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Artigos > Comunicação e Produção Científica em Educação e em Educação Física > SCHNEIDER, O. ; FERREIRA NETO, Amarílio . Por uma teoria da Educação Física brasileira na imprensa de ensino, técnica e científica (1932-2005). In: VI Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, 2006, Uberlândia. Percursos e Desafios da Pesquisa e do Ensino de História da Educação. Uberlândia : Núcleo e Estudos e Pesquisas em História e Historiografia da Educação, 2006. v. 1.

SCHNEIDER, O. ; FERREIRA NETO, Amarílio . Por uma teoria da Educação Física brasileira na imprensa de ensino, técnica e científica (1932-2005). In: VI Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, 2006, Uberlândia. Percursos e Desafios da Pesquisa e do Ensino de História da Educação. Uberlândia : Núcleo e Estudos e Pesquisas em História e Historiografia da Educação, 2006. v. 1.

 

POR UMA TEORIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA NA IMPRENSA DE ENSINO, TÉCNICA E CIENTÍFICA (1932-2005)

 

AMARÍLIO FERREIRA NETO
Universidade Federal do Espírito Santo Professor do Centro de Educação Física e Desportos
Coordenador do Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA)

OMAR Schneider
Universidade Federal de Sergipe Professor do Departamento de Educação Física
Membro do Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA)[2]

Eixo Temático: Imprensa, Impressos e Discursos Educacionais

 

Introdução

O  estudo procura identificar os elementos constituidores de uma teoria da Educação Física brasileira a partir da imprensa periódica de ensino, técnica e científica, no período compreendido entre 1932 e 2005. Os recursos teóricos são oriundos de Roger Chartier, Carlo Ginzburg e Michel de Certeau. A imprensa no estudo éutilizada como fonte. No estudo trabalhamos com os conceitos de apropriação, de circularidade e de cultura ordinária. Assim como as noções de uso, consumo, tática e estratégia, oriundos dos referenciais que nos dão suporte.

Os periódicos utilizados como fonte foram definidos a partir da listagem do Catálogo de Periódicos da Educação Física e Esporte (1930 - 2000).A imprensa de ensino e técnica foi representada pelas Revistas de Educação Física(1932-2000) e Educação Physica(1932-1945). Jáa imprensa científica foi observada a partir da Revista Brasileira de Ciências do Esporte(1979­2005)e revista Motrivivência(1988-2005).

A Revista de Educação Físicafoi criada em maio 1932, sob chancela da Escola de Educação Física do Exército, para divulgar a prática da Educação Física na sociedade civil. Ela é o periódico de maior longevidade da Educação Física brasileira, seu ciclo de vida vai de 1932 atéa presente data, 2005, com o lançamento de 132 exemplares.

A revista Educação Physicafoi periódico produzido no Rio de Janeiro, por iniciativa de dois professores de Educação Física, Paulo Lotufo (editor no período de 1932 a 1945) e Oswaldo Murgel Rezende (editor no período de 1932 a 1944). Posteriormente a esses dois editores, somam-se Roland de Souza (editor no período de 1936 a 1941), e Hollanda Loyola (editor no período de 1939 a 1944). Nos treze anos em que o periódico circulou, foram lançadas 88 revistas.

A Revista Brasileira de Ciências do Esporte(RBCE), éum periódico que possui como agência chanceladora o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte(CBCE). O primeiro número foi publicado em 1979 e atéo ano de 2006 (primeiro trimestre) encontra-se no volume 27, n. 2. Contando-se todos números lançados atéo momento, conjuntamente com os suplementos, somam-se 83 revistas.

A revista Motrivivênciaéum impresso especializado sobre Educação Física lançado em dezembro de 1988. Atéo ano de 2005, foram publicados 21 exemplares. A revista se caracteriza como uma revista científica preocupada com temáticas relativas àprática pedagógica, com a discussão epistemológica e política da Educação Física.

No estudo as fontes foram agrupadas seguindo dois critérios. O primeiro deles diz respeito àdata de nascimento dos impressos e o segundo utiliza como referência as temáticas tratadas por cada uma das revistas, procurando nesse processo perceber as continuidades e descontinuidades que produzem as mutações, nas práticas de representação e nos discursos que a elas dão suporte.

Para examinar os núcleos discursivos veiculados pelos impressos que utilizamos como fonte, em primeiro lugar vamos nos ater às quatro primeiras décadas do século vinte e examinar por meio das Revistas de Educação Físicae Educação Physicaos indícios de uma teoria da ação que possui como alvo a produção de uma Pedagogia para a Educação Física. Em um segundo momento examinamos as quatro últimas décadas do século XX, percebendo por meio da Revista Brasileira de Ciências do Esporte,conjuntamente com a análise da revista Motrivivênciaas mutações, transformações e resignificações do conjunto de argumentos que buscam se firmar como possibilidade para a Educação Física agir como disciplina escolar. 

 

A pedagogia na Educação Física: indícios de uma teoria da ação na imprensa de ensino e técnica

Ao analisar o conjunto de argumentos que dão coerência àdiscursividade dos intelectuais que produzem sobre e para a Educação Física nas quatro primeiras décadas do século XX, e fazem essa produção ser veiculada por meio dos dois impressos analisados, percebemos que existe uma grande preocupação com o ensino e com os meios para se pedagogizar os saberes que constituem os fazeres da Educação Física.

