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Artigos > Comunicação e Produção Científica em Educação e em Educação Física > SCHNEIDER, Omar; FERREIRA NETO, Amarílio; SANTOS, Wagner dos. O papel dos editores de impressos científico-pedagógicos na constituição do campo da educação física: o caso da Revista Motrivivência. In: II Seminário do CEMEF-UFMG, 2005, Anais... Belo Horizonte. Educação Física, Esporte, Lazer e Cultura Urbana: uma abordagem histórica. Belo Horizonte : CEMEF-PROTEORIA. 1 CD-ROM

SCHNEIDER, Omar; FERREIRA NETO, Amarílio; SANTOS, Wagner dos. O papel dos editores de impressos científico-pedagógicos na constituição do campo da educação física: o caso da Revista Motrivivência. In: II Seminário do CEMEF-UFMG, 2005, Anais... Belo Horizonte. Educação Física, Esporte, Lazer e Cultura Urbana: uma abordagem histórica. Belo Horizonte : CEMEF-PROTEORIA. 1 CD-ROM


O PAPEL DOS EDITORES DE IMPRESSOS CIENTIFICO-PEDAGOGICOS NA CONSTITUIÇÃO DO CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA:

O CASO DA REVISTA MOTRIVIVÊNCIA[1]

 

Omar Schneider

Amarílio Ferreira Neto Wagner dos Santos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIRITO SANTO

Membros do PROTEORIA

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o impresso tem sido percebido como uma fonte muito frutífera para se compreender o campo educacional,[2] mas esse interesse não é novo, como lembra Catani (1999), pois se podem perceber, desde o final do século XIX (na França), estudos questionando o papel que esse objeto desempenha na formação do professorado. De acordo com a autora, a compreensão sobre a necessidade de sistematizar os conhecimentos distribuídos por meio da imprensa periódica tem mobilizado pesquisadores de vários países, pois se tem atentado que a imprensa periódica constitui-se como “[...] um testemunho vivo dos métodos e concepções de uma época e da ideologia moral, política e social de um grupo profissional” (CATANI, 1999, p. 5).

Alguns estudos vêm buscado acompanhar o próprio processo de constituição da imprensa, centrando atenção nas representações veiculadas, nos personagens envolvidos e nos grupos que se formam em volta desse veículo. Desse modo, a palavra impressa, seus suportes e prescrições passam a ser percebidas não apenas como registro do que aconteceu, mas como parte constituinte do acontecimento, que tanto pode ser analisado em escala microscópica - como os usos que dela são feitos pelos professores para atualizar seus conhecimentos e preparar suas aulas -, assim como em escala mais macroscópica, quando se pode perceber a imprensa como estratégia[3]de divulgação e convencimento do professorado sobre determinado projeto, proposta pedagógica ou lei sobre a educação.





 

De acordo com Nunes (1992), essa nova forma de fazer pesquisa prioriza o exame dos objetos investigados, utilizando como referência a cultura, o que passa a remeter o pesquisador ao tratamento do objeto pela sua materialidade, seu entendimento como prática de representação e “[...] dispositivos, através dos quais bens culturais são produzidos, postos a circular e apropriados” (NUNES; CARVALHO, 1993, p. 44).

Visualizar o material impresso como dispositivo permite observá-lo como representação, mas representação que não está envolta por uma aura de neutralidade, pois, segundo Chartier (1991), é preciso que se observe que essas representações são coletivas, o que pressupõe que estejam sempre em concorrência e em competição, o que faz com que se considere que são “[...] matrizes de práticas construtoras do próprio mundo social” (CHARTIER, 1991, p. 183).

O Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA), criado em 2001, com o objetivo de compreender o processo de constituição de teorias para a Educação Física no Brasil, com base na análise e discussão dos impressos específicos da área, vem buscando aplicar ao campo da Educação Física os debates desenvolvidos no Campo da Educação e da História. Priorizando de modo geral os periódicos produzidos no País, a partir da década de 1930, o PROTEORIA, com o intuito de sistematizar uma ferramenta que pudesse auxiliar os pesquisadores da área, lançou em 2002 o Catálogo de Periódicos de Educação Física e Esporte (1930­2000).Com base nesse catálogo, alguns estudos realizados no PROTEORIA têm buscado analisar e discutir a imprensa periódica da Educação Física, como objeto ou como fonte de pesquisa.[4] Fruto das análises que se têm operado, relacionadas com a imprensa periódica, são os trabalhos apresentados em congressos, publicados em periódicos da Educação e Educação Física e defendidos em programas de pós- graduação em formato de dissertações.[5]


 


