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Artigos > História da Educação, da Educação Física e do Esporte > História da Educação Física > SCHNEIDER, O.; ALVARENGA, J. A.; BRUSCH, M. Educação, ginástica e educação física: apropriações da pedagogia moderna no Espírito Santo entre as décadas de 1910 e 1930. In: VI Congresso Brasileiro de História da Educação, 2011, Vitória. Invenção, tradição e escritas da História da Educação No Brasil. Fortaleza: Itarget, 2011. v. 1. p. 1-15.

SCHNEIDER, O.; ALVARENGA, J. A.; BRUSCH, M. Educação, ginástica e educação física: apropriações da pedagogia moderna no Espírito Santo entre as décadas de 1910 e 1930. In: VI Congresso Brasileiro de História da Educação, 2011, Vitória. Invenção, tradição e escritas da História da Educação No Brasil. Fortaleza: Itarget, 2011. v. 1. p. 1-15.

 

EDUCAÇÃO, GINÁSTICA E EDUCAÇÃO FÍSICA: APROPRIAÇÕES DA PEDAGOGIA MODERNA NO ESPÍRITO SANTO ENTRE AS DÉCADAS DE 1910 E 1930

 

Omar Schneider (UFES/CEFD/PROTEORIA)

omarvix@gmail.com

Jeizibel Alves Alvarenga (UFES/CEFD/PROTEORIA)

jeizibel@bol.com.br

Marcela Bruschi (UFES/CEFD/PROTEORIA)

niba_bruschi@hotmail.com

Palavras-chave: Educação Física. Pedagogia Moderna. Espírito Santo.

 

Introdução

 

No levantamento de estudos sobre a História da Educação Física no Estado Espírito Santo, é possível perceber que poucos estudos foram produzidos tendo como foco essa área do conhecimento. Em relação aos anos anteriores à década de 1930 não foi localizado nenhum trabalho e apenas dez[1] foram encontrados relacionados ao momento posterior à criação da escola de Educação Física do Espírito Santo, no ano de 1931. Como discute Carvalho (2003) a História da Educação dos anos anteriores à Revolução de 1930 ainda não foi objeto de muitos interesses,[2] tampouco, podemos afirmar, que a História da Educação Física no Espírito Santo está em uma situação diferente.

Simões e Franco (2004),[3] ao tecerem algumas reflexões sobre a produção, socialização e investigações sobre a Histórica da Educação no Espírito Santo, relatam que, no caso dessa região, dois desafios se apresentam aos pesquisadores preocupados com a escrita da História da Educação local, quais sejam: “[...] a) a escassez da produção historiográfica dirigida ao Estado [...] e à realidade educacional em particular; b) a precariedade e a dispersão de fontes”. Essa reflexão também faz sentido quando pensamos a História da Educação Física, pois poucos investigadores se preocuparam em compreender como aconteceu no Espírito Santo a inclusão da Educação Física na escola como disciplina, sua escolarização frente à forma escolar e sua incorporação à cultura escolar. Carecemos de investimentos em pesquisas que possibilitem entender as condições culturais, os atores, os autores, os discursos e as demandas sociais que impediram/permitiram a Educação Física se tornar uma realidade no processo de escolarização da sociedade espírito-santense.

O baixo investimento em estudos históricos centrados na compreensão do movimento educacional do século XIX e primeiras décadas do século XX, na atuação de intelectuais preocupados com a instrução pública, nas políticas educacionais, nas práticas educativas e nas lutas em torno da constituição de uma forma escolar, demonstram uma tendência mais geral, não somente localizada no Espírito Santo, uma vez que escrever sobre a História da Educação, no Brasil, até pouco tempo, era remontar a uma História que tem seu início na década de 1930, uma História forjada, em grande parte, pela memória[4] construída pelos renovadores da educação e cristalizada ao longo dos anos por pesquisas que vieram utilizar, como marco periodizador para esse campo do conhecimento, o legado deixado pelos “pioneiros” da escola nova.

O estudo objetiva compreender o movimento educacional que, entre os anos de 1900 e 1930, procurava prescrever que os saberes relacionados aos cuidados com o corpo, a higiene, a saúde, a ginástica e a educação física deveriam fazer parte da proposta de uma Pedagogia Moderna, capaz de colocar o Estado do Espírito Santo no concerto civilizatório ao modernizar a sua instrução pública.

Escrever e explicar o que é a Pedagogia Moderna não é uma tarefa simples, pois ela é produzida e se configura em um processo, complexo, de longa duração, de disputas políticas entre grupos e indivíduos singulares que buscam se estabelecer como referência em ambientes de lutas, oposições, acordos e disposições compartilhadas sobre modelos pedagógicos e mundos ideais. Mas é possível situar seu aparecimento com o nascimento da Modernidade e suas revoluções, geográficas, econômicas, políticas, sociais, ideológicas, culturais e pedagógicas.