Ao analisar as propostas de ensino da Educação Física veiculadas por meio da Revista de Educação Físicaem seus primeiros anos verificou-se que

O ensino da educação física [...] [era] ministrado sob a forma: de lições completas, abrangendo as sete famílias [Marchar; Trepar, escaladas e equilibrio; Saltar; Transportar e Carregar; Correr; Lançar; Atacar e Defender] com o objetivo de conseguir o desenvolvimento harmonioso do corpo; de sessões de jogos, destinada a substituir as lições uma ou duas vezes por semana, de sessões de esporte individuais e coletivos, que servem para o ensino e a prática de estilo e das regras e tática de cada um dêles, por fim, as sessões de estudo destinadas a preparar as lições completas de educação fisica geral e as desportivas (CAVALCANTI, 1932a).

As Lições de Educação Física,conjunto prescritivo veiculado como seção da Revista de Educação Física,pode ser compreendido como a principal fórmula empregada pelos editores do impresso para dar a ver os modos pelos quais os professores poderiam sistematizar os fazeres/saberes que compunham o núcleo prático do ensino. As Lições de Educação Físicaeram compostas por reuniões de exercícios variados e combinados que se pretendia que agisse sucessivamente ou mesmo simultaneamente em todos os órgãos do corpo ou em suas grandes funções, tendo como objetivo o aperfeiçoamento e a sua melhoria. Todas as lições[2] eram iniciadas por uma sessão preparatória, passando pela lição propriamente dita e terminando com a volta àcalma.

Por meio da sessão preparatória se preparava o organismo para o esforço a ser executado na lição propriamente dita. A seguir se iniciava a lição propriamente dita, a qual comportaria um ou vários exercícios pertencentes ás sete grandes famílias. Por fim, a volta àcalma imporia ao organismo retomar o seu estado inicial, por meio de marcha lenta com exercícios respiratórios, e terminaria com alguns exercícios de ordem, curtos e variados.

Ao observar a estruturação das aulas veiculadas, percebe-se que havia grande valorização dos jogos, tanto nas lições prescritas para serem aplicadas ao corpo da tropa quanto às crianças em processo de escolarização. Observa-se que a introdução dos jogos deveria ser feita no “momento oportuno”, ou seja, quando o instrutor notasse que sua classe demonstrasse um menor interesse pela aula.

Esse princípio da atração da lição éconsiderado pelos editores de grande importância e seu desenvolvimento dependeria do grau de habilidade do instrutor. Diziam eles: “[...] sótorna uma lição atraente, o instrutor que estáintegrado no seu papel e tem segurança de seu saber e conhecimento de seus alunos. Deste conhecimento resulta a introdução de meios destinados a tornar a lição agradável” (CAVALCANTI, 1932b).

Um outro princípio considerado necessário para que a lição fosse considerada bem aplicada, relacionava-se àdisciplina[3] aplicada pelo instrutor, tanto ao corpo da tropa quanto ao ato de ministrar aulas em outros espaços como escolas públicas e particulares.

Pode-se perceber a preocupação dos editores com a educação moral e não somente com a preparação física dos indivíduos. Este pensamento faz parte de um projeto mais amplo que tinha como objetivo a educação integral do ser humano, que estava de acordo com o plano de transformação social em vigor. Acreditava-se que somente pela educação se poderia regenerar a raça, formando indivíduos capazes de defender a pátria. Nesse contexto, a Educação Física deveria ser corretiva para permitir combater as más atitudes escolares e deveria também se apresentar de forma recreativa, dedicando um lugar considerável aos jogos.[4] 

Ao lidar com a revista em sua primeira fase se observou que alguns eixos, considerados científico-pedagógicos, como continuidade,a alternância,a graduação,a atraçãoe a disciplina deveriam estar presentes tanto na Educação Física aplicada no meio militar quanto na sociedade civil. Estes eixos encontravam-se subordinados às grandes linhas doutrinárias existentes no Exército: a hierarquia,a ordeme a disciplina,as quais orientavam toda ação institucional.

Como características das lições veiculadas podemos destacar o valor atribuído àexperiência, ou seja, o contato prático do aluno com os exercícios; valorização e utilização dos jogos no decorrer das aulas; valorização dos professores como mediadores do processo de ensino; adaptação dos conteúdos aos locais e ao grupo a que eram direcionados. Essas características assemelham-se em muito com a Educação Funcional,em que o educando deixaria de ser visto como mero receptor de conhecimentos para ser inserido no centro da prática educativa.

Pode se perceber que o modelo pedagógico veiculado pelos editores da Revista de Educação Físicatinha como objetivo o desenvolvimento integral do indivíduo existindo a preocupação não somente com o desenvolvimento físico, mas com o desenvolvimento intelectual e moral por meio das atividades empregadas. Somente com uma educação integral, entendia-se, poderia se regenerar a raça. Essa preocupação da regeneração da raça pode se constituir em um indício da circulação em meio a intelectualidade militar das teorizações de Edouard Claparède, o qual fundamentou seus estudos na teoria de Charles Darwin e em uma psicologia perspectivada a partir da biologia e do evolucionismo do tipo spenceriano.