A revista Motrivivência já foi examinada em quatro aspectos de sua materialidade. Ferreira Neto e Nascimento (2002), tiveram como objetivo discutir os critérios de cientificidade na produção do impresso. Ventorim e Ferreira Neto (2003), procuraram examinar o periódico prestando atenção à produção do conhecimento sobre a prática de ensino e o estágio supervisionado em Educação Física.Ferreira Neto et al. (2003),[6] procuraram compreender o aparelho crítico[7]do periódico, qual seja, a organização da leitura tanto no sentido da sua didatização, como do controle dos sentidos que podem ser extraídos do material impresso e o debate sobre a graduação em Educação Física. O quarto estudo centra-se na revista Motrivivência para debater a necessidade de criar na área da Educação Física inventários de fontes para subsidiar pesquisas nas áreas das Ciências Sociais e da História.

 

CARACTERÍSTICAS MATERIAIS DA REVISTA MOTRIVIVÊNCIA

Ao analisarmos as características materiais da imprensa periódica, principalmente na revista Motrivivência, prestamos atenção para um aspecto pouco explorado nos estudos que discutem a constituição do campo da Educação Física, qual seja, o papel desempenhado pelos editores de revistas científico/pedagógicas. A sensação de que para compreender a História da Educação Física, novos objetos devem ser colocados em evidência, não nasce por acaso, mas do acumulo de estudos desenvolvidos, no âmbito da História, da História da Educação e da História da Educação Física.[8]


 

Ao descrever as características materiais da revista Motrivivência, vamos direcionar o foco da análise ao projeto editorial do impresso e às estratégias que são desenvolvidas durante o período de edição dos seus primeiros dezenove números. Para Chartier, ao se tomar o texto impresso como objeto de estudo, deve-se ter claro que “[...] não há compreensão de um escrito, qualquer que seja, que não dependa das formas através das quais ele chega ao leitor” (CHARTIER, 1991, p. 127). Nesse sentido, estudar as operações, os modos de organizar o objeto para produzir uma leitura adequada é fundamental para a compreensão de um projeto editorial. Esse procedimento pode ser denominado de análise das características materiais da imprensa periódica ou, como define Toledo (2001), o estudo do aparelho crítico do impresso. Para a autora, ao se examinar o projeto editorial de um impresso, deve-se focalizar não apenas o estudo do conteúdo do objeto, mas também voltar a atenção para os múltiplos dispositivos editoriais que são produzidos estrategicamente pelos editores a fim de didatizar o manuseio do impresso, ou como possibilidade de controle sobre a sua leitura.

A revista Motrivivência foi lançada em dezembro de 1988 e, até o ano de 2005, foram publicados vinte exemplares. Ela se caracteriza como uma revista científica[9] preocupada com temáticas relativas à prática pedagógica, com a discussão epistemológica e política da Educação Física. Foi criada originalmente para ter uma periodicidade semestral, conforme consta na edição do seu primeiro número. Contudo, acabou por possuir uma periodicidade anual, com uma certa irregularidade, já que, em 1990, sua publicação foi interrompida, retornando em 1993 com três números em conjunto. A partir do n. 12 (1999), dois números estão sendo editados por ano, o que demonstra a intenção dos editores de regularizar a periodicidade do impresso.

Pode-se considerar que, até o momento, a Revista possui duas etapas,[10] uma sergipana e outra catarinense. Uma em que o impresso esteve sediado na Universidade Federal de Sergipe (etapa sergipana) e outra em que passou a ser editado na Universidade Federal de Santa Catarina (etapa catarinense), sob a responsabilidade do Núcleo de Estudos Pedagógicos da Educação Física (NEPEF) do Departamento de Educação Física. Na primeira etapa da revista (n. 1, 2, 3 e 4), o principal editor[11] foi o professor Maurício Roberto da Silva, com o auxilio do professor Nelson Dagoberto de Matos nos exemplares n. 1, 2 e 3. Na segunda etapa do periódico, outras pessoas passam a assinar o editorial conjuntamente com o editor, professor Maurício Roberto da Silva. São eles(as): professoras Abertina Bonetti e Iara Regina Damiani (n. 14); professor Giovani Del Lorenzi Pires (n. 15, 16, 17, 18 e 19).[12]


 


O impresso, durante os quinze anos em que vem sendo produzido, mantém um tamanho padrão de 20 x 15cm, com textos publicados em coluna dupla, predominantemente em preto e branco. Excepcionalmente, no que se refere à edição n. 11 (1998), a sua capa foi produzida na cor amarela, com ilustrações em preto e vermelho, detalhe que volta a se repetir no n. 12 (1999), mas agora a ilustração é composta na cor preta e azul. Tanto nas capas como no interior da própria revista, são apresentadas ilustrações que "iluminam”, de forma geral, a apresentação das temáticas, dos sumários, das seções organizativas, das diversas homenagens a intelectuais e a artistas falecidos.