De acordo com Cambi (1999), todo esse complexo processo vem também tocar profundamente sobre o que compreendemos como a educação e a pedagogia que, por sua vez, são radicalmente transformadas tanto no terreno político e religioso como no ético e social e também no técnico. No âmbito político, o nascimento do Estado Moderno, interessado no domínio da sociedade civil e que exerce um domínio racional, pensado desde o centro e disseminado por toda a sociedade que se vê assim controlada em todas as suas manifestações, é que vem determinar uma pedagogia política, típica do mundo moderno (melhor: típica e central, até os dias de hoje) e uma educação articulada sob muitas formas e organizada em muitos agentes (família, escola, associações, imprensa etc,) que convergem num processo de envolvimento e conformação do individuo, de maneira cada vez mais capilar.

Para compreender o processo de incorporação dos saberes sobre os cuidados com o corpo, a higiene, a saúde, a ginástica e a educação física nas discussões sobre uma Pedagogia Moderna no Espírito Santo utilizaremos o conceito de forma escolar.[5]Para Carvalho (2003) esse conceito mobiliza dois pressupostos: [...] o de que a forma escolar é produto de práticas de apropriação entendidas como práticas de transformação de matérias sociais específicas; e o de que os modelos pedagógicos são objetos culturais produzidos socialmente e que devem ser analisados em sua materialidade (CARVALHO, 2003, p. 343, grifos da autora).

 

A escolarização da ginástica no Estado do Espírito Santo

 

Ao analisar os relatórios dos governadores de estado e diretores da instrução pública somente é possível encontrar relatos propondo a ginástica como conteúdo de ensino nas escolas capixaba a partir do ano de 1897. No balaço que José Joaquim Pessanha Póvoa, diretor da instrução pública entrega ao então governador José de Mello Carvalho Moniz Freire, ele faz a avaliação da reforma da instrução pública realizada em 1892.[6] Segundo Póvoa essa reforma ainda no ano de 1896, apesar de ter normalizado o ensino, tendo como base a Pedagogia Moderna, ainda não tinha conseguido implantar as aulas de ginástica, matéria que considerava importante para promover as forças físicas dos alunos, revigorar as suas forças intelectuais e habilitar estes para a vida individual e coletiva.

Historicamente a introdução da ginástica na escola brasileira, como disciplina, ocorre por meio de muitos percalços,[7] um deles é revelado na tese de Villela (2002) que analisa a gênese e o desenvolvimento da Escola Normal da Província do Rio de Janeiro entre os anos de 1868 e 1876. Segundo a autora a ginástica na escola normal, no ano de 1874, foi uma experiência nova e turbulenta.

No ano de 1873 uma lei criada pela Assembléia Legislativa e aprovada por unanimidade, introduzia a ginástica nas escolas primárias e normal da Província do Rio de Janeiro, pois se entendia que a instrução pública da província deveria chegar ao nível das escolas normais européias e americanas, que eram entendidas naquele momento como as mais modernas. A turbulência causada pela obrigatoriedade dessa disciplina no currículo da escola normal, segundo Villela (2002), tinha como fundamento a tradição que fora herdada da experiência da colonização lusitana no Brasil, que é marcada pelo ideário católico que pregava que em primeiro lugar se deveria preparar a alma, uma vez que ela é que seria salva. O corpo era percebido como pecaminoso e capaz de incitar ao pecado, então não deveria se revelado aos olhos. A ginástica exigia que o corpo fosse descoberto para que a exercitação diária da educação do físico acontecesse. A tradição de estudos enciclopédico que a cultura lusitana relegou à formação dos brasileiros também era um fator que tornava a educação do físico algo que poderia ser secundárizado.

Não podemos esquecer que o Brasil, até o ano de 1888, era um país escravocrata, em que o trabalho físico era destinado àqueles que eram considerados inferiores na escala hierárquica da produção. Esses fatores somados fizeram com que a proposta de ensino da ginástica na escola normal, instituição responsável pela formação dos professores das escolas primárias não se concretizasse sem resistências. Ela foi ensinada somente por dois anos na instituição, depois foi abolida do currículo das normalistas. Como a escola normal era a instituição privilegiada para a formação dos professores, a falta de uma disciplina que fornecesse os saberes necessários para o trato da ginástica como uma matéria na escola pode ter sido um dos fatores que impediram a sua presença na escolarização como uma realidade.[8] Desse modo, um dos fatores que também podem ter impedido de a ginástica de sido contemplada nos currículos escolares, foi a falta de professores devidamente preparados, que dominassem as estratégias de ensino, para ministrar as aulas de acordo com os métodos ginásticos. Assim um ensino integral, propugnado pela Pedagogia Moderna, para uma educação física, moral e intelectual, ficava comprometida.