Outra característica revelada pela análise das propostas de aula éo valor remetido àexperiência. Os editores, a partir do que veiculavam no impresso, deixam pistas, essas deixam ver que os intelectuais ligados ao Exército consideravam fundamental para a aprendizagem o contato prático dos alunos com o conteúdo proposto, ou seja, a experiência do “aprender fazendo” ou do “fazer para aprender”. 

Na análise dos artigos da Revista de Educação Física,percebe-se que havia um conjunto de textos que traziam os fundamentos da Biologia e da Pedagogia para o âmbito da Educação Física. Em suas especificidades apresentavam interesse pela educação infantil, visto que a partir desta seria implantado um método de Educação Física que seria a base da formação de uma sociedade forte, nacionalista e desenvolvida. Para isso, adotaram como linha mestra o método francês direcionado para Educação Física escolar, apoiados na necessidade da atividade física aplicada àinfância e dos exames médicos regulares. Contudo, percebeu-se durante o estudo uma correlação entre a Biologia e a Pedagogia, onde a primeira deu sustentação às práticas pedagógicas (seleção e distribuição dos alunos por meio dos grupamentos homogêneos em que ficaria mais fácil optar por determinadas atividades em função do desenvolvimento físico das crianças) e a segunda conferindo legitimidade às práticas realizadas em âmbito escolar. Desse modo, notou-se uma biologização da Pedagogia, de modo a fornecer cientificidade àdisciplina Educação Física e aos fazeres/saberes que a ela davam sustentação.

O outro periódico que circula no mesmo período que a Revista de Educação Físicaéa revista Educação Physica.Nos treze anos em que a revista Educação Physicafoi publicada percebemos que algumas seções estão presentes em quase todo o seu ciclo de vida. Uma delas, designada também Lições de Educação Física,[5]foi veiculada do número 35 (1938) ao 62 (1942). A seção Lições de Educação Física, assim como ocorreu na Revista de Educação Física, organizavam-se como um receituário, local em que os professores tinham prescritas todas as atividades que deveriam ser realizadas na condução de uma aula considerada exemplar.

Ao analisar as prescrições sobre como desenvolver uma aula considerada exemplar percebemos essa estratégia como uma tentativa de produzir a unidade de doutrina, uma organização que passava pela preparação do professor. A seção Lições de Educação Físicada forma como foi estruturada constituía-se como em um receituário prescritivo que abarcava nos mínimos detalhes os passos que deveriam ser realizados pelos professores na preparação do plano de aulas, ali indicando a idade em que o indivíduo poderia ser submetido a alguns tipos de exercitação, o tempo a ser dedicado a cada sessão, os gestos que deveriam ser realizados, formas de combinações possíveis entre cada gesto. Enfim, um modo de organização que colocava em cena modelos a serem imitados que, na visão dos editores do impresso, efetivamente serviriam de ferramenta para a intervenção.

Se produzir as lições que deveriam ser empregadas nas escolas não eram suficientes para determinar quais características o professor deveria desenvolver, a revista faz veicular representações sobre as qualidades que cada docente deveria cultivar para ser considerado um bom professor. Entre os textos publicados, encontra-se o produzido por Fernando de Azevedo (AZEVEDO, 1936, n. 8, p. 15-17), intitulado: O papel do professor moderno de Educação Physica, e o escrito por Hollanda Loyola (LOYOLA, 1940, n. 42, p. 9), com o título O professor de Educação Física.Esses artigos marcam por serem prescritivos, no sentido de especificar um perfil desejável para o professor. Como exemplo da discussão que éconduzida na revista sobre a formação do professor de Educação Física, Loyola faz o seguinte comentário:

[...] no conceito atual da verdadeira educação - a educação integral - êle [o professor] jánão émais o simples ‘mestre de ginástica’, o homem dos músculos hipertrofiados e das acrobacias sensacionais, o gigante da fôrça bruta, uma espécie de domador que as crianças temiam, e os rapazes respeitavam mais pelo mêdo do que pela consideração que se deve dispensar ao professor (LOYOLA, 1940, n. 42, p. 9).

Contra essa forma de perceber a atuação do professor de Educação Física, buscas-se produzir uma outra, em que ele passa a ser percebido como um educador. Nas palavras de Loyola: “Hoje ele [o professor] épor excelência o educador a quem incube tornar o homem um valor positivo, uma parcela útil dentro da coletividade humana através do preparo físico e da formação moral da mocidade” (LOYOLA, 1940, n. 42, p. 9).

Mas, para ser considerado um educador formado dentro dos princípios veiculados no periódico, esse professor deveria aperfeiçoar algumas qualidades. Essa formação, de acordo com Loyola, obedecia a alguns critérios, entre as quais figuravam:

Desenvoltura intelectual, preparo técnico, conhecimento de humanidades, linguagem apurada, conduta exemplar, atitudes dignificantes, fôrça de vontade, senso de justiça, noção do dever, amor àPátria, personalidade, idealismo, renuncia, convicção, disciplina, bondade e energia (LOYOLA, 1940, n. 42, p. 9). 

Para Loyola (1940, n. 42, p. 9), essa “[...] deve ser a mentalidade do moderno professor de educação física, o princípio que deve nortear a realização dos seus objetivos, as normas de sua conduta na escola e sociedade”. Desse modo, ele será“[... ] por excelência o educador [... ] [que] a mocidade seguirá, entusiasta e bela, forte e sobranceira, elevando a Pátria” (LOYOLA, 1940, n. 42, p. 9).