No editorial da revista n. 1, podem-se compreender os principais objetivos pelos quais o periódico foi lançado. De acordo com o editor, a Revista nasce com a necessidade de abrir novos caminhos para a Educação Física, como uma possibilidade de superar uma pedagogia preocupada apenas com o esporte de elite. Assim, nessa perspectiva:

[...] Motrivivência marcha em busca do novo, do avanço da liberdade. Sua linha editorial pretende dedicar-se aos temas mais polêmicos da motricidade humana. [...] O objetivo principal da Motrivivência é o estímulo à socialização da pesquisa científica, cuja prática tem sido relegada e subestimada desde o 1o grau até a graduação (EDITORIAL, 1988, p. 5).

De acordo com os editores do impresso, o projeto editorial, daria

[...] prioridade para os assuntos que mais têm impedido o alcance e o progresso da ciência do homem em movimento, como por exemplo: o currículo defasado, o esporte medalhista, o autoritarismo na educação, competição capitalista, o tecnicismo exacerbado, etc (EDITORIAL, 1988, p. 5).

Na capa do primeiro número, podem ser percebidas duas representações sobre a Educação Física e os saberes que dão suporte a essa disciplina. Essas representações são apresentadas na figura de dois homens, um velho, alquebrado, de cabelos e barba branca e com a face enrugada. Esse homem, representando a tradição, segura sobre um fundo escuro uma lista semi-enrolada em que se pode ler o que se considera como o que deveria ser superado: calistenia, ginástica corretiva, pesos e halteres, método francês, método natural austríaco, ginástica sueca, ginástica dinamarquesa, desportiva generalizada e Educação Física. De costas para esse homem já velho e seus saberes ultrapassados, imprime-se outro com a face jovial e o corpo rijo, o qual transporta como estandarte o que se considerava como os saberes capazes de fomentar a produção do novo homem: ciência da motricidade humana, antropologia cultural, ética profissional, relações humanas, comunicação em Educação Física, pesquisa, ludicidade, consciência corporal, cultura esportiva brasileira e cultura popular.

O período em que a Revista nasce pode ser considerado como um momento muito importante para a Educação Física. Na década de 1980, realiza-se o diagnóstico de que a Educação Física estava em crise, ou necessitava entrar em crise, a tentativa, então, era a de superar o modelo que a ela dava suporte.[13]

A partir da proposta de Chartier (1991) sobre a análise da materialidade das práticas culturais, é possível dizer que a revista Motrivivência desempenhou um papel importante na luta de representações que se fizeram perceber no final da década de 1980 e durante a década de 1990, função que a ela ainda pode ser atribuída nos dias atuais.

Se perspectivarmos que uma modalidade de discurso que animou o debate de parte dos intelectuais da Educação Física, na década de 1980 e início da década de 1990, foi o discurso politicamente engajado, que buscou tratar predominantemente da função da Educação Física na escola a partir de uma teoria crítica da sociedade podemos considerar que a revista Motrivivência configura-se como uma síntese das discussões produzidas nos últimos quinze anos. Percebida desse modo, a revista Motrivivência pode ser considerada como uma fonte importante para se compreender a tentativa de superação, pelo menos discursivamente, das teorias que ofereciam/oferecem suporte à Educação Física.

Se considerarmos que a revista Motrivivência pode ser um recurso importante para compreendermos a história recente da Educação Física brasileira, assim como da constituição do seu campo, também devemos considerar o papel exercido pelo editor de revistas científicas/pedagógicas, como produtores culturais e atores influentes na constituição tanto da história como do campo da Educação Física.

 

O PAPEL DO EDITOR: O CASO DA REVISTA MOTRIVIVÊNCIA

Nóvoa (1997), ao descrever as possibilidades que o estudo da imprensa pode abrir para a compreensão da História da Educação em Portugal, discute que esse é um importante veículo para trazer à cena educacional novos atores, possibilitando, assim, perceber novos personagens povoando o campo da educação e trabalhando para a sua consolidação. Ao lidar com a revista Motrivivência, prestando atenção à circulação dos autores, percebemos que muitos aparecem apenas uma vez na Revista. De um total de 350 artigos (assinados) veiculados no impresso, 188 (53,71%) são de autores que publicam na revista apenas uma vez.