Apesar de a Pedagogia Moderna ter sido utilizada, no final do século XIX, para fundamentar as reformas da instrução pública no Espírito Santo,[9] a ginástica como disciplina não foi contemplada nos debates da instrução pública, visto que a educação física, conforme a Pedagogia Moderna poderia ser realizada por meio da educação dos sentidos. Era uma educação que partia do concreto para o abstrato em que o corpo deveria proporcionar a aprendizagem e os meios para sistematizar o conhecimento, que deixava de ser apenas livresco é intelectual e passava a ser um saber produzido pelo aluno na sua ação sobre a natureza.[10]

Na Pedagogia Moderna a educação deveria ser prática/ativa por considerar a importância do contato físico, o mais direto possível, entre a criança e o que deveria ser objeto do seu conhecimento, por compreender que somente dessa forma ocorreria um aprendizado significativo. Esse modo de projetar o ensino dos educandos estava relacionado com a noção de que os “sentidos são a porta de entrada do conhecimento”, pois, dada a importância dos sentidos como canal de entrada dos conteúdos a serem aprendidos o contato, o mais ativo possível, representava a possibilidade de uma maior estimulação dos órgãos dos sentidos e, conseqüentemente, um desenvolvimento mais rápido e uma aprendizagem mais acelerada da criança.

Após essa primeira discussão sobre o valor da ginástica nos currículos escolares, somente em 1908, na reforma realizada pelo educador paulista Gomes Cardin, no governo de Gerônimo de Souza Monteiro, é que se volta a apresentar nos relatórios alguns indícios sobre a necessidade de uma disciplina na escola que trabalhasse a educação física das crianças, agora não apenas como parte das lições de coisas,[11] mas como matéria que deveria ser cursada pelos alunos. Afirma-se no relatório:[12]

 

Nos alumnos percebe-se grande contentamento e amor á escola, além da boa disposição que mostram pelo estudo. Já se procedeu á substituição do mobiliario em quasi todas as escolas do Estado, tendo-se distribuido muitas carteiras duplas e individuaes, além de mappas, relogios, livros e mais objectos escolares. Em predios apropriados, estão fundados nesta capital e funccionam regularmente as escolas modelo, nocturnas-reunidas, de gymnastica, marcenaria e modelagem no grupo escolar (MONTEIRO, 1909, p. 14).

 

Percebe-se que a ginástica começa a ser apresentada como disciplina que integra os currículos escolares, tanto das escolas primárias como da escola normal, lugar de formação das futuras professoras. Na Figura 1, pode se perceber as alunas normalistas realizando uma aula de ginástica orientadas por um professor encarregado de ensinar e corrigir os movimentos.

As alunas da Escola Normal, em exercício de Ginástica Sueca ao ar livre, eram orientadas pelo professor Dr. Diocleciano de Oliveira, Inspetor geral do Ensino e Diretor da Escola Normal. A ginástica Sueca era recomendada para as meninas porque se acreditava que elas eram mais frágeis, assim as aulas deveriam enfatizar a plasticidade dos movimentos e a sua estética. O Método Sueco era divido em quatro partes: 1) ginástica pedagógica ou educativa – evitar as moléstias, assegurar a saúde, evitar os vícios e defeitos posturais; 2) ginástica militar – exercícios guerreiros (tiro, esgrima etc.); 3) ginástica médica e ortopédica – fazer desaparecer certas deformidades ou curar certas moléstias; e 4) ginástica estética – desenvolver harmoniosamente o organismo (BONORINO et al., 1931).

Nas três primeiras décadas do século XX, é possível perceber que a ginástica passa a se impor como necessária à formação, muito em função de compreender-se que ela poderia corrigir e endireitar os corpos das crianças.[13] Curar os defeitos, as moléstias e anormalidades punham-se como objetivo para a disciplina “Educação Física”, sejam estas consequentes das taras dos ancestrais, sejam aquelas adquiridas pelo meio. Desde o final do século XIX buscavam-se meios de tornar o Brasil um país moderno, que espelhasse em seu povo a civilidade que já tinham alcançados os Estados Unidos da América e alguns países europeus, mas como tornar esse desejo em realidade? Desde a libertação dos escravos uma massa de pessoas estavam abandonadas à própria sorte e desde as primeiras greves operárias começava-se a questionar o imigrantismo como cominho viável para modernizar o Brasil. O investimento que passa se fazer em relação à escola e à modernização da Pedagogia reflete o otimismo que passam a atribuir à escolarização. Acreditam que ela poderia civilizar os filhos de ex-escravos e nacionalizar os filhos dos imigrantes. Assim como as outras disciplinas escolares à ginástica é atribuída um papel moralizador, capaz de endireita, recuperar e sanear as populações urbanas (SCHNEIDER, 2010).[14]

No período em que Jerônimo Monteiro dirigiu o Estado do Espírito Santo, entre os anos de 1908 e 1912, como pode ser percebido pelo Quadro 1, a seguir, houve um grande aumento no número de escolas, públicas e privadas, de alunos matriculados e de frequência à aulas. O aumento no número de escolas reflete o ambiente otimista em relação à escolarização no início do século XX. Os homens desse começo de século depositavam na escola a confiança de que ela seria capaz de redimir, de civilizar, de nacionalizar e livrar o estado nacional dos seus “males de origem”.[15]

 

ANNO DE:

1908

1909

1910

1911

Escolas existentes

Augmento

Escolas providas

Augmento

Alumnos matriculados

Augmento

Frequencia media

Augmento

125

—_

124

—_

2740

—_

2100

—_

160

35

148

24

4210

1470

3310

1210

222

62

160

12

4917

707

3773

463

259

37

190

30

6204

1297

4826

1053

 

Quadro 1 Investimentos em escolas entre os anos de 1908 a 1911.