Percebe-se nas palavras de Loyola o embate entre duas formas de se representar o professor de Educação Física. De um lado, aquela que desacredita o seu papel educativo dentro da escola.[6] De outro, a revista faz circular uma imagem positiva do profissional, no qual ele éum modelo de comportamento, pela alegria e disciplina com que abraça a causa da melhoria da raça e da missão regeneradora dos hábitos que deve constituir o seu sacerdócio. Nesse processo éincentivado a dominar e fazer uso de conhecimentos provindos de diferentes ciências para formar física, intelectual e moralmente a mocidade brasileira.

Relacionados aos fazeres/saberes considerados prioritários para a formação do professor de Educação Física, os diretores fazem circular, por meio da revista, conhecimentos sobre as regras, sobre o domínio técnico dos esportes, sobre as modalidades de ginástica, da dança e das estratégias dos jogos. Nesse rol de conhecimentos, encontram-se também aqueles que buscam fundamentar os professores para discutir a Educação Física em outros domínios. Entre estes estão: os conhecimentos relacionados com a Fisiologia Humana, a Higiene e Puericultura, a Pedagogia e a História da Educação Física e dos Esportes. Também fazem saber aos leitores quais foram as grandes personalidades da Educação Física, os grandes propagadores dessa disciplina no Brasil e em outros países, os fatos que marcaram sua história e a relação dos clássicos do pensamento filosófico/educacional com a Educação Física.

Ao mesmo tempo em que os diretores apresentam um modelo que deve ser seguido pelo professor, no qual devem estar presentes qualidades como: vitalidade, virilidade e resistência física, não deixam de indicar que essas são insuficientes, pois, nesse novo modelo, deve estar presente a desenvoltura intelectual e o conhecimento de humanidades. Mas essas capacidades, de acordo com os diretores da revista Educação Physica,não deveriam se desenvolver sem linguagem apurada, conduta exemplar, atitude dignificante, força de vontade, senso de justiça, noção do dever, amor àPátria, personalidade, idealismo, renuncia, convicção, disciplina e bondade. O que de acordo com os diretores, faria com que a Educação Física fosse reconhecida como atividade necessária ao bom desenvolvimento da sociedade brasileira, do mesmo modo, garantindo-lhe significado como disciplina escolar.

Para concretizar esses objetivos, muitos autores se mobilizam ou são mobilizados, autores que escrevem para a revista, produzindo ou traduzindo e se empenhando em congregar para a causa da Educação Física intelectuais e autoridades do meio social, vivos ou falecidos, nacionais e estrangeiros.

Em uma seção chamada Educação,veiculada a partir do número 24 (1938), a estratégia de mobilizar autores que, de alguma maneira, contribuíssem para o discurso da Educação Física como prática educacional começa a ser realizada. Nessa seção, utilizam-se obras de autores de renome, vivos ou falecidos, do pensamento educacional.

Expõe-se aos leitores o que grandes educadores/estadistas nacionais e internacionais disseram ou diziam sobre a Educação Física. Desse modo, recorrem ao pensamento de Manoel Bomfim, Everaldo Backheuver, Gustavo Capanema, Émile Durkheim, Jean Jacques Rousseau, Pestalozzi, John Dewey, Édouard Claparède, Maria Montessori, Priedrich Froebel entre outros, enfatizando suas prescrições sobre a necessidade de incorporar a Educação Física em um plano educacional.

Pelo que se pode notar os primeiros periódicos produzidos sobre Educação Física marcam por serem prescritivos e por funcionarem como Caixa de Utensílios,repositório em que os professores poderiam com facilidade encontrar lições a seguir, aconselhamentos sobre a prática e por abraçarem a um sótempo os conhecimentos provenientes de diferentes esferas epistemológicas como as Ciências Biológicas e Humanas.

O contato com o ideário da Escola Ativa e o valor atribuído àexperiência como princípio da aprendizagem, assim como a ampla circulação no impresso de autores, que se não escrevendo diretamente para as revistas, mas sendo traduzidos pelos editores e seus colaboradores, indica que as questões debatidas pela pedagogia não estão distantes do universo pelo qual circula os autores que debatem sobre a Educação Física. Assim na composição de um corpo de conhecimentos pela e para a Educação Física o que percebemos éo processo de apropriação e transformação de matérias sociais que estão circulando. Dessa cultura em circulação os intelectuais fazem uso de acordo com os interesses que possuem de significar um lugar para a disciplina Educação Física na escola e de fazer com que outros façam aderência aos mesmos ideais.

 

A biologia, a psicologia, a pedagogia e as ciências humanas: saberes e práticas na imprensa científica (1979-2005)

Estudos examinando a RBCE, no período compreendido entre os anos de 1979 a 1987, mostram fortemente a presença da Biologia nas pesquisas realizadas com crianças em idade escolar.