Para Nóvoa (1997), é preciso considerar a força e capacidade que a imprensa periódica possui para democratizar o acesso ao conhecimento, mas também é necessário compreender a importância que ela possui para fazer circular novos autores, ou autores que não possuem acesso a outros meios para se fazerem ler e ouvir. Conforme Nóvoa (1997, p. 13-14), no campo educacional português, “[...] muitas das melhores vozes da pedagogia portuguesa só se fizeram ouvir neste fórum, pois não tiveram acesso a outros meios de divulgação do pensamento”. Não podemos aplicar diretamente essa assertiva de Nóvoa à revista Motrivivência, pois não podemos julgar que nela estejam presentes as melhores vozes do pensamento educacional da Educação Física. Julgar requer juízo de valor e tomar partido de uma ou outra vertente teórica, o que, por fim, terminaria reduzindo em muito a nossa capacidade de reflexão sobre o próprio projeto da Revista.

Mais de 50% dos autores que publicam no impresso só o fizeram uma vez. Esse dado nos indica um aspecto interessante para trabalhar. A Revista apresenta uma baixa endogenia, o corpo de pareceristas que fazem parte do seu conselho editorial publica pouco no impresso e alguns nem chegaram a publicar. O autor que mais publica é o seu editor, vinte artigos, nos quais estão contados os editoriais não assinados, assinados e assinados em conjunto.

Como estratégia de luta e produção cultural, a revista Motrivivência atua como instância privilegiada na circulação de um modelo, de um estatuto e de uma posição, pois é capaz de significar simbolicamente e de forma objetivada a existência de um grupo que busca mudar a Educação Física brasileira, mas precisamos incluir nessa análise o papel do(s) editor(es), fornecendo oportunidades para que esse grupo, constituído por atores que muitas vezes possuem orientações teóricas diferentes, seja percebido como constituído por autores autorizados a falar como autoridades sobre uma determinada temática que se julga seja capaz de preencher as expectativas e necessidades do professorado.

A revista Motrivivência, ao que tudo indica, possui uma política editorial que marcadamente valoriza a difusão do conhecimento produzido em diferentes instâncias, o que pode ser verificado no modo com que se articulam os objetivos das seções do impresso. Esse papel, na criação das seções, e sua delimitação dão ao editor de impressos científicos ou pedagógicos o poder de decidir o que é ou não necessário aos leitores e, ao mesmo tempo, procura constituir os leitores, uma vez que, nesse processo de criação e organização do que é ou não pertinente veicular na Revista, procura-se esquadrinhar os próprios leitores, suas expectativas e aptidões de leitura, e ainda as demandas de trabalhos publicáveis. Nesse sentido, o papel do editor ou editores que lidam com a imprensa periódica deve ser colocado em discussão ao se tratar da constituição do campo da Educação Física.

Os editores devem ser percebidos como atores importantes na forma como uma área do conhecimento se constitui, pois eles assumem posições-chave no processo de divulgação das propostas, das teorias e dos atores considerados como autorizados a falar em nome de uma comunidade.

Ao se debruçar sobre a História da Educação, pouco pôde ser percebido em relação à função do editor na constituição do campo educacional. No levantamento realizado, esse debate pôde ser observado nos trabalhos de Carvalho (1996), e Toledo (2001). Na Educação Física, um primeiro esboço sobre as estratégias editoriais desenvolvidas por um grupo de editores, nas décadas de 1930 e 1940, pode ser verificado no trabalho de Schneider (2003) que discutiu o projeto editorial da revista Educação Physica, sua fórmula editorial e as prescrições educacionais que fez circular no período de 1932 a 1945.

Ao trabalhar dando ênfase ao aparelho crítico do impresso, pode-se perceber a figura do(s) editor(es), de maneira mais forte, atuando em um dispositivo muito importante na constituição da fórmula de um projeto editorial, qual seja, os editoriais.[14] Por meio desse dispositivo, o(s) editor(es) fala(m) com os leitores, indica(m)-lhes por qual registro as matérias selecionadas deverão ser lidas, interfere(m) no que é publicado ao recortar e adicionar sentidos ao pensamento dos autores, muitas vezes distantes do que foi proposto originalmente nos textos. Enfim, nos editoriais, o(s) editor(es) se capacita(m) como voz autorizada a aproximar os vários assuntos tratados no impresso, ao mesmo tempo em que indica(m) protocolos de leituras para o que foi pelo conselho Editorial, previamente selecionado, como digno de ser conhecido pelos leitores.[15]

Além dos editoriais, outros dispositivos são acionados pelos editores na constituição da fórmula editorial do impresso. Não se fala ao leitor somente por meio de textos; outros recursos são usados para discutir de forma crítica o fenômeno esportivo, a Educação Física na escola e as políticas públicas para o esporte e lazer. As capas de cada número lançado e suas ilustrações são um exemplo de como os editores fazem chegar aos leitores seu ponto de vista.[16]

A Revista traz ainda outros dispositivos internos que buscam modelizar a leitura do periódico. Um deles é sua organização por seções. Entre suas seções, pode-se destacar uma que foi designada como Humores e Rumores,veiculada do primeiro ao quarto número, mas, mesmo não sendo publicada nos números seguintes, a disposição de tratar de temas considerados problemáticos de forma humorística permanece, pois se pode perceber esse artifício sendo empregado em outros locais. A seção Humores e Rumoresbuscava tematizar de forma caricatural algumas situações que fazem parte do imaginário relacionado com a Educação Física, ou dos problemas da educação, como a relação de autoridade entre professor e aluno e o tipo de valorização conferida ao corpo e ao esporte em nossa sociedade.