Fonte: Mensagem dirigida por Jerônimo de Souza Monteiro Presidente do Estado ao Congresso Espírito-Santense, na 2ª Sessão da 7 Legislatura, 1911.

 

A ginástica já entendida como Educação Física tinha um papel importante para o desenvolvimento do sentimento de nacionalidade. Acreditava-se que seria possível incutir nos corações e mentes dos alunos o valor da obediência, da disciplina e patriotismo. Esse investimento procurava produzir uma memória cívica despertada pela recordação dos grandes feitos realizados pelos antepassados. A esse respeito Jerônimo Monteiro declara em seu relatório:

 

Ao lado da instrucção litteraria é ministrada a educação physica do alumno que, pelos exercicios variados, intelligente e methodicamente executados, mantem sempre o seu organismo em favoravel formação. O sentimento civico é despertado constantemente pela recordação dos nossos grandes feitos e dos nossos dignos e venerandos antepassados. Os exercicios physicos, militares para os alumnos e de gymnastica para as alumnas, os canticos e as solemnisações das nossas grandes datas conservam o animo da creança sempre bem disposto para o estudo, facilitam-lhe a comprehensão e a levam a receber a instrucção com facilidade e com agrado, sujeitando-se alegremente á disciplina escolar e sympathisando-se com a escola (MONTEIRO, 1911, p. 21).

 

Nas aulas de Educação Física o conteúdo da Ginástica Sueca para as meninas enfocava as questões da estética, já para os meninos eram os exercícios militares, vigorosos que espelhavam a virtude guerreira, enfatizando a formação do sentimento cívico, o patriotismo e a nacionalidade. Jerônimo Monteiro ao deixar o cargo de presidente relata sobre seus esforços para nacionalizar os imigrantes Alemães, Italianos e Holandeses que vieram para o Espírito Santo, objetivando substituir a mão de obra africana nas lavouras. Queixava-se no relatório que muitas colônias que residiam no Espírito Santo recusavam-se a aprender sobre a história do Brasil e do Espírito Santo. Dizia ele:

 

Temos empregado constantes esforços por obter que nos diversos collegios particulares se leccionem a lingua vernacula, a historia patria, a geographia e historia do Espirito Santo. Essa obrigação tem sido geralmente bem acceita pelos professores, apenas registramos a tenaz opposição de um collegio existente em Campinho de Santa Izabel, onde os alumnos aprendem tudo menos estas materias. O chefe do departamento tem empregado os meios brandos para cumprir a lei e será forçado a usar dos remedios extremos, caso não obtenha o resultado desejado. Esta pratica, de fazer obrigatorio o ensino da lingua do Paiz e da historia e chorographia do Brasil em todas as nossas escolas, sobre ser util, é necessaria para despertar nos alumnos o sentimento civico, o conhecimento das nossas tradições e o amor á nossa patria. O accummulo de serviços neste departamento obrigou a separar da inspectoria geral a direcção da escola Modelo, bem como a crear e provêr mais uma cadeira de gymnastica para as escolas da Capital (MONTEIRO, 1911, p. 25).

 

Nesse investimento para nacionalizar os imigrantes, e também os filhos de ex-escravos, criando neles o sentimento cívico de pertencimento à nação brasileira a ginástica, como disciplina escolar, fazia parte do investimento que Jerônimo Monteiro havia realizado ao implantar a reforma da instrução pública por meio da contratação do educador paulista Carlos Alberto Gomes Cardim. A racionalidade por traz da reforma buscava padronizar a educação no Espírito Santo, para tanto, cria-se a Escola Modelo, anexa à escola Normal e os grupos escolares, que até então não existiam no Espírito Santo. Modelos exemplares que deveriam servir de espelho da República em terras capixabas.

Conforme Novaes (2001) a reforma realizada em 1908 buscava criar a disciplina, a moral e os valores cívicos não para formar o homem ilustrado do final do século XIX, mas para uma nova sociedade industrializada, ordeira e moderna. Essa forma que adquiri a Pedagogia Moderna no Espírito Santo tinha a ordem como principal objetivo, pois somente desse modo se poderia amalgamar todas as diferenças étnicas e culturais que compunha a região do Espírito Santo. Os rituais cívicos eram uma constate na vida dos escolares, como aponta o relatório apresentado por Gomes Cardim ao presidente do Estado do Espírito Santo, no ano de 1909.

 

Em primeiro logar houve a sessão civica em todas as aulas, em cada uma das quaes se via uma Bandeira Nacional desfraldada entre flôres e em torno della os alumnos passavam jogando petalas e entoando o hymno á Bandeira. Após a sessão civica nas classes, em homenagem á Bandeira nacional, realisou-se um magnifico torneio de gymnastica em que os alumnos revelaram bastante aproveitamento. Em seguida o batalhão escolar Jeronymo Monteiro recebeu a sua Bandeira com todas as formalidades militares. O auri-verde pendão passou por entre alas de alumnos que atiravam flôres e cantavam o hymno respectivo, rendendo assim um preito da mais profunda veneração ao sagrado symbolo da Patria (CARDIM, 1909, P. 22).