Os principais achados da RBCE, no período de 1979-1987, indicaram uma predominância da área biológica em seus estudos, com quinze trabalhos que problematizaram as subáreas Antropometria, Somatotipo e Aptidão Física. Os estudos da Biologia foram veiculados como meio privilegiados para o conhecimento do ser humano, bem como intencionavam fornecer uma noção clara acerca da interação entre o homem e o meio. A Psicologia, com seis estudos focados na subárea Psicologia do Esporte, surge no mapeamento como um dos saberes fundamentais para uma teoria educacional, advogada como meio privilegiado para o professor conhecer com mais profundidade o educando. O grande eixo da Pedagogia apresenta seis trabalhos distribuídos em quatro subáreas: Políticas Públicas, Métodos de Ensino, Debate Sobre Currículo e Metodologia de Trabalho. Por último, a Sociologia que, com dois estudos, discute a subárea Sociologia do Esporte.

Sobre o intervalo de 1988-2005, percebe-se que a Revista Brasileira de Ciências do Esporte, analisada sob múltiplos enfoques e a partir de critérios diversos, constitui uma instância privilegiada para se estudar o que as diferentes ciências “mães” trazem de contribuição para o campo da Educação Física.

O representativo número de artigos que contemplou a área da Pedagogia (42), em suas variadas subáreas, indica uma demanda por informações que pudessem fornecer respostas para questões que afligiam a Educação, em especial a Educação Física. Desses 42 trabalhos, 20 estão na subárea Ensino/Aprendizagem, oito em Metodologia, dez em Currículo, dois em Aptidão Física 

como questão Pedagógica, um em Avaliação e um em Formação Profissional. Os achados indicam que, apesar da variabilidade de autores e fontes, as abordagens teóricas da área da Pedagogia são marcadamente oriundas do campo das Ciências Sociais e Humanas, com destaque para o Materialismo Histórico Dialético, Teorias Críticas do Currículo, Teoria Dialética da Aprendizagem Social e Método Dialético Hermenêutico. Embora com denominações distintas, todas essas abordagens são oriundas de uma mesma matriz teórica, o Marxismo, em suas diferentes possibilidades de leitura.

A Biologia apresentou nessa fase oito trabalhos que discutiram as mesmas subáreas da primeira fase. Entretanto, observou-se uma diferença no foco das pesquisas, uma vez que, no intervalo de 1979-1987 deu-se maior enfoque àsubárea Antropometria seguida da subárea Somatotipo e, por último, a Aptidão Física. Jáno intervalo de 1988-2005, houve uma inversão em que questões sobre Aptidão Física, discussões sobre Somatotipo e Antropometria foram secundarizadas. Nesse período a Sociologia e a Antropologia como matrizes teóricas passam a ter crescentes incidências sobre os modos como os autores dos trabalhos veiculados passam a se aproximar das questões ligadas a Educação Física. Nesse processo a cultura passa a ser um campo reconhecido como possibilidade integradora dos saberes e discussões que circulam no âmbito do impresso.[7]

Quando se examina o impresso pode-se perceber que mesmo pesquisadores que produzem pesquisas voltadas para o estudo de fenômenos ligados a áreas como a Biodinâmica do Movimento Humano e Comportamento Motor Humano tenham a intenção de traduzir suas descobertas para um formato que possam debater os modos como os achados podem ser pedagogizados para a intervenção na escola.

A revista Motrivivênciaéum impresso identificado com a escolarização da Educação Física a partir de referenciais oriundos das ciências humanas e sociais aplicadas, chegando mesmo a se opor radicalmente a conhecimentos marcados pelas Ciências Biológicas e Ciências Exatas. Com base no corpusoriundo dessa revista, principalmente a partir da leitura de suas seções, considerando sua diversificação, a produção veiculada em temas como Licenciatura,com 9  trabalhos (25%); Currículo,com 11 estudos (31%); Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, com 10 (27%) e Formação Profissional,com 6 (17%).

No que se refere especificamente ao suporte teórico utilizado nas pesquisas, os achados sistematizados indicam uma variabilidade grande de autores e obras combinada com a baixa freqüência de aparição nos diversos estudos presentes no tema Licenciatura.Para isso, basta observar que o único autor e obra de referência que aparece em dois trabalhos diferentes éAdorno (1995) na obra “Educação e emancipação”. Os demais autores aparecem somente uma vez. Dentre eles, destacam-se: Adorno, Adorno e Horkheimer, Habermas, Lefebvre, Deleuze, Guatarri e Rolnick, Rolnick, e Foucault. No debate específico sobre a discussão das representações sociais sobre o homossexualismo presente nos trabalhos de Inácio (1994) e Rosa (2002), identificamos referência aos autores Louro, Funck, Goffman, Amparo Parra, Mead, Romero, Saraiva e Kunz, Scott.

É característica marcante nos artigos veiculados no impresso o uso de referenciais teóricos advindos da grande área da educação, fundamentando-se em autores como Demo e Saviani. No que diz respeito aos estudos no campo da Educação Física, as maiores referencias são: Hildebrandt e Laging e Kunz. Desses autores, os trabalhos de Kunz (1991, 1994), “Educação física: ensino e mudança” e “Transformação didático-pedagógica do esporte”, são os únicos que aparecem em dois estudos diferentes no tema Licenciatura. Os demais autores são referenciados apenas uma vez.

A revista Motrivivência,analisada sob múltiplos enfoques e a partir de critérios diversos, constitui uma instância privilegiada para se estudar o debate no campo da Educação Física, pois faz circular uma diversidade de autores e estudos e uma variabilidade de linhas teóricas fundamentadas, sobretudo, nas Ciências Humanas e Sociais.