O projeto da revista Motrivivência, como exposto no seu primeiro editorial, permite a publicação de textos diversificados, oriundos de diferentes concepções pedagógicas. Conforme os editores, a revista buscaria

[...] valorizar todas as tendências educacionais, que [...] [fossem] biológicas, fisiológicas, psicológicas, sociológicas, etc., que [... ] [discutissem] as questões inerentes ao corpo, que trancendam da visão cartesiana para a corporeidade, visando não mais o estudo do movimento do homem e sim uma visão sócio-antropológica [... ] (EDITORIAL, 1988, p. 5).

Quando se analisa a série da revista Motrivivência para ver como essa proposta foi implementada, percebe-se que, apesar de a proposta de interdiciplinaridade entre as ciências naturais e as ciências humanas na produção do conhecimento ter sido divulgada como uma possibilidade de constituição do projeto do periódico, ela não foi implementada, visto que as tendências de pesquisas que circulam no impresso não são oriundas de pesquisas preocupadas com questões relacionadas com a biologia, a fisiologia ou com uma psicologia mais ligada ao experimentalismo; o que se percebe é uma interdiciplinaridade ou diálogo predominantemente dentro de uma grande área chamada Ciências Humanas.

A tematização do periódico é um dispositivo editorial empregado desde o seu primeiro número, mas, somente na primeira Revista publicada, não foi explicitada, apesar de, ao manusear a revista, ser possível perceber que o tema currículo é a discussão predominante veiculada pelo editor. As outras revistas subseqüentes possuem temáticas específicas, dispositivo que garante a coerência interna da publicação, formatando a leitura e facilitando ao leitor o manuseio e apreensão da proposta da publicação. Apesar de a Revista se estruturar por meio de temáticas, é possível perceber a veiculação de outros textos não ligados diretamente ao assunto em pauta, o que garante a diversidade, sem, contudo, fazer com que perca a homogeneidade discursiva, ponto que marca a identidade da publicação como impresso especializado.

Ao analisar as temáticas que foram privilegiadas pelos editores na feitura da Revista, pode-se perceber o porquê de não ter havido a publicação de textos que tivessem como referência as tendências educacionais apoiadas nas ciências biológicas, fisiológicas ou em uma psicologia mais ligada às ciências naturais. As próprias temáticas atuando como dispositivos reguladores das demandas de textos publicáveis realizam a tarefa de filtrar o que é ou não enviado para publicação. Com seu perfil de revista crítica e engajada na transformação da Educação Física, ao fomentar o debate político dessa área do conhecimento com temas polêmicos, como: políticas públicas para a educação, Educação Física e lazer; globalização e profissionalização; corpo e sociedade; esporte, lazer e mídia; e esporte, lazer e gênero, automaticamente, muitos outros assuntos ficam de fora, como aqueles mais ligados à discussão do gasto energético nos esportes, psicologia do treinamento desportivo e fisiologia do exercício.

Acreditamos que o dispositivo das temáticas, parte integrante do aparelho crítico do impresso, seja um dos elementos que mais contribuíram para constituir o perfil da revista Motrivivência, uma vez que, a partir dele, os editores constroem as demandas de trabalhos publicáveis,[17] organizam o Conselho Editorial e arregimentam os colaboradores. Mesmo que esse dispositivo seja importante para a fórmula editorial da Revista, pois auxilia na criação de massa crítica sobre determinada temática, também acarreta um dos problemas que mais atingem a imprensa periódica educacional, qual seja, a sua periodicidade.

As temáticas privilegiadas na revista Motrivivência, como se pode perceber no Quadro 1, a seguir, garantem uma grande homogeneidade à proposta do impresso e podem revelar mais alguns elementos para compreendermos o seu projeto editorial, como a opção de ter como pano de fundo a discussão sobre a escola e a prática pedagógica dos professores de Educação Física.