 

O patriotismo é uma das marcas da reforma Jerônimo Monteiro, pois se entendia que a modernização do Estado do Espírito Santo e do Brasil, passava pela nacionalização e moralização dos imigrantes e filhos de ex-escravos. Uma das formas de incutir o patriotismo nos futuros cidadãos do Estado foi a criação do Batalhão Infantil, atividade realizada pelos alunos, que segundo Souza (1998, p. 241) “[...] oferecia a representação de um corpo unido e harmônico, como deveria ser a pátria e a nova ordem. A versão da escola-quartel, o ideal disciplinar da escola republicana”. Nesse sentido é que foi criada essa instituição no governo de Jerônimo Monteiro, como pode ser percebido em seu relatório de 1909.

 

Batalhão infantil “Jeronymo Monteiro”– Com o intuito de preparar o futuro cidadão, o defensor imperterrito e consciente da Patria, o obreiro forte e resoluto em todos os momentos creados pelo patriotismo, organisou-se o batalhão infantil Jeronymo Monteiro, que já tem dado sobejas provas de seus aproveitamento. Esse batalhão está infantilmente mobilisado, possuindo carabinas imitação Mauser, banda de tambores e cornetas e Bandeira nacional. Os alumnos fazem exercicios, com relativa precisão, de escola de recruta e escola de companhia. O enthusiasmo que reina entre esses pequeninos defensores da Patria é indescriptivel (MONTEIRO, 1909, p. 5, grifo do autor).

 

Essas práticas corporificaram o ideário que se buscava implantar no Brasil nas primeiras três décadas do século XX. O que se oferecia era uma pedagogia moral, cívica e física que buscava modelar o cidadão republicano. Para Souza (1998, p. 241) esses eram “[...] momentos especiais na vida da escola pelos quais ela ganhava ainda maior visibilidade social e reforçava sentidos culturais compartilhados. Eles podem ser vistos como práticas simbólicas que, no universo escolar, tornaram-se uma expressão do imaginário sociopolítico da República”.

Em 1914 ao apresentar seu relatório, ao presidente do estado Marcondes Alves de Souza, o secretario da instrução José Bernardino Alves Júnior, analisa que a ginástica deveria fazer parte dos currículos das escolas do Estado do Espírito Santo. Declara em suas prescrições, a respeito da organização do ensino, para um bom aproveitamento do aluno:

 

Os exercicios physicos constituindo o correctivo natural dos intellectuaes, devem merecer especial cuidado dos educadores. Nas classes superiores, o ensino da gymnastica deve ser imposto com o mesmo rigor que o das demais materias, tendo-se em vista antes formar estheticos que athletas. [...]. Os trabalhos intellectuaes consumindo o duplo de forças dos musculos, cada hora de classe deve ser seguida de 10 a 15 minutos de recreio [...]. Além destes recreios parciaes, os alumnos devem gosar de uma hora para refeição e descanço (ALVES JUNIOR, 1914, p. 45).

 

Educação Física é percebida como uma atividade higiênica, capaz de fortalecer não somente o corpo, mas também o cérebro, porque lhe dava maior disposição para o estudo. A ginástica não deveria ser percebida como uma atividade trivial, mas algo regular na formação do aluno e para a qual o professor deveria dar especial atenção. As atividades realizadas nas aulas de ginástica não deveria ter fins competitivos, mas estéticos, capazes de recobrar as energias, moldar o caráter e corrigir os defeitos do corpo.

Por um bom tempo não se discute nos relatórios a necessidade da Educação Física, como parte da formação dos alunos. Somente na década de 1920 é que novamente se começa a projetar a inclusão da Educação Física nos currículos escolares.

No projeto de reforma da instrução pública de 1925, no governo de Nestor Gomes, a ginástica passa a ser prescrita como uma matéria que deveria fazer parte da formação dos normalistas. Nos quatro anos de duração, que o curso normal deveria ter, a ginástica era sintetizada em quatro pontos:

 

1º Gymnastica sueca em conjuncto, com desenvolvimento das varias séries, de maneira gradativa até ser attingida perfeição, harmonia e rapidez na execução dos tempós.

2º Marchas singelas e dobradas, visando formação de figuras.

3º Jogos sportivos, sob a direção do professor (REGULAMENTO DA SECRETARIA DA INSTRUCÇÃO, 1925, p. 12).

 

Os programas de formação do curso masculino e feminino se diferenciavam em seus conteúdos. Desse modo, eles eram organizados em:

 

[...] secção feminina: - Salto em corda; danças classicas; voley ball e corrida moderada. Para a secção masculina: - Corrida de obstaculo; salto em altura e em distancia; cabo de guerra; barra em partido; jogos atheticos e outros exercicios a juizo do professor (REGULAMENTO DA SECRETARIA DA INSTRUCÇÃO, 1925, p. 12).