No que se refere especificamente aos suportes teóricos, os achados indicam que, apesar da variabilidade de autores e fontes, as abordagens teóricas são marcadamente oriundas do campo das Ciências Sociais e Humanas, com ênfase para a orientação do Materialismo Histórico Dialético, da Teoria Crítica e da Teoria Crítica do Currículo.[8]

Em seus primeiros anos uma linha teórica que se torna muito presente e que demarca o caminho seguido pelos editores do impresso, assim como pelos intelectuais que publicam na revista diz respeito a uma discursividade sobre e para a Educação Física que alinhava seus fios a narrativa adoção do Materialismo Histórico Dialético, tanto de forma explicita como implícita. Mas quando voltam a atenção para a discussão de temáticas como currículo, percebemos o uso de autores como Aplle e Domingues, os quais são referências importantes e utilizados em conjunto com as reflexões de Castellani Filho, Costa e Ghiraldelli Júnior sobre o campo da Educação Física.

Os trabalhos que discutem questões das teorias críticas do currículo partem de uma mesma matriz teórica, qual seja, a Sociologia e Teoria Crítica de Currículo, fundamentada principalmente na obra de Aplle intitulada Ideologia e currículo,e na obra de Domingues nomeada “Interesses humanos e paradigmas curriculares”, presentes em três trabalhos. Jáos estudos de Giroux, “Teoria crítica e resistência em educação”; de Moreira, Currículos e programas no Brasil; e de Silva, A construção do currículo na sala de aula,aparecem em dois dos quatro trabalhos desse tema. Nessa perspectiva teórica, identificamos ainda a referência ao trabalho de Burnham e aos trabalhos de Goodson, ambos em estudos diversos.

Nas discussões que os autores que circulam no impresso empreendem sobre o tema Licenciatura, encontramos alta variabilidade de autores e obras, na qual nenhum deles aparece em mais de um trabalho. Entre os autores de referência citados nesses trabalhos, destacam-se Foucault, Heller, Larrosa, Lefebvre e Vazquez. Érelevante salientar o diálogo existente com as produções teóricas no campo educacional, dentre os quais se destacam os seguintes autores: Arroyo, Candau, Luiz Carlos de Freitas, Gadotti e Saviani. No campo da Educação Física, aparecem com relevância os estudos de Marques e Taffarel.

Quanto às teorias que oferecem suporte aos estudos, identificamos um contingente enorme de autores e obras, tanto no campo da educação como no da Educação Física. No campo da Educação Física, encontramos duas linhas teóricas, uma que estamos denominando aqui de teórico-metodológica e outra específica sobre a discussão da prática de ensino e estágio supervisionado. Na primeira, encontramos referência aos trabalhos de Hildebrandt e Langing, João Batista Freire e Coletivo de Autores. Desses autores, os únicos que são referenciados em três trabalhos são Hildebrandt e Langing. Na segunda linha teórica, encontramos referência aos estudos de Mocker, Ventorim, Wiggers. Identificamos também os autores que se apóiam nos estudos de Adorno, Adorno e Horkheimer, Habermas, Benjamin.

Na revista Motrivivênciapercebemos uma grande preocupação dos autores da Educação Física em buscar aportes teóricos e diálogos com estudos realizados no campo da educação, sobretudo aqueles que procuram discutir sobre a formação profissional e Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, dentre os quais encontramos autores como Demo, Boufleuber; Fazenda, Piconez e Marques. Quanto ao uso dos referenciais oriundos do campo da Educação Física, identificamos a presença dos estudos de Bracht e Lovisolo em apenas um dos trabalhos.

Finalmente, a partir do mapeamento dos estudos sobre a temática Graduação, Licenciatura, Currículo, Formação Profissional, Prática de Ensino e Estágio Supervisionado, grosso modo, tanto pela intensidade da publicação quanto pelas questões abordadas e pela identificação do suporte teórico dos trabalhos, podemos apontar a diversidade como característica marcante na produção veiculada por meio do impresso.

As questões problematizadas pelos estudos podem, de maneira geral, apontar um comprometimento desse periódico em promover o debate acadêmico, divulgar o conhecimento produzido na área e, sobremaneira, provocar a necessidade de uma intervenção educacional mais qualificada.

Os achados sistematizados atéo momento indicam, de maneira geral, que a situação dos trabalhos encontrados na revista Motrivivência[9]evidencia as seguintes configurações: 1) os que não indicam suporte teórico; 2) os que indicam as abordagens teóricas a partir dos autores de referência na teoria, sobretudo os estudos no campo das Ciências Sociais e Humanas; 3) os que indicam o suporte teórico a partir de bibliografia secundária. Outra característica marcante nesses estudos éa busca pelo diálogo com os trabalhos oriundos da Educação, sobretudo em Demo, 

Marques e Saviani. Apesar da variabilidade de autores e obras, ficou evidenciado, mesmo de forma incipiente, a presença com maior ênfase de pelo menos três orientações teóricas norteadoras, o Materialismo Histórico Dialético, a Teoria Crítica e a Teoria Crítica do Currículo.