Tema/Número

Convergência Temática

O Currículo em Educação Física (1)

Currículo

O Esporte e suas Diversas Concepções (2); Educação Física: Teoria e Prática (8); O Jogo e o Brinquedo na Educação Física (9); Elementos Teórico-Metodológicos para a Educação Física (13)

Educação Física/Esporte/Lazer - Pressupostos Teórico-Metodológicos

O Corpo (3); Educação Física, Corpo e Sociedade (15 e 16)

Corpo

Pesquisa (5, 6, 7)

Pesquisa

Educação Física: Globalização e Profissionalização (10); Políticas Públicas: Educação Física/Esporte/Lazer (11); Políticas Públicas: Educação Física/Esporte/Lazer I (12)

Políticas Públicas

Movimentos Sociais: Educação Física/Esporte/Lazer

Movimentos Sociais

 

17Pelo que se conhece sobre a imprensa periódica, o recurso de encomendar textos à comunidade de pesquisadores é usual e talvez seja mais recorrente do que possamos imaginar. Desse modo, pode-se supor que, desde o primeiro número, a prática da encomenda de material publicável à comunidade de pesquisadores da Educação Física, esporte e lazer pode ter ocorrido, mas essa suposição só pode ser devidamente esclarecida ao se entrevistar o seu primeiro editor. O que temos são somente pistas que indiciam nesse caminho, mas que servem como parâmetro para inferir essa possibilidade. Escrevendo sobre a política de publicação da revista Cadernos de Pesquisa,Barreto (2002) comenta que muitos dos textos veiculados na Revista, principalmente os que são ligados aos temas de destaque, são produzidos sob encomenda.

10

 


 

Educação Física, Esporte, Lazer e Mídia (I e II) (17 e 18)

Esporte, Lazer e Mídia

Educação Física, Esporte, Lazer e Gênero (19)

Esporte, Lazer e Gênero

 

Quadro 1: Convergência dos temas da revista Motrivivência

 


 

Com base na análise das temáticas que a revista Motrivivência faz circular durante os seus quinze anos de existência, é possível creditar ao periódico uma boa representatividade na área da Educação Física, representatividade essa que poucos impressos brasileiros que tratam dos mesmos assuntos possuem.

Ao examinar a Revista a partir do que podemos chamar de sua discursividade, percebemos que ela está constantemente sendo qualificada naquilo que se propôs a realizar, que é apresentar aos leitores uma leitura politizada e crítica sobre as “[...] temáticas polêmicas [e] contraditórias do nosso tempo [...]” (SILVA, 1989, p. 5) relacionadas com a Educação Física, o esporte e o lazer.

Ao observar que o discurso veiculado pela Revista está sendo constantemente qualificado, não estamos com isso afirmando que o que era veiculado antes não era qualificado. O que acontece é que existe uma constante busca, pelos editores, de adaptar a linguagem do impresso ao estágio do conhecimento científico nas Ciências Humanas e Sociais. O discurso meio panfletário, com o uso quase mecânico das teorias sociológicas que afinavam o tom da crítica no final da década 1989 e início da década de 1990, paulatinamente, torna-se mais refinado, sem deixar de perder suas características de discurso crítico e polêmico sobre as temáticas da Educação Física do esporte e do lazer.

Um dado interessante deve ser indicado sobre o que designamos como qualificação do discurso do impresso. Mesmo que o interesse dos editores seja o de publicar temas polêmicos sobre as temáticas da Educação Física do esporte e do lazer e os textos veiculados algumas vezes não possam ser considerados tão polêmicos como o esperado, os editores utilizam o aparelho crítico do impresso, objetivado na forma dos editoriais, para dar sentido ao material publicado e reafirmar os objetivos da publicação.

A revista Motrivivência, analisada sob múltiplos enfoques e a partir de critérios diversos, constitui uma instância privilegiada para se estudar o debate no campo da Educação Física, pois faz circular uma diversidade de autores e estudos e uma variabilidade de linhas teóricas fundamentadas, sobretudo, nas Ciências Humanas e Sociais, especialmente sobre a graduação.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O papel dos editores deve ser colocado em evidência, pois conforme Chartier (2002, p. 71-72) “O que quer que façam, os autores não escrevem os livros”, eles escrevem textos que outros transformam em objetos impressos. De acordo com o autor, é justamente esse hiato que deve ser compreendido, pois é justamente o espaço no qual se constrói o sentido - ou os sentidos, que foi esquecido pelos pesquisadores, ou seja, o suporte material e o papel do editor na produção dos dispositivos modelizadores da leitura.

Para Chartier (2002, p. 244), a “[...] disposição da paginação, os modos de recorte do texto, as convenções tipográficas são investidos de uma ‘função expressiva’ e sustentam a construção da significação”. Produzidos por uma intenção de controle e didatização as convenções tipográficas possuem produtores - editores e técnicos tipográficos - e destinatários, as comunidades de leitores. Assim falar em imprensa periódica, estratégias editoriais é mobilizar novos personagens povoando o campo das lutas simbólicas, as quais são expressas por meio do que se convencionou chamar de lutas de representação.