 

No segundo e terceiros anos do curso normal se recapitulava o que havia sido aprendido no primeiro ano, com exceção que os exercícios militares eram indicados como imprescindíveis para os homens. No quarto ano do curso normal não havia a disciplina de ginástica, formalmente explicitada, no programa de formação do normalista. Os conhecimentos sobre a ginástica estavam alocados em uma disciplina designada como Methodologia que, em suas disposições, para a organização do conteúdo, apresentava no capítulo 15 que a “Educação Physica” naquele momento deveria ensinar sobre “Sua importancia na escola primária - jogos e exercicios. Gymnastica applicada e gymnastica sueca. Necessidade das fichas metricas e de peso para apreciação do coefficiente de robustez” (REGULAMENTO DA SECRETARIA DA INSTRUCÇÃO, 1925, p. 39).

Attilio Vivacqua (1929) ao discutir as bases da reforma da instrução de 1928, no governo de Aristeu Borges de Aguiar, revela que na reforma anterior a Educação Física esteve “[...] limitada á gymnastica, [e que deveria] [...] ser objeto de um curso assentado em bases scientificas” (VIVACQUA, 1929. p. 28). Para tanto, pretendia contratar técnicos “[...] para a organização da educação physica [...] [e a sua] introducção no methodo da Escola Activa” (VIVACQUA, 1929. p. 22-23).[16]

No ano seguinte na apresentação do relatório de sua gestão, o presidente do estado, Aristeu Borges de Aguiar, revela sobre quais bases a Educação Física foi organizada dentro do modelo da Pedagogia Moderna que ele buscava implantar no Espírito Santo. Aristeu Borges de Aguiar buscava realizar uma reforma sanitária no Espírito Santo e, para tanto, submete a Educação Física ao que ele designa como Sala de Saúde. Segundo Aguiar (1930, p. 86) “[...] em nossa organização de escola activa a Sala de Saude é a sala das salas, onde se ensinam e applicam os principios hygienicos, dos novos programmas, e donde parte a orientação para a educação physica e intellectual da crença, como resultado dos exames que ali se fazem”.

Attilio Vivacqua (1930), ao comentar sobre as diretrizes que havia preparado para solucionar os problemas educacionais no Espírito Santo, revela que o ideal sanitário da reforma de 1928, na gestão de Aristeu Borges de Aguiar, tinha como objetivo incutir hábitos e práticas na escola primária que pudessem, conforme suas representações, objetivar “[...] a defesa da saude individual, o que equivale a purificar e augmentar as energias da raça” (VIVACQUA, 1930. p. 19). Para o autor essa modificação da escola primária seria possível ao se investir em uma Pedagogia Moderna e ativa na formação dos professores, que deveria correr na escola normal. Segundo Vivacqua (1930, p. 20) “O movimento renovador terá de começar, entre nós, na escola normal, onde os futuros professores deverão preparar-se convenientemente nesse importante ramo da actividade magisterial”. Conforme o autor, nesse espaço

 

Ao lado da educação sanitaria, a educação physica, moldada em bases scientificas, deve constituir um dos nossos absorventes cuidados. Urge sahirmos, porém, do terreno do empirismo e organizal-a de accordo com os principios hyigienicos e pedagogicos (VIVACQUA, 1930. p. 20).

 

Com o envio do interventor federal, João Punaro Bley, para assumir o governo do Espírito Santo após a Revolução de 1930, impede-se a reforma projetada por Vivacqua e as mudanças que ele esperava implantar com a Pedagogia Moderna modelada segundo as experiências da Escola Ativa.

Pelo Decreto n. 1.366, de 26 de Junho de 1931, foi instituído o Departamento de Educação Física do Espírito Santo, funcionando como curso especial com a finalidade de preparar professores/instrutores de Educação Física e unificar e intensificar o ensino dessa disciplina nos estabelecimentos educacionais do Espírito Santo.

 

Conclusões

 

A ação reformista sintetizada pelo otimismo em relação aos poderes da educação em transformar o Brasil em uma nação moderna, falando um mesmo idioma, compartilhando dos mesmos costumes, unidos por hábitos e tradições, são as características mais evidentes nos discursos que buscam valorizar a presença da ginástica e sua ação disciplinadora na escola. Buscava-se com as reformas da instrução pública criar uma tradição nacional de amor á pátria e consciência coletiva de pertencimento a um mesmo povo que, apesar de composto de diferentes etnias e culturas, possuía as mesmas referências.