 

Considerações finais

A imprensa de ensino e técnica, particularmente a Revista de Educação Física(1932­2000)e a revista Educação Physica(1932-1945), promove uma assepsia no que havia de “força política” na Escola Nova, enquanto deu ênfase a seu caráter pragmático, funcional e utilitário. Por outro lado, a imprensa científica, representada pela Revista Brasileira de Ciências do Esporte (1979-2000), materializa a antropometria pedagógica expressa na produção sobre somatotipologia e aptidão física em seus primeiros anos. Em conjunto com a revista Motrivivênciamobiliza, em fins da década de 1980, pelo que demonstramos, uma oposição político-ideológica nítida entre a presença crescente de estudos de viés pedagógico nos periódicos (Ensino/Aprendizagem, Currículo, Metodologia, Políticas Públicas Educacionais/Legislação, Avaliação, Formação Profissional, Atividade Física como questão Pedagógica e Estudos da Personalidade) contra a vertente que marca as Lições de Educação Físicacomo meio de produzir a unidade de doutrina veiculadas nos impressos de ensino e técnicos da década de 1930.

O período em que nasce a RBCE e a revista Motrivivênciapode ser considerado como um momento muito importante para a Educação Física. Na década de 1980, realiza-se o diagnóstico de que a Educação Física estava em crise, ou necessitava entrar em crise, a tentativa, então, era a de superar o modelo que a ela dava suporte.

Se perspectivarmos que uma modalidade de discurso que animou o debate de parte dos intelectuais da Educação Física, na década de 1980 e início da década de 1990, foi o discurso politicamente engajado, que buscou tratar predominantemente da função da Educação Física na escola a partir de uma teoria crítica da sociedade podemos considerar que os dois impressos nascidos em fins da década de 1970 e inicio da década de 1980 configuram-se como uma síntese das discussões produzidas nos últimos anos pela área. 

Exemplo das modificações que ocorre na Educação Física, ou nas formas de representar um sentido para essa disciplina na sociedade e de forma mais específica na escola, podem ser evidenciadas pelas duas representações sobre a Educação Física veiculadas no primeiro número da revista Motrivivência.Essas representações são apresentadas na figura de dois homens, um velho, alquebrado, de cabelos e barba branca e com a face enrugada. Esse homem, representando a tradição, segura sobre um fundo escuro uma lista semi-enrolada em que se pode ler o que se considera como o que deveria ser superado: calistenia, ginástica corretiva, pesos e halteres, método francês, método natural austríaco, ginástica sueca, ginástica dinamarquesa, desportiva generalizada e Educação Física. De costas para esse homem jávelho e seus saberes ultrapassados, imprime-se outro com a face jovial e o corpo rijo, o qual transporta como estandarte o que se considerava como os saberes capazes de fomentar a produção do novo homem: ciência da motricidade humana, antropologia cultural, ética profissional, relações humanas, comunicação em Educação Física, pesquisa, ludicidade, consciência corporal, cultura esportiva brasileira e cultura popular.

Os impressos analisados, principalmente nas últimas três décadas século XX, são a expressão viva do caráter multidisciplinar da Educação Física brasileira e apontam uma (in)definição no campo científico, uma vez que, como área de conhecimento, tanto podem se justificar entre as ciências humanas e sociais como entre as ciências da saúde. Todavia, essa (in)definição pode colocar em xeque o processo de escolarização da Educação Física ocorrido no século XX. A área vive numa situação pendular que se caracteriza por escolarização incompleta e indícios de desescolarização.

Os principais resultados apontam que as instituições médica, militar e educacional são o lócus que possibilita uma forma particular de teorizar sobre a Educação Física brasileira. A síntese desse debate institucional, a partir da segunda metade do século XIX, impacta e aparece com nitidez na imprensa periódica da Educação Física atéfins da década de 1940, a qual pode ser percebida pela busca de uma teoria da ação que se apropria sistematicamente de conhecimentos das ciências biológicas, das ciências humanas e das ciências sociais aplicadas como recurso tático para confirmar a estratégia de implantação e consolidação do componente curricular Educação Física nas escolas e nas universidades do País.[10]

Pelo que se notou ao estudar as revistas e os modos como os intelectuais buscam desenvolver uma teoria para a Educação Física em fins do século XX, existe um afastamento dos estudiosos, principalmente dos que fazem seus estudos circular na RBCE e revista Motrivivência, das áreas ligadas às ciências biológicas, ficando essa secundarizada no momento de projetar um conjunto de saberes capazes de significar um lugar para a Educação Física no ambiente escolar. Pelo que se percebeu, diferente do que ocorreu no inicio do século XX, os intelectuais que buscam organizar um discurso que possibilite pensar a Educação Física agindo sobre o desenvolvimento do corpo, do intelecto e da sensibilidade não estápresente, questões ligadas a áreas biológicas são relegadas àtradição por isso tidas como ultrapassadas e sem sentido quando se toma a cultura como ponto de partida e de chegada.

Referências

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Caixa de Utensílios

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CAVALCANTI, Newton. Unidade de doutrina. Revista de Educação Fisica, Rio de Janeiro, ano 1, n. 3, [s. p.], jul. 1932b.

CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. São Paulo: Difel, 1990.

CLAPARÈDE, Edouard. A educação funcional. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1958.

CLAPARÈDE, Edouard. A escola sob medida. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura S.A., 1959.

DEWEY, John. Democracia e educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1952.

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FERREIRA NETO, Amarílio et al. Catálogo de periódicos de educação física e esporte (1930­2000).Vitória: PROTEORIA, 2002.

