação docente por meio das aproximações das memórias e trajetórias com suas histórias de vida, nos momentos antes, durante e até posterior (no caso de professores aposentados) a docência, em perspectiva de pesquisa de investigação/formação. O diálogo teórico com Marie Christine Josso traz alicerce a essa proposta experencial de pesquisa, além dos estudos que se aproximam dos achados de sua pesquisa como os de Antônio Nóvoa e Ivor Goodson.

Na Narrativa de imagem como fonte produzida por pesquisa-ação nos estudos do currículo e formação docente, foram agrupados os trabalhos que analisaram e propuseram ressignificações na prática curricular da aula de Educação Física, por meio da pesquisa-ação colaborativa. Os objetivos das pesquisas eram instrumentalizar o docente da educação básica a lidar com recursos midiáticos e contextualizá-los qualitativamente em seus fazeres cotidianos escolares. Nesse sentido, a narrativa é compreendida como movimento cotidiano de ação docente, curricular e formativo, visualizado nas produções de vídeos das aulas de Educação Física pelos docentes e discentes, na construção de Blogs para troca de experiências formativas dos professores, sendo todo este material, fontes imagéticas analisadas como narrativa nos estudos desta categoria. O diálogo teórico-metodológico se estabelece com os estudos da filosofia da Escola de Frankfurt: no entendimento da narrativa e experiência com Walter Benjamin, e no de indústria cultural com Theodor Adorno. Além disso, o entendimento do debate de educação e mídia dialogou com Joan Ferres, e no entendimento acerca de trabalho docente com Antônio Nóvoa.

Na categoria Outros foi agrupamos trabalhos que possuíam diálogo com diferentes autores tanto de uma das categorias acima, como com outros que não apareceriam em congruência com os demais.

Ao sinalizarem os lugares de investigação no cotidiano escolar as práticas de pesquisa trouxeram a predominância de investigações no ensino fundamental, 55,5 % do total mapeado. Além disso, identifica estudos que se propuseram a buscar nos dois níveis – fundamental/médio, um número equiparado de docentes colaboradores para a pesquisa, sendo esta opção sinalizada em quatro trabalhos, 14,8% do total. Foram identificadas seis pesquisas no ensino superior e duas na Educação infantil.

 

Considerações Finais

No contexto da Educação Física, pudemos levantar alguns pontos que consideramos relevantes para área: (1) a produção com narrativas de formação continuada na Educação Física ainda é tímida se considerarmos o todo da produção que se enuncia nos CONBRACES e RBCE. Isso pode sinalizar uma dificuldade da área de pesquisar com o cotidiano escolar por olhares engessados em um fazer científico ainda preso em paradigmas que se preocupam no identificar, quantificar, constatar, denunciar em oposição ao compreender como os professores que praticam a educação básica cotidianamente, lidam no fazer diante de limites, dificuldades e ao mesmo tempo, possibilidades e avanços pedagógicos; (2) Ao se pesquisar com a escola, os estudos mapeados oferecem pouca visibilidade ao processo dialógico do professor pesquisado com o pesquisador. Isso dificulta o entendimento de como foram os caminhos metodológicos percorridos e os lugares ocupados pelos sujeitos em questão; (3) Ao dar vozvez ao docente que pratica o cotidiano escolar, as pesquisas com narrativa de formação continuada ainda deixam lacunar o lugar que ocupa o professor na pesquisa, dando indícios de que alguns estudos vão ao cotidiano para constatar, classificar os momentos da carreira que o docente se insere, perdendo com isso a riqueza que a pesquisa com histórias de professor podem trazer ao debate da formação docente em Educação Física; (4) A área da Educação Física estabelece intenso diálogo com os autores da Educação; (5) Tanto na Educação como na Educação Física, observamos ao silenciamento dos estudos na Educação Infantil e no Ensino Médio, evidenciando a necessidade de novas pesquisas.

Procuramos com o estado da arte das produções com narrativa e formação continuada na Educação e na Educação Física exercitar a ação de mais que olhar reparar em como os estudos científicos vem sem aproximando do cotidiano escolar, e como vão pesquisar e compreender os passos dados, os gestos praticados, as redes tecidas na ação de uma comunidade chamada escola, que faz a escrita de sua História, nas histórias dos seus praticantes, em especial, o ator chamado professor. Entendemos ser um fazer indispensável o diálogo com as práticas de pesquisa já produzidas, no intuito de identificar os avanços e possibilidades por elas sinalizadas, e com isso não meramente cairmos em um modismo do fetiche que muitas das vezes é circulado no meio acadêmico dos estudos em Educação e Educação Física.

 

Referências

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Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA), http://www.proteoria.org
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AROEIRA, Kalline Pereira, FERREIRA NETO, Amarílio. A constituição curricular no ensino fundamental, médio e superior no Brasil: o debate na revista brasileira de ciências do esporte nas décadas de 1980 e 1990. In: SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA , 53., 2001, Salvador. Anais... Salvador: SBPC, 2001. 1 CD-ROM. Próximo artigo
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BRUSCHI, Marcela ; SCHNEIDER, Omar ; SANTOS, Wagner dos; ASSUNÇÃO, Wallace Rocha. Presença feminina na escolarização da educação física no Espírito Santo (1931-1937). In: XVIII Congresso Brasileiro de Ciência do Esporte e V Congresso Internacional de Ciências do Esporte, 2013, Brasília.
Marcela Bruschi
SCHNEIDER, Omar; Bruschi, Marcela. A Revista de Educação e a escolarização da educação física no Espírito Santo: autores, atores e editores (1934-1937) In: VII Congresso Brasileiro de História da Educação, 2013, Cuiabá. Circuitos e fronteiras da história da educação no Brasil. 2013. 1 CD-ROM ISSN:2236-1855
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SCHNEIDER, Omar; BRUSCHI, Marcela; SANTOS, Wagner dos; FERREIRA NETO, Amarílio. A Revista de Educação no governo João Punaro Bley e a escolarização da Educação Física no Espírito Santo (1934-1937). Revista brasileira de história da educação, Campinas, v. 13, n. 1 (31), p. 43-68, jan/abr 2013
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