De acordo com Souza (1998) a transição do Império para a República representou momentos de crises e tensões sociais com grande perigo de desagregação. Era preciso, pois, construir um novo universo simbólico. A escola foi o lugar percebido como propicio para a construção da unidade, nesse processo à ginástica foi conferido uma forma escolar e a ela na instituição educacional atribuída o papel de educar fisicamente os alunos. A educação do cidadão republicano deveria passar pelos sentidos, maneira considerada propicia ao seu disciplinamento. Em relação à capacidade disciplinadora da ginástica já alertava Rui Barbosa nos seus pareceres sobre instrução pública. Acreditava o autor que intervindo por meio da educação do físico, os hábitos seriam mais bem assimilados, pois, intervindo sobre o corpo, as lições de moral poderiam ser “[...] talvez mais poderosas do que os preceitos inculcados verbalmente” (BARBOSA, t. II, 1946, p. 99).

No seu processo de conformação à forma escolar a ginástica se converte na disciplina Educação Física ao incorporar o discurso da higiene e da saúde, prometendo melhorar fisicamente os alunos, dando-lhes mais disposição, força e resistência. Desse modo, ela é capacitada a significar o seu papel no interior da instituição educacional. O discurso do disciplinamento absorvido do meio militar também era utilizado para demonstrar a capacitava transformadora que ela poderia ter na escola, uma vez que poderia incutir nos alunos o gérmen da moral republicana.

Sobre a presença da Educação Física na escola espírito-santense, nas três primeiras décadas do século XX, ainda há muito que fazer, uma vez que este estudo representa apenas os primeiros passos de um projeto de investigação. No estudo foram utilizados apenas documentos oficiais, produzidos pelas instâncias administrativas do Estado, para o desenvolvimento da pesquisa outras fontes deverão ser consultadas, como os jornais, as revistas e os livros produzidos durante o período que utilizamos para desenvolver a discussão.

 

Referências

AGUIAR, Aristeu Borges de. Mensagem apresentada ao congresso legislativo na 3ª sessão da 13ª legislatura em 22 de setembro de 1930, pelo dr. Aristeu Borges de Aguiar, presidente do estado do Espírito Santo. Typ. da Vitória, 1930.

ALVES JUNIOR. José Bernardino. Relatório (parte expositiva) apresentado em 20 de Agosto de 1914 ao Exmo, Snr. Coronel Marcondes Alves de Souza presidente do Estado do Espírito Santo pelo Dr. José Bernardino Alves Junior Secretario Geral. Typ. da Vitória, 1914.

AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1963.

BARBOSA, Rui. Reforma do ensino primário e várias instituições complementares da instrução pública. Obras completas. Rio de Janeiro : Ministério da Educação e Saúde, 1946. 10 v.: 1883, t. II. 401 p.

BARCELOS, Rodrigo. “Escóla de Educação Physica do estado do Espírito Santo”: formação de professores e estrutura física (1931-1960). 2007. 56 f. Monografia (Licenciatura em Educação Física) – Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Espírito Santo,  Vitória, 2007.

BOMFIM, Manoel. América latina: males de origem. Rio de Janeiro: Topbooks, 2005.

BONORINO, Laurentino Lopes; MOLINA, Antonio de Mendonça; MEDEIROS, Carlos M. de. Histórico da educação física. Vitória: Imprensa Oficial, 1931. Ajuda.

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Notas



[1]São os trabalhos de Silva (1991, 1996, 1997 e 2000), discutindo em seus textos a criação da Escola de Educação Física, em 1931, no Espírito Santo; Lauff (2004 e 2007), analisando as estratégias empregadas pelo interventor João Punaro Bley, entre os anos de 1934 e 1937, para organizar a Educação e a Educação Física no Espírito Santo e Lauff e Ferreira Neto (2004, 2005a e 2005b) analisando a Revista de Educação (capixaba) como dispositivo que serve para vulgarizar o ideal escolanovista que sustenta a reforma da educação, na década de 1930. Por último o trabalho de Barcelos (2007) que investiga a formação de professores pela Escola de Educação Física entre os anos de 1931 e 1960.

[2] Ver Bontempi Junior (1995) na obra História da educação brasileira: o terreno do consenso. Em pesquisa realizada, sobre a produção de teses e dissertações nos programas de Pós-Graduação, tendo como tema a História da Educação, Bontempi Junior (1995, p. 98), verificou que a “[...] diretriz postulada nos anos 30 e 40, de tomar 1930 como ponto de inflexão na história do Brasil [...], consta de maneira geral, da maior parte das tentativas de explicação do Brasil produzidas ao longo dos anos 50 e 80”, o que demonstra o baixo investimento em pesquisas relacionadas com o século XIX, principalmente sobre o período anterior à proclamação da República, por pesquisadores interessados em conhecer a História da Educação desligada das malhas discursivas, produzidas mediante a afirmação de que somente na década de 1930 aparecem as condições concretas para se instituir a escola como uma instituição moderna e o estabelecimento pleno da forma escolar.

[3] Pesquisas enfocando a História da Educação Espírito-Santense, em períodos posteriores ao século XIX, podem ser localizadas com base nos quadros veiculados no estudo de Simões e Franco (2005), A produção acadêmico-científica sobre a história da educação no Estado do Espírito Santo (1992-2002).