Ao tratar a figura do editor como um ator a ser conhecido na produção do campo da Educação Física (assim como as estratégias e os dispositivos que aciona na constituição de um projeto político-educacional), talvez, ao final da discussão, uma outra cena seja revelada e o debate em torno da renovação intelectual da área, na década de 1980 e 1990, seja ampliado. Desse modo, é possível que, quem até o momento esteve nos bastidores apareça como personagem importante para compreendermos a história recente da área. Assim, pode ser modificada a interpretação dominante (produzida por alguns estudos, como Oliveira (1994), Daolio (1997), e Caparróz (1997)), com a qual temos lidado, que apresenta o campo da Educação Física sendo constituído apenas pelos personagens mais visíveis.

Ainda existe muito a se discutir sobre a figura do editor na constituição do campo da Educação Física, uma vez que ele não ocupa a linha de frente, mas posiciona-se nos bastidores, articulando, censurando e tomando decisões sobre o que ou a quem dar maior evidência e quais temáticas devem ser privilegiadas ao ser projetada a edição de um periódico.

Os editores devem ser percebidos como atores importantes na forma como uma área do conhecimento se constitui, pois eles assumem posições-chave no processo de divulgação das propostas, das teorias e dos atores considerados como autorizados a falar em nome de uma comunidade.

Por fim, precisamos incluir nessa análise o papel do(s) editor(es), fornecendo oportunidades para que um grupo, constituído por atores que muitas vezes possuem orientações teóricas diferentes, seja percebido como constituído por autores autorizados a falar como autoridades sobre uma determinada temática que se julga seja capaz de preencher as expectativas e necessidades do professorado 

 

REFERÊNCIAS

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AROEIRA, Kalline Pereira; FERREIRA NETO, Amarílio. Currículo e educação física na Revista Brasileira de Ciências do Esporte (1980-2000). In: FERREIRA NETO, Amarílio (Org.). Pesquisa histórica na educação física. Vitória: PROTEORIA, 2001. v. 6, p. 85-110.

BARRETO, Elba Siqueira de Sá. Os cadernos de pesquisa: sua vocação e desafios. In BUENO, Belmira Oliveira; AQUINO, Julio Groppa; CARVALHO, Marilia Pinto de. (Org.). Políticas de publicação científica em educação no Brasil hoje. Estudos e Documentos, São Paulo, Faculdade de Educação, v. 43, p. 59-74, [s.m.] 2002.

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[1]
   Uma versão ampliada desse trabalho, Fórmula editorial e graduação: 15 anos de motrivivência,foi publicada no número comemorativo dos 15 anos da revista Motrivivência (ano XV, n. 20-21, p. 57-90, mar./dez. 2003).

[2]Catani (1989 e 1994), Catani e Sousa (1999), Nunes e Carvalho (1993), Carvalho (1996, 1998, 2000 e 2001), Carvalho e Toledo (2000), Barzotto (1998), Vilela (2000), Silva (2001), Biccas (2001) e Schneider (2003).

1

 

[3]  Usando como suporte teórico os estudos de Certeau (1996, p. 46), o conceito de estratégia será empregado como “[...] o cálculo das relações de forças que se torna possível a partir do momento em que um sujeito de querer e poder é isolável de um 'ambiente'. O conceito postula um lugar capaz de ser circunscrito como um próprio e portanto capaz de servir de base à gestão de suas relações com uma exterioridade distinta”. No que se refere especificamente aos estudos dos impressos, aproximamos-nos das reflexões realizadas por Carvalho (1998) que, utilizando as proposições de Certeau (1996), indica que a estratégia remete-se “[...] a práticas cujo exercício pressupõe um lugar de poder [...], [que] aplicado, por exemplo, a uma história dos impressos de destinação escolar [...], põe em evidência dispositivos de imposição de saberes e normatização de práticas, referidos a lugares de poder determinados: uma casa de edição, um departamento governamental uma instância eclesiástica, uma iniciativa de reforma educacional; etc.” (CARVALHO, 1998, p. 4).

[4]Ver www.proteoria.orgsite em que estão armazenados os trabalhos já publicados pelo grupo.