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GINZBURG, Carlos O queijo e os vermes: o cotidiano e as idéias de um moleiro perseguido pela inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

GINZBURG, Carlos. Mitos emblemas e sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 1989b.

LHOTE. Um ano mais. Educação Física, Rio de Janeiro, n. 86, p. 9, maio/jun. 1945.

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MARINHO, Inezil Penna. Conceito bio-sócio-psico-filosófico da educação física em oposição ao conceito anátomo-fisiológico. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Rio de Janeiro, ano 1, n. 2, p. 23-38, fev. 1944.

 


[2]

 

 

[2]Todavia, nas lições, os objetivos, conteúdos, metodologia, recursos físicos, materiais didáticos e avaliação são diferentes conforme a instituição: Exército ou escola. Essa assertiva pode ser conferida no impresso tanto na descrição das lições como nas imagens (fotografia e crokiart).

 

[3]Segundo Dewey (1952), disciplina équando o indivíduo sabe o que deve fazer e o faz prontamente, ou seja, mesmo quando uma atividade exige tempo, quando apresenta obstáculos e a persistência na sua realização éindispensável, então essa persistência seria uma forma de disciplina. A resistência frente às dificuldades para a realização de uma determinada atividade também éconsiderada disciplina. Ele completa dizendo: “[... ] Disciplina significa energia ànossa disposição; o domínio dos recursos disponíveis para levar avante a actividade empreendida” 4DEWEY, 1952, p. 180).

A importância dos jogos éexpressa em 31 artigos publicados entre janeiro de 1933 e julho de 1958 por militares e civis. Os oficiais Antônio Pereira Lira, IvanhoéGonçalves Martins, Inácio de Freitas Rolim, Jair

 

Jordão Ramos, Joséde Almeida Neves, Ilídio Romulo Colônia e o sargento C. B. Lobo escreveram treze artigos. Jáos civis Arthur Ramos, Mario Filho, Jair da Graça Raposo, Ilídio Alcântara Abade, Haydée Costa, Otávio Gonsaga e Neusa Feitál escreveram dez artigos. Ainda foram localizados oito artigos não assinados. Aqui se observa mais um sinal de que o trabalho de definição, explicação e prescrição de práticas corporais tanto para civil quanto para militar éfeito por cooperação mútua desses segmentos da sociedade. Háevidências no impresso de que, àmedida que vão se formando os profissionais civis, os militares vão se afastando da discussão afeta àescolarização do componente curricular Educação Física.

 

[5]As prescrições veiculadas na seção Lições de Educação Físicaabarcavam todos os graus de ensino e forneciam aos professores de Educação Física um itinerário de como deveriam ser estruturadas as aulas.

 

[6]   De acordo com Lhote, os professores dessa disciplina eram “[...] olhados como ginastas, profissionais de exibicionismo [...] [e a Educação Física como] imoral e corruptora de costumes” (LHOTE, 1945, n. 86, p. 9).

 

[7]  As abordagens que dominam o debate acadêmico atual e que são citadas no decorrer dos trabalhos analisados, no período de 1988-2005, são: abordagem desenvolvimentista, abordagem da educação psicomotora, abordagem da Educação Física de corpo inteiro, abordagem da educação para a saúde, abordagem das aulas abertas a experiências, abordagem crítico- superadora e abordagem crítico-emancipatória.

[8]  Éimportante destacar a dificuldade encontrada em identificar os referenciais teóricos utilizados nos estudos, haja vista que apenas um deles indica, ao final do trabalho, as referências utilizadas.

13

 

[9]Os dados evidenciados aqui se aproximam consideravelmente dos achados feitos por Ferreira Neto (2004), ao analisar o Grupo de Trabalho Temático: memória, cultura ecorpo do Colégio Brasileiro de Ciência do Esporte.

[10]A hipótese de fundo éque uma teoria da Educação Física brasileira, constituída no século XX, éresultante de incorporações sistemáticas de conhecimentos oriundos das Ciências Exatas, Ciências Biológicas e Ciências Humanas e Sociais. Éinevitável o reconhecimento de que tal hipótese jáestava posta na década de 1940, nos estudos de Inezil Penna Marinho (1944). Hipótese essa “amordaçada” por supostas críticas nos últimos 25 anos na Educação Física brasileira. Mas, como as páginas da RBCE podem indicar, a hipótese tem vigor e, por contradição, resiste no interior da produção veiculada na RBCE. O que a “ideologia” não deixou ser percebida pela comunidade científica foi sua presença contínua, duradoura e integradora.

 

 

Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA), http://www.proteoria.org
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Prévia do artigo SCHNEIDER, O. ; BERTO, R. C. . Saúde, higiene, Educação Física e cultura escolar: um olhar sobre a infância a partir da revista Educação Physica. In: IV Congresso Brasileiro de História da Educação, 2006, Goiânia. A educação e seus sujeitos na história. Goiânia : SBHE, 2006 NASCIMENTO, Ana Claudia Silverio; Andreia GOMES, Anchieta de Oliveira. A comunicação científica na educação física: avaliação de periódicos brasileiros. In: CONGRESSO ESPÍRITO SANTENSE, 11., 2011, Vitória. Anais... Vitória: CEFD/UFES, 2011. Próximo artigo
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