[4] A memória construída pelos “pioneiros” da escola nova, principalmente por Fernando de Azevedo, é bem retratada no estudo de Toledo (1995), que analisa os procedimentos de montagem do livro A Cultura Brasileira, as estratégias argumentativas, as seleções das fontes, o uso que faz dos autores de referência e os critérios utilizados para decidir a periodização do estudo. Também observa Toledo (1995) que boa parte das pesquisas que buscaram analisar ou criticar a obra de Azevedo sucumbiram à lógica imposta pelo autor, pois deixaram ser conduzidas por uma “mão invisível” que estabelece desde o critério de seleção das fontes até o formato da construção da argumentação central, que tende à polarização entre as lutas do novo versus velho ou renovadores versus tradicionalistas, ou seja, o progresso contra o atraso, ou o bem contra o mal.

[5] Vincent, Lahire e Thin (2001) fazem uso dessa expressão para discernir a invenção da forma escolar, como novo meio de socialização pela escola estritamente ligada a uma nova ordem urbana social, do surgimento puro e simples da prática do ensino. Por isso, coloca sua teoria como contraponto às abordagens que tratam a história educacional de forma continuísta, às que lançam mão de análises norteadas por paralelismos e às que se fecham recorrendo ao uso de metáforas.

[6] Reforma realizada no primeiro ano do governo Freire, que se inicia no ano de 1892 e se estende até o ano de 1896, e depois do ano de 1900 até o ano de 1904.

[7] Conforme Schneider (2010, p. 172) desde que a ginástica francesa foi proposta como disciplina obrigatória na escolarização das crianças ela passou a sofrer resistências. Uma das oposições foi realizada pela “Associação Brasileira de Educação (ABE) [que] manifestou-se contra o Método Francês ao apreciar o anteprojeto originário do Ministério da Guerra em 1929. As principais críticas da ABE eram que o método fora criado para ser aplicado na caserna. Desse modo, não fazia sentido que fosse utilizado na educação das crianças.

[8] Rui Barbosa (1882) ao elaborar seus pareceres sobre a instrução publica propunha que a ginástica fosse incluída na escola como uma matéria obrigatória. Para ele a ginástica seria vital para “[...] a reconstituição de um povo cuja virilidade se depaupera, e desaparece de dia em dia [...], [sendo também] um exercício moralizador , um germem de ordem e um vigoroso alimento da liberdade” (BARBOSA, t. II, 1946, p. 110).

[9] Ver Schneider (2007).

[10] Nessa proposta de formação o ensino é percebido como uma atividade racional, concreta realizada por meio de experiências com as coisas. Os sentidos eram compreendidos como a via de acesso para se descobrir e compreender a natureza a sua racionalização e posterior abstração. Essa educação física contemplava a proposta de uma educação integral, uma vez que durante a aprendizagem, realizada de forma ativa, o aluno necessitava exercitar seus sentidos para poder aprender a aprender.

[11]As lições de coisas é a forma pela qual o método de ensino intuitivo foi vulgarizado. Sua popularização se deu por meio de manuais didáticos para uso de professores. Elaborados nas décadas finais do século XIX eles tiveram bastante repercussão no Brasil entre os pedagogicistas, dos quais Rui Barbosa é uma referência, por utilizado as proposições das lições na elaboração dos seus pareceres sobre a instrução pública em 1882.

[12] As citações diretas foram transcritas na grafia original, sem correções.

[13] Ver Vago (2002) no estudo Cultura escolar, cultivo de corpos: educação physica e gymnastica como práticas constitutivas dos corpos de crianças no ensino público primário de Belo Horizonte (1906 - 1920).

[14]Quando a aposta racista no branqueamento da população como efeito do processo imigratório se desmistifica, “organizar o trabalho nacional” com o concurso da escola passa a ser prioridade política. É, assim, que a escola começa a se impor no horizonte ideológico das elites políticas e intelectuais, como recurso consistente de incorporação generalizada das populações à ordem social e econômica (CARVALHO, 1998).

[15] Sobre os “males de origem” ver Manoel Bomfim (2005) na obra A América Latina - males de Origem.

[16]A Educação Física ficou a cardo do professor Gabriel Skinner, contratado também para organizar o escotismo no Grupo Escolar Gomes Cardim.

Instituto de Pesquisa em Educação e Educação Física (PROTEORIA), http://www.proteoria.org
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Prévia do artigo ASSUNÇÃO, W. R. SILVA, A. de F. OLIVEIRA, A. S. F. Americanismo na educação física brasileira: circulação e apropriação de modelos pedagógicos. In: VI Congresso Brasileiro de História da Educação, 2011, Vitória. Invenção, tradição e escritas da História da Educação No Brasil. Fortaleza: Itarget, 2011. v. 1. p. 1-15. ASSUNÇÃO, W. R. SCHNEIDER, O. SILVA, A. F. OLIVEIRA, A. S. F. A Associação Cristã de Moços e a difusão do americanismo no Brasil (1932-1950). In: XI Congresso Espírito-Santense de Educação Física, 2011, Vitória. Educação Física nas políticas públicas: trabalho e gestão integrada. Fortaleza: Itarget, 2011. v. 1. p. 1-5. Próximo artigo
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