[5]Entre os trabalhos publicados, destacam-se os seguintes estudos: currículo em periódicos (AROEIRA, 2000, 2004; AROEIRA; FERREIRA NETO, 2001); avaliação educacional em periódicos (SANTOS, 2002); avaliação de periódicos científicos (NASCIMENTO, 2002); ciclo de vida da Revista de Educação Física no período de 1932 a 2002 (FERREIRA NETO et al., 2003); Revista Motrivivência e a produção do conhecimento sobre prática de ensino e estágio supervisionado em educação física (VENTORIM;

FERREIRA NETO, 2003); e estratégias editoriais e proposições educacionais na revista Educação Physica (SCHNEIDER, 2003, 2004).

[6]  Este trabalho é resultado de um esforço coletivo empreendido pelos pesquisadores do Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA). Para saber mais ver o número especial da revista Motrivivência (ano xv, n. 20-21, mar./dez. 2003), lançado como comemoração aos 15 anos de existência do impresso, no qual dois artigos foram publicados, um abordando a sua fórmula editorial e outro discutindo o porque de os inventários de fontes serem necessários para se fazer pesquisas sobre a história da Educação Física.

[7]Conforme Toledo (2001, p. 4), o aparelho crítico “[...] tem como função ou a didatização da obra ou uma sofisticação de sua apresentação [...] na qual está inserida uma proposta especifica, que orienta o leitor para uma determinada forma [...]” de se apropriar do conteúdo do impresso ou do conjunto ao qual ele pertence.

[8]  No campo da História temos os estudos de Chartier (1994, 2004) que discute o papel desempenhado pelos editores de Troyes e a coleção de livros intitulada Bibliothéque Bleue,designada como o mais poderoso instrumento de aculturação escrita da França do Antigo Regime. No campo da História da Educação, trabalho pioneiro no Brasil é o desenvolvido por Toledo (2001), que trabalha com a Coleção Atualidades Pedagógicas,um conjunto de livros primeiramente organizados por Fernando de Azevedo e posteriormente por Damasco Penna, entre os anos de 1931 e 1979, com a chancela da Companhia Editora Nacional. No campo da História da Educação Física ver o estudo desenvolvido por Schneider (2003), no qual discute a fórmula editorial da revista Educação Physica,periódico produzido entre os anos de 1932 a 1945 pela Companhia Brasil Editora.

 

[9]Ver artigo produzido por Ferreira Neto e Nascimento (2002) e divulgado na home page do PROTEORIA sobre avaliação de periódicos científicos da Educação Física.

[10]Ver a revista n. 12, na carta ao editor, para obter mais informações sobre as duas etapas, a de Sergipe e a de Santa Catarina.

[11]Nos três primeiros números, era denominado diretor.

[12]É possível, com base na observação da ficha técnica da revista, bem como em algumas referências realizadas nos editoriais, que outras pessoas também estivessem envolvidas na feitura do impresso,

 

como professores e estudantes dos cursos de Educação Física nos quais o periódico esteve e está

sediado

 

[13]Ver Oliveira (1994), na obra: Consenso e conflito da Educação Física brasileira;Caparróz (1997), no livro denominado como: Entre a Educação Física na escola e a Educação Física da escola;e Daolio (1997), na tese: A Educação Física brasileira: autores e atores da década de 80.Todavia, há o reconhecimento, na comunidade científica, de que essas análises são precedidas pela iniciativa de Medina no início da década de 1980, com o livro A Educação Física cuida do corpo... e “mente".

 

 

[14]   Os editoriais se apresentam na forma explicativa, informativa e essencialmente problematizadora de temáticas gerais e específicas da área da Educação Física, esporte e lazer.

[15]   De acordo com Hunt (1992), os documentos com os quais o historiador trabalha descrevem ações simbólicas, não podendo ser considerados textos inocentes e transparentes. Eles foram escritos por autores com diferentes intenções e estratégias, assim os historiadores da cultura devem criar suas próprias estratégias para lê-los.

[16]  Conforme Chartier (1990, p. 179), uma imagem, uma ilustração “[...] induz uma leitura fornecendo uma chave que indica através de que figura dever ser entendido o texto”.

 

 

 

Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA), http://www.proteoria.org
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Prévia do artigo NEITZEL, Fernanda Mutz; FERREIRA NETO, Amarílio. As atividades físicas na escola: a biologia, a homogeneidade de grupos e as práticas de ginástica para a infância. In: II Seminário do CEMEF-UFMG, 2005, Anais... Belo Horizonte. Educação Física, Esporte, Lazer e Cultura Urbana: uma abordagem histórica. Belo Horizonte : CEMEF-PROTEORIA, 2005. 1 CD-ROM NASCIMENTO, Ana Claudia Silverio; LOVISOLO, Hugo Rodolfo. Scientific production of doctors em Physical Education 9(1990-2000). The FIEP bulletin, Foz do Iguaçu, v. 75, p. 527-530, 2005. Próximo artigo
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